Questionário sobre a Santa Missa |
Baseado em livro de
autor anônimo do Século XIX, publicado em 1975 pela EDICIONES RIALP
- Madrid,
NIHIL OBSTAT de D. José Larrabe Orbegozo, Madrid, 27 de
outubro de 1975
IMPRIMA-SE: Dr. D. José Maria Martim Patino, Pro-Vigário
Geral
Apresentação de Angel Garcia Y Garcia
Fonte:
Micrólogo (Anônimo) - "Catecismo da
Santa Missa"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/index.php?secao=documentos&subsecao=catecismo&artigo=missa&lang=bra
Online, 18/05/2007 às 19:56h |
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Glossário
LITURGIA:
palavra grega composta de
leiton, que significa
público, e de
ergon, que significa
obra ou
ato
público, o que em português chamamos de
serviço divino. Os
livros que contêm o modo de celebrar os santos mistérios denominam-se
liturgias.
LITÚRGICO:
que
pertence ou se refere às liturgias.
LITURGISTAS:
escritores ou estudiosos de liturgia.
RITO:
em
latim ritus,
significa um uso ou uma cerimônia que segue uma ordem determinada.
Diz-se também rite
ou recte
para indicar o que está bem feito, com ordem, segundo o costume. Assim
se diz rito romano ou milanês conforme prescrito em Roma ou Milão.
RITUAL:
livro
que prescreve o modo de administrar os sacramentos.
RITO
MOÇÁRABE:
rito utilizado nas igrejas da Espanha desde o início do século VIII
até o final do século XI. A palavra moçárabe se refere aos espanhóis
que subsistiram ao domínio dos árabes quando estes se apoderaram da
Espanha em 712, e significa árabes externos, diferenciando-os dos de
origem árabe. Este rito chamava-se normalmente de rito gótico, por ter
sido seguido pelos godos cristianizados.
SACRAMENTAL:
livro que continha as orações e as palavras que os bispos ou
sacerdotes recitavam quando celebravam a Missa ou administravam os
sacramentos. Posteriormente o específico dos bispos denominou-se
pontifical, enquanto que o
dos sacerdotes passou a ser
sacerdotal, ritual ou
manual.
MISSAL:
livro que contém tudo o que se diz na Missa no decorrer do ano.
ANTIFONÁRIO:
assim era chamado o livro que continha tudo o que se devia cantar no
coro durante a Missa devido aos intróitos que tinham por título
Antiphona ad introitum;
mas há tempo se utiliza esse termo para indicar o livro que contém as
antífonas das matinas, laudes e demais horas canônicas.
ORDO
ROMANO:
livro que continha a maneira de celebrar as missas e os ofícios dos
principais dias do ano, em especial os dos 4 dias da Semana Santa e da
oitava da Páscoa. Este
ORDO
posteriormente foi aumentado e denominado
cerimonial.
ORDINÁRIO:
assim é
chamado há 600 anos o livro que determina o que se diz e se faz, cada
dia, no altar e no coro.
ORDINÁRIO DA MISSA:
reúne o que se diz na Missa comum, para distingui-lo do que é próprio
para as festas e demais dias do ano.
MICRÓLOGO:
palavra grega, composta de
micros e de
logos; significa
breve discurso. Um escritor do século XI compôs
um tratado sobre a Missa e demais ofícios litúrgicos com este
título: Micrologos de
ecclesiasticis observationibus, e como se ignora
quem seja ele, diz-se o nome Micrólogo
ou o
Micrólogo. Sabe-se que ele foi contemporâneo do papa Gregório
VII; mas o tratado foi escrito após a morte deste Pontífice,
motivo pelo qual a obra é colocada no ano 1090.
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Introdução
I -
Definição
1. Que é a Santa Missa?
R. A Santa Missa é a renovação incruenta do Sacrifício do Calvário. É
o mesmo e único sacrifício infinito de Cristo na Cruz, que foi
solenemente instituído na Última Ceia. Nesta cerimônia ímpar, Cristo é
ao mesmo tempo vítima e sacerdote, se oferecendo a Deus para pagamento
dos pecados, e aplicando a cada fiel seus méritos infinitos.
2. Por que dizemos que a Missa
é a renovação incruenta do Sacrifício do Calvário?
R. Porque na Missa, Nosso Senhor Jesus Cristo se imola novamente para
nossa salvação, como Ele fizera no Calvário, embora na Missa seja sem
sofrimento físico.
3. Por que a Missa é chamada
de "Santa"?
R.
Porque nela é o próprio autor da santidade que se oferece como vítima,
num sacrifício perfeito a Deus, e como alimento espiritual aos fiéis
na Eucaristia, ou seja, a transubstanciação real do pão e do vinho no
corpo e sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo.
4. Em que momento da Missa se
realiza a transubstanciação das espécies de pão e vinho no corpo e
sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo?
R. A
transubstanciação se realiza no momento da consagração, quando o
celebrante repete as palavras que Nosso Senhor pronunciou na última
Ceia, ao consagrar o pão e o vinho, instituindo, assim, o sacramento
da Eucaristia.
II - Prática freqüente do Santo Sacrifício da
Missa
5. Qual é a cerimônia
religiosa e solene mais comum entre os católicos?
R. É a
santa Missa.
6. Por que a santa Missa é a
cerimônia mais comum entre os católicos?
R.
Porque, além de ser celebrada nos domingos e dias santos, quando há
obrigação rigorosa de assisti-la, ela é celebrada diariamente e
fortalece a piedade do cristão zeloso, em especial quando ele tem a
graça de comungar.
7. Além dos domingos e dias
santos, podemos assistir a Missa em outras ocasiões?
R. Sim,
e é proveitoso à alma também assisti-la em certas ocasiões especiais
tais como:
a - nos aniversários de graças importantes recebidas;
b - nos dias da quaresma;
c - na quinzena pascal.
8. Podemos assistir Missa
diariamente?
R. Sim.
Sempre que o fiel tiver a possibilidade, e principalmente aqueles que
receberam mais bênçãos dos céus e favores terrenos devem entender que,
seria até uma ingratidão, não participar do oferecimento diário da
grande vítima de ação de graças.
9. Por que é conveniente e
salutar assistir a Missa sempre que possível?
R.
Porque todo o cristão, desejoso de ordenar sábia e piedosamente sua
conduta, encontra na Missa o meio de consagrar pela oblação do corpo e
do sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo os trabalhos e fadigas de cada
dia, sem esquecer as obrigações do próprio estado. Além disto, a assistência freqüente implica em maior
aproveitamento dos méritos de Cristo.
10. Além da piedade e do
fervor, que outros motivos nos levam a assistir a Missa?
R. Além
da piedade e do fervor, os cristãos se reúnem com prazer ao redor do
altar do sacrifício por muitos motivos, como:
a - no início de cada ano, para agradecer e renovar os votos desta
época;
b - em certas festas religiosas, para estreitar os laços de família e
a piedade filial;
c - no dia dos mortos, para resgatar os pecados do passado com as
esperanças de melhor porvir;
d - para conseguir êxito em determinado empreendimento;
e - para a saúde de uma pessoa;
f - para que se difunde a graça de Deus na união dos esposos;
g - para oferecer ao Senhor uma criança que acaba de nascer e a mãe
que deu a luz;
h - para acompanhar diante dos altares os despojos mortais de nossos
irmãos, antes de sepultá-los.
11. A Missa, então, é motivo
para tudo?
R. Sim.
Resumindo, podemos dizer que a Missa é a consagração e santificação de
todos os momentos graves, solenes e importantes da nossa vida.
III - Necessidade de se entender as orações e
as cerimônias da Santa Missa
12. É necessário conhecer
profundamente a Missa?
R. Um
ato de religião praticado com tanta freqüência, tão precioso em suas
graças, e tão consolador em seus frutos, é desejoso que se conheça o
mais possível, na medida das nossas capacidades.
13. Como podemos conhecer mais
profundamente a Santa Missa?
R.
Podemos conhecê-la mais profundamente estudando seus mistérios, seus
dogmas, a moral que ela encerra, e até os menores detalhes de suas
cerimônias e orações.
14. Para que devemos conhecer
tudo isto?
R. Para
que a Missa, que é o centro do culto católico, desperte os mais vivos
sentimentos de religião e de piedade.
15. Que mais devemos conhecer
da Missa?
R.
Devemos conhecer suas palavras sagradas em que encontramos todo o
sabor da unção de que estão repletas; cada ação e cada movimento do
sacerdote; cada palavra que ele pronuncia para lembrar nossa alma e
nosso coração que um Deus se imola para nós, e que nós também devemos
nos imolar com Ele e por Ele.
16. Com que estado de espírito
devemos assistir a Santa Missa?
R.
Devemos deixar fora do santuário a indiferença e o tédio, a dissipação
e o escândalo, e sermos, no templo, adoradores em espírito e verdade (Jo
4, 24).
17. Deus exige de todos os
fiéis uma instrução profunda e detalhada da Missa?
R. Não.
Deus supre a sensibilidade da fé ao conhecimento que não foi possível
adquirir e jamais irá desprezar o sacrifício de um coração arrependido
e humilhado(Sl 50, 19)
18. Quais as disposições
essenciais e suficientes para aproveitarmos do santo sacrifício da
Missa?
R.
Devemos assistir a Santa Missa com a alma penetrada de dor pelas
faltas cometidas, e nos aproximarmos confiadamente deste trono da
graça, unindo-nos à vítima, Nosso Senhor Jesus Cristo, e à intenção da
Igreja, na pessoa do sacerdote, e por seu ministério.
19. Que mais é salutar
conhecer?
R.
Devemos saber as grandes vantagens espirituais que um conhecimento
mais íntimo da Santa Missa proporciona aos fiéis, com a explicação
literal de suas orações e cerimônias.
20. A Igreja, acaso, ocultaria
aos fiéis algum mistério da Santa Missa?
R. Não.
Na Igreja nada há de oculto e ela jamais pretendeu ocultar qualquer
mistério aos fiéis, seja da Santa Missa, como de qualquer outra
cerimônia litúrgica, como será demonstrado neste Catecismo.
21. Qual a principal
preocupação da Igreja quanto aos mistérios da Missa?
R. A
Igreja somente teme que o pouco discernimento sobre os mistérios,
possa causar má interpretação às palavras neles contidas.
22. Como a Igreja procura
evitar possíveis más interpretações?
R.
Apresentando sempre explicações claras dos mistérios aos fiéis.
23. Há orientação explícita da
Igreja para explicar os mistérios da Missa aos fiéis?
R. Sim.
Os Concílios de Mogúncia,de Colônia e de Trento, como mais adiante
veremos, ordenaram claramente que se prestassem aos fiéis as
explicações necessárias para o melhor entendimento possível dos
mistérios da Santa Missa, evitando, assim, más interpretações.
24. Que outras medidas tomou a
Igreja para facilitar o entendimento dos mistérios da Missa?
R. A
Igreja colocou à disposição de todos os fiéis o ordinário da Missa, e
impôs como dever dos sacerdotes a explicação das orações e das
cerimônias da Santa Missa.
25. Além do ordinário da
Missa, há outras obras específicas sobre o Santo Sacrifício?
R. Sim;
há inúmeras obras ao alcance dos fiéis sobre a Santa Missa, publicadas
através dos séculos.
26. A explicação da Missa é
dever somente dos sacerdotes?
R. Não.
Além dos sacerdotes é dever também dos fiéis, e seremos felizes mesmo
se, com pouco conhecimento, colocarmos algumas pedras nos muros de
Jerusalém, enquanto outros manejam com mão hábil a espada da palavra
santa para cuidar da sua defesa.
27. Qual o melhor método para
nos aprofundarmos no conhecimento da Santa Missa?
R. Para
compreendermos exatamente o verdadeiro sentido das orações da Santa
Missa, é necessário conhecermos todas, palavra por palavra, o
significado de cada termo, dos dogmas e dos mistérios nelas contidos.
28. Que mais é necessário
conhecer sobre as orações?
R. É
preciso, também, conhecer os objetivos da Igreja ao estabelecer as
orações, bem como deduzir ao máximo possível as intenções dos santos
padres, dos antigos escritos eclesiásticos e da tradição. Para isto
torna-se necessária também uma explicação histórica, literal e
dogmática de tudo o que constitui a Missa.
29. A que se propõe este
Catecismo?
R. Este
Catecismo se propõe a colocar em prática os mesmos objetivos da
Igreja, de alimentar os mesmos sentimentos que ela quer infundir nos
nossos corações para que possamos orar e oferecer com ela, e não
perder o fruto produzido pelo reto conhecimento das palavras repletas
de sentimento e de mistérios que ela nos coloca nos lábios.
IV -
Regras para a celebração do Santo Sacrifício da
Missa
30. Por que é necessário
conhecermos as ações e as cerimônias da Missa?
R.
Porque, por meio das ações e das cerimônias expressam-se mais
vivamente as idéias do que por palavras. Além disso, elas foram
estabelecidas pela Igreja para nos edificar, nos instruir e despertar
nossa atenção, bem como Deus lhes atribuiu graças particulares.
31. Há exemplos bíblicos de
atitudes que Deus atribuiu algum favor especial?
R. Sim;
por exemplo, a Escritura nos diz que Moisés rogou com as mãos erguidas
ao céu, e, nesta cerimônia, o Senhor estabeleceu a vitória dos judeus.
(Ex 17, 11)
32. Em que se fundamentam as
cerimônias da Missa?
R. As
cerimônias da Missa se fundamentam ora na
necessidade, ora na
comodidade ou em outros
motivos simbólicos e místicos. Na pesquisa de todas elas, precisamos
recorrer a uma infinidade de escritos em que se acham espalhados,
procurando sempre suas origens.
33. Poderia esclarecer com um
exemplo?
R. Sim.
Todos sabemos que lavamos com água as mãos e o corpo, por asseio; mas,
a água usada no batismo não é para lavar o corpo, pois, como diz São
Paulo: Non carnis depositio
sordium (1 Pd 3, 21). A origem da água no batismo é
puramente simbólica, ou seja, emprega-se aquele elemento tão próprio
para lavar todas as coisas, para mostrar que, por meio do seu contato
com o corpo, Deus purifica a alma de todas as manchas.
34. Que é preciso fazer para
se pesquisar devidamente a origem das cerimônias?
R. É
preciso investigar também os tempos e os lugares em que elas passaram
a ser usadas, verificar seus escritores contemporâneos e, nas orações
contidas nos livros eclesiásticos mais antigos, analisar os objetivos
da Igreja naquelas cerimônias, porque muitas vezes as próprias orações
revelam seu verdadeiro sentido.
35. Que mais devemos levar em
conta para conhecer os motivos da Igreja no uso de determinadas ações
que vemos na Santa Missa?
P. Além
da pesquisa aludida anteriormente, devemos levar em conta o
discernimento e bom senso que a Igreja empregou para estabelecer as
razões das ações e das cerimônias da Missa.
36. Como se classificam as
razões em que a Igreja se baseou para estabelecer as ações e
cerimônias da Missa?
R. Podemos classificar em seis razões.
37. Qual é a primeira razão?
Exemplifique.
R. A
primeira razão é de conveniência
ou comodidade. Há
costumes que só podem ter como causa, estes fatores.
Exemplo: o motivo pelo qual se cobre o cálice depois da oblação
é por pura precaução, para que nele não caia nada; e se o Micrólogo,
que reconhece este motivo, acrescenta outros, é mais por sua conta que
da Igreja.
38. Qual é a segunda?
Exemplifique.
R. Há
usos que se fundamentam em duas causas:
comodidade e
simbolismo.
Exemplo: A primeira razão do uso do cíngulo sobre a alva é para
impedir que esta caia e se arraste pelo chão; e esta razão física não
impede a Igreja de determinar aos sacerdotes de cingirem-se como
símbolo da pureza, pois São Pedro nos recomenda a nos cingirmos
espiritualmente: Succinti lumbos
mentis vestrae (1 Pd 1, 13).
Outro exemplo: a fração da Hóstia se faz também, naturalmente,
para imitar a Nosso Senhor Jesus Cristo que partiu o pão, e porque é
preciso distribuí-la; mas, algumas Igrejas deram a esta fração um
sentido espiritual, dividindo a Hóstia em três partes (Itália e
França), em quatro partes (Grécia), e em nove partes (rito moçárabe).
39. Qual a terceira causa?
Exemplifique.
R. Às
vezes uma causa de necessidade física foi substituída por uma razão
mística.
Exemplo: o manípulo, inicialmente, era um paninho utilizado
pelos que trabalhavam na igreja para enxugar as mãos. Há seis ou sete
séculos que não se o utiliza mais para aquele fim original; no
entanto, a Igreja continua a usá-lo para lembrar seus ministros que
devem trabalhar e sofrer para merecer a devida recompensa (Ut
recipiant mercedem laboris).
40. Qual a quarta razão?
Exemplifique.
R. Às
vezes um uso estabelecido anteriormente por uma razão de conveniência
foi substituído por razão simbólica.
Exemplo: até o final do século IX, quando o diácono cantava o
Evangelho, voltava-se para o Norte, onde se encontravam os homens,
porque convinha anunciar-lhes a palavra santa preferivelmente às
mulheres, que se achavam no lado oposto. Porém, desde o final daquele
século, em algumas igrejas, o diácono voltava-se ao Norte, mesmo sem a
presença masculina, por uma razão puramente espiritual, que será
exposta mais adiante.
41. Qual a quinta razão?
Exemplifique.
R. Às
vezes uma razão baseada no asseio fez desaparecer um costume
introduzido anteriormente, como um símbolo de pureza interior.
Exemplo: Na Igreja grega o sacerdote lava as mãos no início da
Missa, enquanto que na Igreja latina ele as lava também antes da
oblação.
"Este uso havia desaparecido, diz São Cirilo de
Jerusalém, não por necessidade, pois os sacerdotes se lavam antes de
entrar na Igreja, mas para salientar a pureza interior que convém aos
santos mistérios".
Posteriormente, segundo São Amalrico e a Sexta Ordem
Romana, o bispo e o sacerdote lavavam as mãos entre a oferenda dos
fiéis e a oblação do altar pois poderiam conter vestígios de pão comum
distribuído aos leigos; e, como segundo esta ordem se incensavam as
oblações, estabeleceu-se em fim a ablução dos dedos, após esta
operação para maior asseio, sem abandonar, porém, a razão espiritual
primitiva.
42. Qual a sexta razão?
Exemplifique.
R. Há
usos que sempre tiveram razões simbólicas e místicas. Alguns põem em
dúvida que elas tenham sido assim desde o princípio; porém será fácil
nos persuadirmos disto, se considerarmos que os primeiros cristãos
tinham sempre por objetivo elevar suas almas e seu pensamento aos
céus, que neles tudo era simbólico, e que, como os sacramentos foram
instituídos sob símbolos, eles se acostumaram a espiritualizar todas
as coisas, como vemos nas epístolas de São Paulo, nos escritos de São
Bernardo, de São Clemente, de Justino, de Tertuliano, de Orígines,
etc.
Exemplo: São Paulo dá razões místicas ao
povo, quanto ao costume seguido pelos homens nas igrejas, de rezar com
a cabeça descoberta; o mesmo acontece com as explicações dos santos
padres sobre as razões de São Paulo.
Outro exemplo: Por razão simbólica, também,
durante muitos séculos os novos batizados se trajavam de branco,
indicando a inocência. Assim aconteceu com Constantino que cobriu seu
leito e revestiu seu quarto de branco depois de ter recebido o
batismo.
Mais um exemplo: quando os primeiros
cristãos se voltavam para o Oriente para rezar, era porque viam o
Oriente como a figura de Nosso Senhor Jesus Cristo; e, quando rezavam
em lugares elevados e bem iluminados, era porque a luz exterior
representava o Espírito Santo, como nos diz Tertuliano (Lib. adv.
Valent, c. 3).
Ainda: Todas as cerimônias que precedem ao batismo são
outros tantos atos simbólicos. Santo Ambrósio, que as explica para os
que se preparavam para receber o sacramento, diz que se faz com que os
catecúmenos se voltem para o Ocidente, para indicar que renunciam as
obras de Satanás e as resistem de frente, e que, em seguida, voltam-se
ao Oriente para olhar a Jesus Cristo, a verdadeira luz.
43. Qual a postura recomendada
para a oração na Missa durante os quatro primeiros séculos?
R.
Recomendava-se a rezar em pé nos domingos e em todo o tempo pascal, e
Tertuliano diz que era uma espécie de falta rezar de joelhos e jejuar
em tais dias (Die dominico
jejunium nefas ducimos vel de geniculis adorare,
Tertuliano, Lib. de Cor., c. 3).
44. Houve alguma recomendação
conciliar sobre tal postura?
R. Sim.
Sobre tal postura o primeiro Concílio geral estabeleceu até uma lei no
cânon 25, e São Jerônimo e Santo Agostinho, apesar de ignorarem este
cânon, falavam do referido costume sempre com muita veneração. Para
São Jerônimo, tratava-se de tradição com força de lei e Santo
Agostinho somente colocava em dúvida, se ele era seguido em todo o
orbe católico.
45. Qual a origem desse
costume segundo alguns doutores?
R.
Santo Hilário, São Basílio, Santo Ambrósio, e muitos outros doutores,
julgavam que o costume de rezar em pé nos domingos e no tempo pascal
provinha dos apóstolos; porém os cânones e os Concílios, e todas as
obras antigas que encontramos sobre isso, apresentam razões místicas.
46. Que razão mais adequada
podemos encontrar naquele costume?
R.
Segundo São Jerônimo, os fiéis assim procediam para honrar a
ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, pois, eretos, demonstravam
a esperança que tinham de participar da sua ressurreição e ascensão (Nec
curvamur, sed cum Domino coelorum alta sustullimur, S.
Jeronimo, Prol. In Ep. Ad Ephes.).
47. Por que devemos penetrar
nas razões e origens misteriosas dos costumes que envolvem as
cerimônias da Missa?
R.
Porque afastarmo-nos de tais razões e origens seria um afastamento do
espírito e dos objetivos da Igreja, que claramente pede aos seus
filhos que se apliquem a penetrar nos mistérios que envolvem as
cerimônias.
48. Há algum exemplo concreto
desse desejo da Igreja?
R. Sim,
como prova a oração que se lê nos antigos sacramentais, repetida todos
os anos na cerimônia da benção das palmas: "Fazei, Senhor, que os corações piedosos dos vossos fiéis compreendam com
fruto o que significa misteriosamente esta cerimônia".
V - Objetivos e Esquema deste
Catecismo
49. Quais
são os objetivos deste Catecismo?
R. O
objetivo deste Catecismo
é de formar um conjunto de ensinamentos que conserve o texto da
liturgia, que explique suas cerimônias e que auxilie os fiéis a
saborear por si próprios o sentido da oração pública, a amar sua
majestosa sensibilidade, e fazer brotar dela todos os princípios e
sentimentos que ela encerra.
50. Qual é o esquema geral
deste Catecismo para atingir seus objetivos?
R. Para
melhor conseguir seus objetivos, este Catecismo seguirá um plano geral
dividido em duas partes, como segue:
A - Primeira Parte:
Instruções Preliminares sobre o Santo Sacrifício da Missa e as
Preparações Prescritas para oferecê-lo.
B - Segunda Parte: Explicação das Orações e Cerimônias da Santa Missa.
51. Em linhas gerais, de que
trata a Primeira Parte deste Catecismo?
R. A
Primeira Parte é
constituída de onze Capítulos, apresentando:
·
A sublimidade e a excelência do sacrifício da nova lei e suas
relações com todo o culto público;
·
A necessidade, o valor e os frutos da Santa Missa;
·
A celebração da santa liturgia através dos séculos, desde Jesus
Cristo até ao Novo Ordo Missalis
Romani* (imposto por Paulo VI em 1970), verificando tanto
a tradição como os documentos oficiais promulgados pela Igreja;
·
O material utilizado no serviço divino;
·
A imensa preparação que o precede;
·
Os sentimentos que a Igreja exige do sacerdote que o celebra e
dos fiéis que o acompanham.
* O caráter histórico da obra em
que se baseia este Catecismo exime qualquer adaptação ao Novo Ordo de
1970.
52. De que trata a Segunda
Parte?
R. A
Segunda Parte deste
Catecismo, constituída
de seis Capítulos, expõe:
· Palavra por palavra e rito por rito de
todo o conteúdo do Ordinário da Missa;
· Explicação própria para instruir os
fiéis, bem como para nutrir sua piedade;
· A relação palpável entre as orações e as
cerimônias do altar com o que aconteceu no Cenáculo e no Calvário, e o
que se verifica no sublime altar do Céu.
