Anápolis, 13 de setembro de 2017
À senhora Neida de Souza Afonso
Benfeitora do Instituto, Brasília – DF
Caríssima senhora, suporte as provações
e dificuldades de cada dia com paciência…
muita paciência… enorme paciência. Imitemos o exemplo de
Jesus Cristo que sofreu tudo com paciência:
“Vossa doutrina é esta: pobreza
voluntária, paciência nas injúrias, pagar o mal com o bem, ser
pequenino, humilde, pisado e abandonado pelo mundo… em
tribulações do mundo e do demônio, visíveis e invisíveis, e
perseguições da própria carne, a qual, como rebelde, sempre quer
revoltar-se contra seu Criador e repelir o Espírito Santo. Ora,
esta é vossa doutrina: suportar com paciência, resistir com as
armas do amor, e também do ódio contra o mal. Ó doce e suave
doutrina! És aquele tesouro que Cristo escolheu para si e deixou
aos discípulos. Isto deixou como maior riqueza que podia deixar…
Que eu me revista de vós, ó Cristo Homem, isto é, das vossas
penas e opróbrios, e só assim me alegrarei”
(Santa Catarina de Sena, Epistolário 226).
A pessoa que reclama o tempo todo joga tudo fora
e não pode agradar a Deus. O Senhor ama os corações
fortes, generosos e pacientes. É preciso suportar
as contrariedades com paciência.
Os sofrimentos dessa vida terão fim… enquanto que
o céu é para sempre. Feliz daquele que carrega a cruz com
mansidão e paciência… sempre com os olhos fixos na
paciência de Jesus Cristo, nosso Mestre.
Dizia São José Calazans:
“Para ganhar o céu, todo sofrimento é
pouco”. E São Paulo: “Os
sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que
deverá se revelar em nós”. Seria uma grande
vantagem sofrer a vida inteira todos os tormentos sofridos pelos
mártires, só para gozarmos um momento do céu. Com maior razão
devemos então abraçar as nossas cruzes, sabendo que os
sofrimentos desta vida curta nos farão conquistar uma felicidade
eterna. As nossas tribulações do momento são leves e nos
preparam um peso de glória eterna. Santo Agapito,
mocinho de poucos anos, quando foi ameaçado de morte, respondeu:
Que maior felicidade posso eu ter do que a de perder a
minha cabeça para vê-la depois coroada no céu? São
Francisco de Assis costumava sempre dizer:
“O bem que espero é tão grande que todo
sofrimento é prazer para mim”. Para obter o paraíso é
preciso lutar e sofrer: Se sofremos com Cristo, com Ele
reinaremos. Não pode haver prêmio sem merecimento, nem
merecimento sem paciência. Não recebe a coroa, senão
aquele que lutou segundo as regras do jogo. Terá maior coroa
quem combate com maior paciência. Coisa admirável!
Quando se trata dos bens temporais desta terra, os mundanos
procuram conquistar o máximo de coisas possíveis. Quando se
trata dos bens eternos, dizem que basta um cantinho no paraíso.
Esse não foi o comportamento dos santos. Nesta vida
contentaram-se com qualquer coisa e desapegaram-se dos bens
terrenos. Tratando-se dos bens eternos, eles procuraram ganhar o
mais possível. Falando desta vida, é certo que quem padece
com mais paciência vive com mais paz. Dizia São Felipe
Néri que neste mundo não há purgatório: ou é paraíso ou é um
inferno. Os que suportam com paciência os sofrimentos
desta vida gozam do paraíso. Quem assim não o faz, sofre o
inferno! Sim, como escreve Santa Teresa de Jesus:
“… quem abraça as cruzes que Deus lhe
manda não as sente”. São Francisco de Sales,
achando-se uma vez cercado de sofrimentos, disse:
“De algum tempo para cá as grandes
tribulações e oposições que sinto me trazem uma paz tão grande e
me predizem a união próxima e estável de minha alma com Deus;
sinceramente falando, é a única ambição e o único desejo do meu
coração”.
Quem se impacienta com facilidade vive mergulhado
na amargura.
Prezada senhora, reze com fervor e fé o
Salmo 17 durante os meses de setembro e outubro:
“Ouve, Deus, a causa justa, atende ao
meu clamor; dá ouvido à minha súplica, que não sai de lábios
mentirosos. Que minha sentença provenha de tua face, teus olhos
vejam onde está a retidão. Podes sondar-me o coração, visitar-me
pela noite, provar-me com fogo: murmuração nenhuma achas em mim;
minha boca não transgrediu como costumam os homens. Eu observei
a palavra dos teus lábios, no caminho prescrito mantendo os meus
passos; meus pés não tropeçaram nas tuas pegadas. Eu clamo a ti,
pois tu me respondes, ó Deus! Inclina a mim teu ouvido, ouve a
minha palavra, demonstra o teu amor, tu que salvas dos
agressores quem se refugia à tua direita. Guarda-me como a
pupila dos olhos, esconde-me à sombra de tuas asas, longe dos
ímpios que me oprimem, dos inimigos mortais que me cercam. Eles
envolvem seu coração com gordura, sua boca fala com arrogância.
