SANTO NATAL

 

 

Que festa é o Santo Natal?

“O Santo Natal é a festa instituída para celebrar a lembrança do nascimento temporal de Jesus Cristo” (São Pio X, Catecismo Maior).

 

Que nos ensina Jesus Cristo com as circunstâncias do seu nascimento?

“Com as circunstâncias do seu nascimento, Jesus Cristo ensina-nos a renunciar às vaidades do mundo e a apreciar a pobreza e os sofrimentos” (Idem).

 

O Natal de Jesus Cristo está cheio de sábias lições e de santos exemplos.

I. – Nas estalagens de Belém não houve lugar para Jesus, isto é, para seus pais, José e Maria. O mundo não quis receber a Jesus, porque Ele não é deste mundo e porque o mundo era indigno d’Ele.

II. – O berço de Jesus foi uma manjedoura, uma estrebaria, onde pastores pobres e humildes abrigavam os rebanhos...

A estrebaria bem representava o mundo, com todos os seus crimes e todas as suas baixezas.

Jesus, desde a sua entrada neste mundo, começou a dar sublimes lições das três virtudes básicas da vida cristã: humildade, pobreza e mortificação.

a. – Humildade é o remédio e corretivo da soberba e do desejo de submeter os demais. E Jesus disse: “Aprendei de mim, que sou humilde de coração”.

b. – Pobreza e espírito de pobreza, segundo o Evangelho – eis aí – o remédio específico contra a ambição da riqueza e dos bens temporais. E o Senhor preceituou aos discípulos: “Vende o que tens, dá-o aos pobres, vem e segue-me”.

c. – Mortificação dos sentidos e privação do conforto material e do regalo dos sentidos são meios para combater e vencer a sensualidade. E o Mestre pronunciou esta sentença: “Toma a tua cruz e segue-me”.

Desde o presépio, nas circunstâncias humildes em que veio a este mundo, Jesus começou a dar aos homens estes ensinamentos, iniciando assim o reino da luz contra as trevas, da verdade contra o erro.

No Santo Natal celebramos o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo; mas infelizmente, o aniversariante é deixado de lado por milhões de católicos.

A única preocupação de milhões de católicos é de trocar presentes, preparar banquetes, viajarem, etc., sendo que a alma dos mesmos permanece mergulhada nas trevas.

Católico, não existe Natal para aquele que vive no pecado mortal; Nosso Senhor e Satanás não podem habitar juntos em uma alma.

Milhões de católicos mentem no dia de Natal. Aquele que deseja Feliz Natal para o próximo, mas está em pecado mortal, mente; quem está com o demônio na alma não pode desejar Feliz Natal.

Católico, seja sábio! Aproxime-se de um sacerdote o quanto antes e faça uma sincera confissão; não comunitária, mas sim, auricular. Expulse o demônio do seu coração enquanto é tempo, e transforme o mesmo numa belíssima manjedoura para o Menino Deus.

 

 

 

CATÓLICO, APROXIME-SE DA GRUTA DE BELÉM

 

 

Uma gruta – um presépio – um menino sobre palhinhas – uma virgem perfeitíssima e um varão justo de joelhos, em adoração – anjos cantando: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade! – eis o quadro de Deus feito homem!

Noite bendita! Hora solene, a mais solene que houve, nem há de tornar a ver o mundo! Momento único na história da humanidade!

Noite bendita, em que nasceu o Sol de Israel! Hora solene, em que apareceu na terra o Deus de Abraão, Isaac e Jacó, revestido da natureza humana. Momento único, pois não conta o mundo outro assinalado por um fato semelhante!

Já não são os Anjos os únicos que têm a Deus consigo no céu: os homens o vêem nascido na terra.

Mistério incompreensível! Quem nasce? – Deus! O que sempre existiu, o que fez aparecer no céu as estrelas, no campo as flores, quis também ter o seu dia de natal! Que amor!

Ao ver aquele Menino e ao ver nele o Filho de Deus, vêm nos ferir os ouvidos aquelas palavras de São João: “De tal maneira amou Deus o mundo, que lhe deu o seu Unigênito Filho” (Jo 3, 16).

Como nasce? Como homem! Com lágrimas nos olhos, com dores no tenro corpinho, com frio em todos os membros, com falta de tudo! Nasce como servo e não como rei, nasce na humilhação, nasce com toda a sua divina grandeza encoberta.

Nasce no tempo o que foi gerado desde toda a eternidade, feito carne o Verbo divino, feito mortal o Eterno!

Nasce a Vida sujeita à morte, a Luz escurecida com as trevas dos nossos pecados, o Sol eclipsado com o véu da nossa natureza!

Nasce Infante o Criador do universo, envolvido em faixas a Riqueza do céu, reclinado num presépio o que tem seu trono sobre os serafins!

Como nasce? Abandonado!

É Senhor e ninguém o respeita! É Deus e ninguém o adora! É Rei e ninguém lhe vai prestar homenagem e render vassalagem! É o Salvador do mundo, e quem busca n’Ele a salvação?

Nasce pobre porque deseja que nós o recebamos em nossa casa, que o vistamos, que o abriguemos do frio, que lhe preparemos um berço.

Onde nasce? – Numa gruta úmida e fria, num alpendre desabrigado, onde falta o conchego do lar doméstico, um bercinho fofo, o asseio – tudo!

É isto possível? Não será um sonho tudo que estou vendo? – Oh! Não! É a verdade pura, é uma realidade!

Disse o apóstolo São João que o verbo divino veio ao mundo e os seus não O receberam (Jo 1, 11). E como o haviam de receber e adorar como seu Deus, se Ele veio debaixo de tão rigoroso incógnito, tão disfarçado e tão semelhante aos homens?

Algum motivo havia de ter Deus para assim nascer. E teve-o! Deus não queria vir ao mundo com o estrondo que acompanha e soleniza o nascimento dos grandes da terra. Se Ele viesse cercado com toda essa grandeza, os humildes receariam chegar-se à sua presença, e até seria odiado por aqueles que olham para os grandes como para inimigos. Ora, o seu fim era atrair a todos os homens ao seu amor, assim grandes como pequenos, a fim de a todos procurar a salvação. Por isso fez-se menino, fez-se pobre, fez-se humilde, para que todos se aproximassem d’Ele.