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PRIMEIRA
PARTE
Instruções preliminares sobre o Santo Sacrifício da
Missa
e as preparações prescritas
para oferecê-lo |
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CAPÍTULO
I
Da excelência do Sacrifício da Missa, e suas
relações com toda a religião e com o culto
53. Qual é o maior e o mais
central culto da Igreja católica?
R. O
maior e o mais central culto da Igreja católica é a oblação do corpo e
do sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, sob as espécies do pão e do
vinho, que constituem o sacrifício da Missa.
54. Por que a Missa é o maior
e o mais central culto da Igreja católica?
R.
Porque na Missa, não só imolamos a Deus eterno, vivo e verdadeiro, que
a revelação nos fez conhecer e adorar perfeitamente, mas também porque
neste sacrifício temos o próprio Deus por sacerdote e por vítima.
55. Que mais encontramos
reunidas no santo sacrifício da Missa?
R.
Encontramos reunidas todas as grandezas da pessoa de Jesus Cristo:
· seu poder como Deus;
· seu estado de imolação como homem;
· vivo, para interceder por nós;
· sob os símbolos da morte para nos aplicar o
preço dos seus padecimentos;
· pontífice santo e sem mancha, mais elevado
que os céus;
· cordeiro imolado, cujo sangue correrá até a
consumação dos séculos, para lavar todos os pecados;
· sacerdote segundo a ordem de Melquisedec com
um sacerdócio eterno;
· oblação pura oferecida desde o ocaso até a
aurora;
· pontífice e vítima convenientes à santidade
de Deus.
56. Além
das grandezas da pessoa de Cristo, que outros benefícios relativos à
Nosso Senhor a Missa nos propicia?
R. A
Missa, já tão excelsa por quem a oferece e a quem é oferecida, renova
todos os prodígios da vida do Salvador e revive a história solene dos
seus mistérios e da sua doutrina, todos os dias.
57. Como a Missa nos apresenta
o mistério da encarnação do Verbo?
R.
Através da Fé contemplamos o Filho de Deus no altar, concebido no
segredo do santuário pela mesma potestade, como nos esplendores da
eternidade, encarnado pela sua fecunda palavra nas mãos do sacerdote,
como no seio de Maria.
58. Que virtudes de Nosso Senhor a Missa nos lembra, seguindo sua
vida?
R. A
Missa nos renova as seguintes virtudes que acompanharam a vida de
Nosso Senhor:
1 - a obediência e as virtudes de sua vida oculta;
2 - a misericórdia e toda a bondade do seu ministério público;
59. Que méritos a Missa aplica
aos fiéis dos últimos acontecimentos da vida de Cristo?
R. A
Missa aplica aos fiéis:
1 - o preço do seu sangue derramado na sua paixão e morte;
2 - a glória e a vida nova da sua ressurreição, por meio da oferenda
do seu corpo imortal e a benção da sua ascensão.
60. Que relação há entre a
Missa e a ascensão de Nosso Senhor?
R.
Assim como Nosso Senhor subiu da terra aos céus, assim também do altar
sublime da igreja sobe ao altar sublime do céu a oferenda santa, que é
o próprio corpo e sangue de Cristo. Do alto dos céus e na Missa, Nosso
Salvador difunde graças, luz (entendimento da verdade) força e
santidade em nossas almas.
61. A Missa nos lembra também
o juízo final?
R. Sim,
trazendo-nos as primeiras palavras da sentença do último dia pela
separação antecipada do fiel e do infiel, apresentando um pão que dá a
vida eterna ao justo, e o juízo e condenação ao pecador.
62. Em resumo, o que nos
deixou Cristo na Missa?
R. Aos
que o temem, Cristo deixou uma
lembrança das suas maravilhas cheia de misericórdia e bondade
(Sl 110).
63. Que contemplamos no santo
sacrifício da Missa?
R.
Neste santo sacrifício contemplamos, com o sacerdote mais santo e a
vítima mais digna, com a renovação de todos os mistérios e a contínua
pregação da doutrina de Cristo, o livro mais perfeito da moral
evangélica, e a lição mais sublime da santidade necessária a um
cristão.
64. Que vemos na Missa?
R. Na
Missa vemos um Deus infinitamente adorável a quem devemos o
sacrifício, e formamos do Senhor a idéia mais justa que se possa
conceber, pela excelência do dom que a Ele se apresenta.
65. Há na Missa referências ao
Antigo Testamento?
R. Sim.
O segredo de quatro mil anos de promessas e de profecias se revela aos
nossos olhos; a verdade sucede à sombra, a plenitude dos tempos se
desenvolve com a abundância da graça, um manancial puro que, reluzindo
da cruz, atinge a vida eterna, dando nascimento e ressurreição, força
e alento, saúde e santidade aos cristãos de todas as idades.
66. Esta fonte de graças
vindas da cruz só se aplica ao Novo Testamento?
R. Não.
Esta fonte de graças surgida da cruz, como um sol, alcança os
primeiros dias do mundo para santificar todos os eleitos, e da cruz
ainda estende sua luz e calor até a consumação dos séculos, para
salvar todos os filhos de Deus.
67. Que afirmou Tertuliano
sobre a Missa?
R.
Tertuliano, um dos padres da Igreja, disse que a Missa, mais que um
banquete de religião, é uma escola
de todas as virtudes, apresentando aos fiéis o grande
exemplo de imolação contínua de um Deus, para incentivá-los em todos
os deveres e ampará-los em todos os sacrifícios, ainda com a
participação da vítima que neles se incorpora pela comunhão.
68. Em que culto da Igreja
encontramos a união mais íntima com Deus?
R. Na
celebração do santo sacrifício da Missa, porque nela encontramos a
mesa onde todos podemos comer (Hb 13) o alimento que é o próprio Deus,
e nela há, ainda, a união mais desejada pelos homens entre si, pois
todos, sem distinção, podem sentar-se à mesma mesa, como filhos de um
mesmo pai.
69. Haveria algum outro
sacrifício equivalente?
R. Não,
porque não há outro sacrifício tão sublime como a Missa em que, com
Deus, se oferece a um Deus por um sacerdote Deus; em que cada ato da
oblação recorda a doutrina de um Deus e a santidade que ela exige, bem
como a religião deste Deus em toda a sua extensão com todos os meios
de santificação.
70. Que visão do Antigo
Testamento é figura da Missa?
R. A
Missa é, na realidade, aquela escada misteriosa que Jacó viu em sonhos
(Gn 28, 12), em que uma extremidade tocava a terra e a outra atingia o
céu, na qual subiam e desciam os anjos e, principalmente, o Santo de
Deus, o Anjo de Deus por excelência, o Mediador Supremo, para levar ao
Senhor nossos votos e sacrifícios, e para nos trazer sua graça e sua
benção.
71. Que representa ainda a
Missa?
R. A
Missa é uma imagem antecipada do céu; nela se adora o mesmo Deus; em
seu santuário se reúnem seus filhos: nela vemos o mesmo que é visto no
céu, as orações, os cânticos, os perfumes; anjos circundando o altar,
santos que o sustentam, toda a Igreja, toda a cidade de Deus oferecida
por Jesus Cristo e unindo-se a Deus. Numa palavra, Deus presente ainda
que coberto por véus, o mesmo Deus que veremos face a face, Deus
convertido em manjar sob a aparência de um pão que já não mais existe,
o mesmo que nos confortará eternamente com sua glória pela verdade e
felicidade.
72. Podemos, então, dizer que
o santo sacrifício da Missa transforma nossas igrejas em céu?
R. Sim,
porque nele o divino cordeiro é imolado e adorado no templo como no-lo
apresenta São João no meio do santuário celestial.
73. Os anjos também participam
da adoração do cordeiro imolado na Missa, como eles o adoram no céu?
R. Sim,
os espíritos bem-aventurados, sabedores do que se opera em nossos
altares, deles se aproximam para assisti-los com o temor inspirado
pelo mais profundo respeito.
74. A Igreja admite a presença
dos anjos na Missa?
R. Sim,
a Igreja admitiu sempre e tanto esta verdade, que São João Crisóstomo
não duvidava em dizer: "Que fiel
poderá duvidar que, à voz do sacerdote no momento da consagração, o
céu se abre e os coros dos anjos descem para assistir ao mistério de
Jesus Cristo, e as criaturas celestes e terrestres, visíveis e
invisíveis, se reúnem em tão solene instante?".
75. Então, fazemos nas
igrejas, o mesmo que os santos fazem continuamente no céu?
R. Sim,
nós adoramos a vítima santa e imolada nas mãos do sacerdote, e todos
os santos adoram no céu esta mesma vítima, o Cordeiro sem mancha
representado em pé, porém como sacrificado*, em sinal da sua imolação
e da sua vida gloriosa.
*
Agnum stantem quasi occisum
(Ap 5, 6).
76. Rezamos na Missa como os
santos rezam nos céus?
R. Sim,
todas as orações e todos os méritos dos santos se elevam dos altares
das igrejas ao trono de Deus, como um suave e agradável perfume; assim
expressou-se São João no
Apocalípse (8, 3-4) ao descrever um anjo, com um turíbulo
de ouro na mão e junto ao altar, de onde se elevavam a Deus as orações
dos santos.
77. Por que incensar-se o
altar?
R.
Incensa-se o altar como um sinal visível das adorações e súplicas a
Deus, feitas por todos os santos que estão na terra ou na glória
eterna.
78. Que conclusões deduzimos
destas verdades da Missa?
R.
Entendendo estas verdades da Missa, podemos concluir que a Missa é:
a - o centro do culto religioso da Igreja, pois reúne tudo o que se
relaciona com a religião;
b - o ponto de apoio em que se une na cruz o homem com seus destinos
gloriosos;
c - o ponto de partida de onde nos vêm, como da cruz, a graça com
todos os meios de salvação.
79. Que considerações piedosas
nos vêm à alma ao passarmos diante de inúmeras igrejas?
R. Ao
passarmos diante de majestosas catedrais ou basílicas, ou mesmo diante
de simples igrejas e capelas, lembramos que todas elas foram erguidas
pela fé católica através dos séculos, para nelas se oferecer o santo
sacrifício da Missa. A cruz que as encima é o sinal da imolação que
nelas se perpetua, e os altares nelas erigidos são para depositar a
vítima sagrada.
80. Tudo o que vemos nas
igrejas se relaciona ao santo sacrifício do altar?
R. Sim,
tudo que há nas igrejas se relaciona à Missa. Assim, por exemplo:
1 - a pia batismal e de água benta e os confessionários nos lembram
que devemos lavar nossas mãos com
os justos para entrar no santuário;
2 - a cátedra e o púlpito nos instruem e exortam ao sacrifício;
3 - a mesa da comunhão, que separa o presbitério da nave, onde
recebemos a Hóstia Santa;
4 - os tecidos que revestem o altar, os paramentos dos sacerdotes, a
luz das velas, o incenso que se eleva, a disposição dos bancos e
genuflexórios, tudo fala do sacrifício, tudo é para o sacrifício.
81. Os Sacramentos também se
relacionam com a Missa?
R. Sim
e do seguinte modo:
1 - o Batismo: dá o
direito de assistir a Missa e de receber a sagrada Hóstia;
2 - a Penitência ou
Confissão: repara
aquele direito perdido ou debilitado;
3 - a Eucaristia: se
realiza e é distribuída na Missa;
4 - a Confirmação:
fortifica o fiel para a união misteriosa da comunhão e o fortalece
para sua imolação moral e contínua;
5 - a Extrema Unção:
durante a celebração da Missa o sacerdote benze o Óleo Santo para os
enfermos e para outras unções;
6 - a Ordem: perpetua
o sacerdócio;
7 - o Matrimônio:
recebe na Missa sua ratificação e benção particular.
82. Há relação entre os
Ofícios Litúrgicos e a Missa?
R. Sim,
os três Ofícios se relacionam à Missa. Assim :
1 - o Ofício da Noite:
serve de preparação remota para o sacrifício;
2 - o Ofício da Manhã:
serve de preparação imediata;
3 - o Ofício da Tarde:
serve de conclusão e de ação de graças.
83. Como podemos resumir a
relação entre a Santa Missa e a igreja, local da sua celebração?
R.
Assim como na Missa se reúnem as maravilhas e as graças de Deus, assim
a igreja reúne na Missa todo o objeto e fruto da sua celebração.
84. Que prescrição impôs o
Concílio de Trento aos sacerdotes quanto ao ensinamento da Missa aos
fiéis?
R. O
Concílio de Trento, com alta sabedoria, ordenou aos sacerdotes a
explicar com freqüência os mistérios da Missa e o que nela se lê, para
que os fiéis sejam instruídos na verdade dos seus mistérios e no
sentido das suas orações e cerimônias, objetivo deste Catecismo.
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CAPÍTULO II
Do
sacrifício da Missa em geral e da sua necessidade
85. Que laços unem os homens a
Deus?
R. Dois
laços nos unem a Deus:
1 - o ser criatura de Deus;
2 - a religião.
86. Explique o primeiro laço
que nos liga a Deus.
R. O
primeiro fator que nos liga a Deus é o de sermos
criaturas, e isto é um fator necessário e sem nosso mérito:
trata-se da relação de causa e efeito, ou seja do Criador e de sua
criatura. Neste sentido, todo o universo está incluído e tudo canta a
glória do Criador, tudo proclama sua sabedoria, seu poder e sua
bondade.
87. Explique o segundo laço
que nos liga a Deus.
R. O
segundo fator que nos liga a Deus é a religião. Dentre todas as
criaturas, o homem é a única dotada de corpo com alma imortal, com
inteligência e livre arbítrio, que pode se oferecer a Deus por meio da
oblação voluntária de seus pensamentos e da sua vontade.
88. Que é religião?
R.
Denominamos religião a determinação da vontade
livre do homem, iluminada pela sua inteligência, do reconhecimento dos
seus deveres de criatura para com seu Criador, de fé e de obediência
às suas leis, de adoração e amor a Ele devidos, do agradecimento a
todos os benefícios recebidos e do arrependimento pelos pecados
cometidos. O homem manifesta toda esta disposição de união com Deus
através de atos íntimos ou públicos, denominados cultos religiosos.
89. Que é culto religioso?
R. É a
expressão pública da religião através de cerimônias instituídas e
celebradas pela Igreja, instituição fundada pelo próprio Cristo Nosso
Senhor.
90. Como o homem manifesta sua
determinação religiosa?
R. O
homem manifesta sua determinação religiosa principalmente através do
sacrifício. Como o
homem é composto de corpo e alma, o sacrifício individual pode ser
interior ou exterior,
e manifestado publicamente através de
ação pública.
91. Em que consiste o
sacrifício espiritual ou interior?
R. O
sacrifício espiritual, ou interior, consiste no oferecimento e
imolação da própria alma a Deus, pois Deus é puro espírito e quer ser
adorado em espírito.
92. Em que consiste o
sacrifício material ou exterior?
R. O
sacrifício material ou exterior, consiste no oferecimento e imolação
do próprio corpo a Deus, como reconhecimento e homenagem da criatura
ao Criador, demonstrando, assim, as disposições interiores de gratidão
e dependência para com a Divina Majestade.
93. Por que é necessária a
oblação, ou oferenda, material ou externa?
R.
Porque o sacrifício exterior do corpo ou dos bens que a providência
nos colocou à nossa disposição, é um sinal sensível da oblação íntima
de nós mesmos. Sem esta imolação íntima, ele seria um sacrifício vazio
e inútil. Assim, através do sacrifício exterior, manifestamos a íntima
união do corpo e da alma, penetrados do espírito de adoração devido ao
nosso Criador.
94. Em que consiste a ação
pública do sacrifício?
R. É a
demonstração pública dos sacrifícios internos e externos que a
sociedade presta a Deus. Como o homem vive em sociedade é natural que
esta também manifeste este sacrifício interior e exterior dos seus
membros, unidos na mesma ação
pública.
95. Qual é a finalidade desta
ação pública?
R. A
finalidade da ação pública,como
manifestação de sacrifício ao Criador, é de reunir os homens nos
testemunhos que prestam a Deus, da sua servidão e do seu amor, em nome
da sociedade.
96. O que é sacrifício?
R.
Sacrifício é a oblação exterior de uma coisa sensível, feita somente a
Deus por um ministro legítimo (sacerdote), com destruição, consumação
ou mudança da mesma, como reconhecimento do soberano domínio de Deus,
e para as demais finalidades ao que o mesmo sacrifício é oferecido.
97. Explique esta definição.
R. Para
haver sacrifício é necessário:
1 - sacerdote:
celebrante legítimo, consagrado a Deus, como intermediário entre Deus
e os homens;
2 - feito a Deus : a
quem se deve adoração e toda a dependência;
3 - a oblação: ato de
renúncia ao domínio de um determinado bem relativo, que podemos
normalmente usufruir;
4 - destruição,
consumação ou
mudança da matéria oferecida: como a imolação de um animal, a
efusão de um licor e a evaporação de um perfume, para:
5 - reconhecer,
atestar e
publicar por meio desta renúncia exterior do domínio do uso,
o domínio soberano de Deus,
a quem pertence a propriedade real.
98. O que significa destruição
ou mudança da vítima?
R. Por
destruição ou
mudança da vítima
reconhecemos o direito de vida ou morte que Deus tem sobre nós, ou
seja, a morte que merecemos pelo pecado, e a obrigação de nos
imolarmos e de nos dedicarmos totalmente ao seu amor e ao seu serviço.
99. Qual é a finalidade
primordial da oblação?
R. A
finalidade primordial da oblação é o reconhecimento da absoluta
dependência da criatura ao Criador, denominada
sacrifício de adoração ou
de latria.
100. Quais as finalidades
secundárias da oblação?
R. As
finalidades secundárias, embora de grande utilidade e importância da
oblação são:
1 - agradecer a Deus pelos benefícios dele recebidos;
2 - pedir perdão pelas nossas culpas;
3 - implorar as graças de que necessitamos.
Sob estes diversos aspectos, há o sacrifício
eucarístico ou de ação de
graças, propiciatório
(aplacar a justiça divina) e
impetratório (súplica a Deus).
101. Há outras formas de
sacrifício?
R. Sim,
por extensão, chamamos também de sacrifício: as orações, as esmolas, a
obediência, as boas obras e a dor pelos pecados cometidos; porque, de
certa forma através delas, fazemos uma oblação a Deus por todos estes
atos de religião.
102. Há nas Sagradas
Escrituras alguma referência a estas formas de sacrifício?
R. Sim,
nas Sagradas Escrituras encontramos inúmeras referências a estas
formas de sacrifício, tais como:
1 - "Oferece ao Senhor sacrifícios
de justiça" (Sl 4, 6);
2 - "Oferece a Deus um sacrifício
de louvor e paga ao Altíssimo os teus votos" (Sl 49, 14);
3 - "Um coração despedaçado pelo
arrependimento é o sacrifício que agrada a Deus e que Ele jamais
desprezará" (Sl 50, 19 );
4 - "É um sacrifício saudável
observar os mandamentos" (Eclo 35, 1);
5 - "Não esqueceis a esmola e a
beneficência porque Deus se aplaca com estas hóstias" (Hb
13, 16).
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CAPÍTULO
III
Os
sacrifícios antigos no tempo dos Patriarcas, na Lei Mosaica e os
sacrifícios dos pagãos
103. Quais seriam os deveres
religiosos do homem no estado de inocência, antes do pecado de Adão?
R. Os
deveres religiosos do homem naquele estado seriam:
1 - Adorar a Deus como seu Senhor, soberano e absoluto;
2 - Manifestar seu reconhecimento a Deus como seu Criador e autor
absoluto de todos os seus bens, e manter sua vida numa perpétua ação
de graças, para que Ele conserve e aumente seus benefícios, a cada
dia;
3 - Implorar a Deus graças e auxílio com oração humilde, fervorosa e
perseverante.
104. Que afirmou Santo
Agostinho sobre os deveres religiosos dos homens se tivessem
perseverado naquele estado de inocência?
R.
Nesta hipótese, sem mancha de pecado, Santo Agostinho afirmou que os
homens deveriam se oferecer a Deus, como vítimas puras (Cidade de
Deus, 1. I, c. 26).
105. Que conseqüências
derivaram do pecado original sobre aqueles deveres religiosos dos
homens para Deus?
R.
Desde que o pecado nos despojou dos nossos privilégios originais,
tornou-se necessário acrescentar, àquelas grandes obrigações
religiosas, a obrigação de apaziguar a justiça divina, ultrajada por
nosso orgulho e nossa ingratidão, bem como de conhecer mais
profundamente nossa miséria e nossa contínua dependência dos socorros
celestes, em todas as nossas necessidades espirituais e materiais.
106. Quais são, portanto, as
finalidades do sacrifício após a queda do homem?
R. Após
o pecado original, as finalidades do sacrifício a Deus são:
1 - adorá-lo;
2 - agradecer as graças recebidas;
3 - implorar a remissão dos pecados;
4 - implorar sua benção.
107. Por que o homem, após a
queda, edificou templos para imolar as vítimas do sacrifício?
R.
Porque, no estado de degradação e de miséria em que se encontrou
devido ao pecado original, o coração do homem não podia mais servir de
altar e vítima. Assim, incapaz de reparar o pecado, apesar da
penitência feita, foi preciso pedir à natureza um templo ou edificá-lo
mediante ordem expressa, para sacrificar suas vítimas.
108. Por que a vítima era
imolada sobre uma pedra?
R.
Porque uma pedra fria, e sem adornos, era menos indigna que o coração
do homem, para sustentar a hóstia de propiciação.
109. Por que se utilizavam
outros elementos materiais nos sacrifícios?
R.
Simples elementos da natureza, como o sangue de animais, deviam
substituir, exteriormente no holocausto os pensamentos e os afetos do
homem culpável, e extrair o mérito da grande vítima do mundo que
representavam, bem como a fé dos sacrificadores, elevada à esperança
do cordeiro de Deus.
110. Que nos diz São Paulo
sobre o holocausto destas hóstias ineficazes pela sua própria
natureza?
R. São
Paulo nos diz que tais hóstias eram utilizadas como perpétua lembrança
da impotência e da nulidade dos homens, imposta até o tempo fixado
para o grande restabelecimento, e abolido na plenitude dos tempos,
quando apareceu Jesus Cristo oferecendo-se, a si mesmo, em sacrifício,
dando ao homem o direito de unir-se a Deus, não somente com um coração
puro, como no dia da inocência, como também com um coração redimido,
que apresenta um Deus como vítima de adoração, de expiação e de ação
de graças.
111. Antes da vinda de Cristo,
que era oferecido a Deus como vítima do sacrifício a Ele devido?
R. Como
conseqüência da degradação do homem, que não podia oferecer seu
coração no altar, a não ser unindo-o a rudes e impotentes símbolos da
natureza, até que viesse o cordeiro de Deus, imolado em promessa e em
figura, desde a origem do mundo, houve as seguintes ofertas:
1 - Abel oferece o melhor cordeiro do seu rebanho e, Caim, os frutos
da terra que cultiva;
2 - Noé, ao sair da arca, oferece pássaros e animais;
3 - Melquisedec, sacerdote e rei de justiça e de paz, oferece ao
Senhor pão e vinho no altar de Deus dos exércitos, para distribuí-lo
aos soldados vitoriosos;
4 - Abraão e os patriarcas imolam hóstias solenes, conforme o número
de famílias e das tribos.
112. Por que Deus mandou que
Abraão sacrificasse seu próprio filho?
R. Para
mostrar, de uma vez por todas, até onde vai o Seu direito nos
sacrifícios que Ele exige das suas criaturas, e até onde chegará um
dia a misericórdia divina, o Senhor manda Abraão imolar Isaac, seu
único filho, se bem que se contente com a obediência do santo
patriarca, e aceita a imolação de um cordeiro em seu lugar.
113. A noção da necessidade do
sacrifício a Deus era prerrogativa só dos judeus?
R. Não,
mesmo os povos que se esqueceram de Deus, da sua fé e do seu culto,
para prostituir seus corações na idolatria, conservaram sempre, e por
toda parte, a oblação dos sacrifícios, como um dogma primitivo.
114. Que diz Santo Agostinho
sobre o sacrifício dos pagãos?
R.
Santo Agostinho diz que, se os homens puderam se enganar sobre a
unidade e natureza de Deus, não se enganaram neste ponto da religião;
se suas falsas divindades exigiam, com orgulho, uma profusão de
vítimas, era porque o demônio sabia que se devia oferecê-las ao
verdadeiro Deus; e se as imolações dos gentios foram ridículas e
bárbaras, como os sacrifícios humanos, foi porque era necessário
acomodá-las às extravagâncias e às desordens da teogonia pagã.
115. O sacrifício físico da
vida do homem poderia aplacar a justiça divina?
R. Não,
porque, como a ofensa é proporcional ao ofendido, o homem sendo
criatura, portanto contingente, jamais poderia aplacar a ofensa feita
ao seu Criador, eterno e infinito.
