Anápolis, 23 de janeiro de 2012
À doutora Nacir Fernandes da Conceição
Benfeitora do Instituto – Brasília –DF
Prezada, viva na presença de Deus e evite tudo
aquilo que Lhe desagrada... seja um “espelho”
límpido: “O homem deve ter a alma
pura, qual um espelho reluzente. Quando o espelho está embaçado,
o homem não pode ver nele o seu rosto; assim também, quando há
pecado no homem, não lhe é possível ver a Deus”
(São Teófilo de Antioquia).
Fiquei sabendo da morte do senhor Alcides Leite
Fernandes, seu cunhado: Santos de Deus, vinde em seu
auxílio; anjos do Senhor, correi ao seu encontro! Acolhei a sua
alma, levando-a à presença do Altíssimo. Cristo te chamou. Ele
que te receba e os anjos te acompanham ao seio de Abraão.
Acolhei a sua alma levando-a à presença do Altíssimo. Dai-lhe,
Senhor, o repouso eterno e brilhe para ele a vossa luz. Acolhei
a sua alma, levando-a à presença do Altíssimo (cfr.
Sacramentário).
A morte do senhor Alcides é um aviso de que
também nós passaremos... Deus sabe o dia e a hora... a nossa
hora chegará. Estejamos preparados! Com as lâmpadas acesas e
cheias de óleo (cfr. Mt 25, 1-13).
O aviso de que havemos de morrer é-nos dado por
toda a criação. – Olha como tudo nela tem fim! Vê como as
árvores, chegando a uma certa idade, enfraquecem, perdem a folha
e a seiva que as alimentava e ficam no meio dos campos, no fundo
dos vales, no alto dos montes, como esqueletos sem vida, como
despidos mastros do navio a quem a tempestade rasgou as velas. –
vê os animais, como se vão uns após outros despedindo da vida! –
Vê como os homens, hoje um, amanhã outro, vão deixando esse
mundo para se irem associar os que dormem o sono da morte!
O mesmo se passará conosco! Um dia virá em que se
há de desmoronar a casa do nosso corpo, não ficando pedra sobre
pedra. Hão de fechar-se nossos olhos, hão de gelar-se nossas
mãos, hão de, enfim, desatar-se os nossos ossos dos liames da
carne!…
Ou queiramos ou não teremos de receber um dia a
visita da morte!
Que dia esse, que angústias, quando
ouvirmos os teus passos, quando a virmos abeira-se do nosso
leito, quando sentirmos a sua mão gelada pousar sobre a nossa
fronte! (cfr. Pe. Alexandrino
Monteiro, Raios de luz).
Caríssima, rezemos pela alma do senhor Alcides...
rezemos com fervor pelas almas do Purgatório.
Alguns textos da Sagrada Escritura fazem alusão
ao Purgatório. Conta, por exemplo, o segundo livro dos Macabeus
(2 Mac 12, 42-46) que os judeus oravam pelos mortos em
combate, oferecendo sacrifícios expiatórios pelos mortos para
que fossem absolvidos dos seus pecados. É uma alusão clara à
necessidade de uma “expiação dos pecados” após a
morte, ideia central da fé no Purgatório. Neste sentido, Cristo
fala do pecado que, pela sua gravidade, não será perdoado neste
mundo nem no vindouro (Mt 12, 32), aludindo claramente à
possibilidade de purificação de outros pecados após a morte.
Além disso, a existência do Purgatório é explicitamente
confirmada pelo testemunho da Tradição e do Magistério da
Igreja. A questão do Purgatório reveste-se de especial interesse
para nós porque, se temos o direito de esperar não ir para o
Inferno, é, no entanto bastante provável que tenhamos de passar
pelo Purgatório; daí a importância de sabermos bem de que se
trata.
O Purgatório é o estado das almas justas que,
protelando-lhes a visão de Deus e mediante uma pena de sentido,
cumprem a purificação que lhes faltou nesta terra para expiarem
plenamente os seus pecados já perdoados. Ali as almas acabam de
expiar as suas faltas.
A doutrina católica sobre o Purgatório ensina
que:
1. As almas do Purgatório têm a certeza de
estarem salvas.
2. Não podem merecer para si mesmas.
3. Sofrem da privação de Deus, mas têm a
esperança.
Não há dúvida de que os pecados são totalmente
remidos e apagados pelo sacramento da Penitência, mas a pena
merecida pelo pecado exige, em justiça, uma reparação, uma
expiação, que se chama satisfação. Deus foi ofendido e
perdoou-nos, mas, por um dever de justiça, é necessário
repararmos de um modo real as ofensas que lhe fizemos: não
basta um simples desgosto sentimental.
