Anápolis, 14 de agosto de 2007
À senhora ...
Congonhas – MG
Prezada senhora, seja firme e não se
abale com as dificuldades que surgirem em sua vida: “Cristo
comigo, a quem temerei? Mesmo que as ondas se agitem contra mim,
mesmo os mares, mesmo o furor dos príncipes: tudo isto me é mais
desprezível que uma aranha”
(Das Homilias de São João Crisóstomo).
Obrigado pelo seu e-mail.
Parabéns pela sua firmeza e convicção
em renunciar as coisas passageiras deste mundo; persevere nesse
caminho: “Vi que a felicidade no mundo não existe, sempre seu
trato me deixa um vazio que Nosso Senhor enche por completo quando
estou com ele na igreja”
(Santa Teresa dos Andes, Carta 20),
e: “Que papéis tão ridículos deve-se representar nesses salões da
sociedade!” (Idem, Carta 110), e também:
“Vejo que tudo o que é do mundo é vaidade, que a felicidade que
podemos encontrar na terra está em servir a Deus”
(Idem, Carta 12).
Caríssima senhora, lembre-se
continuamente de que todos aqueles que se decidem a ser
verdadeiramente de Deus, são perseguidos e ridicularizados:
“Filho, se te dedicares a servir ao Senhor, prepara-te para a prova”
(Eclo 2, 1)
e: “Todos os que quiserem viver com piedade em Cristo Jesus serão
perseguidos” (2 Tm 3, 12).
Prezada senhora, não faça caso do que
dizem os mundanos: “Assim que a tua devoção se for tornando
conhecida no mundo, maledicências e adulações te causarão sérias
dificuldades de praticá-la. Os libertinos tomarão a tua mudança por
um artifício de hipocrisia e dirão que alguma decisão sofrida no
mundo te levou por pirraça a recorrer a Deus.
Os teus amigos, por sua vez, se
apressarão a te dar avisos que supõem ser caridosos e prudentes
sobre a melancolia da devoção, sobre a perda do seu bom nome no
mundo, sobre o estado de tua saúde, sobre o incômodo que causas aos
outros, sobre a necessidade de viver no mundo conformando-se aos
outros e, sobretudo, sobre os meios que temos para salvar-nos sem
tantos mistérios.
Vêem-se homens e mulheres passarem
noites inteiras no jogo; e haverá uma ocupação mais triste e
insípida do que está? Entretanto, seus amigos se calam; mas, se
destinamos uma hora à meditação ou se nos levantamos mais cedo, para
nos prepararmos para a santa comunhão, mandam logo chamar o médico,
para que nos cure desta melancolia e tristeza. Podem se passar
trinta noites a dançar, que ninguém se queixa; mas por levantar-se
na noite de Natal para a Missa do Galo, começa-se logo a tossir e a
queixar de dor de cabeça no dia seguinte.
Quem não vê que o mundo é um juiz
iníquo, favorável aos seus filhos, mas intransigente e severo para
os filhos de Deus?
Só nos pervertendo com o mundo,
poderíamos viver em paz com ele, e impossível é contentar os seus
caprichos — Veio João Batista, diz o divino Salvador, o qual não
comia pão nem bebia vinho, e dizeis: Ele está possesso do demônio.
Veio o Filho do Homem, come e bebe, e dizeis que é um samaritano.
É verdade, se condescenderes com o
mundo e jogares e dançares, ele se escandalizará de ti; e, se não o
fizeres, serás acusada de hipocrisia e melancolia. Se te vestires
bem, ele te levará isso a mal, e, se te negligenciares, ele chamará
isso baixeza de coração. A tua alegria terá ele por dissolução e a
tua mortificação por ânimo carrancudo; e, olhando-te sempre com maus
olhos, jamais lhe poderás agradar.
As nossas imperfeições ele
considera pecados, os nossos pecados veniais ele julga mortais, e
malícias, as nossas enfermidades; de sorte que, assim como a
caridade, na expressão de São Paulo, é benigna, o mundo é maligno.
A caridade nunca pensa mal de
ninguém e o mundo o pensa sempre de toda sorte de pessoas; e, não
podendo acusar as nossas ações, condena ao menos as nossas
intenções. Enfim, tenham os carneiros chifres ou não, sejam pretos
ou branco, o lobo sempre os há de tragar, se puder.
Procedamos como quisermos, o mundo
sempre nos fará guerra. Se nos demorarmos um pouco mais no
confessionário, perguntará o que temos tanto que dizer; e, se saímos
depressa, comentará que não contamos tudo. Espreitará todas as
nossas ações e, por uma palavra um pouco menos branda, dirá que
somos insuportáveis. Chamará avareza o cuidado por nosso negócios e
idiotismo a nossa mansidão. Mas, quanto aos filhos do século, sua
cólera é generosidade; sua avareza, sábia economia; e suas maneiras
livres, honesto passatempo. É bem verdade que as aranhas sempre
estragam o trabalho das abelhas.
Abandonemos esse mundo cego, grite
ele quanto quiser, quanto uma coruja para inquietar os passarinhos
do dia. Sejamos firmes em nossos propósitos, invariáveis em nossas
resoluções e a constância mostrará que a nossa devoção é séria e
sincera. Os cometas e os planetas parecem ter o mesmo brilho; mas os
cometas, que são corpos passageiros desaparecem em breve, ao passo
que os planetas brilham continuamente. Do mesmo modo muito se parece
a hipocrisia com a virtude sólida e só se distingue porque aquela
não tem constância e se dissipa com a fumaça, ao passo que esta é
firme e constante.
Demais, para assegurar os começos
de nossa devoção, é muito bom sofrer desprezos e censuras injustas
por sua causa; deste modo nós nos premunimos contra a vaidade e o
orgulho, que são como as parteiras do Egito, às quais o infernal
faraó mandou matar os filhos varões dos judeus no mesmo dia do seu
nascimento. Enfim, nós estamos crucificados para o mundo e o mundo
deve ser crucificado para nós. Ele nos toma por loucos;
consideremo-lo como um insensato”
(São Francisco de Sales,
Introdução à Vida Devota, IV, 1).
Prezada senhora, jamais desanime, não
abandone o caminho da salvação por causa das criaturas, mesmo que
sejam esposo e filhos, Deus vale mais que todos. O céu é a Pátria
dos fortes!
Eu te abençôo e te guardo no
Imaculado Coração de Maria.
Atenciosamente,
Pe.
Divino Antônio Lopes FP.
|