116. Então, só Deus poderia
aplacar sua justiça devida ao pecado do homem?
R. Sim,
através da morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, Homem Deus, Cordeiro de
Deus, como canta a Igreja, contenta-se Deus com a imolação moral do
homem, e das suas paixões, aceitando-a com misericórdia quando unida
ao sacrifício do seu Deus.
117. Deus exigiu
explicitamente sacrifícios do povo eleito?
R. Sim,
quando o Senhor, elegendo para seu povo os filhos de Israel, os
separou das nações idólatras, para conservar sua aliança e suas
promessas, estabeleceu, nos mandamentos ditados a Moisés, a sucessão e
a perpetuidade do sacerdócio de Aarão, a forma do seu tabernáculo, o
lugar do seu templo, o número de vítimas e os ritos de cada oblação.
118. Que ordenou Deus ao seu
povo, durante a caminhada no deserto em direção à terra prometida,
após o jugo egípcio?
R. Deus
ordenou que cada família imolasse e comesse um cordeiro, observando
várias cerimônias simbólicas, e que assinalassem suas moradas com o
sangue do cordeiro pascal, e renovassem esta imolação solene de ano em
ano.
119. Até quando durou este
rito?
R. Este
rito vingou até a última páscoa, quando Jesus ceou com seus
discípulos, e em que instituiu o verdadeiro Cordeiro Pascal, ou seja,
seu sangue e seu corpo, cuja aplicação por nossas almas, nos livra da
escravidão do pecado, e nos faz obter o céu, verdadeira terra
prometida aos filhos de Deus.
120. Quando começou o
sacerdócio da tribo de Levi, escolhida por Deus, para oferecer os
sacrifícios?
R.
Desde o sacrifício geral da nação ordenado por Deus, em que Ele
estabeleceu que se multiplicasse o número de vítimas, devido à própria
imperfeição das oblações, para atender, quanto possível, os fins do
sacrifício, e para representar os méritos super abundantes da hóstia
única que deveria, posteriormente, substituí-las.
121. Quais eram os sacrifícios
sangrentos da lei mosaica?
R. Na
lei mosaica havia os seguintes sacrifícios sangrentos:
1 - O sacrifício de latria, ou holocausto: nesta imolação a vítima era
totalmente consumida no fogo, como reconhecimento do absoluto domínio
de Deus, prestando-lhe, assim, o culto de latria ou de adoração e
dependência;
2 - O sacrifício de impetração ou hóstias pacíficas: esta hóstia
eucarística ou impetratória, era oferecida para agradecer a Deus por
todos os bens recebidos ou pedir-lhe graças, para a vida, a saúde, a
paz, etc.
3 - O sacrifício de propiciação pelo pecado: instituído para expiar as
faltas cometidas e obter o correspondente perdão. Era oferecido por
particulares, pelos sacerdotes, ou por todo o povo; e, quando
oferecido por toda a nação, como sacrifício único, além de se retirar
o sangue das vítimas no Santo, sobre o altar dos perfumes e dos
holocaustos, faziam-no no Santo dos Santos, como figura que o sangue
de Cristo se apresentaria ao céu, abrindo-nos, assim, suas portas.
Cada uma destas oblações eram cheias de símbolos e de esperanças.
122. Que era o Santo dos
Santos?
R.
Assim era denominado o local do Templo dos judeus, onde se encontravam
o altar de ouro para o incenso, e a arca da aliança, toda recoberta de
ouro, na qual havia uma urna de ouro que continha o maná, o bastão de
Aarão, que tinha brotado, e as tábuas da aliança. Nesse local entrava
somente o sumo sacerdote, uma vez por ano, levando o sangue que ele
oferecia por si mesmo e pelos pecados que o povo cometera por
ignorância (Hb 9, 3-7).
123. Havia sacrifícios
incruentos na Antiga Lei?
R. Sim,
havia, também, os seguintes sacrifícios incruentos na Antiga Lei:
1 - A oferenda da flor de farinha, misturada ao azeite e incenso,
queimada no altar dos holocaustos;
2 - O sacrifício do bode expiatório: na festa da expiação solene o
povo apresentava dois bodes, embora um fosse degolado, o outro era
oferecido vivo. O sacerdote impunha suas mãos na cabeça da vítima,
confessava os pecados da nação, carregava-os no animal imundo e
lançava-o no deserto.
3 - O sacrifício do pássaro posto em liberdade: para purificar uma
casa infestada pela lepra, tomavam-se dois pássaros puros; imolava-se
um num vaso cheio de água, no qual se vertia seu sangue, e, o outro,
era imerso até a cabeça na água misturada com sangue, com um madeiro
de cedro, hissopo e púrpura; após espargir a água, soltava-se o
pássaro puro, livremente.
124. Que significavam estes
sacrifícios da lei mosaica?
R.
Facilmente se compreenderá que todos estes sacrifícios e cerimônias da
lei mosaica eram figuras vivas do sacrifício de Jesus Cristo e dos
frutos que deles resultariam aos homens para sua salvação.
125. Que méritos havia
naquelas oferendas imperfeitas?
R.
Embora imperfeitas, todo o mérito daquelas oferendas se baseava na
obediência à ordem divina que as havia prescrito, na fé e nas
disposições interiores dos que as ofereciam, principalmente na
esperança de hóstia perfeita, que tira os pecados do mundo (Jo 1, 29).
126. Como Deus sustentava a fé
e a esperança do sacrifício futuro do Seu Filho em tais oblações?
R. Por
meio de fortes e expressivas figuras como a do sacrifício de Isaac, de
Melquisedec, do cordeiro pascal, do bode expiatório sobre o qual se
descarregavam os pecados de todos, e da ave pura, cujo sangue
libertava a outra.
127. Que papel tiveram os
profetas na expectativa da futura oblação?
R.
Todos os profetas solenemente anunciavam, de século em século, a
grande vítima que deveria chegar, e clamavam, sem cessar, contra a
impotência das hóstias representativas.
128. Que dizia o profeta Davi
sobre os sacerdotes do Antigo Testamento?
R.
Nossos sacerdotes, dizia Davi, são conforme a ordem de Aarão;
sucedem-se e substituem-se quando a morte os arrebata; porém virá
outro pontífice que é o meu Senhor, a quem disse Deus: "Tu és
sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedec" (Sl 109, 4).
129. Que disse Davi sobre os
holocaustos?
R. "Escuta
Israel e entende o que diz este celeste pontífice pela boca de um dos
seus enviados: os holocaustos, ainda que ordenados por Vós, Senhor,
não lhes são agradáveis, mas Vós me destes um corpo para Vos oferecer
e eu disse: "eis que eu venho" (Sl 39, 8).
130. Que disse o profeta Malaquias sobre o sacrifício prometido?
R.
Disse Malaquias:
1 - "A glória do segundo templo apagará o esplendor do templo
erigido por Salomão" porque eu nele aparecerei para começar meu
sacrifício.
2 - Finalmente, eu "não receberei mais vítimas de vossas mãos; meu
nome não só será conhecido na Judéia, mas será grande entre todos os
povos da terra, porque desde o "ocaso até a aurora, e em todo lugar se
sacrifica e se oferece uma oblação pura em meu nome. Parece que já
vejo esta oblação, e os tempos em que ela será oferecida não estão
distantes" (Ml 1, 10 -11).
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CAPÍTULO IV
Do
sacrifício da Nova Lei, instituído e oferecido por Nosso Senhor Jesus
Cristo
131. Que significa a expressão
"plenitude dos tempos" encontrada nas Sagradas Escrituras?
R.
"Plenitude dos tempos"
significa a época em que a espera e a preparação da salvação dos
homens fixada por Deus, está totalmente cumprida. Assim, depois de
4.000 anos de promessas, de figuras e de profecias, a terra ouviu este
feliz anúncio de São João Batista:
"Eis o cordeiro de Deus, que tira os
pecados do mundo" (Jo 1, 29).
132. Quando se iniciou o
sacrifício da nova lei?
R.
Podemos dizer que o sacrifício da nova lei começou no mesmo instante
da Encarnação do Verbo em Maria, ou seja, na
Anunciação feita pelo anjo
Gabriel, quando ela lhe respondeu: "Eis
aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra"
(Lc 1, 38).
133. Que nos ensina São Paulo
sobre inicio do sacrifício de Cristo?
R.
Segundo São Paulo (Hb 10, 5 - 6) Jesus Cristo ao vir ao mundo aplicou
a si as palavras do Salmo 39 e disse a Deus seu Pai: "Não quisestes
hóstias nem oblações. Em vez disso, me destes um corpo. Os holocaustos
não vos agradam, mas unistes à minha natureza divina um corpo no qual
posso padecer e imolar-me à vossa santa vontade, que pede semelhante
vítima; e eu disse: Eis que venho cumprir esta grande vontade, que não
só está escrita no livro da vossa aliança, como também desde este
momento está gravado no meio do meu coração".
134. O nascimento de Cristo
foi um prelúdio do seu grande sacrifício?
R. Sim,
no nascimento do Homem Deus, hóstia já oferecida para a nossa
salvação, ao nada a que se reduz, a privação por que passa, as
lágrimas que derrama, são prelúdios do seu sacrifício final.
135. Que figuram o estábulo de
Belém e o presépio?
R. O
estábulo de Belém figura um templo, e o presépio, um altar; e as
lágrimas deste Deus Menino já teriam sido oblação suficiente para
salvar o universo, se o que bastava para o nosso resgate teria bastado
à caridade e à misericórdia do nosso Deus.
136. Quando o Menino Jesus
recebe o nome de Salvador, referência direta ao seu sacrifício?
R. Oito
dias depois do venturoso nascimento, o Menino Jesus recebe o nome de
Salvador: começa a exercer suas funções aos olhos dos homens, e,
derramando as primeiras gotas do seu sangue, se obriga, por estas
sagradas primícias, a derramá-las abundantemente no altar da Cruz.
137. Que relação há entre a
"Apresentação de Jesus no Templo" e o sacrifício do Calvário?
R. O
Menino Jesus é conduzido ao Templo nos braços de Maria, em obediência
à Lei; lá é colocado no altar do Deus verdadeiro e renova a solene
promessa de morrer para a salvação do mundo. Eis aqui a
oferenda do sacrifício
cuja imolação irá se realizar no Calvário, e sua
participação no Cenáculo e na Missa.
138. A vida inteira de Nosso
Senhor Jesus Cristo é considerada como oblação?
R. Sim,
toda a vida do Salvador, tanto no período obscuro de Nazaré, como no
esplendor do seu ministério, foi uma seqüência desta oblação: os
desejos do seu coração ansiavam, sem cessar, a consagração da vítima,
até que se cumprisse o batismo de dor e de sangue em que devia ser
imerso, para consumar o holocausto e abrasar as almas que se uniram ao
seu sacrifício.
139. Como manifestou Nosso
Senhor seu desejo pela consumação do seu sacrifício?
R.
Quando chegou a hora tão ansiada por Ele para passar deste mundo à
mansão de seu Pai celestial, Jesus declara aos seus apóstolos:
"Tenho desejado ardentemente comer
convosco esta Páscoa, antes da paixão” (Lc 22, 15), porque aquela Páscoa devia ser a
última de Israel segundo a carne, bem como o verdadeiro cordeiro
pascal seria substituído para os verdadeiros filhos de Abraão.
140. Por que a última Páscoa,
ou última Ceia de Nosso Senhor é marco entre a Antiga e a Nova Lei?
R.
Porque na última Ceia, estando à mesa com seus discípulos, Nosso
Senhor observa totalmente o preceito legal imposto por Moisés, quanto
aos alimentos a serem consumidos naquela celebração, e, após cumprir
plenamente ao estabelecido pela Antiga Aliança, institui o excelso
sacrifício da Nova Aliança, ou da Nova Lei.
141. Que fez Nosso Senhor,
porém, na última Páscoa, pouco antes da instituição do Novo
Sacrifício?
R.
Nosso Senhor, cingindo-se com uma toalha derramou água numa bacia, e
lavou os pés dos seus discípulos, enxugando-os com a toalha com que
estava cingido. Esta cerimônia ficou para sempre conhecida como
"Lava-pés".
142. Que significado tem a
cerimônia do Lava-pés, antes da instituição do Novo Sacrifício?
R. O
Lava-pés é a
preparação próxima e pública do sacrifício que estava preste a ser
instituído, e as palavras empregadas por Nosso Senhor, cheias de afeto
e força, são a instrução que o precede.
143. Que fez Jesus após o
Lava-pés?
R. Após
o Lava-pés, Nosso
Senhor tomou em suas santas e veneráveis mãos o pão e o vinho:eis aqui
a oferenda.
144. Como Nosso Senhor
instituiu o sacrifício da Nova Lei?
R.
Segurando o pão e o vinho abençoou-os, deu graças ao seu Pai Celeste
e, com suas bênçãos eucarísticas, ouvem-se estas palavras pronunciadas
pelos lábios de quem criou o céu e a terra:
ISTO É O MEU CORPO, meu
corpo dado, entregue e morto por vós;
ISTO É O MEU SANGUE, o
sangue da Nova Aliança, derramado para a remissão dos pecados.
TOMAI E COMEI; TOMAI E
BEBEI. Eis as palavras da consagração!
145. Que fez Nosso Senhor em
seguida?
R.
Nosso Senhor partiu o pão da vida eterna e o distribui; apresentou o
cálice da salvação e o deu de beber aos seus discípulos. Eis a
COMUNHÃO no SACRIFÍCIO.
146. Que disse Nosso Senhor
após aquelas sagradas palavras?
R.
Nosso Senhor disse: FAZEI ISTO EM
MEMÓRIA DE MIM (Lc 22, 19).
147. Que afirmou Cristo com
tais palavras?
R. Ao
pronunciar Fazei isto em memória
de mim, Nosso Senhor transmitiu seu próprio poder aos
apóstolos e sucessores, instituindo e estabelecendo a ordem do novo
sacerdócio.
148. Em suma, que cerimônias
Cristo estabeleceu na última Ceia?
R. Na
Última Ceia, Nosso
Senhor estabeleceu as cerimônias da Nova Aliança, ou Nova Lei, também
denominada Santa Missa,
ou seja:
1 - Com o Lava-pés,a
preparação para a consagração;
2 - Com a benção do pão e do vinho,
a própria consagração da oferenda;
3 - Com a distribuição do pão da
vida e do sangue da
salvação, a comunhão.
149. Que Sacramentos Cristo
instituiu na última Ceia?
R. Na
última Ceia, Nosso Senhor instituiu dois sacramentos:
1 - a Eucaristia;
2 - a Ordem.
150. Por que a Eucaristia
precedeu a imolação de Cristo na Cruz?
R. A
Eucaristia, sob as espécies de pão e de vinho, precedeu a imolação de
Cristo na Cruz para sustentar a fé dos discípulos.
151. Qual a relação entre o
sacrifício da Missa e o do Calvário?
R.
Assim como a Eucaristia precedeu a imolação de Cristo na Cruz, assim o
sacrifício da Missa devia seguir e perpetuar a imolação do Calvário,
como sinal de que o sacrifício de Cristo foi, e sempre será, o único
sacrifício propiciatório,
instituído no Cenáculo,
consumado no Calvário e
perpetuado nos nossos
altares.
152. Que nos revela a oblação
da Cruz?
R. Na
oblação da Cruz, tudo nos é sensível e patente: a escolha da vítima,
sua oferta a Deus pelas mãos do sacerdote eterno e sua imolação
sangrenta.
153. Que encontramos, ainda,
na oblação da Cruz?
R. Esta
oblação encerra, ainda, o holocausto de adoração, a hóstia dos
pacíficos e a expiação dos pecados.
154. Podemos também ver a
realização das figuras dos antigos holocaustos?
R. Sim,
neste holocausto vemos a verdade das figuras antigas, como a do
pássaro ou ave pura sacrificada para libertar a outra ave com seu
sangue; a do bode expiatório lançado fora de Jerusalém, com as
prevaricações de todo o povo; o sangue da hóstia levada ao céu,
verdadeiro Santo dos Santos, não feito pelas mãos dos homens; e, no
lugar das vítimas prescritas pela lei, que somente figuravam a
salvação sem nunca poder nos dar, temos na Cruz a única oblação de um
Deus que, numa única hóstia,
estabelece para sempre a santificação dos homens (Hb 10,
14), pelo precioso manancial que dela emana até a consumação dos
séculos.
155. Que conclui São Paulo
sobre este sacrifício da Cruz?
R. São
Paulo conclui não ser mais necessário que Jesus Cristo reitere seu
sacrifício sangrento para a remissão dos pecados, como se reiteravam
os sacrifícios da lei mosaica, bastando somente que os atos repetidos
desta oblação, perpetuada na Missa, apliquem seu valor e seus méritos
a cada fiel em particular.
156. Que nos ensina, sobre
isto, o Concílio de Trento?
R.
Baseado na doutrina de São Paulo, o Concílio de Trento claramente nos
ensina: "Ainda que bastasse Nosso
Senhor se oferecer uma só vez ao seu Pai, unindo-se no altar da Cruz
para realizar a redenção eterna, Ele quis deixar à sua Igreja um
sacrifício visível, tal como requer a natureza dos homens, pelo qual
se aplicasse, de geração em geração, para a remissão dos pecados, a
virtude deste sangrento sacrifício, que devia cumprir-se somente uma
vez na Cruz; na última ceia, na mesma noite em que foi entregue,
declarando-se sacerdote eterno, conforme a ordem de Melquisedec, Ele
ofereceu, a Deus Pai, seu corpo e seu sangue, sob as espécies de pão e
de vinho, os deu aos seus apóstolos, a quem os tornou, então,
sacerdotes do Novo Testamento, com estas palavras: Fazei isto em
memória de mim, investindo-os, assim, e aos seus sucessores, no
sacerdócio, para que oferecessem a mesma hóstia" (Sessão
XXII, I).
157. Portanto, porque se
instituiu o sacrifício da Missa?
R. O
sacrifício da Missa foi instituído, portanto, para nos aplicar o preço
do sangue derramado na Cruz, para tornar a oblação única de Jesus
Cristo, eficaz e proveitosa para cada um de nós, e para nos comunicar,
pela sua própria virtude, o mérito geral e superabundante da fé e da
penitência que conduzem aos sacramentos, nos quais aperfeiçoamos a
justificação que a graça do altar começou.
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CAPÍTULO V
Da
celebração da Missa: da sua instituição aos nossos dias
158. Quando foi celebrada a
primeira Missa?
R.
Ainda que o Filho de Deus seja sacerdote eterno, por decisão que se
impôs como vítima dos homens, tornando-se para sempre pontífice da
Nova e Eterna Aliança; ainda que, de fato, tenha começado o sacrifício
com o primeiro batimento do seu coração, no instante da Encarnação,
para cumprir-se na Ceia e no Calvário e receber sua perfeição nos
mistérios da ressurreição e ascensão e na efusão do Espírito Santo,
pode-se e deve-se crer que a primeira Missa foi celebrada no Cenáculo,
à véspera da morte do Salvador.
159. Que nos diz a Igreja
sobre isto, no prefácio da Missa de Quinta-feira Santa?
R. A Igreja nos diz: "Jesus Cristo, verdadeiro e eterno pontífice,
único sacerdote puro e sem mancha, ao estabelecer na última ceia, com
seus discípulos, seu sacrifício verdadeiro e permanente, se ofereceu
primeiro como vítima, ensinando aos seus apóstolos o modo de
oferecê-lo". Eis a idéia que se pode formar desta primeira Missa.
160. Que paralelo podemos
estabelecer entre o Cenáculo e a Santa Missa?
R.
Podemos estabelecer o seguinte paralelo:
Cenáculo |
Santa Missa |
1
- Jesus dirige-se ao Cenáculo: acompanhado dos seus discípulos,
chega ao Cenáculo, onde estava preparada a mesa do sacrifício e
da comunhão; |
1
- O sacerdote dirige-se ao altar: precedido dos seus ministros,
onde tudo está disposto para o sacrifício da Santa Missa; |
2
- Jesus deixa a mesa depois da ceia prescrita pela lei,
humilha-se, ao lavar os pés dos apóstolos, e os manda que se os
lavem mutuamente, voltando, depois, a ocupar o seu lugar à mesa;
|
2
- O sacerdote desce ao pé do altar: mesmo purificado de faltas
graves, para lavar-se e purificar-se das faltas mais leves, o
sacerdote faz a confissão mútua com os assistentes, subindo,
depois, ao altar; |
3
- Jesus senta-se à mesa eucarística: instrui seus apóstolos, e
lhes dá o resumo da sua doutrina, dizendo: "Eu vos dei o
exemplo para que façais como eu fiz" (Jo 13, 15). |
3
- O sacerdote faz no altar a instrução pública e preparatória,
com o objetivo de explanar estes dizeres profundos de São
Justino (Apol. 2): "Só pode participar da eucaristia aquele
que crê que nossa doutrina é verdadeira, que recebeu a remissão
dos pecados e que vive como Jesus ensina". |
4
- Jesus toma o pão e o vinho num cálice, e os abençoa;
|
4
- O sacerdote toma o pão e o vinho num cálice: eis a oblação, as
orações e bênçãos que a acompanham; |
5
- Jesus deu graças, elevando os olhos aos céus: embora os
evangelistas não registrem as palavras de que Jesus se serviu
nesta ação de graças, sabemos, pela tradição, que Ele enumerou
os benefícios da criação, da providência e da redenção, que
iriam se concentrar nesta vítima adorável; depois, o Senhor
partiu o pão e o deu aos seus discípulos, dizendo: "isto é o
meu corpo"; em seguida os deu também o cálice, dizendo: "isto
é o meu sangue".
Eis a fórmula da consagração: "Tomai e comei, tomai e bebei";
esta é a Comunhão do Cenáculo. |
5
- O sacerdote emprega as mesmas palavras e gestos no Cânon da
Missa, repetindo a fórmula da Consagração:"Tomai e comei,
tomai e bebei". Esta é a comunhão na Missa. |
6
- Jesus pronuncia um hino de reconhecimento. |
6
- O sacerdote termina o sacrifício com a ação de graças. |
161. Que fizeram Jesus e os apóstolos após a Ceia?
R. Os apóstolos saíram do Cenáculo com seu Mestre, e se dirigiram ao
Horto das Oliveiras, para serem testemunhas da renovação e da
consumação do grande sacrifício da Cruz, da mesma forma que o
sacerdote se dirige ao santuário, subindo ao altar.
162. Que paralelo podemos
estabelecer entre a paixão, morte e ressurreição de Cristo e a Santa
Missa?
R. Podemos estabelecer o seguinte paralelo:
Cenas da Paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus
Cristo |
Cenas da Missa, |
1
- Jesus ora no Horto, com o rosto prostrado na terra; |
1
- O sacerdote, ao pé do altar, recita o
Confiteor, em
humilde postura; |
2
- Jesus, amarrado, sobe a Jerusalém; |
2
- O sacerdote, cingido com todos os paramentos, sobe ao altar; |
3
- Jesus foi, de tribunal em tribunal, instruindo o povo, seus
acusadores e seus juizes; |
3
- O sacerdote vai de um ao outro lado do altar, para multiplicar
e difundir a instrução preparatória; |
4
- Jesus Cristo, assim que sentenciado e despojado de suas
roupas, oferece seu corpo à flagelação, prelúdio da sua execução
e morte; |
4
- O sacerdote descobre as oblações, retirando o véu que cobre o
cálice e a hóstia, ainda não consagrados, e faz a oferenda do
pão e do vinho, que vão ser consagrados, e cuja substância vai
ser consumida; |
5
- Jesus é pregado na cruz; |
5
- Da mesma forma como Ele se fixa no altar com as palavras da
Consagração; |
6
- Jesus é suspenso na Cruz, entre o céu e a terra; |
6
- Como no momento da Elevação, na Missa; |
7
- Jesus expira na cruz; |
7
- O sacerdote parte a Hóstia, indicando, sensivelmente, esta
morte; |
8
- Jesus é colocado no sepulcro; |
8
- Na Comunhão, Jesus é colocado no coração do sacrificador e dos
cristãos; |
9
- Jesus ressuscita glorioso; |
9
- A ressurreição é significada pelo lançamento de um fragmento
da hóstia consagrada (o corpo de Cristo) no cálice que contém o
sangue de Cristo, na hora em que o sacerdote diz a oração “Pax
Domini sit semper vobiscum”, fazendo cinco cruzes sobre o cálice
e fora dele. O sacerdote pede o efeito desta vida nova através
das orações após a Comunhão; |
10 - Jesus sobe aos céus, abençoando sua Igreja; |
10 - O sacerdote se despede dos fiéis e os abençoa; |
11 - Jesus envia seu espírito ao coração dos discípulos; |
11 - No final da missa, é lido o início do Evangelho de São
João, que nos exorta a tornar-nos filhos de Deus (Jo 1),
dirigidos e movidos pelo seu espírito, conforme estas palavras
do apóstolo São Paulo: "Aqueles que são conduzidos pelo Espírito
de Deus, são filhos de Deus" (Rm 8, 14). |
163. Podemos considerar a Ceia e a Paixão de Cristo como as duas
primeiras Missas?
