PARTE PRIMEIRA DO CATECISMO
DO SÍMBOLO DOS APÓSTOLOS
CAPÍTULO I
Da Fé e do Símbolo da Fé
I. Quanto à fé
1. Necessidade
Nas Divinas Escrituras, o termo “fé” admite várias
significações. Aqui vamos falar daquela virtude pela qual assentimos
plenamente a tudo quanto nos foi revelado por Deus.
Ninguém terá justo motivo de duvidar que essa fé seja
necessária para a salvação, mormente por estar escrito que
“sem fé não é possível agradar a Deus”
(Hb 11, 6; Dz 801, 1793).
Realmente, o fim que se propõe ao homem para sua
bem-aventurança, é tão elevado que o não poderia descobrir a agudeza
do espírito humano. Era, pois, necessário que o homem recebesse de
Deus tal conhecimento.
2. Noção
Ora, tal conhecimento não é outra coisa senão a
própria fé, cuja virtude nos leva a ter por certo o que a autoridade
da santíssima Mãe Igreja de clara ser revelado por Deus. Nenhuma
dúvida podem ter os fiéis das afirmações que vêm de Deus, porque
Deus é a própria verdade (Jo 14, 6). Este critério nos faz
compreender a diferença entre a fé que temos em Deus, e a fé que se
dá aos autores de história humana (Dz 1789, 1792, 1794, 1811,
2025, 2081 e 2145).
3. Graus
A fé tem grande extensão e admite vários graus de
grandeza e dignidade, como se depreende da Sagrada Escritura:
“Homem de pouca fé, por que duvidaste?”
(Mt 14, 31) –
“Grande é tua fé” (Mt
15, 28) –
“Aumentai nossa fé!” (Lc 17, 5)
- E ainda: “Fé sem obras é morta”
(Tg 2, 17) –
“A fé que opera pela
caridade” (Gl 5, 6).
Entanto, a fé é uma só virtude, e os diversos graus
que possa ter entram perfeitamente na mesma definição.
Quantos frutos e quantas vantagens dela se tiram, é o
que vamos ver na explicação dos Artigos.
II. Quanto ao Símbolo
1. Finalidade
Os cristãos devem crer, em primeiro lugar, as
verdades que os santos Apóstolos, guias e mestres da fé, inspirados
pelo Espírito de Deus, distribuíram nos
doze artigos do Símbolo.
Tendo recebido do Senhor a ordem de irem como seus
embaixadores (2 Cor 5, 20) pelo mundo inteiro, a pregar o
Evangelho a toda criatura (Mc 16, 15), acharam os Apóstolos
que se devia compor uma fórmula de fé cristã. Serviria esta para que
todos tivessem a mesma crença e a mesma linguagem, e não houvesse
separações entre os que foram chamados à unidade da fé, mas fossem
todos “perfeitamente conformes no mesmo
modo de pensar e de sentir” (1 Cor 1, 10).
2. Nome
A esta profissão de fé e esperança cristã, que
acabavam de redigir, os Apóstolos chamaram-lhe “Símbolo”, ou
porque se forma das várias proposições que cada um deles apresentou*,
ou porque devia servir de santo e senha para identificar os
desertores, os irmãos falsos e intrusos (Gl 2, 4),
adulteradores do Evangelho (2 Cor 2, 17), e assim
distingui-los daqueles que verdadeiramente tomavam um santo
compromisso na milícia de Cristo.
*
Alusão à lenda de que cada Apóstolo teria
formulado individualmente do Símbolo, antes de se espalharem pelo
mundo inteiro Cf. PMH p. 32 n. 4.
Creio em Deus
3. Conteúdo
Muitas são as verdades
que a religião cristã propõe aos fiéis, com a obrigação de
aceitá-las numa fé inabalável, quer cada uma delas em particular,
quer todas em seu conjunto.
Mas a primeira verdade e a mais essencial, que todos
devem acreditar, por ser propriamente a base e o resumo da
Revelação, consiste naquilo que o próprio Deus nos ensinou acerca da
unidade da essência divina, da distinção das três Pessoas, das
operações que lhes são atribuídas de maneira mais particular. O
pároco mostrará, pois, que no Símbolo se contém resumida a doutrina
deste mistério.
4. Divisão
Divide-se o Símbolo em três partes principais, como
já diziam os antigos cristãos, quando se punham a explicá-lo com
amor e cuidado. A primeira parte trata da Primeira Pessoa da
natureza divina, e da prodigiosa obra da Criação. A segunda trata da
Segunda Pessoa e do mistério da Redenção dos homens. A terceira
afinal descreve, em várias fórmulas adequadas, a Terceira Pessoa,
autor e princípio de nossa santificação.
5. Significação dos
“artigos”
As proposições do Símbolo chamam-se “artigos”,
de acordo com uma analogia que nossos Santos Padres usavam com
frequência. Na verdade, assim como os membros do corpo humano se
distinguem pelas articulações*,
assim também podemos chamar artigos às verdades que nesta profissão
de fé temos de crer, distintas e separadas umas das outras.
*
Em latim:articulis. Articulis quer
dizer junta ou articulação.
Anterior
| Índice |
Próxima |