Anápolis, 10 de agosto de 2014
À senhora Irina Schonfelder Bialoskorski
Prezada senhora, disse Jesus Cristo, nosso
Salvador, Senhor e Mestre:
“Se alguém quer vir após mim, negue-se a
si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16,
24).
Sem cruz não há vida na terra!
O sofrimento é uma necessidade, uma
lei, um castigo. Chorando entramos neste mundo, e chorando
havemos de sair dele!
Dores e trabalhos sãos os companheiros que
encontramos primeiro ao entrar no grande cenário da vida!
Levando aos ombros a nossa cruz... todos
caminhamos como Isaac para o monte do sacrifício, como Jesus
Cristo para o cume do Calvário!
A cruz é custosa e às vezes parece insuportável
para os nossos ombros; porém, se Deus a pôs neles, dá-nos
um sinal de que nos estima, e de que não nos faltará com a sua
graça para a levarmos.
A cruz é pesada, mas que importa? Depressa
nos aliviará Deus de seu peso e em troca dela nos dará o
descanso eterno... o céu para sempre.
Devemos nos alegrar diante dos sofrimentos,
contrariedades, perseguições e desprezos.
É sinal de que estamos no caminho do bem, vivemos a vida de
Cristo e vamos pelo caminho da salvação. É por esse caminho que
andam os discípulos de Jesus Cristo. Devemos nos animar e
suportar com valentia o peso da cruz... só assim seremos
coroados no Céu.
Não olhemos para a cruz que Deus nos envia, como
se fosse um infortúnio. Devemos antes ver nela uma prova de que
Deus nos ama, pois Ele disse: “Os que
amo, castigo” (Pr 3,12).
A cruz é um bem para o corpo e para a alma.
As dores que atormentam o corpo são freios que lhe moderam os
apetites e reprimem as paixões.
As dores do corpo fazem crescer na alma as
virtudes. É na cruz que a
paciência se adquire e aperfeiçoa. Na cruz se acrisola a
resignação e valoriza a conformidade com a divina vontade.
A cruz ergue a nossa esperança para os bens do
céu, aviva a fé nas divinas promessas e inflama o coração no
amor de Jesus Cristo.
A cruz é uma fonte de merecimentos que Deus nos
há de premiar com mão larga e liberal.
A cruz limpa a nossa alma do pó das imperfeições,
desapega-a dos bens da terra e obriga-a a refugiar-se nas chagas
de Cristo e a buscar nos braços da divina misericórdia a
consolação de seus males.
As dores são semelhantes a um véu negro que
parece enlutar a nossa existência e convertê-la em uma noite
tenebrosa. Porém, nas trevas
dessa noite, com que brilho nos aparecem as estrelas da
eternidade! Como se aumenta
nessa escuridão o desejo de ver raiar o Sol divino da glória e
de chegar ao fim à suspirada manhã do eterno dia!
Na cruz dá-nos Deus um penhor da futura glória:
“Vós chorareis,
o mundo, porém, alegrar-se-á; vós vos entristecereis, mas a
vossa tristeza há de ser convertida em prazer”
(Jo 16,20).
Se vivemos no meio de tormentos,
dificuldades, provações, humilhações, desprezos
e zombarias, não digamos que Deus nos abandonou.
Pelo contrário; agora O temos mais perto. É a sua mão paterna
que descansa sobre nossa cabeça para premiar a nossa paciência
com uma coroa de diamantes... com o Céu logo após a nossa morte.
A cruz é necessária ao cristão;
pois, ser cristão é ser discípulo de Cristo, e o nosso Cristo é
como diz São Paulo, Cristo posto na Cruz...
Cristo crucificado.
Na cruz, para nos lembrar que também nela hão de
ter parte os seus discípulos.
Na cruz, para que em nossas tribulações tenhamos
onde por os olhos para suportá-las com resignação.
Jesus entrou neste mundo rodeado de cruzes, subiu
ao céu com os sinais que a cruz deixou em seus pés, mãos e lado,
e com a cruz há de vir a julgar o mundo. Ao vê-la cobrir-se-ão
de vergonha os que na terra a não souberam levar resignados.
A cruz ensina que não é na terra, mas no céu que
nos está reservado a verdadeira felicidade.
Ensina que neste mundo tudo é transitório; que o
tempo é de provas, que a terra é um desterro, e que alegrias só
as pode haver temperadas com muitas lágrimas.
Ensina que só em Deus devemos colocar a nossa
esperança e n’Ele procurar o único bálsamo para nossa dor.
Felizes dos que sofrem! Na cruz encontram a
expiação de suas culpas. O sofrimento, que neste mundo aguentam,
poupa-lhes no purgatório outros mais acerbos
(cfr Pe. Alexandrino Monteiro, Raios de luz).
