Instituto Missionário dos Filhos e Filhas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e das Dores de Maria Santíssima

 

025 / 2017

 

Anápolis, 13 de setembro de 2017

 

À senhora Neida de Souza Afonso

Benfeitora do Instituto, Brasília – DF

 

Caríssima senhora, suporte as provações e dificuldades de cada dia com paciência… muita paciência… enorme paciência. Imitemos o exemplo de Jesus Cristo que sofreu tudo com paciência: “Vossa doutrina é esta: pobreza voluntária, paciência nas injúrias, pagar o mal com o bem, ser pequenino, humilde, pisado e abandonado pelo mundo… em tribulações do mundo e do demônio, visíveis e invisíveis, e perseguições da própria carne, a qual, como rebelde, sempre quer revoltar-se contra seu Criador e repelir o Espírito Santo. Ora, esta é vossa doutrina: suportar com paciência, resistir com as armas do amor, e também do ódio contra o mal. Ó doce e suave doutrina! És aquele tesouro que Cristo escolheu para si e deixou aos discípulos. Isto deixou como maior riqueza que podia deixar… Que eu me revista de vós, ó Cristo Homem, isto é, das vossas penas e opróbrios, e só assim me alegrarei” (Santa Catarina de Sena, Epistolário 226).

 

A pessoa que reclama o tempo todo joga tudo fora e não pode agradar a Deus. O Senhor ama os corações fortes, generosos e pacientes. É preciso suportar as contrariedades com paciência.

Os sofrimentos dessa vida terão fim… enquanto que o céu é para sempre. Feliz daquele que carrega a cruz com mansidão e paciência… sempre com os olhos fixos na paciência de Jesus Cristo, nosso Mestre.

Dizia São José Calazans: “Para ganhar o céu, todo sofrimento é pouco”. E São Paulo: “Os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá se revelar em nós”. Seria uma grande vantagem sofrer a vida inteira todos os tormentos sofridos pelos mártires, só para gozarmos um momento do céu. Com maior razão devemos então abraçar as nossas cruzes, sabendo que os sofrimentos desta vida curta nos farão conquistar uma felicidade eterna. As nossas tribulações do momento são leves e nos preparam um peso de glória eterna. Santo Agapito, mocinho de poucos anos, quando foi ameaçado de morte, respondeu: Que maior felicidade posso eu ter do que a de perder a minha cabeça para vê-la depois coroada no céu? São Francisco de Assis costumava sempre dizer: “O bem que espero é tão grande que todo sofrimento é prazer para mim”. Para obter o paraíso é preciso lutar e sofrer: Se sofremos com Cristo, com Ele reinaremos. Não pode haver prêmio sem merecimento, nem merecimento sem paciência. Não recebe a coroa, senão aquele que lutou segundo as regras do jogo. Terá maior coroa quem combate com maior paciência. Coisa admirável! Quando se trata dos bens temporais desta terra, os mundanos procuram conquistar o máximo de coisas possíveis. Quando se trata dos bens eternos, dizem que basta um cantinho no paraíso. Esse não foi o comportamento dos santos. Nesta vida contentaram-se com qualquer coisa e desapegaram-se dos bens terrenos. Tratando-se dos bens eternos, eles procuraram ganhar o mais possível. Falando desta vida, é certo que quem padece com mais paciência vive com mais paz. Dizia São Felipe Néri que neste mundo não há purgatório: ou é paraíso ou é um inferno. Os que suportam com paciência os sofrimentos desta vida gozam do paraíso. Quem assim não o faz, sofre o inferno! Sim, como escreve Santa Teresa de Jesus: “… quem abraça as cruzes que Deus lhe manda não as sente”. São Francisco de Sales, achando-se uma vez cercado de sofrimentos, disse: “De algum tempo para cá as grandes tribulações e oposições que sinto me trazem uma paz tão grande e me predizem a união próxima e estável de minha alma com Deus; sinceramente falando, é a única ambição e o único desejo do meu coração”.

Quem se impacienta com facilidade vive mergulhado na amargura.

Prezada senhora, reze com fervor e fé o Salmo 17 durante os meses de setembro e outubro: “Ouve, Deus, a causa justa, atende ao meu clamor; dá ouvido à minha súplica, que não sai de lábios mentirosos. Que minha sentença provenha de tua face, teus olhos vejam onde está a retidão. Podes sondar-me o coração, visitar-me pela noite, provar-me com fogo: murmuração nenhuma achas em mim; minha boca não transgrediu como costumam os homens. Eu observei a palavra dos teus lábios, no caminho prescrito mantendo os meus passos; meus pés não tropeçaram nas tuas pegadas. Eu clamo a ti, pois tu me respondes, ó Deus! Inclina a mim teu ouvido, ouve a minha palavra, demonstra o teu amor, tu que salvas dos agressores quem se refugia à tua direita. Guarda-me como a pupila dos olhos, esconde-me à sombra de tuas asas, longe dos ímpios que me oprimem, dos inimigos mortais que me cercam. Eles envolvem seu coração com gordura, sua boca fala com arrogância. Caminham contra mim e agora me cercam, fixando seus olhos para jogar-me por terra. Parecem um leão, ávido por devorar, um filhote de leão, agachado em seu covil. Levanta-te, Deus! Enfrenta-os! Derruba-os! Que tua espada me liberte do ímpio, e tua mão, ó Senhor, dos mortais, dos mortais que, em vida, já têm sua parte deste mundo! Enche-lhes o ventre com o que tens em reserva: seus filhos ficarão saciados e deixarão o que sobrar para seus pequeninos. Quanto a mim, com justiça eu verei tua face; ao despertar, eu me saciarei com tua imagem”.

