CAPÍTULO II
Da oração dominical
§ 1º Da oração
dominical em geral
278. Qual é a oração
vocal mais excelente?
A oração vocal mais
excelente é aquela que o próprio Jesus Cristo nos ensinou, isto é, o
Pai-Nosso.
279. Por que é o
Pai-Nosso a oração mais excelente?
O Pai-Nosso é a oração
mais excelente porque foi o próprio Jesus Cristo que a compôs e
no-la ensinou; porque contém claramente, em poucas palavras, tudo o
que podemos esperar de Deus; e porque é a regra e o modelo de todas
as outras orações.
280. É também o
Pai-Nosso a oração mais eficaz?
O Pai-Nosso é também a
oração mais eficaz, porque é a mais agradável a Deus, pois é feita
com as mesmas palavras que nos ditou o seu Divino Filho.
281. Por que se chama o
Pai-Nosso oração dominical?
Chama-se o Pai-Nosso
oração dominical, que quer dizer oração do Senhor, precisamente
porque a ensinou Jesus Cristo por sua própria boca.
282. Quantas petições
há no Pai-Nosso?
No Pai-Nosso há sete
petições, precedidas de um preâmbulo.
283. Rezai o Pai-Nosso.
Pai-Nosso, que estais no
Céu:
1ª. Santificado seja o
vosso nome.
2ª. Venha a nós o vosso
reino.
3ª. Seja feita a vossa
vontade, assim na terra como no Céu.
4ª. O pão nosso de cada
dia nos dai hoje.
5ª. Perdoai-nos as nossas
dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores.
6ª. E não nos deixeis
cair em tentação.
7ª. Mas livrai-nos do
mal. Amém.
284. Por que invocando
a Deus no princípio da oração dominical O chamamos nosso Pai?
No princípio da oração
dominical chamamos a Deus nosso Pai para despertar a nossa confiança
na sua infinita bondade, uma vez que somos seus filhos.
285. Por que podemos
nós dizer que somos filhos de Deus?
Somos filhos de Deus: 1.º
Porque Ele nos criou à sua imagem e nos conserva e governa com a sua
providência. 2.º Porque, por especial benevolência, Ele nos adotou
no Batismo como irmãos de Jesus Cristo e co-herdeiros, juntamente
com Ele, da eterna glória.
286. Por que chamamos a
Deus Pai nosso e não “Pai meu”?
Chamamos a Deus Pai nosso
e não “Pai meu” porque todos somos seus filhos, e portanto devemos
considerar-nos e amar-nos todos como irmãos e orar uns pelos outros.
287. Estando Deus em
toda a parte, por que é que Lhe dizemos que estais no Céu?
Deus está em toda a
parte; mas dizemos: Pai nosso que estais no Céu, para elevar os
nossos corações ao Céu onde Deus se manifesta na glória aos seus
filhos.
§ 2º Da primeira
petição do Pai-Nosso
288. Que pedimos a Deus
na primeira petição: Santificado seja o vosso nome?
Na primeira petição:
santificado seja o vosso nome, pedimos que Deus seja conhecido,
amado, honrado e servido por todos os homens e por nós em particular.
289. Que temos em vista
ao pedir que Deus seja conhecido, amado e servido por todos os
homens?
Temos em vista pedir que
os infiéis cheguem ao conhecimento do verdadeiro Deus, que os
hereges reconheçam os seus erros, que os cismáticos voltem à unidade
da Igreja, que os pecadores se corrijam e que os justos sejam
perseverantes no bem.
290. Por que em
primeiro lugar pedimos que seja santificado o nome de Deus?
Em primeiro lugar pedimos
que seja santificado o nome de Deus porque devemos prezar mais a
glória de Deus do que todos os nossos bens e vantagens.
291. De que maneira
podemos nós promover a glória de Deus?
Podemos promover a glória
de Deus com a oração, o bom exemplo, dirigindo para Ele todos os
nossos pensamentos, afetos e ações.
§ 3° Da segunda petição
do Pai-Nosso
292. Que entendemos por
reino de Deus?
Por reino de Deus
entendemos um tríplice reino espiritual, a saber: o reino de Deus em
nós ou o reino da graça; o reino de Deus na terra, isto é, a Santa
Igreja Católica; e o reino de Deus nos céus ou o Paraíso.
293. Que pedimos com as
palavras: Venha a nós o vosso reino com relação à graça?