Não olhemos, pois, para a cruz com
desprazer e nojo, mas agarremos a
ela como uma tábua de salvação.
Jesus Cristo sofreu muito nesse mundo...
e a nossa vida não pode ser diferente:
“Toda a vida de Jesus Cristo foi cruz e
martírio; e tu procuras só descanso e gozo? Andas errado, e
muito errado, se outra coisa procuras e não sofrimentos e
tribulações; pois toda esta vida mortal está cheia de misérias e
assinalada de cruzes” (Tomás de Kempis,
Imitação de Cristo), e:
“Se queres ser santo, esforçai-vos por
imitar a vida humilde e desprezada de Jesus Cristo. Os profetas
já tinham predito que o nosso Redentor devia ser saciado de
opróbrios e tratado como o homem mais vil do mundo. Quantos
desprezos não teve Jesus de sofrer da parte dos homens! Foi
qualificado de ébrio, de mágico, de blasfemo e de herege. E
depois, quantas ignomínias sofreu na sua Paixão! Foi abandonado
por seus próprios discípulos, dos quais um o vendeu por trinta
dinheiros, outro negou tê-lo jamais conhecido. Foi levado pelas
ruas preso e amarrado como um malfeitor, açoitado como um
escravo, qualificado de insensato e de rei de turba; foi
esbofeteado, coberto de escarros, e finalmente fizeram-no morrer
suspenso numa cruz, em meio de dois ladrões, como se fosse o
mais criminoso dos homens” (Santo Afonso Maria
de Ligório, Meditações).
Devemos sofrer com paciência... muita
paciência:
O mérito de uma pessoa
que ama Jesus Cristo consiste em amar e sofrer. Eis o que Deus
fez Santa Teresa de Jesus entender:
“Pensa, minha filha, que
o mérito consiste no desfrutar? Não, o mérito consiste em sofrer
e amar. Veja minha vida cheia de dores. Acredite, minha filha,
aquele que é mais amado por meu Pai recebe dele cruzes maiores;
ao sofrimento corresponde o amor. Veja estas minhas chagas, as
suas dores nunca chegarão a tanto. Pensar que meu Pai admite
alguém na sua amizade sem o sofrimento é um absurdo”
(Santa Teresa, Mercedes
de Dios, XXXVI, Obras, II, Burgos 1915; Camino de perfección, c.
18, Obras, III; Libro de la vidam, c. 11, Obras, 1).
Carreguemos as cruzes
de cada dia com paciência, contemplando a Cristo Jesus, que,
sendo Deus, sofreu muito; e sabemos que o servo não é maior que
o seu senhor:
“Veio ao mundo o Filho de Deus e salvou os
homens, assumindo sua natureza passível, na qual expiou todos os
pecados e santificou, sofrendo, toda a dor da humanidade. Para
chegarem à posse de Deus, devem os homens, por sua vez, aceitar
o padecimento. Mas o sofrimento do cristão não pode terminar em
paciência resignada, como que forçada, por não poderem evitá-la.
À imitação de Cristo, é a paciência cristã livre aceitação do
que na vida crucifica, em amorosa conformidade com a vontade de
Deus. Com esta adesão voluntária, assimila-se o cristão a Cristo
paciente, e seu sofrimento torna-se participação do mistério de
Jesus. A paciência assim entendida não avilta o homem, não faz
dele mero escravo de situações dolorosas das quais não sabe e
não pode libertar-se, mas dá-lhe força de abraçar
voluntariamente todos os sofrimentos que Deus permite em sua
vida, com positiva disposição de amor, de união a Cristo
crucificado e ressuscitado... Aprendemos a paciência, fixando o
olhar no paciente divino... Se os pecados do homem martirizaram
Cristo inocente, não é injusto que também martirizam quem os
cometeu. Olhando o Crucifixo, pode cada pessoa pensar que não
está sozinha a padecer, pois Cristo sofreu todas as amarguras,
angústias e aflições, para torná-las menos ásperas ao cristão e
encorajá-lo nas tribulações. Corroborado pelo exemplo e pela
graça de Cristo, sustentado pelo amor a ele, aprende o cristão a
viver o próprio sofrimento sem se abater e aprende também a
oferecê-lo pela salvação dos irmãos, como humilde contribuição
para a obra da redenção"
(Pe. Gabriel de Santa
Maria Madalena, Intimidade Divina, 82, 1 e 2).
O sofrimento e o
Céu.