Leia com atenção essa “historinha”: Calvário de uma mãe.

Quereis um exemplo de paciência e resignação de uma mãe sublime e heroica?

Foi sempre boa aquela senhora. Nascera na pobreza e nos trabalhos dos campos passara os anos da juventude. Quando estava para completar vinte anos casou-se com um moço bom como ela, e, como ela, lavrador de pobres campos, que eram toda a sua fazenda.

Tiveram cinco filhos: três meninos e duas meninas. Estavam todos ainda na infância, quando lhes morreu o pai. A pobre viúva pôs a sua confiança naquele Senhor (Deus) que nos livros sagrados se chama a si mesmo “consolo e amparo das viúvas”. E não esperou em vão. Trabalhou muito a pobre mãe; mas afinal teve a consolação de ver que seus filhos cresciam fortes e bons. Naquela casa não faltava o pão ganho com o trabalho honesto e comido em paz e graça de Deus.

O mais velho dos filhos disse um dia à mãe: “Mãe, vou a N. para ver se ganho algum dinheiro para nós”. Foi a N. e, poucos dias depois de lá chegar, morreu.

Disse o segundo filho: “Mãe, eu não vou a N.; vou à capital procurar uma colocação para que não tenhas de trabalhar tanto”. E foi à capital; mas apenas lá chegou, morreu num incêndio.

O terceiro filho disse um dia à mãe: “Mãe, eu não vou nem a N. nem à capital; ficarei em casa cultivando nossos pobres campos. Deus jamais nos negará um pedaço de pão. E um dia subiu a um morro em companhia de um amigo; e este, ao experimentar uma arma, sem querer desfechou-lhe um tiro e matou-o; e o pobre ali ficou no meio do caminho estendido e banhado no próprio sangue.

A filha mais velha, derramando lágrimas sobre os finados irmãos, disse à mãe: “Mãe, que pecado cometemos para que Deus nos prove tanto? Vou para o convento”. E para o convento foi; e oito dias depois a levaram ao cemitério.

Por fim, a última filha, que tinha uns dezesseis anos, disse à mãe: “Mãe, não chores; enquanto eu viver, não te faltará um pedaço de pão. Vou para cidade aprender costura”. E foi para a cidade; mas, no primeiro motim comunista, uma bala perdida varou a sua cabeça e ela caiu morta.

A mãe não tinha mais lágrimas nos olhos. Inclinava a cabeça, chorava e rezava. Por fim, ficou doente, teve que acamar-se, onde, durante anos, dores horríveis não lhe deram descanso. Contudo, a Providência divina não a desamparou: nunca faltaram almas boas que cuidassem dela.

Um missionário, que por ali pregava, foi um dia visitá-la. Sentou-se à cabeceira e ela contou-lhe a sua trágica história. Quando terminou, chorava e soluçava.

– Filha – disse-lhe o Padre Missionário – estás agora conformada com a vontade de Deus?

– Padre – respondeu – já sou velha; já completei oitenta e quatro anos. Oitenta e quatro anos, Padre, dizendo muitas vezes ao dia: “Faça-se a vossa vontade, assim na terra como no céu”.

Virou a cabeça e fixou o crucifixo pendurado à parede. Era ele a sua esperança.

Aí tendes uma mulher simples, uma mulher da roça, que aprendeu, na sua fé e no seu amor a Deus, a lição dificílima da paciência e da conformidade nas penas e dores da vida.

Feliz do católico que contempla o crucifixo nas horas difíceis da vida: “Na cruz não falta nenhum exemplo de virtude… Se procuras a paciência, encontra-se na cruz a mais excelente” (Santo Tomás de Aquino, Das Conferências).

Estimada senhora Neida, obrigado pela ajuda mensal.

Neida significa: “Habilidosa”.

Rezamos pela senhora todos os dias.

Eu te abençoo e te guardo no Coração Puríssimo da Virgem Maria: “Quem pensa salvar-se sem a proteção de Maria, engana-se! Deus fê-la Mãe dos homens, e para isso deu lhe o poder necessário para velar sobre a salvação de seus filhos, e, portanto, quer que a ela recorramos em nossas necessidades” (Pe. Alexandrino Monteiro).

Com respeito e gratidão,

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

 

 

 

 

OUTRAS CARTAS