Anápolis, 17 de fevereiro de 2010
Ao
senhor Benjamim
Toronto
– Ontario - Canadá
Caríssimo Senhor,
não deixe de fazer o bem por causa dos maus católicos:
“Quantos maus existem também no seio da
Igreja; bons e maus vivendo num único seio materno, até que
finalmente um dia serão separados” (Santo Agostinho).
COMO COMEÇOU A CRIAÇÃO?
(Pe. Leo J. Trese)
Às vezes, um
costureiro, um pasteleiro ou um perfumista se gabam de lançar uma
nova “criação”. Quando isto ocorre, usam a palavra “criação” num
sentido muito amplo. Por nova que seja uma moda, terá que se basear
num tecido de algum tipo. Por agradável que seja uma sobremesa ou um
perfume, tem que se basear nalguma espécie de ingrediente.
“Criar”
significa “fazer do nada”. Falando com propriedade, só Deus, cujo
poder é infinito, pode criar.
Há cientistas
que se afanam hoje em dia nos laboratórios, tentando “criar” vida em
tubos de ensaio. Uma vez e outra, após fracassos repetidos, misturam
seus ingredientes químicos e combinam suas moléculas. Não sei se
algum dia conseguirão ter êxito ou não. Mas, ainda que a sua
paciência seja recompensada, não se poderá dizer que chegaram a
“criar” uma nova vida. Terão trabalhado todo o tempo com materiais
que Deus lhes proporcionou.
Quando Deus
cria, não necessita de materiais ou utensílios para poder trabalhar.
Simplesmente, quer que alguma coisa seja, e é. “Faça-se a luz”,
disse Ele no princípio, “e a luz foi...”. “Faça-se um firmamento no
meio das águas”, disse Deus, “e assim se fez” (Gn 1, 3-6).
A vontade
criadora de Deus não só chamou todas as coisas à existência, como as
mantém nela. Se Deus retirasse o sustentáculo da sua vontade a
qualquer criatura, esta deixaria de existir naquele mesmo instante;
voltaria ao nada do qual saiu.
As primeiras
obras da criação divina que conhecemos (Deus não tem por que
dizer-nos tudo) são os anjos. Um anjo é um espírito, quer dizer, um
ser com inteligência e vontade, mas sem corpo, sem dependência
alguma da matéria. A alma humana também é um espírito, mas a alma
humana nunca será anjo, nem sequer durante o tempo em que, separada
do corpo pela morte, esperar a ressurreição.
A alma humana
foi feita para estar unida a um corpo físico. Dizemos que tem
“afinidade” para um corpo. Uma pessoa humana, composta de alma e
corpo, será incompleta sem corpo. Falaremos mais extensamente disto
quando tratarmos da ressurreição da carne. Mas, de momento, queremos
apenas salientar o fato de que um anjo sem corpo é uma pessoa
completa, e que um anjo é muito superior ao ser humano.
Hoje em dia, há
muita literatura fantástica sobre os “marcianos”. Estes presumíveis
habitantes do nosso planeta vizinho são geralmente representados
como mais inteligentes e poderosos que nós, pobres mortais ligados à
terra. Mas nem o mais engenhoso dos escritores de ficção científica
poderá fazer justiça à beleza deslumbrante, à inteligência poderosa
e ao formidável poder de um anjo. Se isto é assim na ordem inferior
das hostes celestiais – na ordem dos propriamente chamados anjos -,
que não dizer das ordens ascendentes de espíritos puros que se
encontram acima dos anjos? Na Sagrada Escritura enumeram-se os
arcanjos, os principados, as potestades, as virtudes, as dominações,
os tronos, os querubins e os serafins. É muito possível que um
arcanjo esteja a tanta distância de um anjo, em perfeição, como este
de um homem.
Aqui em baixo,
evidentemente, sabemos bem pouco sobre os anjos, sobre a sua
natureza íntima ou os graus de distinção que há entre eles. Nem
sequer sabemos quantos são, mesmo que a Bíblia indique que seu
número é muito grande. “Milhares de milhares O servem e mil milhões
mais estão diante d’Ele”, diz o livro de Daniel (7, 10).
Só nos foram
dados a conhecer os nomes de três anjos: Gabriel, “Fortaleza de
Deus”; Miguel, “Quem como Deus?”; e Rafael, “Remédio de Deus”. Com
respeito aos anjos, é como se Deus se tivesse contentado com
deixar-nos vislumbrar apenas a magnificência e as maravilhas que nos
aguardam no mundo para além do tempo e do espaço. Como as linhas de
perspectiva de um quadro conduzem a atenção para o assunto central,
assim os coros ascendentes dos espíritos puros levam
irresistivelmente a nossa atenção para a suprema Majestade de Deus,
de um Deus cuja infinita perfeição é incomensuravelmente superior à
do mais excelso dos serafins.