- Quando nasce?

- A horas mortas da meia-noite, quando todos dormiam, quando ninguém o esperava, quando os homens, cansados uns do trabalho, outros dos divertimentos, se entregavam ao sono.

Não esperou que fosse dia para nascer, a fim de não ser visto e conhecido. Nasceu de noite para que despertando a humanidade com o raiar da aurora, encontraste já nascido o Sol de Israel, que lhe vinha trazer a salvação.

Nasceu nas trevas, porque vinha ser a luz do mundo, o Sol esplendoroso que vinha dissipar as sombras que passavam sobre os homens desde que o paraíso se fechou!

Nasceu de noite, para mostrar que era bem escura a noite em que vivia todo o gênero humano, e que essa noite ia ter o seu fim com o amanhecer do solene dia da redenção.

Nasceu de noite; mas ainda assim quis ter quem o adorasse. Foi aos pastores, que vigiavam os seus rebanhos, que os Anjos anunciaram a vinda do Salvador. Não foram à corte de Herodes, nem aos grandes da Judéia, nem aos Césares de Roma, porque, ainda que para todos nascia, eram os pobres e os humildes os que mais agradavam a seus olhos.

-Por que nasce?

-Porque nos ama! Nasce por nós, porque deseja a nossa felicidade, porque nos quer em seu reino fazer participantes de sua mesma glória.

Nasce por nós a fim de que nós renasçamos para Ele, morrendo para o mundo, para o nosso amor próprio, para as nossas faltas.

Nasce pobre para que nós, com seu exemplo, nos animemos a deixar as riquezas e comodidades da vida.

Nasce no mais completo abandono, para que nós tenhamos por melhor que o nosso nome seja desconhecido, do que ande na boca de todos e para que vendo-nos desprezados dos homens, nos consolemos com seu exemplo.

Nasce na humilhação, para que aprendamos a calcar aos pés o orgulho.

Estas são as grandes lições da escola de Belém. Antes de sair dela, despede-te do teu Mestre, que, no mais profundo silêncio, te deu tão salutares documentos.

Vou deixar-vos, Deus menino! Ah! Se eu pudesse aqui estar dia e noite a olhar para Vós e para tudo ver neste mundo senão este espetáculo nunca visto, que é a admiração dos Anjos e o pasmo dos homens!

E que presente posso eu dar-Vos neste dia do vosso nascimento? Ainda que me desse todo inteiro, não daria tanto como Vós Vos destes a mim. Vós, para Vos dardes a mim, tomastes o que era meu; eu, para me dar a Vós, quero tomar o que é vosso. Para isso hei de despir-me do que há em mim e falta em Vós, que é a riqueza, a comodidade, a soberba; e vestir-me do que há em Vós e falta em mim, que é a humilhação, o abandono, o sofrimento. Ajudai-me, Deus meu, a levar a efeito esta minha empresa!  

Católico, não jogue mais um Santo Natal fora; quem sabe esse será o último Natal de sua vida!

 

 

 

NATIVIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

(Santo Afonso Maria de Ligório)

 

Quando Maria Santíssima entrou na gruta, pôs-se logo em oração. De súbito vê uma refulgente luz, sente no coração um gozo celestial, abaixa os olhos e o que vê? Vê já diante de si o Menino Jesus, tão belo e tão amável, que enleva os corações.  Mas treme e chora; estende as mãozinhas para dar a entender que deseja que Maria Santíssima o tome nos braços. Nossa Senhora, no auge de santa alegria, chama José: – Vem, ó José, vem e vê, pois já nasceu o Filho de Deus. – Aproxima-se José, e vendo Jesus nascido, adora-o por entre uma torrente de doces lágrimas.

Em seguida, a santa Virgem, movida de compaixão maternal, levanta com respeito o amado Filho, faz por aquecê-lo com o calor de seu rosto e do seu peito. Tendo-o no colo, adora o divino Menino como seu Deus, beija-lhe os pés como a seu Rei, e beija-lhe o rosto como a seu Filho e procura depressa cobri-lo e envolvê-lo nas mantilhas.

Consideremos aqui os sentimentos que surgiram no Coração de Maria, quando viu o Verbo divino reduzido por amor dos homens a tão extrema pobreza. Contemplemos a devoção e a ternura que ela experimentou quando apertava o Filho de Deus, já feito seu filho, contra o Coração. Unamos os nossos afetos aos de tão boa Mãe e roguemos a Deus Pai que o novo nascimento do seu Unigênito feito homem, nos livre do antigo cativeiro, em que nos tem o jugo do pecado.

 

 

 

VIAGEM DE SÃO JOSÉ E MARIA SANTÍSSIMA A BELÉM

(Santo Afonso Maria de Ligório)

 

Havia Deus decretado que seu Filho nascesse, não na casa de José, senão numa gruta que servia de estrebaria, do modo mais pobre e mais penoso, que uma criança pode nascer. Por isso dispôs que César lançasse um edito por meio do qual cada um deveria alistar-se na cidade própria donde trazia a sua origem. – Quando José teve conhecimento da ordem, ficou em dúvida se deveria deixar a Virgem Maria em casa ou levá-la consigo, visto que estava próxima a dar à luz. Minha esposa e senhora, disse-lhe, por um lado não quereria deixar-vos só; por outro, se vos levo, aflige-me o triste pensamento que muito tereis de sofrer numa viagem tão longa, por um tempo tão rigoroso.  Maria, porém, anima-o dizendo: José, não temais, eu vos acompanharei, e o Senhor nos ajudará. Por inspiração divina e pelo conhecimento da profecia Miquéias, a Virgem Maria sabia que o divino Infante devia nascer em Belém. Toma, pois, as faixas e os pobres paninhos já preparados e parte com José.