Com relação à graça,
pedimos que Deus reine em nós com a sua graça santificante, pela
qual Ele se compraz em residir em nós como um rei em seu palácio, e
que nos mantenha unidos a Ele pelas virtudes da Fé, da Esperança e
da Caridade, pelas quais reina sobre a nossa inteligência, sobre o
nosso coração e sobre a nossa vontade.
294. Que pedimos com as
palavras: Venha a nós o vosso reino com relação à Igreja?
Com relação à Igreja,
pedimos que ela se dilate cada vez mais e se propague por todo o
mundo para a salvação dos homens.
295. Que pedimos com as
palavras: Venha a nós o vosso reino com relação à glória?
Com relação à glória,
pedimos que possamos um dia ser admitidos no Santo Paraíso para o
qual fomos criados e onde seremos plenamente felizes.
§ 4° Da terceira
petição do Pai-Nosso
296. Que pedimos na
terceira petição: Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no
Céu?
Na terceira petição: seja
feita a vossa vontade, assim na terra como no Céu, pedimos a graça
de fazer em todas as coisas a vontade de Deus, obedecendo aos seus
santos Mandamentos tão prontamente como os Anjos e os Santos Lhe
obedecem no Céu. Pedimos, além disso, a graça de corresponder às
inspirações divinas e de viver resignados à vontade de Deus, quando
Ele nos manda tribulações.
297. É-nos necessário
cumprir a vontade de Deus?
É-nos tão necessário
cumprir a vontade de Deus como nos é necessário conseguir a salvação
eterna, porque Jesus Cristo disse que só entrará no reino dos céus
quem tiver feito a vontade de seu Pai.
298. De que maneira
podemos conhecer a vontade de Deus a nosso respeito?
A vontade de Deus nos é
manifestada pelos Mandamentos de sua Lei e pelos preceitos de sua
Santa Igreja. Nossos superiores espirituais, postos por Deus para
guiar-nos no caminho da Salvação, nos orientam a fim de que
conheçamos os desígnios particulares da Providência a nosso
respeito, desígnios que se podem manifestar em divinas inspirações
ou nas circunstâncias em que o Senhor nos tenha colocado.
299. Devemos sempre
reconhecer a vontade de Deus nas prosperidades ou adversidades da
vida?
Tanto nas prosperidades
como nas adversidades da vida presente devemos reconhecer sempre a
vontade de Deus, o qual tudo dispõe ou permite para nosso bem.
300. Quer dizer que
Deus nos revela sua vontade pelos sinais dos tempos?
Não. A revelação divina
encerrou-se com a morte do último Apóstolo, de maneira que não há
mais Revelação pública necessária para a salvação. A afirmação de
que devemos ver em todas as coisas a vontade de Deus diz apenas que
todas as coisas estão sujeitas à Santíssima Vontade de Deus, de
maneira que mesmo o mal não acontece sem uma permissão de Deus, que
sabe tirar o bem do mal, e por isso o permite. E, como Deus tem
sobre os homens uma amorosa Providência, devemos ver em todos os
acontecimentos, bons ou maus, um desígnio de Deus que visa à nossa
salvação eterna.
§ 5º Da quarta petição
do Pai-Nosso
301. Que pedimos na
quarta petição: O pão nosso de cada dia nos dai hoje?
Na quarta petição: o pão
nosso de cada dia nos dai hoje, pedimos a Deus o que nos é
necessário cada dia para a alma e para o corpo.
302. Que pedimos a Deus
para a nossa alma?
Para a nossa alma pedimos
a Deus o sustento da vida espiritual, isto é, pedimos ao Senhor que
nos dê a sua graça da qual a todo o instante temos necessidade.
303. Como se sustenta a
vida da nossa alma?
A vida da nossa alma
sustenta-se especialmente com o alimento da palavra divina e com o
Santíssimo Sacramento do altar.
304. Que pedimos a Deus
para o nosso corpo?
Para o nosso corpo
pedimos o que é necessário para o sustento da vida temporal.
305. Por que dizemos: o
pão nosso nos dai hoje, e não: "dai-nos hoje o pão"?
Dizemos: O pão nosso nos
dai hoje, e não dizemos: "dai-nos hoje o pão", para excluir todo e
qualquer desejo dos bens alheios. Por isso pedimos ao Senhor que nos
ajude nos ganhos justos e lícitos, a fim de granjearmos o sustento
com o nosso trabalho, sem furtos nem fraudes.
306. Por que dizemos: o
pão nos dai, e não: "o pão me dai"?