R. Sim,
podemos considerá-las como as duas primeiras Missas celebradas pelo
Salvador, cuja oblação Ele renovou com seus discípulos durante os 40
dias que precederam sua ascensão aos céus, como deduzimos da história
dos discípulos de Emaús e das divinas aparições em que o Senhor era
reconhecido pela fração do pão (Lc 24, 30).
164. Que relação há entre a
Missa atual e as palavras de Cristo após a última Ceia?
R. Nosso Senhor instituiu, após a última Ceia, a parte essencial das
orações e cerimônias da Missa atual.
165. Quem estabeleceu as
orações e as cerimônias das outras partes?
R. As orações e cerimônias das outras partes foram estabelecidas pelos
apóstolos, pela Tradição, e pela Igreja, que acrescentaram o
conveniente à dignidade do sacrifício, em nada alterando o substancial
da Instituição Divina.
166. Como podemos ter certeza
disto?
R.
Porque notamos, tanto nas orações como nas cerimônias introduzidas,
transcrições de circunstâncias ocorridas no Cenáculo e no Calvário,
observando-se cuidadosamente o que as felizes testemunhas destas cenas
viram e conservaram, através da tradição.
167. A Igreja utilizou a
tradição somente para o sacrifício da Missa?
R. Não,
também em relação às cerimônias e orações dos sacramentos, a Igreja
faz como fizeram os apóstolos, acrescentando orações costumeiras. No
batismo, por exemplo, Nosso Senhor simplesmente mandou que se
batizasse com água, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; as
orações acessórias, que expressam seus efeitos e as obrigações que
dele derivam, nos vêm da tradição e da piedade de todos os séculos.
168. Quando os apóstolos
começaram a celebrar os santos mistérios?
R. Os
apóstolos começaram a celebrar os santos mistérios depois da ascensão
de Nosso Senhor, como constatamos em muitas passagens dos Atos,
escrito por São Lucas, como, por exemplo:
1 - Os cristãos perseveravam na doutrina dos apóstolos, na comunhão
da fração do pão e na
oração (At 2, 42) enquanto faziam o
serviço público do Senhor
(At 13, 2);
2 - No primeiro dia depois do sábado (que corresponde ao Domingo),
nome já dado por São João (Ap 1, 10), estando reunidos, diz São Paulo,
para partir o pão (At
20,7).
169. Destas afirmações, que
idéia podemos formar da Missa e da liturgia dos tempos apostólicos?
R.
Podemos deduzir:
1 - No primeiro dia da semana, em especial, e o mais freqüente
possível, os fiéis se reuniam, sob a direção dos apóstolos ou de
pastores que eles haviam eleitos, na casa de algum cristão, ou em
lugares bem ocultos, devido à perseguição dos judeus e dos gentios;
2 - Iniciava-se a oblação com a leitura dos profetas, das epístolas
dos apóstolos, das cartas que dirigiam às igrejas, ou mesmo das cartas
que estas mutuamente trocavam;
3 - É muito provável que, quando se escreveu o Evangelho, este passou
a ser lido nas reuniões cristãs, principalmente para prevenir os fiéis
contra a grande quantidade de Evangelhos apócrifos, que muitos se
apressavam em escrever, para confundir a doutrina que Cristo nos
deixara com seus apóstolos.
Estas leituras eram explicadas, conforme se lê em São João, que, sendo
conduzido a Éfeso em avançada idade, e não podendo mais discursar,
limitou-se a esta curta exortação, digna do discípulo mais amado:
"Meus filhos, amai-vos uns aos outros".
4 - Em seguida, benzia-se o pão e o vinho; esta oferenda era seguida
de orações e de súplicas, por todos os homens, pelas necessidades
públicas e particulares e de ações de graças.
5 - No momento mais solene destas ações de graças, se consagravam o
pão e o vinho, com as mesmas palavras usadas por Nosso Senhor.
6 - Seguia-se a oração dominical e o ósculo da paz, que todos trocavam
mutuamente, partindo-se os dons sagrados para comunhão, depois da
qual, sob juramento, se obrigavam a evitar todo o crime, a fugir de
todo o pecado, e a morrer com Jesus Cristo e pela fé de Jesus Cristo.
Finalmente, os fiéis eram despedidos com a saudação da paz de Deus e
da graça de Nosso Senhor.
170. Que outras testemunhas
temos da oblação da Eucaristia nos primeiros séculos?
R. Temos diversas, tais como:
1 - Santo Inácio, terceiro bispo de Antioquía, sucessor de São Pedro e
de Evódio, nesta cátedra, contemporâneo dos apóstolos, e que declarou
ter visto Nosso Senhor ressuscitado, nos apresenta alguns detalhes
sobre a oblação da Eucaristia, na sua primeira carta aos cristãos de
Esmirna.
2 - Nos meados do segundo século, e pouco depois da morte do último
apóstolo, São Justino, célebre filósofo pagão que se convertera aos
trinta anos de idade, tornando-se sacerdote e mártir, contemporâneo de
Simeão (que havia ouvido Nosso Senhor), de Santo Inácio, de Clemente,
companheiro de São Paulo na pregação, de Potino e de Irineu,
discípulos de Policarpo, dirigiu uma apologia a Antônio , o Piedoso,
para justificar as reuniões cristãs. É um antigo e precioso monumento
da tradição dos primeiros séculos.
171. Que nos diz, este
precioso documento de São Justino?
R. São
Justino, na sua famosa Apologia 2,
escreve:
"No
chamado dia do Sol (primeiro dia da semana, que
corresponde ao nosso Domingo; o segundo dia era o dia da Lua,
dies lunae, etc)
todos os fiéis das vilas e do campo se reúnem num mesmo lugar: em
todas as oblações que fazemos, bendizemos e louvamos o Criador de
todas as coisas, por Jesus Cristo, seu Filho e pelo Espírito Santo".
"Lêem-se os escritos dos profetas e os comentários dos apóstolos.
Concluídas as leituras, o sacerdote faz um discurso em que instrui e
exorta o povo a imitar tão belos exemplos".
"Em
seguida, nos erguemos, recitamos várias orações, e oferecemos pão,
vinho e água".
"O
sacerdote pronuncia claramente várias orações e ações de graças, que
são acompanhadas pelo povo, com a aclamação Amem!".
"Distribui-se
os dons oferecidos, comunga-se desta oferenda, sobre a qual
pronunciara-se a ação de graças, e os diáconos levam esta comunhão aos
ausentes".
"Os
que possuem bens e riquezas, dão uma esmola, conforme sua vontade, que
é coletada e levada ao sacerdote que, com ela, socorre órfãos, viúvas,
prisioneiros e forasteiros, pois ele é o encarregado de aliviar todas
as necessidades".
"Celebramos nossas reuniões no dia do Sol, porque ele é o primeiro dia
da criação em que Deus separou a luz das trevas, e em que Jesus Cristo
ressuscitou dos mortos".
172. Que notamos neste
documento que conta 18 séculos de existência?
R.
Nesta descrição do Santo Sacrifício da Missa, feita por São Justino em
meados do século II, notamos claramente os principais traços do
serviço divino, tal como se conserva nos nossos dias, e como é
praticado em todas as igrejas.
173. Por que a liturgia da
Missa resplandece hoje com tanto brilho?
R.
Porque, se acrescentarmos àquela descrição de São Justino, em si já
tão luminosa contendo o corpo principal da Missa, os brilhantes
escritos de Santo Irineu, dos Clementes, dos Tertulianos, dos Cirilos,
dos Ciprianos e Agostinhos, só com acréscimos acidentais, teremos a
resplandecente liturgia da Santa Missa de hoje, sempre enriquecida,
mas nunca alterada, através dos séculos, renovando sempre, e em todas
as partes do mundo, na mesma forma e na mesma língua, o mesmo
sacrifício propiciatório do Calvário.
174. Por que até a fase da
paz, concedida por Constantino à Igreja, havia poucas orações e
cerimônias no sacrifício da Missa?
R.
Porque assim exigia o perigo vivido pelos cristãos naqueles tempos.
Porém, tanto as orações como as cerimônias estabelecidas, deviam ser
observadas religiosamente e com muito mais cuidado, visto serem
tradições orais referentes a uma prática rigorosa e solene.
175. Quando foram introduzidas
outras orações e a majestade do culto?
R.
Quando foi possível erigir grandes basílicas e oficiar publicamente,
com grande afluência do povo.
176. Quando surgiram as
primeiras redações litúrgicas?
R. No
final do século IV, e início do século V, redigiu-se o corpo das
tradições litúrgicas existentes.
177. Quais foram as primeiras
redações litúrgicas referidas ao santo sacrifício da Missa?
R. As
primeiras redações litúrgicas relativas ao santo sacrifício da Missa
foram:
1 – Liturgia de Jerusalém: também denominada de São Tiago, visto esta
igreja ter recebido e conservado a liturgia daquele seu primeiro
bispo.
2 – Liturgia de Alexandria: conhecida também como de São Marcos, cuja
tradição fora deixada por este santo bispo àquela cidade.
3 – Constituições apostólicas:
atribuídas ao Papa Sao Clemente I, se bem que os autores destas
diferentes obras compostas no século V, foram testemunhas e redatores
dos veneráveis usos das igrejas mais antigas.
4 - Liturgia de São Basílio, no Oriente, conhecida sob o nome de São
João Crisóstomo, e ainda hoje utilizada pelos orientais.
178. Quem ordenou a liturgia
no Ocidente?
R. A
liturgia no Ocidente foi ordenada por Santo Ambrósio e por outros
escritores.
179. A liturgia de Santo
Ambrósio foi totalmente seguida?
R.
Essencialmente, sim. Porém, entre os latinos, houve muita variedade
tanto nas orações acessórias como nas cerimônias não essenciais.
180. Quem unificou as orações
acessórias e as cerimônias não essenciais?
R. Foi
São Gregório, no século VI, através do famoso
Sacramental que leva seu nome.
181. Que estabeleceu o
Sacramental de São Gregório?
R. O
Sacramental de São Gregório estabeleceu: intróitos, o
Kyrie eleison, o
Gloria in excelsis, as
coletas, o tema da epístola e do Evangelho, as orações para as
oblações, o prefácio comum e o cânon até o
Agnus Dei, exatamente como
o recitamos hoje.
182. O Sacramental de São Gregório permitia ainda alguma variedade
nas orações acessórias?
R. Sim,
como cada província tinha santos bispos que acrescentavam algo ao
acessório do sacrifício, por muito tempo se respeitou esta variedade,
pela antigüidade das orações e pela santidade dos seus autores.
183. Que resultou desta
variedade acessória ao sacrifício?
R. Como
conseqüência daquela variedade, surgiram os diferentes missais e
sacramentais da Igreja romana e das Igrejas particulares do Ocidente.
Porém, o essencial do sacrifício para a oblação, a consagração e
comunhão, era rigoroso e invariável em todo o mundo cristão, e a regra
secundária da liturgia manteve sua variedade até o século XIII.
184. Que houve nesse século?
R. No
século XIII foi fixado o Ordinário
da Missa, tal qual permanece em nossos dias.
185. O Ordinário da Missa
manteve algumas variantes secundárias?
R. Sim,
o Ordinário da Missa
do século XIII manteve algumas variantes secundárias adotadas pelas
diferentes dioceses, como, por exemplo, a antífona e o salmo do
intróito, no rito romano, não é o mesmo empregado nas outras Igrejas.
Porém, esta diferença, tolerada pela autoridade eclesiástica, não
prejudicou em nada a unidade essencial da liturgia.
186. Houve, naquele período,
alguma assimilação de orações e cerimônias secundárias entre os
diversos ritos?
R. Sim,
em especial no que de edificante tinham. Roma, por exemplo, depois de
haver extinguido o rito galicano e o rito gótico, da Espanha, não
duvidou em deles tomar algumas orações e cerimônias secundárias e
inseri-las no Ordinário da Missa.
187. Naquele tempo, todo o
povo dispunha do Ordinário da Missa?
R. Do
século XIII ao século XV, o Ordinário da Missa permaneceu em poder do
clero. A invenção da imprensa, porém, permitiu maior difusão entre os
fiéis.
188. Além da invenção da
imprensa, que outro acontecimento colaborou para maior difusão do
Ordinário da Missa entre os fiéis?
R. Foi
a Reforma Protestante. A Igreja deu aos seus ritos a mais augusta
publicidade, para auxiliar aos leigos a examinar as orações da Missa,
visando combater as heresias de Lutero e de Calvino, que negavam, em
especial, o caráter propiciatório do divino sacrifício. Ou seja,
Lutero e Calvino afirmavam que a Missa era somente a representação da
última Ceia, uma cerimônia só de agradecimento e louvor ao Senhor,
negando seu caráter fundamental de renovação incruenta do sacrifício
do Calvário, estabelecido por Nosso Senhor Jesus Cristo e sempre
ensinado e defendido pela sua Igreja.
189. Houve determinação
oficial da Igreja para maior divulgação dos textos da Missa?
R. Sim,
os Concílios de Mogúncia e de Colônia, em 1547, determinaram que as
orações do Ordinário da Missa fossem explicadas ao povo, mostrando sua
unidade em relação às suas finalidades, ou seja, de adorar a Deus, de
agradecer-Lhe pelos benefícios recebidos (impetração), e pedir-Lhe o
perdão pelos pecados cometidos (propiciação).
190. Que outra determinação
oficial houve para isso?
R. O
Concílio de Trento (1570) determinou aos párocos que, nos domingos e
dias santos, explicassem aos fiéis as orações da Santa Missa e as
fórmulas sacramentais, para instruí-los, não só na verdade dos seus
mistérios, mas também no significado das suas orações e cerimônias.
200. O sacrifício da Missa
recitado em nossos dias é o mesmo sacrifício estabelecido por Jesus
Cristo?
R. Sim,
é o mesmo sacrifício de Jesus Cristo que recebemos dos apóstolos, dos
santos doutores e dos nossos pais na Fé, os Padres Apostólicos.
201. Não houve alterações
essenciais entre o estabelecido por Cristo e o que é recitado hoje na
Santa Missa?
R. Não,
essencialmente, Cristo tomou o pão e o vinho, nós tomamos a mesma
matéria de oblação; Cristo a abençoou, o sacerdote a abençoa; Cristo
deu graças, nós as damos; Cristo as consagrou pelas palavras
onipotentes relatadas no Evangelho, o padre repete as mesmas palavras
por sua ordem, a Ele unido, in persona Christi, e em Sua memória.
202. As orações acessórias da
Missa, introduzidas pelos apóstolos e pela Igreja, não alteraram a
ação de Cristo?
R.
Não, as orações acessórias introduzidas no decorrer dos tempos, em
nada alteraram a ação de Cristo porque, em relação a esta, tais
orações somente estabeleceram:
1 - a preparação pública ao santo sacrifício, com a introdução de
salmos e do Kyrie
(Senhor, tende piedade);
2 - a entoação, no altar, do hino da redenção (Gloria), cantado pelos anjos no nascimento de Jesus Cristo;
3 - o preceder e a seqüência das leituras, com orações e reflexões;
4 - o hino cantado pelos serafins (Sanctus),
para que ressoe no momento em que a vítima vai abrir os céus;
5 - o invocar por três vezes o
Agnus Deis (Cordeiro de Deus), com sua misericórdia e paz;
6 - os sinais exteriores de humildade, de esperança, de respeito e de
amor.
Trata-se, portanto, do mesmo sacrifício de Jesus
Cristo, acompanhado de orações e ritos para expressar a piedade diante
de tão excelsa maravilha.
203. Que outros fatores
concretos nos certificam daquela verdade?
R.
Bastaria lembrar que a Igreja recolheu as orações e cerimônias
acessórias da missa:
1 - das lembranças apostólicas e da mais remota tradição do tempo e
dos usos estabelecidos por São João, testemunha da dupla imolação, a
da Ceia e a da Cruz;
2 - das regras e disposições de São Paulo, instruído neste mistério
pelo mesmo Cristo, Nosso Senhor;
3 - das meditações de Santo Agostinho, da unção de Santo Ambrósio, de
São Basílio e de São Gregório;
4 - da piedade e sabedoria dos seus santos pontífices e doutores,
manifestadas no decorrer de 13 séculos.
A Igreja as reuniu no mais feliz e santo modelo
para regrar definitivamente sua liturgia, cujas palavras são a
aplicação maravilhosa da Sagrada Escritura, nos infundindo admiração e
respeito profundos.
204. Por que, além das orações
e cerimônias acessórias, a Igreja também regulamentou os templos, os
altares, os adornos, os trajes e as atitudes do sacrificador?
R.
Porque a Missa representa perfeitamente aquela rainha que está de pé,
à direita do trono de Deus, com manto de ouro de Ofir, realçada pela
variedade das mais ricas cores, como diz o Salmo 44. Assim, como a
Igreja não deveria regrar, para o sacrifício, também seus templos,
seus altares e seus adornos, bem como, as vestes e os movimentos do
corpo, dos olhos e das mãos do seu sacrificador?
205. Que preocupação teve a
Igreja quanto à língua em que os santos mistérios deveriam ser
celebrados?
R.
Embora a Igreja jamais tivesse afirmado que o serviço divino fosse
celebrado em língua ininteligível ao povo, tão pouco ela julgou
conveniente o emprego de língua vulgar, para não submeter a Missa às
vicissitudes deste.
Assim, na celebração da santa Missa, onde estão
consignados a maior parte dos nossos dogmas, a Igreja se preocupou com
o uso de língua vulgar e, genericamente, nunca a recomendou, - até, no
Concílio de Trento, a proibiu - para evitar o grave inconveniente do
surgimento de erros doutrinários, que poderiam advir das variações de
sentido, comuns na linguagem viva.
206. Inicialmente, que línguas
foram empregadas na celebração da santa liturgia?
R. Nos
tempos apostólicos foi utilizado o siríaco, idioma de Jerusalém de
então, como o grego e o latim, muito divulgadas naquela época, as
quais foram conservadas como língua litúrgica, mesmo quando deixaram
de ser utilizadas vulgarmente. Assim como no quirógrafo da Cruz estava
escrita a sentença de morte de Cristo em latim , grego e hebraico -
Jesus Nazareno Rei dos Judeus - assim, na Missa, que renova o
sacrifício do Calvário, a Igreja usa palavras em latim, grego e
hebraico.
207. A Igreja do Oriente e do
Ocidente utilizaram a mesma língua na celebração da santa liturgia?
R. Não,
a Igreja do Oriente utiliza, até hoje, tanto o grego antigo como o
moderno, enquanto a Igreja do Ocidente adotou o latim, que era a
língua mais usual e mais universal.
208. Que outros inconvenientes
traria o uso da língua vulgar na celebração dos mistérios litúrgicos?
R. Além
dos já apontados, quem não compreende que seria necessário multiplicar
a publicação dos livros sagrados, não só para cada povo, mas para cada
idioma de cada nação, e em todos os dialetos de cada língua; que seria
necessário substituir as palavras conforme elas tomassem outro sentido
ou se tornassem ridículas e inconvenientes; que a expressão da
doutrina se alteraria infalivelmente em todas estas correções (lex
orandi, lex credendi); que os fiéis que se deslocassem de
uma província ou de um país para outro, não entenderiam,
absolutamente, nada; que poderiam ser introduzidos costumes e atitudes
locais, quebrando a universalidade de expressão do sacrifício; e que,
se se utilizassem línguas modernas, sem submetê-las às suas alterações
e aos perigos delas provenientes, com o tempo voltaria a surgir a
dificuldade que se pretendia solucionar, pois a própria língua pátria
chegaria a ser ininteligível, como acontece, por exemplo, com o
castelhano antigo? Em suma, o uso do latim na Liturgia favorece a
unidade da Igreja. O uso do vernáculo na Missa, além dos
inconvenientes já apontados, de certo modo, faria da Liturgia da
Igreja, uma torre de Babel.
209. Por que a Igreja conserva
o uso do latim em seus ofícios litúrgicos?
R. A
Igreja conserva em seus ofícios, e com suma prudência, sua antiga
linguagem para manter e preservar, não só a unidade e a universalidade
do santo sacrifício em si, mas também a doutrina nele contida e por
ele ensinada, que é uma, invariável e eterna, como o próprio Deus que
a instituiu. Os fiéis, que facilmente dispõem de traduções, e que
recebem explicações em língua vulgar, com o constante e contínuo
acompanhamento da liturgia em latim, irão se familiarizar com os
textos sagrados e o entenderão perfeitamente. Ademais, o culto divino,
em língua vulgar, perderia algo de sua misteriosa dignidade, por cuja
única razão não seria, de forma alguma, conveniente que a Missa fosse
celebrada em língua vulgar.
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CAPÍTULO VI
Dos
diferentes nomes e da divisão da Missa
210. Quem institui o santo
sacrifício da Missa?
R. O
santo sacrifício da Missa foi instituído por Nosso Senhor Jesus
Cristo, como vimos.
211. Ao instituir este santo
sacrifício, deu-lhe, Jesus, um nome específico?
R. Não, ao instituir o santo sacrifício, Nosso Senhor não o designou
com nenhum nome específico, pois somente disse aos apóstolos: “Fazei isto em minha memória”.
212. Como este santo
sacrifício era denominado no início da era cristã?
R.
Segundo a tradição, o santo sacrifício era designado com diversos
nomes, tais como: sinaxe,
ou assembléia; colecta,
ou reunião; sacrifício, oblação,
súplica e eucaristia,
ou seja, ação de graças, porque nela se realiza a solene ação de
graças que Jesus Cristo presta a Deus Pai, bem como nela se expressam
todos os benefícios que lhe são inerentes e todas as graças dela
provenientes.
Também foi conhecido por expressões, como:
ofícios dos divinos sacramentos, os
santos, os veneráveis e os terríveis mistérios.
(Vide: Dionísio Aeropagita – (pseudo Dionísio) -
De Hier, eccl. c. 5.
Anastácio, Sin. De Sinaxe.
Hilário, In Psalms 65.
Tertuliano, libro 1 De Anima.
S. Cypriano e Eusébio, Dem. Evang.,
lib.1. Conc. Laod. Can 19 e 58)
213. Que nomes surgiram
posteriormente?
R. No
século VI, o santo sacrifício era denominado no plural,
Missas e
Missarum solemnia. Porém, há mais de 1500 anos, a Igreja
grega o chama de liturgia,
ou serviço público, e a Igreja latina de
Missa.
214. Que significa Missa?
R.
Missa ou
Missio significa
despedida. Naquela divina ação, após a leitura do
Evangelho despedia-se dos catecúmenos, ou seja, dos que ainda não
tinham recebido o sacramento do Batismo e dos penitentes, que haviam
perdido a graça publicamente.
215. Por que no século VI
denominavam-no Missas, no plural?
R.
Porque, naquela época, havia duas
despedidas: a dos catecúmenos, antes da oblação, e a dos
fiéis, depois da consumação do sacrifício, conforme claramente
indicado por Santo Agostinho e Santo Isidoro de Sevilha (Santo
Agostinho, Sermonis 49
a 237; e Santo Isidoro, Orig.
1.6, c. 19).
216. Como eram ditas as
despedidas (Missas) naquela época?
R. Após
a leitura do Evangelho, o diácono dizia em alta voz:
Ide, as coisas santas são para os
santos; e depois da comunhão:
Ide, a hóstia acaba de ser elevada
deste altar ao trono da misericórdia,
acompanhada dos vossos votos, Ite
Missa est.
217. Quem passou a designar
com a palavra
Missa o sacrifício
do Altar?
R. Era
difícil uma palavra que representasse melhor o sacrifício da Igreja,
pois, Missa, significava o ofício em que só podiam ser admitidos
àqueles que haviam sido batizados e conservavam sua graça. O próprio
povo, marcado pela impressão causada pela palavra empregada pelo
diácono, dita no início e no fim do ofício, passou a chamar o
sacrifício do Altar de Missa
(despedida), chegando até os nossos dias.
218. Por que os ainda não
batizados (catecúmenos) eram despedidos do santo sacrifício após a
leitura do Evangelho?
R. A
Igreja assim fazia para lembrar a muitos que, casualmente, merecem ser
despedidos do ato a que só lhes permite assistir a indulgência da
disciplina, e neles excitar a mais profunda humildade, dor e resolução
de recorrer às fontes da graça, para que Deus não os desaloje do seu
santuário eterno, quando a Igreja os admite no altar da terra, bem
como para merecer o nome de fiéis com que ela os honra.