E recordemos que
não estamos falando de um mundo de fantasia e imaginação. É um mundo
mais real que o planeta Marte, mais substancial que o chão que
pisamos. Mas o melhor de tudo é que podemos ir para esse mundo sem a
ajuda de naves interplanetárias. É um mundo para o qual, se
quisermos, iremos.
Quando Deus
criou os anjos, dotou cada um de uma vontade que o faz supremamente
livre. Sabemos que o preço do céu é amar a Deus. Por um ato de amor
a Deus, um espírito, seja anjo ou alma humana, fica habilitado a ir
para o céu. E este amor tem que ser provado pelo único modo com que
o amor pode ser provado: pela livre e voluntária submissão da
vontade criada a Deus, por aquilo a que chamamos comumente um “ato
de obediência” ou um “ato de lealdade”.
Deus fez os
anjos com livre arbítrio para que fossem capazes de fazer o seu ato
de amor a Deus, de escolher Deus. Só depois é que o veriam face a
face; só então poderiam entrar nessa união eterna com Deus a que
chamamos “céu”.
Deus não nos deu
a conhecer a espécie de prova a que submeteu os anjos. Muitos
teólogos pensam que Ele deu aos anjos uma visão prévia de Jesus
Cristo, o Redentor da raça humana, e lhes mandou que o adorassem...:
Jesus Cristo em todas as suas humilhações, uma criança no estábulo,
um criminoso na cruz. Segundo esta teoria, alguns anjos se teriam
rebelado ante a perspectiva de terem que adorar Deus encarnado.
Conscientes da sua própria magnificência espiritual, da sua beleza e
dignidade, não quiseram fazer o ato de submissão que a adoração a
Jesus Cristo lhes pedia. Sob a chefia de um dos anjos mais dotados,
Lúcifer, “Portador da luz”, o pecado de orgulho afastou de Deus
muitos anjos, e o terrível grito “non serviam”, “não
servirei”, percorreu os céus.
E assim começou
o inferno. Porque o inferno é, essencialmente, a separação de Deus
de um espírito. Mas tarde, quando a raça humana pecou na pessoa de
Adão, Deus daria ao gênero humano uma segunda oportunidade. Mas não
houve segunda oportunidade para os anjos rebeldes. Dadas a perfeita
clareza da sua mente angélica e a desimpedida liberdade da sua
vontade angélica, nem a infinita misericórdia de Deus podia
encontrar desculpa para o pecado dos anjos. Compreenderam (num grau
a que Adão jamais poderia chegar) quais seriam as consequências do
seu pecado. Neles não houve “tentação” no sentido em que
ordinariamente entendemos a palavra. Seu pecado foi o que poderíamos
chamar um pecado “a sangue frio”. Por terem rejeitado Deus,
deliberada e plenamente, suas vontades permaneceram fixas contra
Deus, fixas para sempre. Neles não é possível o arrependimento, eles
não querem arrepender-se. Fizeram a sua escolha por toda a
eternidade. Neles arde um ódio perpétuo contra Deus e contra todas
as suas obras.
Não sabemos
quantos anjos pecaram; Deus não quis informar-nos acerca disso.
Pelas referências da Sagrada Escritura, inferimos que os anjos
caídos (os “demônios”, como comumente os chamamos) são numerosos.
Mas o mais provável é que a maioria das hostes celestiais tenha
permanecido fiel a Deus, tenha feito seu ato de submissão a Deus e
esteja com Ele no céu.
Frequentemente
chama-se “Satanás” ao demônio. É uma palavra hebraica que significa
“adversário”. Os diabos são, claro está, os adversários, os inimigos
dos homens. Em seu ódio inextinguível a Deus, é natural que odeiem
também a sua criatura, o homem. Seu ódio torna-se ainda mais
compreensível à luz da crença de que Deus criou os homens
precisamente para substituir os anjos que pecaram, para preencher o
vazio que deixaram com a sua deserção.
Ao pecarem, os
anjos rebeldes não perderam nenhum de seus dons naturais. O diabo
possui uma acuidade intelectual e um poder sobre a natureza
impróprios dos meros seres humanos. Toda a sua inteligência e todo o
seu poder concentram-se agora em afastar do céu as almas a ele
destinadas. Os esforços do diabo encaminham-se agora incansavelmente
no sentido de arrastar o homem ao seu mesmo caminho de rebelião
contra Deus. Em consequência, dizemos que os diabos nos tentam ao
pecado.