Consideremos aqui as devotas e santas conversações que durante a viagem faziam entre si aqueles santos esposos acerca da misericórdia, da bondade e do amor do Verbo divino, que em breve ia nascer e fazer a sua entrada no mundo, pela salvação dos homens. Consideremos os atos de louvor, de bênção, de agradecimento, de humildade e de amor que aqueles excelsos viajantes praticavam no caminho. De certo sofreu muito a santa Virgenzinha, próxima a dar à luz, tendo de fazer uma viagem tão longa; mas suportou tudo em paz e com amor. Ofereceu a Deus todas as suas penas, unindo-as com as penas de Jesus, que trazia no seio.

Na viagem da nossa vida unamo-nos a Maria e José e acompanhemo-nos deles, e agora façamos com eles companhia ao Rei do céu, que vai nascer numa gruta. Roguemos aos santos viajantes que pelos merecimentos das penas que então padeceram, nos acompanhem na viagem que estamos fazendo para a eternidade.

 

 

 

JOSÉ E MARIA PEREGRINOS EM BELÉM SEM ABRIGO

(Santo Afonso Maria de Ligório)

 

Quando um rei faz a primeira entrada numa cidade do seu reino, que manifestações de veneração se lhe preparam! Que pompas! Quantos arcos de triunfo! Prepara-te, pois, ó Belém venturosa, para receberes dignamente o Rei do céu; fica sabedora que entre todas as cidades és tu a ditosa que Ele escolheu para nela nascer em terra, a fim de reinar depois no coração dos homens: De ti sairá aquele que há de reinar em Israel.

Eis que já entram em Belém esses dois excelsos viajantes, José e Maria, que traz no seu seio o Salvador do mundo. Entram na cidade, dirigem-se para a casa do ministro imperial, a fim de pagarem o tributo e serem alistados nos registros dos súditos de César. Mas quem os reconhece? Quem lhes vai ao encontro? Quem lhes oferece agasalho? Ele veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Eles são pobres, e como pobres são desprezados; são tratados ainda pior do que os outros pobres, e até repulsos.

Chegada a Belém, Maria entendeu que se aproximava a hora de seu parto. Avisou a São José, e este diligenciou achar agasalho em uma casa dos habitantes de Belém, a fim de não ter de levar sua esposa à hospedaria, lugar pouco conveniente para uma delicada virgem. Ninguém quis atender-lhe o pedido, e é bem verossímil que da parte de alguns fosse taxado de insensato por trazer consigo a esposa próxima ao parto em tempo noturno e de tanta afluência de povo. Para não ficar durante a noite no meio da rua, viu-se afinal obrigado a levar a Virgem Maria à hospedaria pública, onde já muitos pobres se tinham alojado para a noite. Mas como? Também dali foram repulsos e foi-lhes respondido que não havia lugar para eles: Não havia lugar para eles na estalagem. Havia ali lugar para todos, também para os mais desprezíveis, mas não para Jesus Cristo. – Contemplemos quais devem ter sido os sentimentos de São José e de Maria Santíssima, vendo-se desprezados e repulsos de cada um.

A estalagem de Belém foi figura daqueles corações ingratos que dão acolhida a tantas criaturas miseráveis e não a Deus. Quantos há que amam os parentes, os amigos, até os animais, mas não amam a Jesus Cristo e nenhum caso fazem da sua graça e do seu amor.

 

 

 

A GRUTA DE BELÉM

(Santo Afonso Maria de Ligório)

 

Vendo-se repulsos de toda parte, São José e a Bem-aventurada Virgem saem da cidade a fim de achar fora dela ao menos algum abrigo. Os pobres viandantes caminham na escuridão, errando e espreitando; afinal se deparam ao pé dos muros de Belém numa rocha escavada em forma de gruta, que servia de estábulo para os animais. Disse então Maria: José, meu Esposo, não precisamos ir mais longe; entremos nesta gruta e deixemo-nos ficar aqui. Mas como? Responde São José; não vês, minha Esposa, que esta gruta é tão fria e úmida que a água escorre em toda parte? Não vês que não é uma morada para homens, senão uma estribaria para animais? Como queres passar aqui a noite e dar à luz? Contudo é verdade, respondeu Maria, que este estábulo é o palácio real onde quer nascer na terra o Filho eterno de Deus.

Que terão dito os anjos vendo a divina Mãe entrar naquela gruta para dar à luz! Os filhos dos príncipes nascem em quartos adornados de ouro; preparam-lhes berços incrustados com pedras preciosas e mantilhas preciosas; e fazem-lhes cortejos os primeiros senhores do reino.

E ao Rei do céu prepara-se uma gruta fria e sem luz para nela nascer, uns pobres paninhos para cobri-lo, um pouco de palha para leito, e uma vil manjedoura para colocá-lo. Meu Deus, onde está a corte, onde está o trono real deste Rei do céu? Vemos apenas dois animais para lhe fazerem companhia e uma manjedoura de irracionais, na qual deve ser posto!

Ó Gruta ditosa, que tiveste a ventura de ver o Verbo divino nascido dentro de ti! Ó presépio ditoso, que tiveste a honra de receber em ti o Senhor do céu! Ó palha ditosa, que serviste de leito àquele cujo trono é sustentado pelos serafins! Sim, fostes ditosos, ó Gruta, ó presépio, ó palha; mais ditosos, porém, são os corações que fervorosamente amam esse amabilíssimo Senhor, e que abrasados em amor o recebem na Santa Comunhão. Com que alegria e satisfação vai Jesus Cristo pousar no coração que o ama!

 

 

 

UMA VISITA À GRUTA DE BELÉM

(Santo Afonso Maria de Ligório)

 

Tende ânimo, Maria convida todos, os justos e os pecadores, a entrarem na Gruta para adorarem seu divino Filho e beijarem-lhe os pés. Eia, pois, ó almas devotas, entrai e vede sobre a palha o Criador do céu e da terra, feito Menino pequenino, mas tão encantador, tão radiante que para toda a parte irradia torrentes de luz. Já que Jesus nasceu, a gruta não é mais horrorosa, senão foi feita um paraíso. Entremos e não temamos.