Caminham contra mim e agora me cercam, fixando seus olhos para
jogar-me por terra. Parecem um leão, ávido por devorar, um
filhote de leão, agachado em seu covil. Levanta-te, Deus!
Enfrenta-os! Derruba-os! Que tua espada me liberte do ímpio, e
tua mão, ó Senhor, dos mortais, dos mortais que, em vida, já têm
sua parte deste mundo! Enche-lhes o ventre com o que tens em
reserva: seus filhos ficarão saciados e deixarão o que sobrar
para seus pequeninos. Quanto a mim, com justiça eu verei tua
face; ao despertar, eu me saciarei com tua imagem”.
Leia com atenção essa “historinha”:
Calvário de uma mãe.
Quereis um exemplo de paciência e
resignação de uma mãe sublime e heroica?
Foi sempre boa aquela senhora. Nascera na
pobreza e nos trabalhos dos campos passara os anos da juventude.
Quando estava para completar vinte anos casou-se com um moço bom
como ela, e, como ela, lavrador de pobres campos, que eram toda
a sua fazenda.
Tiveram cinco filhos: três meninos e duas
meninas. Estavam todos ainda na infância, quando lhes morreu o
pai. A pobre viúva pôs a sua confiança naquele Senhor (Deus) que
nos livros sagrados se chama a si mesmo “consolo e amparo das
viúvas”. E não esperou em vão. Trabalhou muito a pobre mãe; mas
afinal teve a consolação de ver que seus filhos cresciam fortes
e bons. Naquela casa não faltava o pão ganho com o trabalho
honesto e comido em paz e graça de Deus.
O mais velho dos filhos disse um dia à mãe:
“Mãe, vou a N. para ver se ganho algum dinheiro para nós”. Foi a
N. e, poucos dias depois de lá chegar, morreu.
Disse o segundo filho: “Mãe, eu não vou a
N.; vou à capital procurar uma colocação para que não tenhas de
trabalhar tanto”. E foi à capital; mas apenas lá chegou, morreu
num incêndio.
O terceiro filho disse um dia à mãe: “Mãe,
eu não vou nem a N. nem à capital; ficarei em casa cultivando
nossos pobres campos. Deus jamais nos negará um pedaço de pão. E
um dia subiu a um morro em companhia de um amigo; e este, ao
experimentar uma arma, sem querer desfechou-lhe um tiro e
matou-o; e o pobre ali ficou no meio do caminho estendido e
banhado no próprio sangue.
A filha mais velha, derramando lágrimas
sobre os finados irmãos, disse à mãe: “Mãe, que pecado cometemos
para que Deus nos prove tanto? Vou para o convento”. E para o
convento foi; e oito dias depois a levaram ao cemitério.
Por fim, a última filha, que tinha uns
dezesseis anos, disse à mãe: “Mãe, não chores; enquanto eu
viver, não te faltará um pedaço de pão. Vou para cidade aprender
costura”. E foi para a cidade; mas, no primeiro motim comunista,
uma bala perdida varou a sua cabeça e ela caiu morta.
A mãe não tinha mais lágrimas nos olhos.
Inclinava a cabeça, chorava e rezava. Por fim, ficou doente,
teve que acamar-se, onde, durante anos, dores horríveis não lhe
deram descanso. Contudo, a Providência divina não a desamparou:
nunca faltaram almas boas que cuidassem dela.
Um missionário, que por ali pregava, foi um
dia visitá-la. Sentou-se à cabeceira e ela contou-lhe a sua
trágica história. Quando terminou, chorava e soluçava.
– Filha – disse-lhe o Padre Missionário –
estás agora conformada com a vontade de Deus?
– Padre – respondeu – já sou velha; já
completei oitenta e quatro anos. Oitenta e quatro anos, Padre,
dizendo muitas vezes ao dia: “Faça-se a vossa vontade, assim na
terra como no céu”.
Virou a cabeça e fixou o crucifixo
pendurado à parede. Era ele a sua esperança.
Aí tendes uma mulher simples, uma mulher da
roça, que aprendeu, na sua fé e no seu amor a Deus, a lição
dificílima da paciência e da conformidade nas penas e dores da
vida.
Feliz do católico que contempla o crucifixo
nas horas difíceis da vida:
“Na cruz não falta nenhum
exemplo de virtude… Se procuras a paciência, encontra-se na cruz
a mais excelente” (Santo Tomás de Aquino, Das
Conferências).
Estimada senhora Neida, obrigado pela ajuda
mensal.
Neida significa: “Habilidosa”.
Rezamos pela senhora todos os dias.
Eu te abençoo e te guardo no Coração Puríssimo da
Virgem Maria: “Quem pensa salvar-se
sem a proteção de Maria, engana-se! Deus fê-la Mãe dos homens, e
para isso deu lhe o poder necessário para velar sobre a salvação
de seus filhos, e, portanto, quer que a ela recorramos em nossas
necessidades” (Pe. Alexandrino Monteiro).
Com respeito e gratidão,
Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)
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