219. Por que damos alguns
nomes complementares à Missa?
R.
Embora, em sua essência, a Missa seja uma só, isto é, a renovação do
sacrifício do Calvário, algumas circunstâncias propiciaram o
surgimento de nomes complementares. Assim, chamamos de
Missa solene, quando
celebrada com toda a majestade do cerimonial; de
Missa pontifícia ou
ordinária, conforme
celebrada por um bispo ou por sacerdote.
Missa cantada, quando
recitada com coro; Missa rezada,
sem coro.
220. Que designa a
Missa paroquial?
R. A
Missa paroquial é
acompanhada da benção da água e do pão, de orações, de proclamas e de
admoestações, com práticas (sermão, pregação) feitas pelo próprio
pároco aos seus paroquianos.
221. Que é
Missa privada?
R. É a
celebrada fora ou dentro da paróquia com intenções particulares, sem a
solenidade das bênçãos, sem admoestações e práticas.
222. Quantas partes há na
Missa?
R. Na
Missa há seis partes:
1 – a preparação pública: da entrada do sacerdote ao altar, até a
coleta;
2 – o intróito e instrução: da coleta até o final do Credo;
3 – a oblação: do Credo ao prefácio;
4 – o cânon, ou a regra da consagração: do prefácio ao
Pater Noster;
5 – a consumação: do Pater Noster
à comunhão;
6 – a ação de graças: da pós-comunhão ao último Evangelho.
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CAPÍTULO
VII
Da natureza
e da existência do sacrifício da Missa
(Recapitulação)
223. O que é Missa?
R.
Missa é, pois, o sacrifício do
corpo e do sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, imolado
desde o princípio do mundo pelas promessas feitas por Deus e pela fé
dos justos, aos quais se aplicavam, antecipadamente, seus frutos.
224. Há figuras do santo
sacrifício no livro do Gênesis?
R. Sim,
no Gênesis encontramos figuras do santo sacrifício, como, por exemplo,
as ofertas de Abel, de Abraão e de Melquisedec.
225. E na lei de Moisés?
R.
Encontramos, também, figuras daquele sacrifício na lei de Moisés, como
no cordeiro pascal e na variedade de tantos outros sacrifícios por ele
estabelecidos, cujos diferentes objetos convergem para a única
imolação de valor infinito, a Missa, anunciada pelos profetas.
226. Quando se iniciou o santo
sacrifício?
R.
Podemos afirmar que aquele santo sacrifício se iniciou na Encarnação
do Verbo, passando pelo nascimento de Cristo e pela apresentação no
templo.
227. Quando Nosso Senhor Jesus
Cristo instituiu o santo sacrifício?
R. O
santo sacrifício foi instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo na
véspera da sua morte, consumado no Calvário de modo cruento, e
continuado nos nossos altares para ser, até o fim dos tempos, o único
e verdadeiro sacrifício, que pessoalmente nos aplica o preço do sangue
divino derramado na cruz, para oferecer perpetuamente Deus (Filho) a
Deus (Pai) pelo ministério dos sacerdotes legítimos, a quem Cristo
designou este poder.
228. Como é oferecido o santo
sacrifício do corpo e do sangue de Cristo?
R. Este
sacrifício é oferecido sob as espécies de pão e de vinho, que mantém
suas aparências como a cor e o sabor. Estas aparências ou acidentes,
permanecem e subsistem mesmo depois que a substância de pão e de vinho
se convertem, realmente, no corpo e sangue do nosso Salvador.
229. Por que Nosso Senhor
Jesus Cristo utilizou o pão e o vinho ao instituir este santo
sacrifício?
R.
Porque, conforme diz a Escritura, o pão é o fundamento da vida (Sl
103), e o vinho é o símbolo de tudo que encanta e alegra o coração do
homem. Assim, Nosso Senhor, ao fazer deles a matéria do seu
sacrifício, quis nos ensinar a imolar, com ele e nele, a nossa vida e
tudo quanto dela nos é grato e querido.
230. Poderia haver melhor
símbolo para este santo sacrifício?
R. Não,
nenhum outro símbolo seria mais próprio, para nos dar a justa idéia do
Deus que se sacrifica, que é o autor dos nossos bens, o conservador do
nosso ser, o Senhor da vida e da morte, e o dispensador das nossas
alegrias e dos nossos pesares. Assim, nenhum outro sinal poderia
inspirar melhor o elevado pensamento da imolação do homem, que deve
unir-se a esta vítima, e de pertencer a Nosso Senhor na vida e na
morte.
231. Que mais nos ensinam o
pão e o vinho?
R. Como
os alimentos nos foram concedidos por Deus, para o indispensável
sustento da nossa vida, ao consagrá-los ao Senhor, reconhecemos
exteriormente que a Ele pertence nossa existência e que Ele é o dono
absoluto dos nossos dias.
232. Há na Sagrada Escritura
outras referências a ocasiões em que os homens sacrificaram alimentos
a Deus, como símbolo da Eucaristia?
R. Sim,
conforme relata a Escritura, Abel oferecia ao Senhor o leite das suas
ovelhas; Caím, os frutos da terra; depois do dilúvio, Noé e seus
descendentes sacrificavam animais que lhes eram permitido comer;
Melquisedec, imagem de Nosso Senhor, oferecia o pão e o vinho, para
expressar o reconhecimento dos soldados preservados dos perigos da
guerra. Vimos, também, a oferta da flor de farinha, o vinho, o sal e o
azeite sendo consumidos no altar judaico, as primeiras colheitas
levadas com solenidade ao templo, e Jesus Cristo, em fim, escolher o
pão e o vinho como matéria do seu sacrifício, e conservar estas
aparências, mesmo depois de ter consumado a misteriosa mudança ( a
transubstanciação).
233. O que é a Eucaristia?
R. A
Eucaristia é, ao mesmo tempo, sacrifício enquanto oferecida a Deus, e
alimento sacramental enquanto recebida pelo homem, conforme no-lo
explica Santo Tomás. Portanto, dom de união do homem com Deus e dos
homens entre si. Que mais ditosa imagem deste alimento espiritual e
desta união inefável, que é a participação da vítima sob as espécies
de pão e de vinho!
234. A Missa é o sacrifício da
nova lei?
R. A
celebração e a consagração da Eucaristia, que normalmente denominamos
Missa, é o sacrifício verdadeiro, real e propriamente dito da nova
lei.
235. Por que a Missa é
sacrifício da nova lei?
R.
Porque nela se encontram todas as condições do sacrifício instituído
pelo Nosso Salvador, para todo o sempre.
236. Quais são as condições do
sacrifício?
R. No
sacrifício feito a Deus há: a
oblação, o holocausto,
a Eucaristia, a
hóstia de propiciação devido ao pecado e a
impetração.
237. O que é oblação?
R. É a
oferta de algo sensível, do corpo e sangue de Cristo, sob as espécies
de pão e de vinho, que são percebidas pelos nossos sentidos.
238. A quem é feita a oblação?
R. A
oblação da Missa é feita somente a Deus, conforme estabelecido
dogmaticamente pela Igreja.
239. Quem realiza a oblação?
R. A
oblação é feita por um ministro legítimo, por Jesus Cristo, pontífice
supremo, que fala por si mesmo e em seu nome, e por um sacerdote
canonicamente ordenado – o padre - que fala em nome de Jesus Cristo, a
quem empresta sua voz e o representa, e por toda a Igreja, da qual o
sacerdote é o verdadeiro e legítimo embaixador junto a Deus, para
oferecer o sacrifício em nome dos fiéis.
240. A oblação pode ser feita
pelos fiéis?
R. Não,
a oblação é oferecida a Deus somente pelo sacerdote, ministro
legítimo, que fala na pessoa de Cristo.
241. Por que se diz que a
Missa é um holocausto?
R.
Porque na Missa rendemos a Deus o culto de latria, ou seja, adoração
suprema e de total dependência a Deus, a quem oferecemos a adoração do
próprio Deus (Cristo), de quem reconhecemos supremo domínio, a quem
apresentamos a morte de Deus (Cristo), unindo o culto da nossa alma e
do nosso coração à adoração de Deus sacerdote (Cristo) e à morte de
Deus vítima (Cristo).
242. Por que a Missa é
Eucaristia?
R.
Diz-se que a Missa é Eucaristia ou ação de graças, porque nela
elevamos a Deus não só os dons que recebemos da plenitude da sua
misericórdia, como também o mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo, manancial
desta plenitude de graças.
243. Por que dizemos que a
Missa é uma hóstia de propiciação, devido ao pecado, oferecida a Deus?
R.
Porque, através dessa hóstia de propiciação, imploramos à misericórdia
divina para apaziguar sua justiça, oferecendo a imolação de Cristo (o
próprio Deus) que se dignou tomar sobre si todas as nossas iniqüidades
e reunir nossa fraca e insuficiente dor de arrependimento à sua
satisfação infinita.
244. Por que a Missa é também
um sacrifício de impetração?
R.
Porque na Missa pedimos e recebemos todos os bens necessários à
salvação do corpo e da alma.
245. Não pedimos e recebemos
esses bens em outras orações?
R. Sim,
porém a diferença é que, na Missa, não somos nós quem os suplica, mas
o próprio Deus (Cristo) quem pede e quem ouve; nós somente unimos
nossa fraqueza às suas orações. Assim, por meio deste divino
intercessor, nossas orações sobem aos céus, chegam ao Nosso Pai
celestial e são por Ele acolhidas favoravelmente.
246. Como podemos nos
certificar que nossas orações na Missa são favoravelmente acolhidas
pelo nosso Pai celestial?
R. São
Paulo apóstolo no-lo garante ao nos dizer: "Como Deus não nos dará
todos os bens, depois de nos ter dado seu próprio Filho para ser o
oferecimento do nosso sacrifício?"
247. Que conclusão principal
chegamos do que foi explicado acima?
R.
Conclui-se que a Missa é o verdadeiro sacrifício estabelecido por
Jesus Cristo para a nova aliança.
248. Há alguma referência no
Antigo Testamento sobre a Missa, como sacrifício da nova lei a ser
estabelecido por Cristo?
R. Sim,
e o profeta Malaquias anuncia (1, 11):
1º - A revogação dos sacrifícios antigos:
"Eu não receberei mais oblações das
vossas mãos", disse o Senhor aos judeus;
2º - A substituição dos sacrifícios antigos, por um novo e excelente
sacrifício: "Em todo o lugar se
oferece em sacrifício ao meu nome, uma hóstia pura"; quer
dizer, será oferecida, porque, na linguagem profética o futuro se
anuncia como presente.
249. Por que as palavras do
profeta Malaquias, acima citadas, referem-se ao santo sacrifício da
Missa?
R. As
palavras do profeta Malaquias referem-se ao santo sacrifício da Missa,
pois:
1º - afirmam que Deus não mais receberá nenhum sacrifício oferecido
anteriormente:
a – dos judeus, nem mesmo as vítimas legais dos seus sacrifícios, pois
Deus quer substituí-las por uma nova e excelente hóstia;
b – dos pagãos, com maior razão sacrifício algum, que nunca os
aceitara, pois seus altares impuros serviam aos demônios.
2º -
afirmando que "em todo o lugar se
oferece em sacrifício uma hóstia pura", Deus também não se
refere diretamente nem mesmo à imolação da cruz, que ocorreu só uma
vez no Calvário; mas refere-se claramente ao Santo Sacrifício da
Missa, que oferece a hóstia pura, e que ocorre em todo lugar;
3º -
afirmam que não será um sacrifício nem mesmo espiritual, da alma e do
coração, de agradecimento e de boas obras, que havia sido sempre
praticado, pois o texto da profecia expressa um sacrifício exterior
propriamente dito.
Seu sentido claramente nos indica um sacrifício novo, de uma vítima
pura a Ele oferecida em todo o lugar, que é exatamente a oblação da
Eucaristia na Missa, ou seja, o puro e próprio sacrifício de Deus
(Cristo) vítima, oferecido à majestade do seu nome por todos os povos
e em todos os lugares.
250. A profecia de Malaquias
foi realmente cumprida?
R. Sim,
e para nos certificarmos disto, basta ler os Evangelistas e São Paulo.
251. Que nos dizem os
Evangelistas e São Paulo?
R. Os
Evangelhos de São Mateus (26), de São Marcos (14), de São Lucas (22) e
São Paulo nos dizem que, estando com seus discípulos na noite em que
Nosso Senhor foi entregue, e após terminar a ceia da antiga páscoa,
que ia ser abolida com todos os sacrifícios da lei antiga, para ser
substituída pela oblação pura e universal do verdadeiro cordeiro
pascal (São Mateus 26, 26-28)):
"Estando, eles, porém, ceando, tomou Jesus o pão e o benzeu, e
partiu-o e deu-o aos seus discípulos e disse: Tomai e comei, ISTO É O
MEU CORPO”. "E tomando o cálice, deu graças e deu-lho dizendo: Bebei
dele todos”. "Porque este é o meu SANGUE do novo testamento, que será
derramado por muitos, para remissão dos pecados”; (São Marcos 14,
22-24)): "E quando eles estavam comendo, tomou Jesus o pão; e, depois
de o benzer, partiu-o e deu-lho, e disse: Tomai, ISTO É O MEU CORPO”.
"E tendo tomado o cálice, depois que deu graças, lho deu: e todos
beberam dele”. "E Jesus lhes disse: ESTE É O MEU SANGUE do novo
testamento, que será derramado por muitos”; (São Lucas 22, 23-25)):
"Também depois de tomar o pão deu graças e partiu-o e deu-lho,
dizendo: ISTO É O MEU CORPO que se dá por vós; fazei isto em memória
de mim”. "Tomou também da mesma sorte o cálice, depois de cear,
dizendo: Este cálice é o novo testamento em MEU SANGUE, que será
derramado por vós”;( 1 Coríntios 11, 23-29): "Porque eu recebi do
Senhor o que também vos ensinei a vós, que o Senhor Jesus, na noite em
que foi entregue, tomou o pão, e dando graças, o partiu, e disse:
recebei e comei; isto é o meu corpo, que será entregue por vós; fazei
isto em memória de mim. Igualmente depois de ter ceado, (tomou) o
cálice, dizendo: este cálice, é o novo testamento no meu sangue, fazei
isto em memória de mim todas as vezes que o beberdes. Porque todas as
vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciareis a
morte do Senhor, até que ele venha. Portanto, todo aquele que comer
este pão ou beber este vinho indignamente, será réu do corpo e do
sangue do Senhor. Examine-se, pois, a si mesmo o homem, e assim coma
deste pão e beba deste cálice. Porque aquele que o come e bebe
indignamente, come e bebe para si a condenação, não distinguindo o
corpo do Senhor".
252. No decorrer de sua
pregação fez, Nosso Senhor, alguma referência a esta instituição?
R. Sim,
aos seus discípulos, em Cafarnaum, Jesus lhes dissera que era
necessário comer sua carne e beber seu sangue, para se alcançar a vida
eterna.
Para efetuar esse milagre, disse
simplesmente após a Ceia: Tomai e comei, isto é o meu corpo; tomai e
bebei, este é o meu sangue. Eis a consumação deste divino sacrifício
no cumprimento de todos os mistérios.
Nele Cristo renova sua morte, sua ressurreição e
sua vida gloriosa. Através dele, Cristo alimenta sua Igreja com seu
próprio corpo para torná-la um corpo santo, sempre vivo, e dar-lhe a
graça da imortalidade gloriosa. Seria possível imaginar palavras mais
significativas, termos mais fortes, mais enérgicos em sua
sensibilidade ou mais expressivos em seu sentido do que os que Ele
empregou? – Este é o meu corpo,
este é o meu sangue; fazei isto. Estas palavras de Jesus
são absolutamente decisivas.
253. Por que as palavras
empregadas por Nosso Senhor "Tomai e comei, isto é o meu corpo; tomai
e bebei, este é o meu sangue" são decisivas?
R. As
palavras empregadas por Nosso Senhor são decisivas porque foram
proferidas pelo próprio Deus (Filho); portanto, ao mesmo Deus
onipotente que dissera "faça-se a
luz" (Gn) e a luz foi feita, reconhecemos o infinito valor
daquelas sublimes palavras.
254. Não encontramos
referência à instituição da Eucaristia no Evangelho de São João?
R.
Apesar de não descrever a Santa Ceia, São João penetra no coração do
Salvador e nos expõe os sentimentos que dirigiam a ação de Nosso
Senhor naquela ocasião, dizendo:
"tendo Jesus amado os seus, os amou até o fim" (Jo 13) e,
podemos acrescentar, até em excesso.
255. Por que São João fez
aquela afirmação?
R. Para
nos revelar que Jesus, Deus onipotente, na Ceia, nos deu a maior prova
do seu amor, nos deixando seu próprio corpo e seu próprio sangue, como
alimento espiritual.
256. Como essa dádiva de Jesus
chega a nós?
P.
Através do poder de oferecer o sacrifício instituído no Cenáculo,
pois, Nosso Salvador deu claramente aos apóstolos, e sucessores, este
poder, por meio destas palavras:"Fazei
isto em minha memória".
257. Que significa essa ordem
dada aos apóstolos e sucessores por Nosso Senhor?
R.
Através dessa expressão, Nosso Senhor ordena aos apóstolos e
sucessores que não devem fazê-lo somente como lembrança e simples
representação do que Ele fizera, mas sim,
"Fazei isto", que Ele
mesmo fizera e como realmente fizera.
258. Além do significado vital
acima exposto, que mais podemos deduzir daquela ordem?
R. Pelas
palavras empregadas por Nosso Senhor deduz-se que Ele ordena aos
apóstolos que não façam outro sacrifício, distinto ou separado da
oblação que Ele fizera, mas sim o mesmo que Ele ofereceu:
"Tomai e comei, pois isto é o meu corpo; tomai e bebei, pois este é o
cálice do meu sangue".
259. Que significa "em minha
memória"?
R. A
expressão final da ordem de Nosso Senhor quer dizer:
a – Fazei em minha memória, porque sou vosso Deus e Senhor;
b – Em memória da autoridade e poder que dei à minha Igreja;
c – Em memória dos meus padecimentos e de minha morte, que renovareis
todas as vezes que fizerdes isto;
d – Em memória da nova aliança que fiz com os homens, derramando aqui
meu sangue e, portanto, oferecendo-o em sacrifício;
e – Em minha memória, ofereceis esta oblação ou efusão do meu sangue
misterioso, sobre esta mesa, que na Cruz confirma o Novo Testamento,
assegurando aos homens minha nova e irrevogável vontade de obter-lhes
as graças da salvação e da herança do céu, com a condição de serem
fiéis aos meus preceitos e ao meu amor, e de fazer uso dos sacramentos
que estabeleci, pela remissão dos pecados.
260. Que resumo podemos fazer,
com as palavras empregadas por Nosso Senhor, acompanhadas do seu
significado, quando da instituição da Eucaristia?
R. O
relato do Evangelho, unido ao seu significado, Nosso Senhor diz:
fazei, portanto, o que eu fiz, em minha memória, em memória de minha
morte e da minha aliança; eu tomei o pão e o vinho; tomai esta matéria
e estes símbolos de oblação; eu os abençoei; abençoai-os; eu dei
graças; fazei o mesmo; eu parti o pão; parti-o; eu disse: isto é meu
corpo, e eu vos dei e vós o recebestes; tomai e dai aos outros:
hoc facite.
261. A ordem dada por Nosso
Senhor era por um tempo determinado?
R. Não,
pelo contrário, Nosso Senhor ordenou que se fizesse o que ele mesmo
fizera por todo o tempo que o homem deve passar na terra, pois mandou
que se renovasse a oferenda da sua paixão e morte, do seu corpo
imolado e do seu sangue vertido, até sua próxima vinda, quando virá
para julgar os vivos e os mortos. Portanto, por estas palavras, seu
poder passa para os sucessores dos apóstolos, herdeiros do mesmo
sacerdócio, e, diz Jesus, "eu
estarei convosco", não só ensinando, batizando, governando
a Igreja, mas também oferecendo e consagrando conosco, "todos
os dias, até a consumação dos séculos" (Mt 28, 20).
262. Em que cerimônia da
Igreja se cumpre a ordem deixada por Nosso Senhor?
R. A
cerimônia em que se cumpre a ordem de Nosso Senhor é a Missa, que tem
o poder, real e perpétuo, de oferecer e consagrar, o mesmo que Cristo
ofereceu e consagrou no Cenáculo e no Calvário.
263. Como podemos definir a
Missa, após as explicações e significados do que ocorreu no Cenáculo?
R.
Podemos dizer que a Missa é "o
altar em que temos o poder de comer" (Hb13, 10);
"o trono em que está o Cordeiro de pé
e, ao mesmo tempo, imolado" (Ap 5, 6), e que, nos nossos
altares, continua o verdadeiro sacrifício instituído por Nosso Senhor
Jesus Cristo.
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CAPÍTULO
VIII
Do valor e dos frutos do Sacrifício da Missa
264. A Missa é somente a comemoração e a representação da cena do
Calvário?
R. Não,
a Missa é a renovação e a continuação do sacrifício da cruz repetido
em nossos altares, de forma incruenta, além de também comemorar e
representar a cena do Calvário.
265. O valor da Missa é
infinito? Por que?
R. Sim,
o valor da Missa é infinito porque nela se oferece o corpo e o sangue
da segunda pessoa da Santíssima Trindade, Nosso Senhor Jesus Cristo,
portanto do próprio Deus.
266. Que diferença há entre a
Missa e a imolação do Calvário?
R. A
diferença está no modo de se oferecer. Assim, no Calvário, a imolação
foi visível e cruenta; na Missa, a imolação é incruenta e sacramental.
No Calvário, como canta a Igreja,
"somente a divindade de Nosso Senhor estava velada aos sentidos,
enquanto que na Missa está velada também a humanidade" (Adoro te devote, Hino do Santíssimo Sacramento).
267. A Missa, portanto, é o
mesmo sacrifício realizado na cruz?
R. Sim,
por que em ambos temos o mesmo sacrificador, a mesma vítima – que é
Nosso Senhor Jesus Cristo – e, portanto, a mesma imolação.
268. Na Missa, o sacrificador,
então, não é o sacerdote que a celebra?
R. Não,
o sacrificador é Nosso Senhor Jesus Cristo, que fala e atua através do
sacerdote. A Nosso Salvador, pontífice supremo, se une toda a Igreja
universal, todos os fiéis, que se oferecem com Ele, pelas mãos do seu
representante que é o bispo ou o sacerdote, ministros legítimos desta
oblação.
269. Por quem se oferece a
Missa?
R.
Oferece-se a Missa por Jesus Cristo, por toda a Igreja, pelo sacerdote
que a celebra e por todos os cristãos.
270. Como os fiéis podem
participar deste oferecimento?
R. Os fiéis podem participar do oferecimento da Missa de diversos
modos:
a – em ato, quando assistem e participam da sua celebração;
b – de modo mais precioso, quando, além de ser em ato, fazem oferecer
a vítima, Jesus Cristo, por eles e em seu nome;
c – de modo habitual, todos os fiéis, pois que, unidos a Jesus pela
caridade e à Igreja pela fé, formam um só corpo, membros recíprocos
uns dos outros, participando de todos os benefícios do corpo inteiro.
270. Por que o sacrifício
consumado no Calvário é o mesmo sacrifício realizado na Missa?
R.
Porque o essencial do sacrifício do Calvário consiste na oblação que
Jesus Cristo fez do seu corpo, que é a mesma oblação da Missa. Assim,
tanto no altar como no Calvário, apresenta-se a mesma vítima, o corpo
e o sangue de Nosso Salvador, sob as espécies de pão e vinho, para
tornar sensível a presença dessa vítima. A imolação real é a mesma,
ocorrendo em cada Missa e em todas as Missas, sem multiplicar o
sacrifício, como veremos.
272. Que prova o Evangelho nos
dá para nos mostrar que o essencial do sacrifício de Nosso Senhor
Jesus Cristo consiste na oblação que Ele fez do seu corpo?
R. O
Evangelho nos mostra que Nosso Senhor quis instituir o sacrifício do
seu corpo e do seu sangue na véspera da sua morte, após a Ceia, e não
no mesmo instante em que morreu, para estabelecer claramente a verdade
e a igualdade do mesmo sacrifício. Assim, Ele poderia tê-lo oferecido
após a sua paixão, como em qualquer tempo antes da própria Ceia.
273. Então a oblação do
sacrifício de Nosso Senhor independe do tempo?
R. Sim,
e ao reafirmar a oblação da cruz no dia seguinte após a morte de
Cristo, ou um ou mil anos depois, até o último dia do mundo, se
oferece absolutamente o mesmo sacrifício, e as Missas são atos da
repetida oblação da única imolação de Jesus Cristo.
