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                  “O Senhor não nos quer ver 
                  perdidos. Por isso, com ameaça de castigo, não cessa de 
                  advertir-nos que mudemos de vida. Se não vos converterdes, 
                  vibrará sua espada (Sl 7,13). Vede — disse em outra parte — 
                  quantos são os desgraçados que não quiseram emendar-se, e a 
                  morte repentina os surpreendeu quando não esperavam, quando 
                  viviam despreocupados, julgando terem ainda muitos anos de 
                  vida (1Ts 5, 3). Disse-nos também: Se não fizerdes penitência, 
                  todos haveis de perecer. Por que tantos avisos do castigo 
                  antes de infligi-lo, senão porque quer que nos corrijamos e 
                  evitemos morte funesta. Quem dá aviso para que nos 
                  acautelemos, não tem a intenção de matar-nos — disse Santo 
                  Agostinho. 
                  
                  É mister, pois, que 
                  preparemos nossas contas antes que chegue o dia do vencimento. 
                  Se durante a noite de hoje devesses morrer, e ficasse decidida 
                  assim a tua salvação eterna, estarias bem preparado? Quanto 
                  não darias, talvez, para obter de Deus a trégua de mais um 
                  ano, um mês, um dia sequer! Por que agora, já que Deus te 
                  concede tempo, não pões em ordem tua consciência? Acaso não 
                  pode ser este teu último dia de vida? Não tardes em te 
                  converter ao Senhor, e não o adies, porque sua ira poderá 
                  irromper de súbito e no tempo da vingança te perderás (Ecl 5, 
                  8-9). Para salvar-te, meu irmão, deves abandonar o pecado. 
                  
                  E se algum dia hás de 
                  abandoná-lo, por que o não deixas desde já? Esperas, talvez, 
                  que chegue a morte? Mas esse instante não é para os obstinados 
                  o tempo do perdão, senão da vingança. No tempo da vingança, te 
                  perderás. 
                  
                  Se alguém te deve soma 
                  considerável, tratas de assegurar o pagamento por meio de 
                  obrigação escrita, firmada pelo devedor; dizes: Quem sabe o 
                  que pode suceder? Por que, então, deixas de usar da mesma 
                  precaução, tratando-se da alma, que vale muito mais que o 
                  dinheiro? Por que não dizes também: quem sabe o que pode 
                  ocorrer? Se perderes aquela soma, não estará ainda tudo 
                  perdido e ainda que com ela perdesses todo o patrimônio, 
                  ficaria a esperança de o poder recuperar. Mas se, ao morrer, 
                  perdesses a alma, então, sim, tudo estaria irremediavelmente 
                  perdido, sem esperança de recobrar coisa alguma. 
                  
                  Cuidas em arrolar todos os 
                  bens de que és possuidor, com receio de que se percam quando 
                  sobrevier morte repentina. E se esta morte imprevista te 
                  achasse na inimizade para com Deus? Que seria de tua alma na 
                  eternidade?” (Santo 
                  Afonso Maria de Ligório, Preparação para a Morte, Consideração 
                  V, Ponto II). 
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