Jesus nasceu, e nasceu para todos: Eu, assim manda-nos avisar Jesus, sou a flor do campo, e a açucena dos vales. Jesus se chama açucena dos vales, para nos dar a entender que, assim como Ele nasceu tão humilde, assim somente os humildes o acharão. Por isso o anjo não foi anunciar o nascimento de Jesus Cristo a César nem a Herodes; mas sim a pobres e humildes pastores. Jesus chama-se também flor dos campos, porque quer que todos o possam achar. As flores dos jardins estão cercadas e não se permite a todos procurá-las e colhê-las. Ao contrário, as flores dos campos estão expostas à vista de todos, e quem quiser as pode colher: é assim que Jesus Cristo quer estar ao alcance de todo aquele que o desejar.

Entremos, pois a porta está aberta. Os príncipes deixam-se ficar fechados nos seus palácios, cercados de soldados, e não é fácil obter-se audiência. Quem deseja falar com os reis, tem de afadigar-se muito, e bastantes vezes será mandado embora com o conselho de voltar e outro tempo, por não ser dia de audiência. Não é assim com Jesus Cristo. Está na gruta de Belém, como criancinha, para atrair a quem vier procurá-lo. A gruta está aberta, sem guardas nem portas, de modo que cada um pode entrar à vontade, quando quiser, para achar o pequenino Rei, para falar com Ele e mesmo abraçá-lo, e assim satisfazer a seu amor.

 

 

 

OFERECIMENTO DO CORAÇÃO AO MENINO JESUS

(Santo Afonso Maria de Ligório)

 

Alma devota, aviva a tua fé e a tua confiança. O mesmo Jesus que, por nosso amor, baixou do céu à terra e quis nascer numa gruta fria, está gora, abrasado no mesmo amor, escondido no Santíssimo Sacramento. Que é o que faz ali? Olha por entre as grades. Qual amante aflito pelo desejo de ver seu amor correspondido, Jesus de dentro da Hóstia consagrada, como que por entre uma grade estreita, olha-te sem ser visto, espreita os teus pensamentos, os teus afetos, os teus desejos, e convida-te suavemente a chegar-te a si. Eia, pois, aproxime-se do Amante divino.

Lembra-te, porém, do que ordena: Não aparecerás em minha presença com as mãos vazias. Quem se aproximar do altar para me honrar, não se aproxime sem me oferecer alguma oferta. Na noite do Natal, os pastores que foram visitar o Menino Jesus na gruta de Belém, trouxeram-lhe os seus presentes. Que poderás oferecer-lhe? O presente mais precioso que possas trazer para o Menino Jesus, é um coração penitente e amante: Meu Filho, dá-me o teu coração.

Ó meu Senhor, eu não devia ter ânimo de me chegar a vós, vendo-me tão manchado de pecados. Mas já que Vós, Jesus meu, me convidais com tamanha benevolência e me chamais com tamanho amor, não quero resistir. Não quero fazer-vos esta nova afronta que, depois de vos ter tantas vezes virado as costas, deixasse agora por desconfiança de atender o vosso doce convite. Mas sabeis que sou pobre de tudo e que não tenho nada que oferecer-vos. Não tenho senão o meu coração, e este lhe dou. Verdade é que este meu coração durante algum tempo vos tem ofendido, mas agora está arrependido, e contrito como se acha, eu o ofereço. Sim, meu divino Menino, pesa-me de vos ter dado desgosto. Confesso-o: tenho sido um traidor, um ingrato, um desumano fazendo-vos sofrer tanto e derramar tantas lágrimas no presépio de Belém; mas as vossas lágrimas são a minha esperança. Sou um pecador e não mereço perdão, mas dirijo-me a vós, que, sendo Deus, vos fizestes criança para me perdoar. Pai Eterno, se eu mereci o inferno, vede as lágrimas desse vosso Filho inocente; são elas que vos implicam o meu perdão. Vós não negais nada às súplicas de Jesus Cristo. Atendei-o, visto que vos pede que me perdoeis nestes dias santíssimos, que são dias de alegria, dias de salvação e dias de perdão.

 

 

 

ALEGRIA TRAZIDA AO MUNDO PELO NASCIMENTO DE JESUS CRISTO

(Santo Afonso Maria de Ligório)

 

O nascimento de Jesus Cristo trouxe alegria geral ao mundo inteiro. É Ele o Redentor desejado durante tantos anos e com tamanho ardor, que por esta razão foi chamado o Desejado das gentes, o Desejado das colinas eternas. Eis que já veio, nascido numa gruta estreita. Façamos que o anjo nos anuncie o mesmo gozo que anunciou aos pastores, e que nos diga: Anunciou-vos um grande gozo, que será para todo o povo; e é que vos nasceu hoje o Salvador. Que festejos não se organizam num país quando nasce ao rei seu filho primogênito! Muito mais devemos nós festejar o nascimento do Filho de Deus, que veio do céu para nos visitar, movido unicamente pelas entranhas da sua misericórdia.

Nós nos achávamos em estado de condenação, e eis que Jesus veio para nos salvar: Desceu dos céus para a nossa salvação. Eis ai o Pastor, vindo para salvar da morte as suas ovelhas, dando a vida por amor delas: Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a própria vida pelas suas ovelhas. Eis aqui o Cordeiro de Deus que veio sacrificar-se para nos obter a graça divina e fazer-se nosso libertador, nossa vida, nossa luz e nosso alimento no Santíssimo Sacramento. Jesus Cristo quis ser posto numa manjedoura, onde os animais acham o pasto, para nos dar a entender que se fez homem também para se tornar nosso alimento.