Não conhecemos o
limite exato do seu poder. Ignoramos até que ponto podem influir
sobre a natureza humana, até que ponto podem dirigir o curso normal
dos acontecimentos para induzir-nos à tentação, para levar-nos ao
ponto em que devemos decidir entre a vontade de Deus e a nossa
vontade pessoal. Mas sabemos que o diabo nunca poderá forçar-nos a
pecar. Não pode destruir a nossa liberdade de escolha. Não pode, por
assim dizer, forçar-nos a um “sim”, quando realmente queremos dizer
“não”. Mas é um adversário a quem é muito saudável temer.
A CRIAÇÃO ANGÉLICA
(Archibald Joseph Macintyre)
A Sagrada
Escritura não explicita o momento em que os Anjos foram criados, nem
as circunstâncias em que a criação se realizou. O assunto ficou
aberto ao estudo dos teólogos.
Na Suma
Teológica, por exemplo, o tema é estudado na seguinte sequência:
- A origem dos
Anjos;
- Como os Anjos
foram aperfeiçoados pela graça e pela glória;
- Se os Anjos
foram criados no “céu empíreo”;
A questão LXI
trata especificamente do primeiro tema, o qual é proposto em quatro
artigos, aos quais a seguir nos referiremos, pois o assunto
complementa os argumentos apresentados no Capítulo 2, quanto à
conveniência lógica e teológica de que existam os Anjos.
Os Anjos não são a causa de sua própria existência (Art. 1 –
Questão LXI da Suma Teológica) .
É necessário
admitir-se que os Anjos bem como todos os seres com exceção de Deus,
foram criados por Deus. De fato, só Deus é a sua própria existência,
enquanto que, em todos os demais seres, a essência difere da
existência, e esta, sendo contingente, requer a criação por parte do
Ser Supremo que é Deus.
Santo Tomás
apresenta provas de razão da existência de Deus, demonstrando que
Ele é o Ser Supremo, e como tal, é:
- Increado e
Eterno
- Perfeição
Infinita
- Imaterial e
Incorpóreo
- Espiritual
- Inteligência
Suprema, Ordenadora e Criadora
- Onipresente
- Único
- Transcendente
- Causa
Eficiente Primeira de tudo que existe
- Bondade,
Verdade e Justiça infinitas.
Nas irrefutáveis
“vias de demonstração da existência de Deus” apresentadas
por Santo Tomás, fica patente que também os Anjos por serem
contingentes, estão incluídos entre as admiráveis obras da criação
Divina. Só Deus é o Ser pela própria essência, possuindo os demais
seres a existência por participação. Mas, tudo aquilo que existe por
participação, tem por causa aquilo que existe por sua essência.
Sendo seres contingentes, isto é, que podiam existir ou deixar de
existir, é necessário concluir que todos os Anjos como, aliás, tudo
aquilo que existe no universo, foram criados por Deus.
O Anjo não foi criado por Deus desde toda a eternidade (Art. 2º
Questão LXI – Santo Tomás)
Só Deus – Pai,
Filho e Espírito Santo, existe desde toda a eternidade, isto é,
“abaeterno”, sendo opinião em contrário, rejeitada como herética.
Assim, Deus produziu as criaturas do nada.
Se assim é,
logicamente começaram a existir.
O Anjo não está
inserido no tempo que marca o movimento dos astros, pois sendo
espiritual está fora de todo o movimento da natureza corpórea. Não
está, porém, fora do tempo, que lhe numera tanto a sucessão da
existência posterior à não-existência, nem a que mede a
sucessão de suas “operações”. É sob este aspecto que Santo Agostinho
diz que – “Deus move a criatura espiritual no tempo”, pois o Anjo
pode agir sobre a criatura material criada, e esta, em seus
movimentos, segue as leis universais do movimento, estabelecidas por
Deus.
Os Anjos e as
almas, dotados de intelecto, pelo fato mesmo de terem uma natureza
espiritual pela qual são capazes do conhecimento da verdade, são
incorruptíveis, e por isso, são eternos, no sentido de que nunca
deixarão de existir.
Essa natureza,
porém, não a tiveram desde toda a eternidade, uma vez que ela é
contingente, mas Deus lhos deu quando quis. Portanto tem-se que
concluir que os Anjos não existem desde toda a eternidade.
Os Anjos foram criados antes do mundo corpóreo? (Art. 3 Questão LXI – Santo Tomás)
Trata-se de
indagar agora: Os Anjos foram criados antes do universo corpóreo?
São João
Damasceno e São Gregório, o Teólogo, achavam que sim.