Dizia São José Calazans:
“Para ganhar o céu, todo sofrimento é
pouco”. E São Paulo: Os sofrimentos do
tempo presente não têm proporção com a glória que deverá se
revelar em nós. Seria uma grande vantagem sofrer a vida
inteira todos os tormentos sofridos pelos mártires, só para
gozarmos um momento do céu. Com maior razão devemos então
abraçar as nossas cruzes, sabendo que os sofrimentos desta vida
curta nos farão conquistar uma felicidade eterna. As
nossas tribulações do momento são leves e nos preparam um peso
de glória eterna.
Santo Agapito,
mocinho de poucos anos, quando foi ameaçado de morte, respondeu:
Que maior felicidade posso eu ter do que a de perder a
minha cabeça para vê-la depois coroada no céu? São
Francisco costumava sempre dizer:
“O bem que espero é tão grande que todo
sofrimento é prazer para mim”. Para obter o céu é
preciso lutar e sofrer. Se sofrermos com Cristo, com ele
reinaremos. Não pode haver prêmio sem merecimento, nem
merecimento sem paciência. Não recebe a coroa, senão
aquele que lutou segundo as regras do jogo. Terá maior
coroa quem combate com maior paciência. Coisa admirável! Quando
se trata dos bens temporais desta terra, os mundanos procuram
conquistar o máximo de coisas possíveis. Quando se trata dos
bens eternos, dizem que basta um cantinho no céu. Esse não foi o
comportamento dos santos. Nesta vida contentaram-se com qualquer
coisa e desapegaram-se dos bens terrenos. Tratando-se dos bens
eternos, eles procuraram ganhar o mais possível.
Falando desta vida, é certo que quem padece com
mais paciência vive com mais paz. Dizia São Felipe Néri
que “neste mundo não há purgatório:
ou é céu ou é um inferno. Os que suportam com paciência os
sofrimentos desta vida gozam do céu. Quem assim não o faz, sofre
o inferno!” Sim, como escreve Santa Teresa,
“quem abraça as cruzes que Deus lhe
manda não as sente”. São Francisco de Sales,
achando-se uma vez cercado de sofrimentos, disse:
“De algum tempo para cá as grandes
tribulações e oposições que sinto me trazem uma paz tão grande e
me predizem a união próxima e estável de minha alma com Deus;
sinceramente falando, é a única ambição e o único desejo de meu
coração”. Na verdade, não há paz para aqueles que
levam uma vida errada, mas só para quem vive unido com Deus e
com sua santa vontade.
É preciso sofrer amando.
Persuadamo-nos que neste vale de lágrimas
não pode ter a verdadeira paz interior senão quem recebe e
abraça com amor os sofrimentos, tendo em vista agradar a Deus.
Essa é a condição a que estamos reduzidos em consequência da
corrupção do pecado. A situação dos justos na terra é de sofrer
amando. A situação dos santos no céu é de se alegrar amando. O
Pe. Paulo Segneri Júnior, para animar uma de suas
penitentes nos sofrimentos, pediu-lhe que escrevesse aos pés do
crucifixo estas palavras: “É assim que se ama”. O
sinal mais certo para saber se uma pessoa ama a Jesus Cristo é,
não tanto o sofrer, mas o querer sofrer por amor d’Ele.
Que vantagem maior, dizia Santa Teresa,
poderá haver para alguém do que ter um sinal de estar sendo
agradável a Deus? Mas a maior parte dos homens se
espanta só com o ouvir falar as palavras cruz, humilhação
e sofrimento! Muitas pessoas, porém, vivem no amor
de Deus e encontram nos padecimentos a sua felicidade. Ficariam
desconsoladas se tivessem que viver sem sofrer. Olhar
Jesus Crucificado — dizia uma santa pessoa —
torna-me a cruz tão amável que me parece impossível ser feliz
sem sofrer. O amor de Jesus Cristo me basta. Nosso
Salvador diz a quem o quer seguir:
“Tome a sua cruz e siga-me”. Mas é preciso
tomá-la e carregá-la, não à força e com repugnância, mas com
humildade, paciência e amor.
Quanto satisfaz a Deus quem, com paciência e
humildade, abraça as cruzes que Ele lhe manda! Dizia Santo
Inácio de Loyola: “Não há árvore
mais apropriada para produzir e conservar o amor a Deus do que a
árvore da cruz”, isto é, amá-lo no meio dos
sofrimentos.
Caríssima senhora, lembre-se de que o sofrimento
acaba com a morte... mas o Céu é para sempre. Por isso, façamos
o bem enquanto é tempo, porque a morte não avisa o dia nem a
hora.
Envio-lhe alguns livros... faça boa leitura.
Deus lhe pague pela preciosa colaboração.
Conte com nossas orações.
Com respeito e gratidão,
Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)
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