274. Para a unidade do
sacrifício não é então necessária uma união física da imolação e da
hóstia imolada?
R. Não,
pelas próprias palavras do Evangelho, basta a união moral entre a
imolação e a hóstia imolada, uma referência moral, uma relação moral
ao tempo da imolação. Assim, Nosso Senhor, na Ceia, oferece sua morte
futura; no Calvário, sua morte presente; no céu e no altar, sua morte
passada; pelo mesmo ato da mesma vontade de se oferecer: a oblação se
multiplica por distintos atos, mas a imolação é só uma, como único é o
sacrifício.
275. Podemos encontrar a
confirmação desse ensinamento em outros livros da Sagrada Escritura?
R. Sim,
São Paulo, por exemplo, defende e confirma esse ensinamento em
diversas passagens. Assim declara este santo apóstolo:
1 – Hebreus 10:
a – que Jesus Cristo, desde sua vinda ao mundo, manifestou sua vontade
de se oferecer a Deus Pai em holocausto;
b – que, com este único holocausto, revogou os sacrifícios antigos,
para substituí-los com o seu ("aufert
primum ut sequens statuat");
c – que, por esta única vontade, concebida desde a encarnação e
fielmente cumprida até a sua morte na cruz, fomos santificados pela
única oblação do seu corpo;
2 –
Hebreus 9 e 7:
Que Nosso Senhor não se limitou em derramar seu sangue na cruz
para a remissão dos nossos pecados (Hb 9), mas também que, na unidade
do mesmo sacrifício, o recolheu e levou-o, não ao templo judeu, que
não passava de um exemplo e uma figura, mas ao santo dos santos, ao
céu, para apresentá-lo diante de Deus em nosso favor, como mediador e
pontífice (Hb 7).
276. Que mais nos ensina São
Paulo naquelas epístolas?
R. São
Paulo nos ensina que Jesus Cristo é o mediador de uma aliança mais
excelente que a antiga, em todos os aspectos, principalmente pela sua
duração: imortal na natureza humana com que se revestiu e, fazendo-se
sacerdote por toda a eternidade, seu sacerdócio é sem fim, pois, na
terra, estabeleceu sacerdotes com sucessores, enquanto que, no céu,
Ele intercede por nós.
277. Como a Igreja manifesta
esse ensinamento de São Paulo?
R. A
Igreja sempre celebrou o dia da Ascensão de Nosso Senhor ao céu, onde
sem cessar Ele oferece ao seu Pai os ferimentos que sofreu por nossas
iniqüidades, e que, por meio desse contínuo oferecimento, nos alcança
a entrada perpétua na aliança de sua paz.
278. A oblação de Nosso Senhor
foi sempre a mesma e única imolação?
R. Sim,
o desejo da oblação de Nosso Senhor se manifesta desde a sua
Encarnação, se constitui no Cenáculo, se executa na cruz, se perpetua
no céu e, no entanto, só há uma única imolação de Jesus Cristo,
porque, como diz São Paulo (Hb 9), este Deus salvador morreu somente
uma vez para expiar os pecados de todos os homens e, agora, não
morrerá mais, pois jamais a morte terá domínio sobre Ele, depois da
vitória que Ele teve contra ela (Rm 6).
279. Qual é, em resumo, o
ensinamento de São Paulo?
R. São
Paulo nos ensina que Jesus Cristo ofereceu, com um só desejo, desde a
Encarnação até o Calvário, e por esse mesmo desejo oferece esse
sacrifício único desde a cruz até o céu, onde renova, sem cessar, por
meio de oblações mil vezes repetidas, sua imolação já consumada e
cumprida. Assim, pelas palavras da consagração na Missa, Nosso Senhor
se apresenta no altar, não só sob os símbolos da morte e num estado de
imolação aparente, mas também como Ele se encontra, à direita de Deus
Pai, sacerdote eterno, supremo pontífice e mediador da nossa aliança,
e dom da nossa paz; sendo agora o mesmo que se apresenta na celebração
da Missa, sempre vivo e intercedendo por nós, oferecendo suas chagas
que salvaram o mundo, e perpetuando seu sacrifício sem interrupção.
280. O que se constitui a
verdadeira oblação da Missa?
R. A
presença de Jesus Cristo, oferecendo sua morte se constitui na oblação
verdadeira da sua imolação real e a rigorosa continuação do seu
sacrifício na cruz; os atos de oblação são atuais, distintos e
multiplicados; mas sempre é a oblação da mesma vítima do Calvário e a
mesma imolação desta vítima.
281. Seria possível explicar
esse princípio com um exemplo?
R. Sim,
suponhamos que Deus tivesse querido estabelecer um sacrifício muito
solene para a entrada e posse do seu povo na terra prometida, e que
tivesse declarado que este sacrifício, único em sua classe, não fosse
oferecido pelos filhos de Aarão em nome dos seus irmãos, mas por cada
israelita de cada tribo e família; suponhamos ainda que a vítima fosse
representada somente por um cordeiro e que esta imolação se renovaria
por cada ato pessoal e individual. Suponhamos que Moisés, antes de dar
posse das terras além do Jordão às tribos de Gad, de Ruben e à metade
da tribo de Manassés, tivesse escolhido o cordeiro destinado ao
sacrifício. As tribos cujas possessões estariam já definidas,
passariam diante do altar e, desfilando na sua ordem, apresentariam
pelas mãos de cada indivíduo aquele cordeiro para ser imolado. Moisés,
já próximo da sua morte, também o ofereceria, mas de forma mais
solene. Josué, seu sucessor, para conduzir o povo de Deus, imola o
cordeiro deixando-o no altar banhado com seu sangue. As demais tribos
de Israel, antes de passar o Jordão, desfilam diante do altar e cada
indivíduo oferece o sangue derramado. Terminado o desfile e o
oferecimento de todo o povo, levam o sangue do cordeiro ao tabernáculo
para ser nele conservado. Depois, os levitas o tiram todos os dias, e
muitas vezes ao dia, para oferecê-lo a Deus em nome de todo o povo, e
este rito se conserva por todas as gerações. Neste exemplo,
poder-se-ia duvidar de que, apesar de terem sido multiplicadas as
oblações e que duraram por tanto tempo, somente foi efetuado por todos
um só e único sacrifício, e que sua continuação, enquanto subsistir o
povo de Deus, não alteraria em nada a sua identidade e a sua unidade?
Eis a imagem patente e o exemplo vivo do
sacrifício da cruz que o Cenáculo viu antecipar-se e que continua na
Missa até a consumação dos séculos: os justos que viveram antes de
Jesus Cristo e que durante mais de 4.000 anos passaram diante do seu
altar para oferecê-lo com sua fé; e após a consumação do sacrifício,
todas as tribos da terra passam diante deste mesmo altar, oferecendo
realmente o mesmo Jesus Cristo imolado, tornado presente pela
instituição da autoridade divina o mesmo Deus do Calvário, com seu
corpo que é oferecido, com seu sangue que é derramado sem cessar, para
a remissão dos pecados.
A Missa é realmente, portanto, quer em relação ao
sacerdote, à vítima e à imolação, o mesmo sacrifício da cruz; seu
preço é, portanto, de valor infinito, como a morte do Salvador. Eis,
dentre outras conseqüências, as que podemos tirar da prática deste
sentimento católico que acabamos de expressar e de provar.
282. Por que explicar tão
detalhadamente este tema?
R.
Porque, ainda que comumente se ouve dizer e repetir diariamente que a
Missa é o mesmo sacrifício da cruz e que devemos assisti-la como
diante da cena do Calvário, freqüentemente acontece que não fixamos
bem suas conseqüências nos nossos corações, visto seu entendimento não
ter penetrado profundamente na nossa razão.
283. Como podemos colocar em
prática esse conhecimento mais aprofundado da Missa?
R. Uma
vez entendido melhor esta elevada teologia de São Paulo, vemos o
profundo respeito, a viva confiança, a plenitude de fé e de amor que
devemos ter diante dos altares, nas Igrejas, pensando se tivéssemos
assistido a oblação da imolação do Calvário, como estaríamos unidos
mais estreitamente a Nosso Senhor Jesus Cristo, como teríamos
recolhido com o maior cuidado cada gota do seu sangue, como teríamos
guardado cada batimento do seu coração, cada palavra da sua boca e
diríamos mil vezes com fervor:
"Lembrai-vos de mim, Senhor" -"Memento
mei, Domine" (Lc 23), e com o coração cheio de dor e de
arrependimento, repetiríamos o grito de fé e de reconhecimento: este
homem é o verdadeiro Filho de Deus –
"Vere Filius Dei erat iste"
(Mt 27), e quereríamos ajudar a preparar os perfumes e a
sepultura de Deus vítima e, principalmente, a desejar que os nossos
corações lhe servissem de túmulo.
284. Com que respeito e
disposição de alma, nós devemos assistir o santo sacrifício da Missa?
R. Se:
A - transportados em espírito como o apóstolo São João (Ap 5)
assistimos no sublime altar do céu, onde Nosso Senhor celebra e
oferece sem cessar, por si mesmo e sem representante, e víssemos no
trono de Deus este cordeiro em pé, imolado, abrindo o livro da
liturgia eterna para nele ler o nome dos que aproveitam do seu sangue
derramado, para fazer com que os homens se inscrevam naquelas páginas
de vida, segundo as quais se concluirá no fim dos tempos a Missa
definitiva e a despedida irrevogável;
B – ouvirmos ressoar no céu estas terríveis palavras:
"As coisas santas são para os santos;
a felicidade, a bem-aventurança e a benção, para os filhos de Deus; a
Missa eterna para a inocência e para o arrependimento ...”,
nós nos prosternaríamos diante do cordeiro para a adoração com o
coração arrependido e humilhado, e encheríamos os incensos de ouro com
a mais pura oração.
285. Que outros princípios
devem alimentar nossa alma ao assistir a santa Missa?
R. Como
a Missa continua na terra o mesmo sacrifício que continua no céu, e
que a mesma vítima sobe de um altar ao outro levando consigo nossos
desejos, e volta a descer carregada de bênçãos, ao assistir a Missa
devemos animar nossa alma com os mesmos pensamentos que teríamos no
céu.
286. O valor da Missa é, pois,
infinito?
R. O
valor da Missa é infinito por se referir a Deus vítima, à suficiência
do tesouro dos seus méritos que, oferecidos por Deus-sacerdote, serão
sempre aceitos pelo Senhor, como dignos da sua majestade e da sua
justiça; o valor da Missa é de valor finito quanto ao exercício do
sacerdote secundário, que é um homem revestido de poderes divinos, e
enquanto aplicação que o Senhor nos faz dos méritos do seu Filho,
proporcionalmente à nossa fé, nossa penitência e nosso fervor.
287. Quais são os frutos do
sacrifício da Missa?
R. A
Igreja nos ensina que a Missa opera por si mesma e por sua virtude
própria, o perdão dos pecados; mas o opera de uma forma
mediata, ou seja, que pelo
próprio ato do sacrifício e sem nenhum meio ulterior, ela obtém, para
o pecador a graça de se converter e de receber, no sacramento da
Penitência, a remissão das suas faltas.
Exemplificando: uma pessoa que pede a Deus a
graça de mudar de vida e de se confessar, mas sem assistir ao
sacrifício da Missa, poderá obtê-la somente em virtude do seu fervor e
das suas instâncias, porém sempre terá dúvida se de fato a obteve.
Contudo, se ela assiste a santa Missa com
aquela finalidade, é certo que receberá a graça pedida, de modo
eficaz, desde que não oponham obstáculos a ela, independentemente das
disposições de quem celebra e do fervor de quem assiste a celebração,
entendendo-se o mesmo quanto às demais graças para a salvação.
288. Se a Missa produz a graça
e a aplicação dos méritos do sangue e da morte de Cristo, em que ela
se diferencia dos sacramentos?
R. A
diferença é que a Missa nos concede a graça de forma mediata, enquanto
que os sacramentos nos dão a graça imediatamente; a Missa é uma via
segura que conduz à vida, à graça, e os sacramentos são a própria
vida, a própria graça, com toda a sua eficácia.
289. Que podemos concluir
desse conceito?
R.
Podemos concluir que a assistência à Missa é uma excelente disposição
para o perdão e a conseqüente justificação, considerando que a Missa é
o tribunal de misericórdia de primeira instância, se é permitido assim
falar, e dela se passa ao tribunal de reconciliação de último recurso.
290. Haveria outra diferença
entre a Missa e os sacramentos?
R. Sim,
há outra diferença mais favorável ao sacrifício: os sacramentos só
aplicam o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo aos que são dignos dele,
enquanto que a Missa o aplica ao justo e ao pecador, ao que merece e
ao que nem é mesmo digno de recebê-lo. Isso porque os sacramentos só
produzem seus efeitos para os vivos, enquanto que a Missa estende seus
frutos de salvação aos vivos e aos mortos.
291. Com que disposição esses
princípios nos levam a assistência à Missa?
R.
Conseqüentemente, devemos ir "com
confiança ao trono da
graça" (Hb 4) para alcançar a misericórdia e, naquele
mesmo trono, encontrar os socorros necessários às nossas necessidades.
292. Que outro ensinamento
tiramos desses princípios?
R.
Devemos compreender quão preciosa é a prática dos fiéis que fazem
celebrar ou que assistem a Missa, sempre que precisam pedir alguma
graça ao Senhor, e como tão mais santo é o costume de assisti-la
diariamente, para fortalecer-nos sem cessar com sua santa proteção.
293. Qual a eficácia da Missa
quanto às penas temporais devidas aos nossos pecados?
R.
Quanto às penas temporais devidas aos pecados, depois de terem sido
perdoados no sacramento da Penitência, a Missa as extingue
imediatamente aos que estão em estado de graça, assim como aos justos
do purgatório, cujas penas são eliminadas também imediatamente, se bem
que eles não podem merecer mais, nem mesmo recorrer a outros meios.
294. A Missa redime sempre e
imediatamente todas as almas do purgatório?
R. Não,
a Igreja nos ensina que a redenção das almas do purgatório, por meio
da aplicação dos frutos da Missa, se realiza conforme a vontade e os
desígnios de Deus. A Igreja diz que a Missa ajuda a redimir as almas
do purgatório, conforme estabelecido na seção 25 do Concílio de
Trento. Assim, os fiéis costumam oferecer freqüentemente Missas aos
defuntos. Além deste fruto eficaz do sacrifício, oferecemos também,
como fruto secundário àquelas almas, as fervorosas disposições com que
assistimos a ela.
295. Que nos ensina Santo
Tomás sobre essa questão?
R.
Santo Tomás nos ensina que a santa oblação é aplicada a cada um
proporcionalmente à sua devoção. Neste sentido, a Missa opera segundo
a santidade de quem oferece e de quem assiste a ela.
296. Mas a Missa não é somente
oferecida a Deus?
R. Sim,
a Missa é oferecida somente a Deus, a quem se deve unicamente a
adoração, o culto supremo e o reconhecimento total da nossa
dependência.
297. Por que, então,
oferecemos a Missa para a Virgem, Missa para os defuntos?
R.
Essas expressões são formas comuns que empregamos, para indicar que as
orações e leituras que precedem o cânon são em memória dos santos ou
dos fiéis defuntos. Embora o sacrifício só pode ser oferecido a Deus,
nele se faz menção aos santos, pois a Missa é o sacrifício de toda a
Igreja que Nosso Senhor o oferece como a cabeça do seu corpo místico,
que é a própria Igreja.
298. Por que a Igreja menciona
o nome dos santos em certas passagens da Missa?
R.
Porque a Igreja militante se une a Jesus Cristo para oferecê-la e,
pelo mesmo motivo, se une à Igreja triunfante, inseparavelmente unida
à sua cabeça.
299. Por que a Igreja
militante se une à Igreja triunfante?
R.
Estas duas partes da sociedade dos filhos de Deus se unem para
implorar, pelos méritos de Cristo, a divina misericórdia em favor da
Igreja padecente, constituída pelas almas que sofrem no purgatório.
300. A união da Igreja
triunfante com a militante visa somente as almas do purgatório?
R. Não,
pois esta lembrança dos santos no altar se faz também para
felicitá-los pelas suas vitórias, para agradecer a Deus pelos seus
triunfos, para nos incentivar a imitar seus sacrifícios consumados, e
para nos fortificar, como diz o cânon da Missa, através dos
seus méritos e orações a Deus e Jesus Cristo, único mediador todo
poderoso.
301. Em resumo, a quem podemos
oferecer a santa Missa?
R. A
santa Missa se oferece a Deus, pelos vivos, justos ou pecadores, e, em
geral, por todos os que professam a fé católica. (A Igreja não reza
especificamente pelos cismáticos, hereges e pagãos, senão na
Sexta-feira Santa). Oferecemo-la também para os mortos para que
descansem em Jesus Cristo, e por todos os fiéis que padecem no
purgatório.
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CAPÍTULO IX
Das
disposições para se oferecer o Santo Sacrifício da Missa
§ 1 – DISPOSIÇÕES MATERIAIS
302. A que se refere o termo
"material", objeto do estudo deste §1?
R.
"Material", aqui, se refere aos edifícios destinados à celebração do
sacrifício da Missa, ou seja, as igrejas, incluindo tudo o que nelas
contém para tal, como os altares, e tudo relativo a eles. Neste
parágrafo não iremos tratar dos vasos, dos tecidos sagrados, dos
ornamentos, do incenso e dos demais objetos do culto.
303. Qual foi o primeiro
templo especificamente usado para o sacrifício da Missa?
R. O
primeiro templo especificamente utilizado para o sacrifício da Missa
foi o Cenáculo, lugar "amplo e bem adornado" (Lc 22) para a celebração
da Eucaristia, a pedido de Jesus Cristo – Deus.
304. Por que Nosso Senhor
exigiu um local "amplo e bem adornado"?
R. O
mesmo Jesus Cristo, que nasceu num estábulo, pois não tinha onde
repousar sua cabeça, e que morreu na cruz, ordenou a seus discípulos
que procurassem um local "amplo e bem adornado", para justificar a
majestade e riqueza das nossas igrejas.
305. Qual foi o primeiro altar
do sacrifício da Missa?
R. O
primeiro altar em que se realizou o sacrifício de Cristo foi o
Calvário.
306. Nos tempos de
perseguição, onde se realizava o sacrifício da Missa?
R. Em
geral, na época de perseguição dos cristãos, o sacrifício da Missa era
realizado nas casas de alguns fiéis privilegiados, ou escondidos em
cavernas, bosques, calabouços ou catacumbas.
307. Quando foram construídas
as primeiras igrejas para a celebração solene e pública do sacrifício
da Missa?
R. Logo
após o término das perseguições foram construídas as primeiras igrejas
para a celebração pública da liturgia da Missa, em honra do verdadeiro
Deus. Posteriormente, em todas as partes, a piedade e arte de cada
século contribuíram para a grandeza e riqueza das construções, sempre
erigidas, fundamentalmente, para a celebração do sacrifício da Missa.
308. Dentre os diversos
estilos arquitetônicos das igrejas, qual foi o mais significativo
quanto à piedade e grandeza devidas a Deus?
R. Foi
o estilo gótico que consagrou a Deus suas majestosas catedrais, com
suas elegantes cúpulas e formas grandiosas. Também os elevados
campanários nas pequenas aldeias, rompendo com graça a uniformidade da
paisagem, anunciavam por toda parte o tabernáculo de Deus entre os
homens.
309. A construção das igrejas
seguia alguma regra específica?
R. Sim,
seguia uma tradição específica, conforme o testemunho do autor das
"Constituições apostólicas".
310. Que recomendava aquela
tradição referente à construção de igrejas?
R.
Havia uma série de recomendações quanto:
A – a forma: que deveria ser ampla e semelhante a uma nave — daqui vem
o nome do corpo principal do templo;
B – a orientação: deveria estar voltada para o Oriente — origem da
luz, simbolizando Nosso Senhor, Luz do mundo;
C – a sacristia: ao lado do altar, onde se colocariam os objetos do
culto, incluindo os paramentos litúrgicos;
D – a cátedra ou sedia do bispo: localizada no fundo da catedral, com
os assentos para os sacerdotes à sua direta e à sua esquerda;
E – o altar: no meio do santuário, como são vistos nas igrejas
românicas;
F – o santuário: fechado por uma balaustrada;
G – a frente do altar: local para os clérigos menores, seguidos dos
fiéis, onde havia o púlpito para as leituras e sermões.
311. Como se dispunham os
fiéis na catedral?
R. Os
homens ficavam de um lado e as mulheres do outro, para melhor
conveniência do ósculo da paz. Viria depois local reservado aos
catecúmenos e aos penitentes públicos.
312. Quantas portas havia nas
igrejas primitivas?
R. Em
geral havia três portas: a principal, ou grande porta, à frente do
edifício; a porta menor, que separava os fiéis dos catecúmenos e
penitentes públicos; e a chamada porta santa, que fechava a parte do
santuário, e que servia de balaústre para a mesa da comunhão.
313. Que semelhanças há entre
aquelas igrejas primitivas e as atuais?
R. Há
inúmeras, como por exemplo:
1 – a Cruz externa, sobre o edifício ou sobre o campanário, indicando
o sacrifício que se renova no templo católico;
2 – os sinos, como a voz do sacerdote, convocando os fiéis;
3 – as pias de água benta: ao lado da entrada, lembrando a pureza
exigida na oblação;
4 – os confessionários: como meios para, através do sacramento da
penitência, ou confissão, recuperarmos a graça de Deus, perdida pelos
pecados;
5 – a cruz na frente do altar: indicando aos fiéis que devem unir o
sacrifício do seu coração à imolação da grande vítima do mundo;
6 – local para o coro e o órgão;
7 – capelas laterais, possibilitando a multiplicidade de Missas;
8 – relicários, imagens que nos lembram a glória dos santos e que já
consumaram seu sacrifício;
9 – finalmente, e acima de tudo, o altar, que é o ponto central das
nossas igrejas.
314. Que significa a palavra
‘altar’?
R. A
palavra ‘altar’ deriva de ‘altus’ significando ‘elevado’. Entre os
gregos, o termo utilizado era thusiasterion, que significa ‘ lugar da
imolação’.
315. Que afirmou São Gregório
sobre o altar do sacrifício?
R. São
Gregório nos diz que o altar do sacrifício é de pedra comum,
semelhante a que usamos para levantar muros, porém devidamente
abençoado e consagrado ao Senhor.
316. Havia altares sobre
túmulos?
R. Sim,
às vezes erguiam altares sobre túmulos de mártires, e sua forma
externa era de uma sepultura. Mas, como dizia Santo Agostinho, o altar
era somente para Deus, embora contendo os restos mortais de mártires.
Disto surgiu o costume de se colocar relíquias de santos nos altares,
costume que não só nos apresenta uma imagem do céu, onde São João viu
no altar as almas dos mártires (Ap 6), mas nos mostra também um
espetáculo digno dos anjos e dos homens: Jesus Cristo, vítima
universal oferecida a Deus sobre o corpo das suas vítimas, estimulando
os fiéis ao sacrifício das suas vidas, pelo menos moralmente.
317. Todos os altares são
iguais?
R. Não,
os altares são diferenciados segundo a forma de sua consagração ou da
sua finalidade, havendo, basicamente, três tipos de altares:
a – Fixo: quando a pedra inteira é consagrada;
b – Portátil: quando foi consagrada somente a pedra central;
c – Privilegiado: altar em que se permite celebrar missas de defuntos
mesmo nos dias proibidos em outros altares, ou que gozam de
indulgências temporais ou perpétuas específicas.
318. Por que o altar está
sempre acima do nível do solo?
R. O
altar deve ficar acima do nível do solo, elevado pelo menos por um
degrau ou base, para corresponder ao significado literal e místico do
seu próprio nome e da sua finalidade.
319. Como a elevação do altar
acima do solo corresponde a sua finalidade?
R. Como
a oração é a elevação da alma a Deus, assim também é o sacrifício
celebrado no altar; sinal público da mais excelente oração, que deve
ser oferecido num lugar elevado para nos lembrar que devemos nos
separar da terra, e nos elevarmos para o céu, aproximando-nos
espiritualmente do trono da misericórdia de Nosso Senhor.
320. O que deve ser colocado
no centro do altar?
R. No
centro do altar deve ser colocado um tabernáculo, no qual se conservam
as hóstias consagradas para a comunhão dos fiéis, ou levadas aos
enfermos, e a hóstia que é exposta à adoração nos ofícios públicos.
321. O que se coloca nas
laterais do altar, ao lado do tabernáculo?
R.
Tanto à direita como à esquerda do tabernáculo, colocam-se pequenos
degraus, com flores e candelabros com velas. Pelo menos duas velas
devem estar acesas durante a santa celebração, multiplicando-se
conforme a solenidade dos dias.