Dizemos: nos dai, e não:
"me daí", para nos lembrarmos de que, assim como os bens nos vêm de
Deus, assim também, se Ele no-los dá em abundância, é para que
distribuamos o supérfluo aos pobres.
307. Por que
acrescentamos: de cada dia?
Acrescentamos de cada dia
porque devemos desejar o que nos é necessário para a vida, e não a
fartura dos alimentos e dos bens da terra.
308. Que mais quer
dizer a palavra hoje na quarta petição?
A palavra hoje quer dizer
que não devemos estar demasiadamente preocupados com o futuro, mas
pedir o que nos é necessário no momento.
§ 6° Da quinta petição
309. Que pedimos na
quinta petição: Perdoai nos as nossas dívidas, assim como nós
perdoamos aos nossos devedores?
Na quinta petição:
Perdoai-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos
devedores, pedimos a Deus que nos perdoe os nossos pecados, como nós
perdoamos aos que nos ofendem.
310. Por que nossos
pecados são chamados dívidas?
Nossos pecados são
chamados dívidas porque por causa deles devemos satisfazer a divina
justiça, seja nesta vida, seja na outra.
311. Os que não perdoam
ao próximo podem esperar que Deus lhes perdoe?
Os que não perdoam ao
próximo não têm razão alguma para esperar que Deus lhes perdoe,
tanto mais que se condenam por si mesmos, dizendo a Deus que lhes
perdoe sem que eles perdoem ao próximo.
§ 7º Da sexta petição
do Pai-Nosso
312. Que pedimos na
sexta petição: E não nos deixeis cair em tentação?
Na sexta petição: E não
nos deixeis cair em tentação, pedimos a Deus que nos livre das
tentações, ou não permitindo que sejamos tentados, ou dando-nos
graças para não sermos vencidos.
313. Que são as
tentações?
As tentações são um
incitamento ao pecado que nos vem do demônio, ou das pessoas más, ou
das nossas paixões.
314. É pecado ter
tentações?
Não é pecado ter
tentações, mas é pecado consentir nelas, ou expor-se voluntariamente
ao perigo de consentir.
315. Por que permite
Deus que sejamos tentados?
Deus permite que sejamos
tentados para provar a nossa fidelidade, para fortalecer as nossas
virtudes e para aumentar os nossos merecimentos.
316. Que devemos fazer
para evitar as tentações?
Para evitar as tentações,
devemos fugir das ocasiões perigosas, guardar os sentidos, receber
com frequência os santos Sacramentos, fazer uso da oração,
especialmente da devoção a Maria Santíssima, Senhora Nossa.
§ 8° Da sétima petição
do Pai-Nosso
317. Que pedimos na
sétima petição: Mas livrai-nos do mal?
Na sétima petição: Mas
livrai-nos do mal, pedimos a Deus que nos livre dos males passados,
presentes, futuros e especialmente do sumo mal, que é o pecado, e da
condenação eterna, que é o seu castigo.
318. Por que dizemos:
livrai-nos do mal, e não: "dos males"?
Dizemos: livrai-nos do
mal, e não: "dos males", por que não devemos desejar ser isentos de
todos os males desta vida, mas só daqueles que são nocivos à nossa
alma, e por isso pedimos a libertação do mal em geral, isto é, de
tudo aquilo que Deus vê que para nós é mal.
319. Não é lícito pedir
a Deus que nos livre de algum mal em particular, por exemplo, de uma
doença?
Sim, é lícito pedir a
libertação de algum mal em particular, mas sempre entregando-nos à
vontade de Deus, que pode, no entanto, ordenar aquela tribulação
para proveito da nossa alma.
320. Para que nos
servem as tribulações que Deus nos manda?
As tribulações que Deus
nos envia nos são úteis para fazermos penitência das nossas culpas,
para provar nossas virtudes, e, sobretudo, para levar-nos à imitação
de Jesus Cristo, nossa cabeça, ao qual é justo que nos conformemos
nos sofrimentos, se quisermos ter parte na sua glória.
321. Que quer dizer
Amém no fim do PaiNosso?
Amém quer dizer: assim
seja, assim desejo, assim peço ao Senhor e assim espero.
322. Para se alcançarem
as graças pedidas no Pai-Nosso, basta rezá-lo de qualquer maneira?
Para se alcançarem as
graças pedidas no Pai-Nosso, é necessário rezá-la sem precipitação,
com atenção e acompanhá-lo com o coração.
323. Quando devemos
rezar o Pai-Nosso?
Devemos rezar o Pai-Nosso
todos os dias, porque todos os dias temos necessidade do auxilio de
Deus.
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