Na ordem material, quando alguém pratica um
roubo, deve restituir integralmente, antes ou depois de ter sido
perdoado, aquilo que roubou. Se difamou outra pessoa, também
deve reparar o prejuízo causado. Porém, quando se trata de uma
ofensa feita a Deus, como a gravidade da ofensa é proporcional à
dignidade do ofendido, não pode existir uma reparação
equivalente. Por isso, a satisfação imposta pelo confessor a
quem peca é quase sempre insuficiente.
Ora! Que se passa conosco? Cumprimos a
penitência, mas não voltamos a pensar em expiar as faltas
perdoadas. No entanto, ao fazermos o ato de contrição, tínhamos
dito expressamente não só que evitaríamos posteriores ocasiões
de pecado, mas que tínhamos também o propósito de fazer
penitência.
Enquanto nos encontramos nesta terra, podemos
satisfazer pelas nossas ofensas, começar a pagar as nossas
dívidas, por assim dizer começar a cumprir uma parte do
Purgatório que nos toca. Conhecemos bem os meios que temos à
nossa disposição: a oração, a mortificação, o dever
cumprido com amor e perfeição, a aceitação da dor, a esmola e as
outras obras de misericórdia, sempre que as praticamos com
espírito de expiação. Tudo isto, associado aos
sofrimentos de Cristo, tem um preço incalculável. E o que possa
restar da nossa dívida à hora da morte deverá ser expiado no
Purgatório.
Como o nome indica, o Purgatório é um estado de
purificação. Não se trata de um castigo; na verdade, é a própria
alma que deseja purificar-se, da mesma forma que deseja o perdão
após o pecado. É preciso, portanto, descartar a ideia de que o
Purgatório é um tempo de sofrimento imposto, e evitar falar
tanto de lugar como de duração. Como se trata unicamente de
almas — o corpo morreu —, essa purificação é espiritual e
mística. Os mestres da vida espiritual falam dos sofrimentos
purificadores pelos quais as almas que seguem o caminho da
santidade devem passar aqui na terra para chegarem a uma maior
pureza de coração e, portanto, a uma maior união com Deus já
nesta vida. O princípio, no caso do Purgatório, é o mesmo:
a alma purifica-se pelo sofrimento, que consiste, sobretudo, na
privação de Deus.
Mas esta privação — tanto para as almas do
Purgatório como para os místicos — é muito diferente da privação
irremissível do Inferno. As almas do Purgatório têm a
esperança, a caridade e o amor; o seu sofrimento é como
o de uma pessoa que estivesse temporariamente exilada, mas sem
tristeza; pelo contrário, esse sofrimento é aceito com a certeza
de que torna a pessoa digna de viver em Deus, e converte-se
assim num meio semelhante à intervenção cirúrgica que se aceita
a fim de salvar a própria vida. Aceita-se sofrer para
obter um bem, pois quem quer o fim, quer os meios.
Ainda hoje há garimpeiros que caçam ouro; a sua
felicidade consiste em encontrar esse metal, mas, para
encontrá-lo, têm muitas vezes de sofrer privações de todo o
tipo. Faz parte das regras do jogo. São sustentados pela
esperança, mas por uma esperança sem outro fundamento que não a
sorte. Em contrapartida, as almas do Purgatório não só aceitam,
mas até desejam espontaneamente a purificação, a fim de virem a
possuir um bem absoluto que já lhes está assegurado.
Por que é que se fala do “fogo” do
Purgatório? Sabemos que no Inferno há uma dupla pena, a da
privação de Deus e a do remorso, do desespero, um queimor muito
intenso na alma, expresso pela imagem do fogo. As almas do
Purgatório, em contrapartida, sofrem por ainda não estarem na
posse da vida de união direta com Deus, mas não se encontram
submetidas à mesma pena de sentido das almas condenadas, uma vez
que a sua purificação se faz com esperança e caridade. As
“chamas” do Purgatório induzem a pressupor uma
semelhança entre esse estado e o Inferno; ora, as almas que se
encontram no Purgatório têm a certeza de virem a possuir a
felicidade eterna, e, portanto não podem ser infelizes.
