“Deus concedeu-vos uma graça preciosa;
fez-vos sentir vivamente a necessidade de uma vida sacerdotal
santa. Já muitas vezes vos tendes repetido a vós mesmos:
‘Tenho de ser um santo sacerdote: sem isto, considero a minha
carreira como que falida’.
Que verdade isto não é! Como é profundamente
verdadeiro! Sim, queridos Irmãos, deveis ser santos, não
deveis ser uns padres quaisquer, padres vulgares. De outro
modo, para bem pouco serve o vosso zelo e os vossos
sofrimentos. As ovelhas fugirão de vós e perder-se-ão em
grande número. Faz mais um santo só com uma palavra, que um
homem vulgar com uma série de discursos. As palavras de um
sacerdote santo ferem, abalam o sentimento, transfiguram as
almas e renovam-nas de um modo extraordinário, porque nascem
da graça, da oração e da penitência, vêm cheias da graças de
Deus. Talvez um sábio possa imitá-las habilmente, mas Deus só
fala através da boca de um santo (Mt 10, 20).
A ciência é um auxílio; os talentos naturais
são necessários, mais ou menos (I Cor 13). Irmãos, não vendais
ouropéis. Irmãos, não sejais recipientes vazios. Possuí
ciência e talento; mas sede antes de mais nada, homens de
oração e enérgicos na penitência. Sede Santos!
Irmãos, cada dia nos traz as mesmas
ocupações: sublimes, mas monótonas e tantas vezes exaustivas.
Tende cuidado, meus irmãos, com a rotina. Vigiai, para que os
santos Sacramentos não percam aos vossos olhos o seu caráter
divino, para que o vosso Mestre se não converta numa ‘coisa
qualquer’ nas vossas mãos; procurai não perder a vossa estima
pelos doentes e pobres; tende cuidado para que as crianças se
não convertam para vós em objeto de aborrecimento; os
pecadores em objeto de aversão. Não, estou a ser difuso
demais; atendei a uma coisa só; não sejais padres vulgares!
Procurai energicamente permanecer firmes no propósito de vos
santificardes, como o estais na resolução de vos salvardes.
Assim, a administração contínua dos Sacramentos será para vós
uma das fontes mais ricas de consolações e de edificação. Não
vos desvieis do caminho da santidade. Então, o vosso Mestre
será o vosso amigo íntimo; então, Jesus dar-se-á a conhecer na
fração do Pão e em nenhum lugar o reconhecereis melhor, o
visitareis com mais agrado que na Hóstia Santa que manejais
tão freqüentemente. Os vossos doentes passarão a ser os vossos
melhores auxiliares; sereis para eles verdadeiros
consoladores. Amareis e estimareis os vossos pobres como a
verdadeiros irmãos de Cristo, e bem depressa sereis vós
devedores deles e não eles vossos. As crianças, apesar dos
seus defeitos, serão os vossos prediletos, e vós os delas.
Tornar-se-ão para vós uma grande família espiritual, cujo pai
sois vós. Continuai a seguir sem
desvios o vosso caminho. À medida que avançais, encontrareis
cruzes, mal-entendidos, oposições, mofas, aridez e abandonos.
Mas chegareis ao termo sem terdes de ir mendigar
consolações entre leigos. No meio das cruzes, conservareis ao
menos a esperança e a confiança, e isto basta enquanto
vivermos neste mundo. E quem sabe se o vosso irmão não virá a
ser a vossa alegria?
Irmãos! Só temos uma vida e não ficaremos
sempre neste mundo. Vamos de viagem, e louco é o que procura
aqui morada e lugar de repouso (Hb 13, 14).
Para que servem lindos móveis com cabeça de
leão e ornatos de ouro? Dentro de trinta anos estarão no
quarto dos vossos herdeiros! Que são os conhecimentos e os
amigos deste mundo? Quinze dias após a vossa morte, já
andareis fora da lembrança e do coração deles, apesar de,
enquanto vivestes, vos terem custado muito tempo e muitas
dores de cabeça. Que são os louvores e a consideração? Fumo
vão que nos inebria, estonteia e nos faz mais mal que bem”
(Servo de Deus Eduardo Poppe, Carta
aos Sacerdotes). |