Jesus nasce, por assim dizer, nasce cada dia no Santíssimo Sacramento por meio da consagração feita pelo sacerdote. O altar é como que um presépio, onde nos alimentamos com a sua própria carne. Talvez alguém deseje trazer o Menino Jesus nos braços, assim como o trouxe o velho Simeão. Mas a fé nos ensina que na santa Comunhão temos, não somente em nossos braços, senão dentro do nosso peito, o mesmo Jesus, que esteve no presépio de Belém. Nasceu precisamente a fim de se dar a nós: Nasceu-nos uma criança, e foi-nos dado um filho. Senhor, eu sou a ovelha que por ir atrás das minhas satisfações e dos meus caprichos, desgarrei miseravelmente; mas vós, ó Pastor e também Cordeiro divino, baixastes do céu para me salvar, sacrificando-vos como vítima, sobre a cruz, em satisfação dos meus pecados. Que devo, pois, temer, se resolvo emendar-me? Não devo confiar inteiramente em vós, meu Salvador, que nascestes precisamente a fim de me salvar? Para me inspirar confiança, que penhor mais seguro de misericórdia podereis dar-me, depois da vossa própria pessoa? Ó meu querido Menino Jesus, quanto me aflige a lembrança de vos ter ofendido. Tenho-vos feito chorar na gruta de Belém. Mas, se vós me viestes buscar, eis que me prostro aos vossos pés, e apesar de vos ver humilhado e aniquilado nessa manjedoura, deitado sobre a palha, reconheço-vos como meu supremo Senhor e Rei.

 

 

 

VIDA DE TRIBULAÇÕES QUE JESUS CRISTO COMEÇOU A LEVAR DESDE O SEU NASCIMENTO

(Santo Afonso Maria de Ligório)

 

Jesus Cristo podia salvar-nos sem padecer, nem morrer; mas não. A fim de nos fazer conhecer até que ponto nos amava, quis escolher uma vida toda de tribulações. Por isso, o profeta Isaías o chamou: homem das dores. Está claro que a vida de Jesus Cristo devia ser uma vida toda cheia de dores. A sua Paixão não teve seu princípio no tempo da sua morte, mas sim, no começo da sua vida.

Vede que Jesus, apenas nascido, é posto na manjedoura de uma estrebaria, onde tudo concorria para atormentá-lo. É atormentado na vista, que não descobre na gruta senão paredes grosseiras e negras. É atormentado no olfato, pelo mau cheiro das imundícias dos animais que ali se acham. É atormentado no tato, pelas picadas da palha que lhe servia de cama. Pouco depois de nascido, vê-se obrigado a fugir para o Egito, onde passou vários anos da infância, na pobreza e no desprezo. Nem diferente foi a sua vida depois Nazaré; e eis que finalmente termina a sua vida em Jerusalém, morrendo sobre uma cruz, pela veemência dos tormentos.

De sorte que a vida de Jesus foi um martírio contínuo, e mesmo um duplo martírio, por ter sempre diante dos olhos todos os sofrimentos que em seguida deviam atormentá-lo até a morte.

Não foram precisamente as dores futuras que atormentaram Jesus Cristo, visto que de livre vontade aceitará os padecimento. O que o afligiu foi a previsão dos nossos pecados e da nossa ingratidão depois de tão grande amor seu.

 

 

 

JESUS CRISTO QUIS NASCER CRIANÇA

(Santo Afonso Maria de Ligório)

 

Considerai que ao fim de tantos séculos, depois de tantas súplicas e suspiros, o Messias, a quem os santos Patriarcas e Profetas não tinham sido dignos de verem, o Suspirado das gentes, o desejo das colinas eternas, o nosso Salvador, já veio, já nasceu e já se deu todo a nós: Nasceu-nos uma criança; foi-nos dado um filho. O Filho de Deus se fez pequenino para nos fazer grandes; deu-se a nós, a fim de que nós nos demos a Ele; veio mostrar-nos o seu amor a fim de que nós lhe respondamos com o nosso. Façamos-lhe acolhida afetuosa, amemo-lo e recorramos a Ele em todas as nossas necessidades.

As crianças gostam de dar o que se lhes pede. Jesus Cristo veio como criança, para se mostrar todo inclinado e propenso a comunicar-nos os seus bens: O Pai tudo tem posto em sua mão. Se desejamos luz, Ele veio para nos iluminar. Se queremos força para resistirmos aos inimigos, Ele veio exatamente para nos confortar. Se queremos o perdão e a salvação, Ele veio para nos perdoar e nos salvar. Se queremos, finalmente, o dom supremo do divino amor, Ele veio para abrasar-nos o coração. É, sobretudo, para este fim que se fez criança. Quis aparecer no meio de nós tanto mais amável, quanto mais pobre e humilde, quis tirar-nos todo o temor e ganhar o nosso amor.

Além disso, Jesus quis vir pequenino para ser por nós amado com amor não somente de apreço, senão também de ternura. Todas as crianças sabem ganhar o afeto de todos aqueles que as veem; mas quem não amará com toda a ternura a um Deus feito criancinha, necessitado de leite, tremendo de frio, pobre, humilhado e abandonado; a um Deus que está chorando numa manjedoura sobre a palha?

Ó meu Jesus, tão amável e de mim tão desprezado, descestes do céu, a fim de nos remirdes do inferno e vos dardes todo a nós, e nós, como temos podido desprezar-vos tantas vezes e virar-vos as costas? Ó Deus, os homens mostram-se tão agradecidos às criaturas! Se alguém lhes faz qualquer favor, se alguém vem de longe a visitá-los, se se lhes dá alguma demonstração de afeto, não podem esquecê-lo e sentem-se obrigados a retribuí-lo. E depois são tão ingratos para convosco, que sois o seu Deus, que sois tão amável e que por seu amor não recusastes dar o sangue e a vida.

 

 

 

JESUS CRISTO ENVOLTO EM FAIXAS

(Santo Afonso Maria de Ligório)

 

Imaginai verdes a Virgem Maria que, depois de ter dada à luz  seu divino Filho, o toma com reverência nos braços, adora-o primeiro como seu Deus, e em seguida o enfaixa estreitamente. Vede como o Menino Jesus obediente oferece as mãozinhas, oferece os pés e se deixa enfaixar. Ponderai que, cada vez que o divino Infante se deixava enfaixar, pensava nas cordas com que um dia devia ser amarrado no Getsêmani, naquelas cordas que depois deviam prendê-lo à coluna, e nos pregos que deviam fixá-lo na cruz. Pensando assim, deixava-se de boa mente enfaixar, a fim de livrar as nossas almas dos lações do inferno.