Mas a imagem do fogo, em que se materializou a
ideia da purificação, deriva aqui da necessidade dessa
purificação. Encontramos com frequência essa comparação na
Sagrada Escritura: a alma deve ser purificada pela
tribulação como o ouro pelo fogo. Com efeito, os ourives
da Antiguidade fundiam o ouro bruto num cadinho aquecido a
temperaturas muito altas, retiravam as impurezas que flutuavam
sobre a superfície do metal líquido, e obtinham assim o ouro
puro. São Pedro afirma que os sofrimentos presentes devem
servir para provar o valor da nossa fé, muito mais preciosa que
o ouro, o qual se prova pelo fogo (1 Pd 1, 7).
Via de regra, quando se fala em “aliviar”
as pessoas amadas que se supõe estarem no Purgatório, costuma-se
apresentar a questão como se elas tivessem um “castigo”
a suportar antes de poderem ser libertadas, e como se pudesse
“abreviar” esse “castigo” mediante a
celebração de Missas pelos defuntos. O que ocorre, na verdade, é
que todos os fiéis podem contribuir fraternalmente para a
purificação dessas almas por meio da Comunhão dos Santos. O
Concílio Vaticano II ensina que “a
Igreja peregrinante, tendo perfeita consciência da comunhão que
reina em todo o Corpo Místico de Jesus Cristo, já desde os
primeiros tempos da religião cristã guardou com grande piedade a
memória dos que morriam e ofereceu sufrágios por eles, porque um
bom e salutar pensamento é orar pelos defuntos para que fiquem
livres dos seus pecados (cf. 2 Mac 12, 46)”
(Constituição dogmática Lumen gentium, n. 50).
As almas do Purgatório nada podem merecer para si
mesmas, e por isso a Igreja militante — os fiéis que estão na
terra — vem em socorro da Igreja padecente, isto é, das almas do
Purgatório. Os fiéis podem participar da purificação dessas
almas para que elas obtenham a visão que lhes dará a felicidade
definitiva:
— Mediante a oração, pois todos os dias se roga
por elas na Santa Missa, especialmente no dia 2 de novembro, e
por meio das orações privadas.
— Oferecendo a Deus, em favor delas, os méritos
das nossas boas obras e dos nossos sofrimentos voluntariamente
aceitos.
— Oferecendo em seu benefício o Sacrifício da
Missa, que expressa e realiza a satisfação infinita de Cristo.
Poucos se esquecem de fazê-lo pelos seus parentes e amigos, mas
também seria bom pedir que se rezem Missas pelas almas do
Purgatório abandonadas, pois é um ótimo “investimento”
espiritual.
Se as almas do
Purgatório nada podem merecer para si mesmas, em contrapartida
têm a possibilidade de interceder por nós e de obter-nos graças.
Já alcançaram a salvação e, portanto, gozam
da amizade e do amor de Deus e estão mais próximas d’Ele do que
nós, e consequentemente num estado privilegiado para obterem as
graças de que precisamos. Devemos sem dúvida rogar pelos nossos
defuntos, e também podemos rezar-lhes. Encontra-los-emos, não no
cemitério, mas na Missa, onde rezam junto conosco.
O Céu não tem portas, e quem quiser entrar pode
fazê-lo, porque Deus é todo misericórdia e permanece com os
braços abertos para admiti-lo na sua glória. No entanto, o ser
de Deus é tão puro que a alma justa, ao sair do seu corpo, vendo
em si mesma alguma coisa que turva a sua inocência primitiva e
se opõe à sua união com Ele, experimenta uma aflição
incomparável; e como sabe muito bem que esse impedimento não
pode ser destruído senão pelo fogo do Purgatório, desce até lá
imediatamente e com plena vontade... Sabendo que o Purgatório é
o banho destinado a lavar essa espécie de manchas, corre para
lá..., pensando mais na alegria de reencontrar ali a sua
primitiva pureza do que nas dores que a esperam (cfr.Monge
Edouard Clerc, Que há para além da morte?).
Santo Afonso Maria de Ligório escreve:
“É certo, entretanto, e até de fé, que
nós, com os nossos sufrágios e, principalmente com as orações
recomendadas pela Igreja, bem podemos auxiliar aquelas santas
almas. Não sei como poderá se isentar de culpa, quem deixa de
oferecer-lhes qualquer auxílio, ao menos algumas orações”.
Prezada, faça o bem enquanto é tempo; porque a
vida passa como um relâmpago... ela é muito breve...
brevíssima... infeliz daquele que comparecer diante de Deus com
as mãos vazias! Esse ouvirá do Senhor Deus:
“Servo mau e preguiçoso...”
(Mt 25, 26).
Eu te abençôo e te guardo no Coração de Cristo
Jesus; templo santo de Deus.
Atenciosamente,
Pe. Divino Antônio Lopes FP.
|