322. Como o altar deve ser
revestido?
R. O
altar deve ser coberto por três toalhas bentas, sobre as quais
coloca-se um missal apoiado em pequena estante, e três quadros
denominados cânones do altar (sacras), um ao centro, contendo o texto
que é recitado no meio do altar em momentos em que o sacerdote não
possa ler comodamente o missal; o da direita, contém as orações da
infusão do vinho e da água no cálice e o salmo do Lavabo; o terceiro,
à esquerda, contém o último Evangelho segundo São João.
Nas Missas solenes e cantadas, coloca-se ainda no
altar o livro das epístolas e dos Evangelhos, e antigamente os
instrumentos para o ósculo da paz.
323. Por que se acendem
luminárias durante a Missa?
R. A
origem deste costume se encontra no início da era cristã, no tempo das
perseguições, em que os fiéis, obrigados a celebrar os santos
mistérios em lugares escuros e antes do raiar do dia, precisavam
acender tochas que, às vezes, eram multiplicadas como sinal de
alegria.
324. Há referência desse
costume na Escritura?
R. Sim,
São Lucas, nos Atos dos Apóstolos 20, 7- 8, nos revela que, no local
onde São Paulo pronunciou um extenso discurso aos fiéis no primeiro
dia da semana (domingo) havia uma grande quantidade de luminárias. Aí
lemos: "E, no primeiro dia da semana, tendo-nos reunido para a fração
do pão, Paulo, que devia partir no dia seguinte, falava com eles, e
prolongou o discurso até a meia-noite. E havia muitas lâmpadas no
Cenáculo, onde estávamos reunidos".
Além disso, Eusébio nos diz que, na noite de
Páscoa, além da iluminação das igrejas, o imperador Constantino
ordenava acender todo o tipo de tochas em todas as ruas da cidade,
para que aquela noite fosse mais brilhante que o dia mais claro (Euséb.,
História Ecles., 1. 5, c. 7).
Assim, o costume das luzes durante a celebração
da Missa é uma lembrança da mais remota Antigüidade, e como
manifestação da alegria espiritual dos fiéis naquele santo momento.
325. O costume de acender
luzes não surgiu, portanto, da pura necessidade natural de iluminação?
R. Não,
pois nos séculos III e IV, apesar da profunda paz reinante, na qual a
Igreja podia celebrar livremente e com grandiosidade, cerimônias mais
solenes, sempre se acendiam lampadários durante o dia.
326. Há alguma referência
histórica sobre esse tema?
R. Sim,
por exemplo, quando o herege Vigilâncio se atreveu a acusar a Igreja
de superstição, porque pessoas piedosas acendiam velas durante o dia
nos túmulos dos mártires, São Jerônimo lhe respondeu indignado,
referindo-se aos ofícios eclesiásticos: "Nós não acendemos luzes
durante o dia senão para mesclar de alguma alegria as trevas da noite;
para velar com a luz, e evitar dormirmos como vós, na cegueira das
trevas" (São Jerônimo, Epist. ad Vigilant ).
327. Por que o testemunho de
São Jerônimo é importante para esse assunto?
R.
Porque ninguém como ele poderia estar melhor informado sobre esse
costume, pois ele havia visitado toda a Gália (França) e percorrido
todo o Oriente e Ocidente. Assim, podemos dizer, sob sua autoridade,
que não se acendiam luzes durante o dia porque haviam sido usadas no
decorrer da noite, mas que nas igrejas do Oriente se acendiam luzes
por motivos místicos: "Em todas as igrejas do Oriente, diz ele, se
acendem velas durante o dia quando se lê o Evangelho, não para ver
claro, mas como sinal da alegria e como símbolo da luz divina, luz da
qual diz o salmo: vossa palavra é a luz que ilumina meus passos" (Id.)
Esse mesmo motivo místico, que levou os fiéis a
acender velas durante a leitura do Evangelho, determinou o costume
posterior de mantê-las acesas durante a celebração do sacrifício em
que Nosso Senhor, que é a verdadeira luz dos homens, está realmente
presente; no qual o pontífice e o sacerdote, em suas elevadas funções,
representam esta divina e evangélica claridade.
328. Por que a Igreja sempre
aprovou esses costumes?
R. A
Igreja sempre aprovou esses costumes simbólicos, porque eles são
ensinamentos simples e edificantes para o povo.
329. Há outros exemplos da
utilização da luz como símbolo da fé?
R. Sim,
por exemplo, o antigo costume de se colocar nas mãos do recém batizado
um círio, e São Cirilo de Jerusalém, no ano 550, dizia que estes
círios acesos são símbolos da fé que se deve conservar com todo o
cuidado.
330. Por que se abençoa e se
acende o círio pascal?
R. Há
mais de 1200 anos se benze e se acende o círio pascal para que a
benção desta luz nos permita a contemplar a sagrada ressurreição, ou
seja, o brilho luminoso da nova vida de Jesus Cristo, como afirma o 4º
Concílio de Toledo, no ano 633, ao censurar as igrejas que não
observavam esta cerimônia.
331. Por que se levam círios
na festa da apresentação de Jesus no Templo, e purificação de Nossa
Senhora?
R.
Levam-se círios na comemoração daquelas festas para que os fiéis
possam participar da alegria de Simeão ao tomar o Menino Jesus em seus
braços, expressando que Ele era a alegria das nações e para indicar
que devemos nos consumir diante do Senhor, unidos em Jesus Cristo,
como se consome a vela que levamos.
331. Por que se acendem velas
nas cerimônias fúnebres?
R. No
século IV, os corpos dos fiéis que haviam falecido na fé eram levados
à igreja, em procissão com círios acesos. São Paulo, São Simeão
Estilista e o próprio imperador Constantino, assim foram conduzidos
para indicar, com este solene séqüito de luminárias, que eles eram
verdadeiros filhos da luz.
A quantidade de velas que ardiam, dia e noite, no
túmulo dos mártires, conforme nos dizem São Paulino e Prudêncio,
brilhavam em homenagem à luz celestial de que usufruíam aqueles santos
e que fazem a alegria dos cristãos: "Nasce a luz para os justos, e a
alegria para os retos de coração" (Salmo 96, 11).
Da mesma forma, os círios acesos durante o dia nas igrejas foram
sempre considerados símbolos da verdadeira luz, conforme nos diz São
Jerônimo e Santo Isidoro (Etym., 1. 7, c. 12).
332. Que diziam São Pedro e
São Paulo utilizando a luz como símbolo?
R. São
Pedro dizia: todos vós sois filhos da luz e do dia; e São Paulo: antes
vós éreis trevas, mas, agora, sois a luz no Senhor: andai como filhos
da luz.
333. O que nos diz o Micrólogo
sobre a luz nas missas?
R.
Afirma que nós nunca celebramos a missa sem luz, não para dissipar o
escuro, visto que é dia, mas para figurar e anunciar a luz eterna e
divina, cujos sacramentos e gloriosos mistérios celebramos.
334. Haveria ainda algum outro
motivo para se acender luzes durante a Missa?
R. Sim,
a Igreja acolhe também este costume por sua relação ao espetáculo
testemunhado por São João no céu, quando viu o Filho do Homem entre
sete candelabros de ouro. Os círios acesos nos advertem que devemos
nos comportar como filhos da luz com a prática de atos de caridade, de
justiça e de verdade.
§ 2 – PREPARAÇÕES INTERIORES
Preparação particular dos
sacerdotes indicadas nas rubricas
335. Que significa o termo
‘rubrica’?
R.
Deu-se o nome de ‘rubrica’
às observações escritas em letras vermelhas no sacerdotal, texto
utilizado pelos sacerdotes como preparação da Santa Missa, e no
próprio Missal. Esta expressão vem do antigo direito romano, cujos
títulos, regras ou decisões principais, eram escritas com caracteres
em vermelho (rubro). As rubricas da Missa prescrevem o modo de
recitá-la, para que fossem mais facilmente distinguidas no texto.
336. Quando foram ordenadas as
rubricas do Missal?
R. No
final do século XV, pelo mestre de cerimônias Burcard, durante o
pontificado dos Papas Inocêncio VII e Alexandre VI, sendo impressas
pela primeira vez no Missal em 1485, em Roma, e no sacerdotal alguns
anos depois, sob o pontificado de Leão X. Posteriormente, durante o
Concílio de Trento, em 1570, o Papa S. Pio V reordenou e distribuiu as
rubricas nos títulos do Missal.
337. Que prescreve a rubrica
no sacerdotal?
R. A
primeira prescrição aos sacerdotes é que eles devem se confessar caso
seja necessário.
338. Por que essa regra?
R.
Porque ela é conseqüência direta do preceito do apóstolo que disse:
quem comer o pão da vida e beber o cálice do Senhor indignamente será
réu do corpo e sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo; ou seja, o
sacerdote deve estar em estado de graça, que é também prescrito a
todos as fiéis para receberem o sacramento da Eucaristia. O estado de
graça não abrange somente a disposição do sacerdote e dos fiéis, mas
também inclui o discernimento conveniente entre o corpo de Nosso
Senhor e o alimento que a providência concede indistintamente a justos
e pecadores.
339. Qual é a segunda rubrica
para a preparação do sacerdote?
R. Ela
prescreve também que o sacerdote deva ter rezado pelo menos as
matinas e as
laudes, conjunto de orações do ofício noturno e da manhã.
340. Por que se exige dos
sacerdotes pelo menos tais orações antes da Missa?
R.
Sempre foram feitas longas orações vocais antes da Missa para excitar
aqueles desejos que, como diz Santo Agostinho na
Epist. ad Probam, produzem
mais efeito quanto mais se animam. Este costume, que é a preparação
remota do santo sacrifício, remonta à antiguidade, pois já no século
VI sabemos que Santo Atanásio celebrava as vigílias na igreja quando
teve que partir para o desterro. O motivo da celebração deste ofício,
praticado por Santo Atanásio, é que ele devia recitar na igreja a
Sinaxe, ou seja, a
assembléia para o sacrifício, costume que ainda conserva resquícios em
certas catedrais em que será celebrada Missa solene.
341. Por que a rubrica
estabelece explicitamente a condição ‘pelo menos’?
R. Pelo
menos, porque se a Missa é celebrada mais tarde exige-se então a
recitação dos demais ofícios decorridos entre laudes (5h da manhã) e a
Missa.
342. Que outra rubrica é
prescrita ao sacerdote antes da Missa?
R.
Outra rubrica ordena ao sacerdote aplicar algum tempo à oração. De
fato, não basta a oração pública: a oração mental deve sempre estar
unida à oração vocal.
343. Que considerações deve
fazer o sacerdote nessa preparação?
R. O
sacerdote deverá considerar:
A - a
excelência e a majestade dos mistérios dos quais ele será o ministro,
e sua profunda indignidade em celebrá-lo;
B -
dirigir sua atenção à oferenda do santo sacrifício e levar a este
trono de misericórdia a mais viva fé, a pureza mais escrupulosa e o
amor mais ardente a Nosso Senhor Jesus Cristo.
Antigamente, em algumas catedrais em que seriam celebradas missas
solenes com a presença de grande número de assistentes, o celebrante
passava a semana anterior em retiro, para que essa contrita preparação
não fosse perturbada pelo movimento natural e ruído das pessoas.
344. Quais eram as orações
marcadas pelas rubricas?
R.
Havia muita variedade. Assim, no século X, o sacramental de Tréveris,
indica os três primeiros salmos, seguidos da ladainha aos santos. No
século XI, o Micrólogo indica os quatro primeiros salmos, como se
encontram nos missais e breviários. A Igreja deixa à devoção de cada
sacerdote a escolha das orações para sua preparação, para alimentar
melhor sua fé e a sua piedade.
§ 3 - PREPARAÇÕES EXTERIORES
345. Qual é o primeiro dever
exterior do sacerdote?
R. O
sacerdote deve preparar o que deverá ler no Missal, para entendê-lo e
recitá-lo melhor, bem como para evitar enganos que poderão prejudicar
a atenção e o acompanhamento dos assistentes, fazendo-os cansar, ao
procurar a correta seqüência do texto.
346. Que outro ato externo o
sacerdote deve cumprir como preparação à celebração do santo
sacrifício da Missa?
R.
Antes do sacrifício, o sacerdote deve lavar suas mãos na sacristia,
regra seguida em todas as épocas e povos. A lei antiga (Ex 30, 18) a
determinava expressamente, e os cristãos jamais a descuidaram, como
recomendavam São Cirilo e São João Crisóstomo. Além disso, São Cesário
ordenava a todos os participantes que lavassem suas mãos para receber
a eucaristia, como respeito ao santo sacrifício.
347. Que visava a Igreja ao
prescrever aquela ablução?
R. A
Igreja prescrevia lavar as mãos como sinal externo da pureza interior
necessária para entrar no santuário, como pede a oração pronunciada
durante aquele ato: “Senhor,
tornai minhas mãos puras, para que eu possa servir sem mancha alguma,
corporal ou espiritual.”
348. Que mais é prescrito ao
sacerdote como preparação externa do santo sacrifício?
R. O
sacerdote deve preparar o cálice como observa a rubrica do Missal.
349. Como deve ser o cálice?
R. O
cálice deve ser uma taça de prata, dourado, consagrado pelo bispo e
que serve para a consagração do vinho em sangue de Nosso Senhor Jesus
Cristo.
350. Em que consiste a
preparação do cálice?
R. Esta
preparação consiste em ordenar:
a - o cálice, que deverá ser bem lavado e secado;
b - o purificatório, isto é, o lenço que cobre o cálice, que serve
para enxugar e purificar no altar as taças do sacrifício, e que é como
um pano sagrado da mesa divina;
c - a patena, pequena bandeja arredondada, de prata dourada,
consagrada como o cálice, na qual será colocada a Hóstia, corpo de
Nosso Senhor Jesus Cristo; ela é posta sobre o cálice e sobre o
purificatório;
d - o pão, também chamado de hóstia ou vítima, que é a matéria
destinada a converter-se no corpo do nosso Salvador; este pão, de
farinha sem levedura, de forma redonda e fino, coloca-se inicialmente
na patena que é coberta pela palio, lenço bento, para cobrir o cálice
durante a Missa, evitando, assim, que nada caia dentro dele. A palavra
pallia, vem de
pallium, que significava
capa ou cobertura;
e - o pano que cobre todo o cálice, do mesmo tecido e cor dos
paramentos;
f - finalmente, a bolsa que se coloca sobre o altar, à esquerda do
cálice, que contém o lenço sagrado, denominado
corporal, termo oriundo da
palavra latina corpus,
que é o quarto pano estendido para receber o corpo de Cristo e as
partículas que poderiam eventualmente se desprender da hóstia
consagrada.
Após
essa preparação, o sacerdote e seus auxiliares se revestem com os
paramentos específicos para rezar a Missa.
351. Por que há variedade de
cor nos paramentos do sacerdote, dos seus auxiliares, e na
ornamentação do altar, no decorrer do ano?
R.
Assim como acontece nas comemorações civis, que são realizadas com
diferentes trajes conforme sua natureza, assim também nas comemorações
religiosas, os fiéis usam de ornamentos específicos na celebração do
mais santo dos mistérios. Isso para melhor demonstrar aos fiéis,
através da sensibilidade, a particular natureza da comemoração: dias
festivos, como o Natal, a Páscoa, com paramentos claros; comemorações
fúnebres, como as da Paixão, com paramentos pretos, ou seja, para
realçar exteriormente o brilho ou a gravidade das funções divinas.
352. Quem estabeleceu os
paramentos para as funções divinas?
R. Foi
o próprio Deus, no antigo Testamento, quem determinou os diferentes
vestuários sagrados que deveriam ser utilizados pelos ministros
conforme a natureza do culto a ser prestado. São Jerônimo escreve
ao comentar o que diz Ezequiel sobre o culto divino:
“Não
devemos entrar no Santo dos Santos, nem celebrar os sacramentos
do Senhor trajando roupas comuns de uso diário... A religião divina tem
um traje para o ministério e outro para o uso comum”.
353. É absolutamente
necessário, para a celebração dos santos mistérios, o brilho externo
dos paramentos sacerdotais e ornamentos do altar?
R.
Evidentemente, não, pois não há dúvida alguma que os santos mistérios,
infinitamente grandes em si, não necessitam de nenhum brilho externo.
Assim, por exemplo, no tempo das perseguições, o santo
sacrifício era oferecido com uma consciência pura da sua natureza, sem
o uso de paramentos específicos, devido às circunstâncias extremamente
perigosas para os cristãos. Porém, os homens precisam de sinais
externos, visíveis e sensíveis, para lembrá-los interiormente da
grandeza invisível dos mistérios.
354. Por que a Igreja utiliza
paramentos e ornamentos extremamente ricos? Não bastariam o asseio
corporal e a simplicidade dos paramentos?
R. A
Igreja nunca receou celebrar os mistérios com majestade e riqueza
porque tudo o que é excelso e valioso no mundo, vem de Deus e deve ser
consagrado para sua glória, conforme afirmou o profeta
“O ouro e a prata me pertencem, diz o
Senhor” (Ageu 2, 8) representando a glória do templo do
Desejado pelas nações.
Além disso, há inúmeras passagens na Sagrada Escritura nos revelando
como o próprio Deus determinou paramentos específicos e ricos para as
diversas cerimônias, bem como o uso de ouro e prata nos ornamentos do
Templo, como, por exemplo, Êxodo 28,38-39; 1 Reis 9 ; 2 Crônicas 3 e
5; Esdras 8; Malaquias 3, etc.
Por isso, a Igreja logo ergueu e adornou também ricamente templos tão
grandiosos e majestosos, tão logo os imperadores e reis abraçaram ou
deram liberdade ao cristianismo.
355. Há registros históricos
desses acontecimentos?
R. Sim,
e muitos, como por exemplo:
a - lemos em Teodoreto que o imperador Constantino deu a Macário,
bispo de Jerusalém, uma túnica tecida em ouro para que ele a usasse ao
ministrar o sacramento do Batismo;
b - Optato de Mileva escreveu que o imperador enviou muitos ricos
ornamentos para as igrejas;
c - São Gregório Nazianzeno realça o brilho dos paramentos dos
sacerdotes;
d - Eusébio, bispo de Cesárea (313), fala dos paramentos dos bispos
como de trajes que os enobreciam;
e - o sacerdote Nepociano tinha tanto respeito e estima pela túnica
que usava para oferecer o santo sacrifício, que a deixou por
testamento a São Jerônimo.
356. Como foi estabelecido o
traje específico do sacerdote para a celebração da Missa?
R.
Inicialmente, o uso de traje específico para a Missa foi observado por
devoção. Posteriormente, os Papas e os Concílios ordenaram aos
sacerdotes de celebrarem o santo sacrifício somente com paramentos
consagrados para esta santa ação, e proibiram, sob severas penas, de
servirem-se deles para o uso comum.
357. Por que os paramentos da
Missa devem ser abençoados pelo bispo?
R. Para
mostrar claramente o elevado e único fim a que são destinados.
358. Como era a benção dos
paramentos da santa Missa?
R.
Segundo a liturgia de São Jerônimo, os gregos os abençoavam cada um em
particular, com o sinal da cruz, acompanhado de oração específica,
sempre que os vestiam. Assim também faziam os latinos antigamente, e
ainda nos nossos dias dizem orações semelhantes todas as vezes que os
impõem.
359. Como eram, inicialmente,
os paramentos utilizados pelos sacerdotes?
R. No
início os paramentos eram semelhantes ao vestuário comum, mas, como
estes sofreram algumas mudanças, assim também os paramentos sagrados
passaram por alterações, sendo hoje bem distintos uns dos outros.
360. Que é preciso analisar
para se entender os paramentos utilizados atualmente?
R. Para
uma visão mais profunda dos paramentos, é preciso estudar: sua origem,
as alterações que foram estabelecidas tanto para o asseio como para a
comodidade, os objetivos da Igreja em ordenar e regulamentar seu uso e
as orações pronunciadas pelos sacerdotes ao vesti-los.
361. Quais são as peças dos
paramentos sacerdotais para a celebração da Missa?
R. As
peças dos paramentos para a celebração da santa Missa são:
1 – O amito;
2 – A alva;
3 – O cíngulo;
4 – O manípulo;
5 – A estola;
6 – A casula;
7 – A estola dos diáconos;
8 – A dalmática;
362. O que é o amito?
R.
Amito, originário da palavra latina amicere, que significa cobrir, é
um lenço introduzido no século VIII para cobrir o pescoço, preservar a
voz e consagrá-la ao Senhor para cantar seus louvores. Em Roma, no
século X, foi considerado como um capuz que ficava cobrindo a cabeça
do sacerdote enquanto este se paramentava, e o deixava cair sobre seu
pescoço imediatamente antes de começar a Missa.
363. Qual é o procedimento
atual do sacerdote ao vestir o amito?
R. O
sacerdote toma o amito e pronuncia as seguintes palavras: “ Colocai
Senhor o capacete da salvação em minha cabeça.” Segundo o missal
romano, embora o amito seja colocado na cabeça e imediatamente no
pescoço, o sacerdote deve sempre lembrar-se do sinal que ele indica,
como sendo o capacete e a armadura contra os ataques do demônio e de
guarda da sua voz. A partir de então, entrar em profundo recolhimento
e guardar o mais rigoroso silêncio para celebrar o santo sacrifício.
364. O que é a alva?
R. A
alva, assim chamada devido à sua cor branca, era uma larga túnica de
linho usada por pessoas distintas, no Império Romano.
365. Por que a Igreja passou a
usá-la como paramento litúrgico?
R. Como
explica São Jerônimo (Adv. Pelag., 1, 1), a Igreja passou a usá-la
para indicar a dignidade da casa de Deus, e porque sua cor branca
simboliza a suma pureza dos que seguem na terra o cordeiro sem mancha,
e no céu, os anjos, representados e revestidos também com túnicas
brancas.
366. Que oração acompanha o
vestir a alva?
R. Ao
vestir a alva, o sacerdote pede a Deus para torná-lo branco (puro) no
sangue do cordeiro e merecer participar das alegrias celestiais.
367. Que é o cíngulo?
R. O
cíngulo é um cinto em forma de cordão com que o sacerdote cinge a
cintura, pedindo a Deus que coloque um cinto em seus rins, para
conservar sua pureza.
368. Que é manípulo?
R.
Manípulo, originário do termo mappula, significa pequeno lenço,
chamado também de sudarium (enxugar o suor), na França e Inglaterra.
Da palavra mappula se formou o termo manípulo, encontrado nos antigos
pontificais do século IX, ainda que é verossímil também que aquele
termo tenha sua origem na palavra manus, mão, porque se usava preso ao
braço ou à mão esquerda.
369. Qual sua função no
paramental litúrgico?
R. O
manípulo substituiu o orarium ou a estola, quando esta não serviu mais
para enxugar o pescoço e o rosto. Com o passar do tempo, o manípulo
passou a ser cada vez mais ornamentado, e no século XII, já não servia
mais para a sua finalidade original. Assim, a partir de 1195, o
cardeal Lotário, futuro papa Inocêncio III, fala do manípulo, não mais
para enxugar o corpo, mas para enxugar a alma e o coração, para
afastar o temor dos trabalhos, suores e lágrimas evangélicas e
infundir o amor às boas obras.
370. Com que oração o
sacerdote o veste hoje?
R. Há
mais de seiscentos anos, os sacerdotes repetem a seguinte oração ao
vestir o manípulo: “Mereça eu, Senhor, usar o manípulo das dores e
lágrimas para receber com alegria a recompensa do trabalho”. Essa
oração se fundamenta no Salmo 125, 6: “Os que semeiam entre lágrimas,
com alegria ceifarão. Vão andando e choram, levando as sementes para
espalhar. Quando voltarem, virão com alegria, trazendo os seus
punhados.” Manípulos, no Salmo, significa também feixes, punhado.
371. O termo manípulos, neste
Salmo, tem outros sentidos?
R. Sim,
no Salmo acima há dois significados para aquela palavra: o primeiro,
indica o punhado que carregavam nas mãos ao partirem para a semeadura;
o outro, do punhado que os colhedores traziam ou o seu fruto.
372. Que simbolizam esses dois
significados?
R. Que
neste mundo se planta com trabalho e sofrimentos; e que no outro, se
carrega com alegria os frutos daquele trabalho, para o qual a Igreja
nos anima.
373. Que é a estola?
R.
Estola, antigo orarium, era um lenço grande e fino, usado por pessoas
abastadas para enxugar o rosto. Geralmente, era utilizado por pessoas
que falavam em público (daí o termo orare, oratio, significando
discurso) e, por isso, era levado também pelo bispo, pelo sacerdote e
pelo diácono, nunca, porém, pelos ministros das ordens menores que não
tinham o poder de anunciar a palavra de Deus.