Jesus, estreitado nas faixas, volve-se a nós e convida-nos a que nos unamos consigo pelos doces laços do amor. Volvendo-se em seguida a seu Eterno Pai diz: Meu Pai, os homens abusaram de sua liberdade e, revoltados contra vós, tornaram-se escravos do pecado. Para compensar a sua desobediência, quero ser envolto e estreitado nestas faixas. Assim ligado, ofereço-vos a minha liberdade, a fim de que o homem fique livre da escravidão do demônio. Aceito estas faixas, que me são caras, e mais caras ainda, porque são símbolos das cordas com que, desde agora, me ofereço a ser um dia amarrado e conduzido à morte para a salvação dos homens.

As faixas de Jesus Cristo foram as ligaduras saudáveis para curar as chagas de nossas almas. Portanto, ó meu Jesus, quisestes ser estreitamente envolto em faixas por meu amor, e eu me recusarei a fazer-me ligar pelos laços do vosso amor? Terei para o futuro ainda a coragem de me desligar dos vossos laços tão suaves e amáveis, para me fazer escravo do inferno? Meu Senhor, por amor meu estais ligado nesta manjedoura, quero sempre estar ligado em união convosco.

As faixas que nos devem prender são a firme resolução de nos unirmos a Deus pelo amor, desfazendo-nos ao mesmo tempo do afeto a qualquer coisa que não seja Deus. Parece que é para este mesmo fim que o nosso amante Jesus se quis deixar ficar, por assim dizer, ligado e prisioneiro, no Santíssimo Sacramento do altar, debaixo das espécies sacramentais, a fim de fazer as almas suas diletas, prisioneiras do seu amor.

Meu amado Menino Jesus, como poderei temer os vossos castigos, já que vos vejo ligado estreitamente nas faixas, como que privando-vos do poder de levantar as mãos para me punir? Com as faixas me dais a entender que não me quereis castigar, se eu quero quebrar os laços dos meus vícios e ligar-me a vós. Sim, meu Jesus, quero rompê-los. Pesa-me de toda a minha alma, de me ter separado de vós pelo abuso da liberdade que me destes. Vós me ofereceis outra liberdade mais bela, a que me livra do cativeiro do demônio e me faz aceitar no número dos filhos de Deus. Por meu amor vos deixastes atar com essas faixas; eu quero ser prisioneiro do vosso grande amor. Ó laços ditosos, ó formosas insígnias da salvação, que ligais as almas a Deus, por piedade, ligai também o meu pobre coração. Ligai-o tão fortemente, que para o futuro nunca mais se possa apartar do amor ao Bem supremo. Jesus meu, amo-vos, a vós me quero ligar, e vos dou todo o meu coração, toda a minha vontade. Não quero mais deixar-vos, ó meu amado Senhor.

 

 

 

JESUS CRISTO É ALIMENTADO

(Santo Afonso Maria de Ligório)

 

Depois que o Menino Jesus foi envolto nas faixas, pediu chorando a alimentação. A esposa do Cântico dos Cânticos desejava ver seu irmãozinho tomando o alimento maternal. Aquela esposa desejava-o, mas não foi atendida. Nós, ao contrário, temos a ventura de ver o Filho de Deus, feito homem e nosso irmãozinho, pedir a Maria o alimento próprio da sua idade. Que espetáculo era para o Céu ver o Verbo divino feito criança, nutrir-se com o leite que lhe oferecia uma virgenzinha, sua criatura! Aquele que nutre todos os homens e todos os animais da terra, ei-lo reduzido a tal estado de fraqueza e de pobreza, que precisa de um pouco de leite para sustentar a vida.

O Menino Jesus, porém, alimentava-se poucas vezes por dia, e cada vez em pequena quantidade. Como foi precioso para nós aquele leite que nas veias de Jesus Cristo devia mudar-se em sangue e assim preparar um banho salutar, no qual pudéssemos lavar as nossas almas! Ponderemos ainda que Jesus tomava o leite a fim de nutrir este corpo que queria deixar-nos como nosso alimento na santa Comunhão.

Ó meu pequenino Redentor, enquanto tomais alimento, estais pensando em mim; pensais em como aquele leite se transformará no sangue que um dia derramareis antes de morrer, a fim de resgatar por tão alto preço a minha alma e alimentá-la com o Santíssimo Sacramento, que é o leite salutar por meio do qual o Senhor conserva as nossas almas na vida da graça.

Ó meu amado Menino Jesus, permiti que eu também exclame com a mulher do Evangelho: Bem-aventurado o ventre que te trouxe e os peitos a que foste criado. Bem-aventurada sois vós, ó divina Mãe, por terdes tido a sorte feliz de alimentardes o Verbo encarnado. Por piedade: admiti-me, em companhia do vosso divino Filho, a receber de vós o leite de uma devoção terna e amorosa à infância de Jesus e a vós, minha amadíssima Mãe.

Ó dulcíssimo e amabilíssimo Menino Jesus! Vós sois o Pão do céu que sustenta aos anjos; vós dispensais alimentos a todas as criaturas. Como é, pois, que estais reduzido à necessidade de pedir a uma virgenzinha um pouco de leite para sustentardes a vida? Ó amor divino! Como pudestes reduzir um Deus a tal estado de pobreza, que precisa pedir algum alimento? Mas já vos entendo, ó meu Jesus: nessa gruta aceitais o leite de Maria a fim de mudá-lo em vosso sangue, e oferecê-lo um dia a Deus como sacrifício em satisfação pelos nossos pecados. Ó Maria, continue a alimentar o vosso Filho, porque cada gota desse leite servirá para limpar a minha alma das suas culpas, e a nutri-la depois na santa Comunhão.

