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                  “Que é nossa 
                  vida?... Assemelha-se a um tênue vapor que o ar dispersa e 
                  desaparece completamente. Todos sabemos que temos de morrer. 
                  Muitos, porém, se iludem, imaginando a morte tão afastada que 
                  jamais houvesse de chegar. Jó, entretanto, nos adverte que a 
                  vida humana é brevíssima: “O homem, vivendo breve tempo, brota 
                  como flor e murcha”. Foi esta mesma verdade que Isaías 
                  anunciou por ordem do Senhor. “Clama — disse-lhe — que toda a 
                  carne é erva... verdadeira erva é o povo; seca a erva, e cai a 
                  flor” (Is 40,6-8). A vida humana é, pois, semelhante à dessa 
                  planta. Chega a morte, seca a erva; acaba a vida e murcha cai 
                  a flor das grandezas e dos bens terrenos. 
                  
                  A morte corre 
                  velocíssima sobre nós, e nós, a cada instante, corremos para 
                  ela (Jo 9, 25). Este momento em que escrevo — disse São 
                  Jerônimo — faz-me caminhar para a morte. Todos temos de 
                  morrer, e nós deslizamos como a água sobre a terra, a qual não 
                  volta para trás” (Jó 27, 15). Vê como corre o regato para o 
                  mar; suas águas não retrocedem; assim, meu irmão, passam teus 
                  dias e cada vez mais te acercas da morte. Prazeres, 
                  divertimentos, faustos, lisonjas e honras, tudo passa. E o que 
                  fica? “Só me resta o sepulcro” (Jó, 17,1). Seremos lançados 
                  numa cova e, ali, entregues à podridão, privados de tudo. No 
                  transe da morte, a lembrança de todos os gozos que em vida 
                  desfrutamos e bem assim das honras adquiridas só servirá para 
                  aumentar nossa mágoa e nossa desconfiança de obter a salvação 
                  eterna. Dentro em breve, o pobre mundano terá que dizer: minha 
                  casa, meus jardins, esses móveis preciosos, esses quadros 
                  raríssimos,  aqueles vestuários já não serão para mim! Só me 
                  resta o sepulcro. 
                  
                  Ah! com que dor 
                  profunda há de olhar para os bens terrestres aquele que os 
                  amou apaixonadamente! Mas essa mágoa já não valerá senão para 
                  aumentar o perigo em que se acha a salvação. A experiência nos 
                  tem provado que tais pessoas, apegadas ao mundo, mesmo no 
                  leito da morte, só querem que se lhes fale de sua enfermidade, 
                  dos médicos que se possam consultar, dos remédios que os 
                  aliviem. Mas, logo que se trata da alma, enfadam-se e pedem 
                  para descansar, porque lhes dói a cabeça e não podem ouvir 
                  conversação. Se, por acaso, respondem, é confusamente e sem 
                  saberem o que dizem. Muitas vezes, o confessor lhes dá a 
                  absolvição, não porque os acha bem preparados, mas porque já 
                  não há tempo a perder. Assim  morrem aqueles que pensam pouco 
                  na morte” 
                  (Santo Afonso Maria 
                  de Ligório, Preparação para a Morte, Consideração III, Ponto 
                  I).  |