374. Quando passou a ser
empregado, nos moldes de hoje, como paramento pela Igreja?
R.
Embora, pela tradição ele tenha sido sempre empregado na Igreja, desde
o século VI há muitas pinturas relativas à Igreja grega e à latina em
que se nota a estola, de seda e larga, como usada nos nossos dias. A
Igreja sempre a viu como um traje de honra e de autoridade espiritual.
375. Com que oração o
sacerdote veste a estola?
R. O
sacerdote veste a estola com a seguinte oração: “Dai-me, Senhor, a
túnica da imortalidade que perdi pelo pecado com a queda do nosso
primeiro pai”.
376. Que é a casula?
R.
Casula era um grande manto redondo, muito largo, com uma abertura para
passar a cabeça, cobrindo todo o corpo, traje comum que todos os
homens usavam como manto, durante os sete primeiros séculos da era
cristã. Depois o povo deixou de usá-la, sendo conservado somente pelas
pessoas consagradas a Deus, como último paramento vestido pelo
sacerdote para celebrar a santa Missa.
377. Há quanto tempo os
sacerdotes utilizam a casula para a celebração da Missa?
R. Há
mais de mil anos a Igreja entrega a casula aos sacerdotes ao
ordená-los, como traje específico para oferecer o santo sacrifício.
378. Que simboliza a casula?
R. A
casula simboliza a caridade que deve cobrir o sacerdote, o jugo amável
de Nosso Senhor Jesus Cristo que o sacrificador deve realizar com
graça e alegria. A casula tem a cruz desenhada às costas.
379. Que oração recita o
sacerdote ao vestir a casula?
R. A
casula traz desenhada às costas a cruz. O sacerdote, que deve fundar
sua glória em levar a cruz de Cristo, ao vestir a casula, diz:
“Senhor, que dissestes: meu jugo é suave e meu peso é leve, fazei que
eu o porte de modo a merecer a sua graça”.
380. O que é a estola dos
diáconos?
R. Os
diáconos, que auxiliam ao sacerdote no altar durante a celebração da
santa Missa, além do amito, da Alva, do manípulo e do cíngulo, vestem
uma estola própria e a dalmática.
381. Qual a origem dessa
estola?
R. A
estola dos diáconos teve a mesma origem da estola dos sacerdotes; um
lenço fino e largo, colocado sobre o ombro esquerdo, assim como era
usado pelos servidores romanos em suas festas solenes. São João
Crisóstomo dizia que as pontas da estola dos diáconos flutuantes ao
vento imitavam as asas dos anjos, e representavam a sua atividade (Hom.
De filio pródigo). O IV Concílio de Toledo, em 633, determinou aos
diáconos que só usassem um orarium no ombro esquerdo e, prendendo as
extremidades no lado direito, sob a dalmática.
382. Que era a dalmática?
R. Era
uma túnica com mangas curtas e próprias para facilitar os movimentos
dos que a usavam.
383. Qual a origem da
dalmática?
R. A
dalmática era um vestuário usado na Dalmácia, daí seu nome; foi
introduzida em Roma no século II.
384. Como Santo Isidoro
considerava a dalmática?
R.
Santo Isidoro, no século VI, considerava a dalmática como veste
sagrada, branca e adornada com bainhas em púrpura. Por isso ela se
tornou um traje solene, devendo inspirar uma santa alegria, conforme a
expressão do pontifical (De ordin. Diac.). Além da dalmática, os
diáconos usam também a estola.
385. Por que os sacerdotes e
ministros devem usar tais paramentos?
R. Tais
paramentos são utilizados pelos sacerdotes e ministros para atender os
desejos da Igreja de se revestirem de justiça, ou seja, do conjunto de
virtudes convenientes ao seu ministério.
386. Qual deve ser o vestuário
dos fiéis durante a celebração do Santo Sacrifício da Missa?
R. A
Igreja recomenda aos fiéis que devem se aproximar daquelas virtudes
próprias do sacrifício que oferecem através do celebrante a Nosso
Senhor Jesus Cristo. Assim, o amito deve lembrá-los da decência dos
vestidos, do recolhimento e do silêncio na casa de Deus; a Alva e o
cíngulo, devem lembrar a pureza e a modéstia; o manípulo lembra a
santa vida e as boas obras da fé que devem unir à santa vítima; a
estola, a dignidade da sua vocação que convida a sacrificar na terra e
a reinar no céu; a casula, lembra o fogo da fé e da lei de Deus com
que devem subir ao altar e de praticar no mundo todos os atos da sua
vida; enfim, o vestuário deve mostrar para a alma a grandeza do
sacrifício, o seu tempo de preparação e a abundância de frutos que
dele devem usufruir.
387. Por que os paramentos são
de diferentes cores?
R. As
cores também devem acompanhar o estado de espírito com que a Igreja
celebra as diversas festividades. Assim, já no início do século IV, a
cor era a branca, pelos mesmos motivos expostos quando tratamos da
Alva, e algumas vezes se usou a cor vermelha ou a púrpura, que entre
os gregos era sinal de luto. O branco indicava a pureza do Cordeiro
sem mancha, e a púrpura, o luto. Usava-se o branco nas solenidades e
festas comuns, e o vermelho nos dias de jejum e nas cerimônias
fúnebres.
Porém, logo se passou a usar a cor preta para simbolizar o luto, a
exemplo do patriarca Acácio de Constantinopla que, para demonstrar a
aflição e a dor que sentira pela promulgação do edito do imperador
Basilisco contra o Concílio de Calcedônia, se cobriu de preto e
revestindo assim também o altar e a cátedra patriarcal.
388. Além das cores branca e
vermelha, que outras cores a Igreja latina utilizava?
R. Além
daquelas cores, a Igreja latina utilizava também paramentos azuis para
que os fiéis pensassem no céu, como dizia Ivon de Chartres. No século
XII, porém, a Igreja latina passou a usar paramentos em cinco cores
diferentes para celebrar comemorações específicas.
389. Quais foram as cinco
cores usadas pela Igreja latina após o século XII?
R.
Foram as seguintes cores: branca, vermelha, verde, violeta e preta.
390. Que significado tinha
cada uma daquelas cores?
R. Cada
cor era usada para lembrar aos fiéis as diversas disposições da alma
segundo a natureza da festividade comemorada. Assim, cada cor
significava:
1- Branca: simbolizava a alegria, o brilho e a pureza; utilizada nos
dias comemorativos dos mistérios gozosos e gloriosos de Nosso Senhor
Jesus Cristo, nas festas dedicadas a Nossa Senhora e à maior parte dos
santos;
2- Vermelha: lembrava o espírito de sacrifício, a efusão do sangue, o
ardor da caridade; usada na Sexta-feira Santa; no dia de Pentecostes,
na festa dos Apóstolos e dos mártires;
3- Verde: indicava aos fiéis a fecundidade do campo e da riqueza
proveniente das ações espirituais; utilizada a partir do domingo da
Santíssima Trindade até o Advento;
4- Violeta: símbolo da penitência; usada no tempo do Advento, da
Sexagésima (60 dias antes da Páscoa) e da Quaresma;
5- Preta: como sinal de luto da Igreja e dos seus filhos, no tempo da
Paixão e nas Missas fúnebres.
391. Por que os ornamentos dos
paramentos litúrgicos são sempre dourados?
R. Os
ornamentos dos paramentos são sempre dourados pois esta cor figura
todas as classes de cores.
392. Que lição fundamental a
Igreja nos dá através dos seus diversos paramentos litúrgicos?
R.
Qualquer que seja o costume estabelecido nesse campo, devemos sempre
acatar e reverenciar a Igreja como a esposa de Nosso Senhor Jesus
Cristo, de quem se escreveu: “A rainha está à vossa direita,
adornada com admirável variedade”.
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CAPÍTULO X
Da benção e aspersão da água - das procissões e da
chegada do sacerdote ao altar
§ 1 – Benção e aspersão da água
393. Que ordena a rubrica do
Missal quanto à água?
R.
A rubrica do Missal ordena que todos
os domingos, antes da Missa, o celebrante, revestido com todos os
paramentos sagrados, exceto a casula, deve benzer a água para
aspergi-la sobre o povo.
394. Quando começou essa
tradição?
R. A
benção e a aspersão da água sobre os fiéis é uma tradição muito
antiga. Já São Basílio, Bispo de Cesaréia e Doutor da Igreja, que
viveu no século IV, a colocava entre as tradições apostólicas. Além
disso, os padres mais antigos da Igreja nos falam dessa água
purificada e santificada pelo sacerdote, cuja finalidade, ao
aspergi-la sobre o povo, é de purificá-lo e prepará-lo para a santa
oblação.
395. Quais são os elementos
utilizados na benção da água?
R. Os
elementos utilizados para a benção da água são: água e sal.
396. Por que se utiliza do sal
e da água para a benção?
R.
Porque a virtude da água é de lavar, e a do sal é de preservar da
corrupção. Ao tomar estes símbolos comuns de pureza e de salubridade,
a Igreja os exorciza, isto é, os ordena, por parte de Deus e pelos
méritos da cruz de Jesus Cristo, que não prejudiquem os homens pelo
abuso que o demônio poderia fazer deles, e que, pelo contrário, lhes
seja útil para a salvação.
397. Por que a Igreja invoca o
poder divino sobre o sal?
R. Para
que ele preserve os homens de tudo quanto possa ser prejudicial à
salvação, da mesma forma que o profeta Elias lançou sal sobre as águas
de Jericó, para torná-las salubres à terra, dizendo da parte de
Deus que estas águas não causariam a morte nem a esterilidade. Para
isto também são feitos os exorcismos que se fazem sobre a água
batismal, para a consagração das igrejas e sobre os objetos
inanimados.
398. Quando a Igreja começou a
fazer exorcismos?
R. Os
exorcismos remontam à mais antiga era. Tertuliano se refere a eles
quando diz que “as águas são
santificadas pela invocação de Deus” (De Bapt. C. 40); e
São Cirilo afirma mais claramente que é preciso que a água seja
purificada e santificada pelo sacerdote (Epístola 70).
399. Como o sacerdote procede
à benção da água?
R. O
sacerdote abençoa e mistura o sal na água, reunindo os dois efeitos de
purificar e de preservar da corrupção, dizendo:
“Faça-se a mistura do sal e da água, em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo” , fazendo vários sinais da cruz para
indicar que só esperamos os efeitos que estes sinais expressam,
implorando a onipotência da Santíssima Trindade, pelos méritos da cruz
de Nosso Senhor Jesus Cristo.
400. Que pede a Deus o
sacerdote depois do exorcismo do sal?
R.
Depois do exorcismo do sal o sacerdote pede a Deus:
“Que sirva este sal a todos quantos o tomem para a saúde do seu corpo e
da sua alma, e que tudo o que for tocado por ele se preserve de toda
impureza e de qualquer ataque do espírito da malícia”.
401. Que diz o sacerdote após
o exorcismo da água?
R. Diz
ele: “Derramai, Senhor, a virtude
da vossa benção sobre este elemento preparado para as diversas
purificações; a fim de que receba vossa criatura, servindo aos vossos
mistérios, o efeito da vossa divina graça para lançar os demônios e as
enfermidades; que tudo quanto seja por ela tocado nas casas e nos
demais lugares dos fiéis, se preserve de toda a impureza e de todo o
mal; que afaste desta água todo o sopro pestilento, todo o ar
corrompido, que a preserve de todo o ataque do inimigo oculto, e de
tudo quanto possa ser danoso à saúde e ao repouso dos que lá vivem;
e,
finalmente, que se conserve contra todo o tipo de ataques esta saúde que pedimos por
invocação do vosso santo nome”.
402. Que proveito podemos
tirar dos ensinamentos acima?
R. Os
ensinamentos acima nos convidam a usar da água benta na igreja, bem
como a conservá-la em nossas casas, para dela nos servir nas
tentações, ao deitar, ao despertar, para pedir o auxílio de Deus em
todas as circunstâncias de perigo, quer para o nosso corpo como para
nossa alma.
403. Por que o sacerdote
asperge o altar e o santuário?
R. O
sacerdote asperge o altar e o santuário para afastar o que poderia
perturbar o recolhimento dos ministros. O sacerdote asperge a si mesmo
e ao povo para dispô-lo a participar com ele das graças que ele pediu
para a Igreja na benção da água, e diz em voz baixa o salmo
Miserere, porque, para
obter essas graças, é preciso manter a atitude de arrependimento e
penitência expressa neste salmo.
404. Como responde o povo a
este salmo?
R. O
povo canta somente o primeiro versículo do
Miserere, acrescentando,
antes e depois, esta antífona: Vós me tocareis, Senhor, com o hissopo, e serei purificado: me lavareis e
ficarei mais branco que a neve.
405. O que é o hissopo?
R.
Hissopo é o menor arbusto; suas folhas, escuras e esponjosas, são
próprias para reter a água para a aspersão, e sua propriedade, que é
de purificar e secar os maus tumores, é feita como um sinal muito
apropriado da purificação do corpo e da alma.
406. O hissopo foi sempre
utilizado para a aspersão?
R. Sim,
no Antigo Testamento havia a aspersão do sangue do cordeiro nas portas
dos israelitas com hissopo (Ex 12, 22), bem como o sangue e cinzas da
vaca e da água para purificar da lepra. Mas o profeta e a Igreja
visavam mais a aspersão do sangue de Cristo, do qual aquelas eram
figuras na lei antiga. Por isso, devemos pedir nesta cerimônia a
aspersão do sangue de Cristo, ou seja, a aplicação dos méritos deste
preciosíssimo sangue, o único que pode apagar os nossos pecados e nos
preservar de todos os males.
407. Como o sacerdote termina
esta oração?
R. O
sacerdote conclui a oração dizendo:”Ouvi-nos,
Senhor, Pai Onipotente, Deus eterno; dignai-vos enviar dos céus vosso
santo anjo para que governe,vigie, proteja,
visite e defenda a todos os que estão neste lugar. Por Nosso Senhor Jesus
Cristo”.
408. A que anjo o sacerdote se
refere naquela oração?
R. É o
mesmo anjo que Deus enviou a Tobias e que o preservou contra todos os
ataques do espírito maligno que havia matado os sete maridos de Sara,
conduzindo-o são e salvo.
§ 2 – Procissão antes da Missa
409. Que significa
“Procissão”?
R. A
palavra procissão vem
do termo latino procedere,
que significa marchar ou ir adiante. Por procissão se entende a
marcha, o caminhar, que fazem o clero e o povo rezando para
determinados fins religiosos, levando à frente a cruz de Cristo, que é
o caminho e guia dos fiéis.
410. Quais são as origens das
procissões?
R.
Seguindo a tradição do Antigo Testamento, havia procissões para levar
a arca santa de um lugar para outro; no século VI vemos o costume de
celebrar-se Missa nos túmulos de mártires ou em lugares de devoção;
fazia também procissões para benzer cemitérios e lugares próximos de
igrejas.
411. Quando se realizavam as
procissões?
R. As
procissões eram feitas no raiar do dia para imitar as santas mulheres
que se dirigiram bem cedo ao sepulcro de Nosso Senhor.
412. Por que se fazem
procissões antes da Missa nos domingos e festas solenes?
R. A
finalidade das procissões antes das Missas é de abençoar os caminhos e
as casas com a água santificada e, principalmente, pela presença de
Cristo, como nas solenes procissões da Páscoa.
413.Há outras finalidades nas
procissões?
R. Sim,
como de honrar algum mistério, como a entrada de Nosso Senhor no
templo ou sua entrada triunfal em Jerusalém no dia de ramos; da sua
ascensão ao céu ou atrair as bênçãos de Deus sobre os bens da terra,
etc. A finalidade principal das procissões é de mostrar que o cristão
é um viajante em desterro na terra e que o céu é sua verdadeira pátria
para a qual ele se encaminha guiado por Cristo, sob a proteção de
Nossa Senhora e dos santos patronos, cujos estandartes ele leva,
iluminado pela luz da fé, pelo exercício da oração e da penitência,
para chegar ao altar visível e deste ao altar do céu, onde está o
verdadeiro repouso e a felicidade eterna: estes são os piedosos
motivos que devem animar os fiéis nas procissões.
414. Há paramentos especiais
para o sacerdote e clérigos nas procissões?
R. Sim,
normalmente o sacerdote usa a capa,
que era um grande manto com um capuz que o abrigava da chuva; daí o
nome: pluvial. Hoje, a
capa é só um ornamento.
415. Como o povo acompanha a
procissão?
R.
Durante a procissão cantam-se hinos, salmos, antífonas, ladainhas e
mais freqüentemente responsórios, finalizando com uma oração geral
recitada pelo sacerdote que a dirige.
§ 3 – Chegada do sacerdote ao altar
416. Que faz o sacerdote ao
fim de tudo o que precede o Santo Sacrifício?
R.
Terminada a preparação do sacerdote à oblação propriamente dita, e
tendo se revestido dos paramentos, com as virtudes que são próprias às
suas funções, com as armas da luz e a luz mesma que lhe serve de capa,
faz o sacerdote uma reverência respeitosa à cruz situada na sacristia,
recebendo como embaixador de Cristo que o envia as últimas instruções
para realizar o Santo Sacrifício.
417. Que significa a casula
que reveste o sacerdote?
R. A
casula lembra Nosso Senhor Jesus Cristo subindo ao Calvário,
carregando o divino madeiro; e, avançando, o sacerdote segue em
espírito como ao sacrificador principal de que ele é indigno
representante.
418. Que significa o caminho
do sacerdote da sacristia ao altar?
R. O
sacerdote se encaminha da sacristia ao altar, conforme determina a
rubrica, pois deve revestir-se na sacristia e este caminho representa
o Salvador vindo a este mundo, manifestando a vontade de se oferecer e
começando o seu sacrifício desde a Encarnação.
419. Que representam os
acólitos?
R. Os
acólitos, portando velas acesas e precedendo o sacerdote, simbolizam a
luz que ilumina todo homem que vem ao mundo e que brilhou para os que
se encontravam nas trevas e nas sombras da morte.
420. Por que os acólitos levam
a cruz e o incenso?
R.
Levam a cruz para mostrar o sacrifício que marcou a vida de um Deus
feito homem; o incenso, para indicar o perfume da doutrina e das
virtudes que ele veio ensinar ao mundo.
421 Que representam os demais
participantes da procissão que antecedem o sacerdote celebrante?
R. Os
membros das ordens menores
representam a longa série de profetas; o subdiácono e o diácono, que
são como os apóstolos da Nova Lei e do evangelho. (Nota: as ordens
menores foram suprimidas após o Concílio Vaticano II).
P422. Por que caminham com
passo lento e sério?
R.
Assim caminham como convém ao representante de um Deus e dispensador
dos mistérios sagrados. Em missas solenes o sacerdote é acompanhado
por outro com capa,
denominado de
assistente, para substituí-lo se por algum motivo ele não possa
concluir o Santo Sacrifício, e para auxiliá-lo e servi-lo durante a
liturgia.
423. Que mais ordena a rubrica
quanto à procissão antes da Missa?
R. A
rubrica determina ainda que o sacerdote deve
andar de cabeça coberta,
significando que ele está revestido da autoridade de Cristo e só se
descobre quando passa diante de um altar ou diante do Santíssimo
Sacramento exposto, ou quando da elevação ou da comunhão.
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CAPÍTULO I
Primeira parte da Missa: da Preparação pública ao
sacrifício e da entrada ao altar
Esta preparação inclui o Sinal da Cruz, o salmo
Judica me Deus, a confissão dos pecados (Confiteor), as orações para
alcançar o seu perdão e para pedir a graça de subir ao altar com
pureza. A entrada ao altar compreende o uso do incenso nas Missas
solenes, o Intróito, o Kyrie e o Gloria in excelsis Deo.
§ 1 - DA PREPARAÇÂO PÚBLICA AO SACRIFÍCIO
424. Quando surgiu a preparação pública do
sacerdote à santa Missa?
R. A preparação pública para a Santa Missa surgiu no século IX, e era
feita pelo sacerdote, não no altar, mas na sacristia, enquanto o coro
cantava o salmo do Intróito ou entrada, e o povo a ele se unia com a
invocação do Kyrie eleison. Somente no século XIII, o sacerdote passou
a fazê-la diante do altar, quando da sua entrada, iniciando a Missa.
425.
O
que representa a chegada do sacerdote ao altar?
R. A chegada do sacerdote ao altar representa a entrada de Jesus
Cristo no mundo pela encarnação, e a humilhação do Verbo que se fez
carne e assumiu todas as nossas iniqüidades.
426. Que outras figuras representa o sacerdote diante do altar?
R. Para se entender as cerimônias em suas menores particularidades, o
sacerdote diante do altar representa diversos personagens.
427. Que personagens representa o sacerdote diante do altar?
R. Diante do altar, o sacerdote representa ou figura diversos
personagens, tais como:
1º - representante de Deus e dispensador de Seus mistérios;
2º - ministro da Igreja e delegado dos fiéis;
3º - homem pecador, sob cujo aspecto se confunde com os assistentes.
428. Que deveres acarretam ao sacerdote tais representações?
R. As diversas representações do sacerdote diante do altar acarretam
os seguintes deveres:
1º - como representante de Deus, ele não pode abandonar o santuário,
lugar do sacrificador;
2º - como homem, ele se detêm no primeiro degrau que leva ao altar;
3º - como delegado dos fiéis diante do Senhor, ocupa o lugar
intermediário, entre o povo e o Senhor;
4º - como pecador, se inclina profundamente e se prosterna diante da
suprema majestade;
5º - como sacerdote, se ergue e permanece em pé; porém, seguindo o
exemplo do publicano, a longe stans (Lc 18), separado do altar quanto
lhe permite o seu ministério.
Nesta atitude,
em que se une e confunde a dignidade e a miséria, a responsabilidade
em relação a Deus e a mediação com os homens, a humanidade e o
sacerdócio, a santidade do ministério e a debilidade da natureza, o
sacerdote beija, com todo o respeito, o livro do Evangelho.
429. Por que o sacerdote beija o Evangelho?
R. O sacerdote beija o livro do Evangelho para reanimar seu valor e
sua confiança para começar o sacrifício, pois, uma vez chegando ao
altar, na presença de Deus, seus passos vacilavam de terror e de
respeito diante do Todo Poderoso.
430. Por que o Evangelho reanima e dá confiança ao
sacerdote?
R. Porque este é o livro que contém seus direitos à oblação, seus
títulos de sacerdócio, a origem e a fonte dos seus poderes, a grandeza
da sua missão; é o livro em que resplandece a bondade daquele que veio
a chamar os justos e os pecadores, cuja misericórdia concedeu o cargo
pastoral ao amor arrependido.
431. Por que o subdiácono apresenta o livro do
Evangelho ao celebrante?
R. Assim como na marcha triunfal dos imperadores romanos um arauto os
seguia para lembrar-lhes que eram homens, no caminhar do sacerdote ao
altar, um ministro deve lembrar a este homem abençoado por Deus que
ele é o sacerdote do Altíssimo e mediador de uma aliança divina. Ao
beijar o livro, o sacerdote demonstra sua modéstia e nobre confiança
nas promessas de Nosso Senhor nele contidas.
432. Que representa a inclinação profunda do
sacerdote ainda ao pé do altar?
R. A prostração do sacerdote representa, além do rebaixamento do Verbo
feito carne, a pobreza do nascimento do Salvador, a obscuridade da sua
vida, as humilhações do seu ministério público e, principalmente, o
início da Paixão no Horto das Oliveiras, em que Jesus, seguido pelos
seus discípulos, afastando-se deles, rezou prostrado, com o rosto na
terra, e aceitou o cálice dos seus padecimentos.
433. Por que o sacerdote faz essa prostração?
R.
O sacerdote faz a profunda inclinação pois, ainda
que sua alma esteja preparada ao sacrifício pela santidade da sua
vida, pelo recolhimento habitual, pelo fervor da oração e da
meditação, e pelas lembranças das virtudes que Deus exige do seu
representante, simbolizados pelos paramentos sagrados que o revestem,
é necessária também uma preparação externa, pública, pela dignidade da
ação que vai acontecer no altar, e para mostrar aos fiéis que não
devem tomar parte nela sem a devida preparação.
434. Por que o sacerdote começa a celebração da
Missa com a cabeça descoberta?
R. O sacerdote começa a celebração dessa forma porque assim prescreve
o rito antigo da Igreja e São Paulo o recomenda. O Concílio de Roma,
presidido pelo Papa Zacarias, em 743, proíbe sob pena de excomunhão ao
bispo, ao sacerdote e ao diácono de assistir a Missa com a cabeça
coberta.
435. Qual a postura habitual do sacerdote durante
a Missa?
R. O sacerdote habitualmente mantém as mãos unidas, enquanto não há
alguma ação ou oração que o façam sair dessa postura piedosa.
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