 

 

 

O SONO DO MENINO JESUS

(Santo Afonso Maria de Ligório)

 

O sono do Menino Jesus foi demasiadamente breve e doloroso. Servia-lhe de berço uma manjedoura, a palha do colchão e do travesseiro. Assim o sono de Jesus foi muitas vezes interrompido pela dureza daquela caminha excessivamente dura e molesta, e pelo rigor do frio que reinava na gruta. De vez em quando, porém, a natureza sucumbia à necessidade e o Menino querido adormecia. Mas o sono de Jesus foi muito diferente do das outras crianças. O sono destas é útil à conservação da vida; não, porém, quanto às operações da alma, porque esta, privada do uso dos sentidos, fica reduzida à inatividade. Não foi assim o sono de Jesus Cristo. O corpo repousava; velava, porém, a alma, que em Jesus era unida à Pessoa do Verbo, que não podia dormir nem ficar adormecida pela inatividade dos sentidos.

Dormia, pois, o Santo Menino, mas enquanto dormia, pensava em todos os padecimentos que teria de sofrer por nosso amor, no correr de toda a sua vida e na hora da sua morte. Pensava nos trabalhos que havia de passar no Egito e em Nazaré, levando uma vida extremamente pobre e desprezada. Pensava particularmente nos açoites, nos espinhos, nas injúrias, na agonia e na morte desolada, que afinal devia padecer sobre a cruz. Tudo isso Jesus oferecia ao Pai Eterno, enquanto estava dormindo, a fim de obter para nós o perdão e a salvação. Assim nosso Salvador, durante o sono, estava merecendo por nós, reconciliava conosco seu Pai e alcança-nos graças.

Roguemos agora a Jesus que, pelos merecimentos de seu sono, nos livre do sono mortal dos pecadores, que dormem miseravelmente na morte do pecado, esquecidos de Deus e do seu amor. Peçamos-lhe que nos dê, ao contrário, o sono feliz da sagrada Esposa dos Cânticos dos Cânticos, da qual dizia: Eu vos conjuro... que não perturbeis a minha amada o seu descanso, nem a façais despertar, até que ela mesma queira. É este o sono que Deus dá às almas suas diletas.

Ó meu querido e Santo Menino, vós estais dormindo, mas esse vosso sono como me abrasa em amor! Para nós o sono é figura da morte; mas em vós é símbolo da vida eterna, porque, enquanto repousais, estais merecendo para mim a eterna salvação. Estais dormindo, porém o vosso coração não dorme, senão pensa e padecer e morrer por mim. Durante o vosso sono rogais por mim e me impetrais de Deus o descanso do Céu. Mas enquanto não me levardes, como espero, para repousar junto de vós no céu, quero que repouseis sempre em minha alma.

 

 

 

O MENINO JESUS, POR MEIO DE UMA ESTRELA, CHAMA OS MAGOS

(Santo Afonso Maria de Ligório)

 

Jesus nasce pobre numa lapinha: os anjos do céu, é verdade, reconhecem-no por seu Senhor, mas os homens da terra deixam-no abandonado. Vêm apenas uns poucos pastores para adorá-lo. O Redentor, porém, já quer começar a comunicar-nos a graça da Redenção, e por isso começa a manifestar-se aos gentios que menos o conheciam. Manda uma estrela iluminar os Santos Magos, para que venham conhecer e adorar o seu Salvador. Foi esta a primeira e também a maior graça que Jesus nos deu: a vocação à fé, à qual sucede a vocação à graça, de que os homens se achavam privados.

Sem demora os Magos se põem a caminho; a estrela acompanha-os até a gruta, onde está o Santo Menino. Chegados ali, entram, e o que acham? Acharam o Menino com Maria. Eles acham uma virgenzinha pobre e um menino pobre envolto em paninhos, sem ninguém para servi-lo ou assisti-lo. Mas como? Ao entrarem naquela humilde gruta, os santos peregrinos sentem uma alegria nunca antes experimentada; sentem seu coração atraído para aquele Menino pequenino. Aquela palha, aquela pobreza, aquele choro de seu pequeno Salvador... que setas de amor para seus corações, que chamas felizes de amor neles se acendem! O Menino acolhe-os com sorriso amável, demonstrando assim o afeto com que os aceita entre as primeiras “presas” da sua Redenção.

Os Santos Reis olham depois para Maria Santíssima, que está silenciosa, mas com um semblante no qual reluz uma doçura celeste, acolhe-os e agradece-lhes por terem vindo reconhecer o Filho por soberano Senhor. Eis que os Reis, silenciosos pelo respeito, adoram o Filho da Virgem Maria e reconhecem-nos como Deus, beijando-lhe os pés e oferecendo-lhe os seus presentes: ouro, incenso e mirra. Em união com os Santos Magos, adoremos o nosso pequenino Rei Jesus e ofereçamos-lhe todo o nosso coração.

Ó amável Menino Jesus, ainda que vos veja nessa gruta, deitado sobre a palha, tão pobre e tão desprezado, a fé ensina-me que sois meu Deus, descido do céu para a minha salvação. Reconheço-vos por meu soberano Senhor e meu Salvador, mas nada tenho para vos oferecer. Não tenho ouro do amor, porque amei as criaturas e os meus caprichos, e não vos amei a vós que sois infinitamente amável. Não tenho incenso da oração, porque até hoje vivi miseravelmente esquecido de vós. Não tenho mirra da mortificação, porquanto, tantas vezes tenho desgostado a vossa infinita bondade. Que poderei eu oferecer-vos? Ofereço-vos este meu coração, imundo e pobre como é; aceitai-o e transformai-o. Viestes sobre a terra exatamente para, com o vosso sangue, purificar os corações humanos do pecado e assim transformá-los de pecadores em santos. Dai-me vós mesmo o ouro, o incenso e a mirra que desejais. Dai-me o ouro do vosso santo amor; dai-me o espírito da santa oração; dai-me o desejo e a força para me mortificar em todas as coisas que vos possam desagradar. Estou resolvido a obedecer-vos e a amar-vos; mas vós conheceis a minha fraqueza, dai-me a graça de vos permanecer fiel.