Diz Santo Tomás
que é dupla a opinião dos santos Doutores, parecendo a mais
provável aquela que ensina haverem sido os Anjos criados
simultaneamente com a natureza corpórea (diríamos, com o universo,
anterior à criação do homem). Isso, porque, segundo esse ponto de
vista, “os Anjos fazem parte da Criação como um todo, não
constituindo um universo à parte, mas concorrendo conjuntamente com
a natureza corpórea para a constituição do próprio universo criado.
De fato, a ordem das coisas entre si visa a glória de Deus, e,
secundariamente o bem e a perfeição relativa do Universo. Ora,
nenhuma parte é perfeita separada do todo. Logo, não é provável
que Deus, cujas obras são perfeitas, como diz a
Escritura, tivesse criado a criatura angélica separadamente, antes
de outras criaturas.”
- “Não se deve,
todavia, reputar errônea a opinião contrária de São Gregório
Nazianzeno e São Atanásio, cuja autoridade é tão grande, na doutrina
cristã, que”, diz Santo Tomás, “ninguém ousaria acusar-lhes de
errado o ensinamento que propuseram a esse respeito”. Os Anjos
teriam sido criados antes do universo das galáxias de miríades de
astros, segundo esta outra hipótese.
Os concílios de
Latrão IV e Vaticano I, aparentemente foram bastante explícitos ao
definirem que “Deus com sua virtude onipotente, no início dos
tempos, simul (simultânea e igualmente), criou uma e
outra criatura, a espiritual e a corpórea, isto é, a angélica e a
material e depois a humana; esta, composta de espírito e de corpo”.
Houve porém
controvérsias sobre o significado do advérbio latino simul.
Este pode ser tomado como advérbio de tempo, significando ao mesmo
tempo, de uma só vez, simultaneamente, ou como advérbio de
modo, significando igualmente, do mesmo modo, assim
também, etc.
Conforme
interpretaram o sentido do advérbio simul de um ou de outro
modo, os teólogos se dividiram, uns achando que a criação simultânea
dos Anjos e dos astros e demais seres no Cosmos, é dogma de fé, e
outros, que, dada a ambiguidade da palavra simul, não se
poderia a rigor considerar a afirmação sob a primeira interpretação,
como dogmática.
Santo Tomás,
posterior ao IV Concílio de Latrão, interpretou dessa última
maneira. Embora achando que os Anjos foram criados simultaneamente
com o Universo material, aceitou, contudo, como respeitável a
opinião contrária.
O Anjos foram criados no céu empíreo ou supremo? (Art. 4 –
Questão LXI – Santo Tomás)
Os antigos
tinham a ideia de um firmamento visível e de um outro, a que
denominavam céu empíreo, isto é, ígneo ou
intelectual, assim chamado, não pela existência nele de fogo,
mas pelo seu esplendor ou transcendência.
Seria a mais
alta das “quatro esferas celestes” da astronomia antiga, e onde
segundo supunham, ficava a morada dos bem-aventurados. Estrabão
(geógrafo grego 58 a.C. – 25 a.C.), por exemplo, achava que Deus
logo que criou o empíreo, encheu-o de Anjos.
Santo Tomás,
apresenta, contudo, a seguinte opinião:
- “Só existe um
único Universo, o qual é composto de criaturas corpóreas e
criaturas espirituais. Assim, foram criados seres espirituais, sob
certo aspecto ordenados aos seres corpóreos e que presidem a todos
eles.
- Ora, ser os
Anjos deviam presidir a natureza corpórea, era conveniente, que eles
fossem criados no ‘espaço’ supremo, quer se dê a este a denominação
de empíreo, cósmico ou qualquer outra, para designar o espaço
incomensurável onde se situa o universo criado.
- É nesse
sentido que Isidoro (bispo de Sevilha, doutor da Igreja +636) diz
que o céu supremo é o dos Anjos.
- Assim, os
Anjos não foram criados em um determinado lugar corpóreo ou
espacial, como se dependessem dos corpos materiais para existirem ou
para poderem ser criados”.
Resumindo:
Deus poderia ter
criado os Anjos antes de toda criatura corpórea, como muitos Santos
Doutores pensaram. Todavia é provável que tenham sido criados
juntamente com o universo corpóreo para mostrar a relação que tem
com a natureza corpórea com a qual podem ter contato, pelo exercício
da sua virtude (“Contactum virtutis”).
Pode-se admitir
que os Anjos superiores, que têm sobre os corpos um poder maior e
soberano, tenham sido criados no que se possa significar a mais
elevada escala da criatura criada, enquanto que outros de poderes
menores o fossem, em níveis inferiores.
O senhor tem a minha
permissão para copiar matéria do site do meu Instituto.
Eu te abençôo e te
guardo no Sagrado Coração de Jesus.
Atenciosamente,
Pe. Divino Antônio
Lopes FP.
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