“Neste quadro da morte,
caro irmão, reconhece-te a ti mesmo, e considera o que virás a ser
um dia: “Recorda-te que és pó, e em pó te converterás”. Pensa que
dentro de poucos anos, quiçá dentro de alguns meses ou dias, não
serás mais que vermes e podridão. Este pensamento fez de Jó um
grande santo: “À podridão eu disse: tu és meu pai; aos vermes: sois
minha mãe e minha irmã”.
Tudo se há de acabar, e se
perderes tua alma na morte, tudo estará perdido para ti.
“Considera-te desde já como morto, — disse São Lourenço Justiniano —
pois sabes que necessariamente hás de morrer” . Se já estivesses
morto, que não desejarias ter feito por Deus? Portanto, agora que
vives, pensa que algum dia cairás morto. Disse São Boaventura que o
piloto, para governar o navio, se coloca na extremidade traseira do
mesmo; assim o homem, para levar a vida boa e santa, deve imaginar
sempre o que será dele na hora da morte. Por isso, exclama São
Bernardo: “Considera os pecados de tua mocidade e cora; considera os
pecados da idade viril e chora; considera as desordens da vida
presente, e estremece”, e apressa-te em remediá-la prontamente.
São Camilo de Lellis, ao
aproximar-se de alguma sepultura, fazia estas reflexões: Se estes
mortos voltassem ao mundo, que não fariam pela vida eterna? E eu,
que disponho de tempo, que faço eu por minha alma? Este Santo
pensava assim por humildade; mas tu, querido irmão, talvez com razão
receies ser considerado aquela figueira sem fruto, da qual disse o
Senhor: “Três anos já que venho a buscar frutas a esta figueira, e
não os achei” (Lc 13,7).
Tu, que há mais de três anos estás
neste mundo, quais os frutos que tens produzido? Considera — disse
São Bernardo — que o Senhor não procura somente flores, mas quer
frutos; isto é, não se contenta com bons propósitos e desejos, mas
exige a prática de obras santas. É preciso, pois, que saibas
aproveitar o tempo que Deus, em sua misericórdia, te concede, e não
esperes com a prática do bem até que seja tarde, no instante solene
quando te diz: Vamos, chegou o momento de deixar este mundo.
Depressa! O que está feito, está feito”
(Santo Afonso Maria de Ligório,
Preparação para a morte, Consideração I, Ponto III).
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