 

 

 

O MENINO JESUS CHORA

(Santo Afonso Maria de Ligório)

 

As lágrimas do Menino Jesus foram muito diferentes das que as outras crianças derramam quando nascem. Estas choram de dor, mas Jesus Cristo não chora de dor, mas sim, de compaixão para conosco e de amor. Por esta razão os judeus, ao verem o Salvador chorar a morte de Lázaro, diziam: Vede como o amava. Vede como nosso Deus ama os homens, pois por amor deles vemo-lo feito homem, feito criança, vemo-lo chorar.

Jesus Cristo chorava e oferecia as suas lágrimas ao Pai Eterno, para obter para nós o perdão dos nossos pecados. Aquelas lágrimas lavaram os meus crimes. Com seus choros e gemidos o Menino Jesus suplicava misericórdia por nós, que estávamos condenados à morte eterna, e aplacava a indignação do seu Pai. Quanto intercederam a nosso favor as lágrimas do divino Menino! Como aceitas foram por Deus! Foi então que Deus Pai mandou anunciar pelos anjos que já queria fazer a paz com os homens e recebê-los em sua graça: Paz na terra aos homens de boa vontade.

Jesus chora de amor; mas chora também de dor à vista de tão grande número de pecadores que, apesar de tantas lágrimas e de tanto sangue derramado para a salvação deles, não deixariam de desprezar a sua graça. Quem será tão cruel que, vendo um Deus-Menino chorar as nossas culpas, não chore também e não deteste os pecados que tanto tem feito chorar o nosso amantíssimo Senhor? Não agravemos mais os padecimentos deste inocente Menino, mas consolemo-lo misturando as nossas lágrimas com as suas. Ofereçamos a Deus as lágrimas de seu Filho, e roguemos-lhe que pelos merecimentos delas nos perdoe.

Ó meu amado Menino Jesus, quando estáveis chorando na gruta de Belém, pensáveis em mim, porquanto o que vos fazia chorar era a previsão dos meus pecados. É verdade, pois, ó meu Jesus, que, em vez de vos consolar com o meu amor e a minha gratidão ao ver quanto tendes padecido pela minha salvação, agravei a vossa dor e a causa das vossas lágrimas. Se eu tivesse cometido menos pecados, teríeis chorado menos. Chorai, ó Menino Jesus; reconheço que tendes motivo para chorar prevendo a grande ingratidão dos homens, depois do tão grande amor vosso. Mas, já que chorais, chorai também por mim; as vossas lágrimas são a minha esperança. Eu também choro os desgostos que vos tenho dado, ó Redentor meu; abomino-os, detesto-os e deles me arrependo de todo o meu coração.

Deploro todos os dias e todas as noites infelizes que passei em vossa inimizade e privado da vossa graça; porém, ó meu Jesus, para que serviriam as minhas lágrimas sem as vossas?

Pai Eterno, ofereço-vos as lágrimas do Menino Jesus; perdoai-me por amor delas. E vós, ó meu amado Salvador, oferecei a vosso Pai todas as lágrimas que em vossa vida derramastes por mim, e fazei com que me seja propício. Peço-vos também, Amor meu, que enterneçais com as vossas lágrimas o  meu coração e o abraseis no vosso amor. Quem me dera que de hoje em diante vos consolasse tanto com o meu amor, quanto vos fiz sofrer com os meus pecados! Concedei-me, ó Senhor, que os dias de vida que ainda me restam, não sirvam mais para vos dar novos desgostos, senão para chorar todos os que vos tenho dado e para amar-vos com todo o afeto da minha alma.

 

 

 

VIDA POBRE QUE JESUS CRISTO COMEÇOU A LEVAR DESDE O SEU NASCIMENTO

(Santo Afonso Maria de Ligório)

 

Deus dispôs que no tempo em que seu Filho devia nascer na terra, fosse lançada a ordem do imperador, que cada um fosse alistar-se na cidade da sua origem. E assim aconteceu que, de conformidade com o edito de César, São José tivesse de ir, com a sua santa Esposa, a Belém para ser alistado. Chegou então a hora do parto de Maria, que, por achar acolhida em nenhuma outra casa, nem mesmo na hospedaria comum dos pobres, viu-se obrigada a passar a noite em uma gruta, e ali deu à luz o Rei do céu. Se Jesus tivesse nascido em Nazaré, teria nascido pobre, sim; mas ao menos teria tido um quarto asseado e sem umidade, um pouco de luz, paninhos aquecidos e um bercinho mais cômodo. Quis, porém, nascer naquela gruta fria e sem luz; quis que uma manjedoura lhe servisse de berço e um pouco de palha dura lhe fosse colchão.

Entremos na lapinha de Belém, mas entremos com fé. Se entrarmos sem fé, acharemos apenas uma criança pobre, que excita a nossa compaixão pela sua formosura amável, que está tremendo e chorando por causa do frio e da palha que fere. Se, ao contrário, entramos com fé e pensarmos que aquele Menino é o Filho de Deus, que por nosso amor veio à terra e sofre tanto para satisfazer pelos nossos pecados, como poderemos deixar de lhe agradecer e de o amar?

Ó meu dulcíssimo Menino Jesus, como é possível, que, sabendo o que por meu amor padecestes, vos tenha sido tão ingrato, e causado tão graves desgostos? As lágrimas que derramastes, e a pobreza que por meu amor escolhestes, me fazem esperar o perdão das injúrias que vos tenho feito. Pesa-me, ó Jesus meu, de vos ter virado as costas tantas vezes, e amo-vos sobre todas as coisas.

Meu Jesus, se em outros tempos meu coração se afeiçoou aos bens da terra, de hoje em diante vós sereis o meu único tesouro. Ó Deus da minha alma, vós sois um bem infinitamente mais estimável que qualquer outro bem. Vós sois digno de um amor infinito: amo-vos e estimo-vos mais do que todas as outras coisas, mais do que a mim mesmo. Vós sois o único objeto de todo o meu amor. Não desejo mais nada deste mundo; mas se pudesse ter um desejo, seria o de possuir todos os tesouros e todos os reinos da terra, a fim de privar deles por vosso amor.

 

 

 

 

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