Anápolis, 16 de
setembro de 2017
Ao senhor Salatiel Queiroga
Benfeitor do Instituto, Brasília – DF
Prezado senhor, viva sempre na presença do Deus
verdadeiro e busque a verdade... somente ela pode encher o
nosso coração de paz, alegria e convicção. Os mentirosos
não podem agradar a Deus, porque percorrem o caminho das trevas:
“Não me assento com os homens
mentirosos, e não quero associar-me aos ímpios; eu detesto a
companhia dos malvados, e com os ímpios não desejo reunir-me”
(Sl 25, 4-5).
A mentira invadiu amplamente o
coração das pessoas... é difícil encontrar alguém que ame a
verdade.
A mentira é um “esporte” tão
amplamente praticado que bate de longe todos os demais e cada
dia adquire técnicas e requintes de maior quilate. A mentira se
espalhou como “poeira”... está em toda parte:
nas escolas, no futebol, nas praças,
nos parques, nas casas, nas lojas, nas sacristias e nas ruas:
“Mente-se por
palavras, mente-se por atos, mente-se por atitudes, mente-se por
escrito, mente-se pelo silêncio, mente-se pelas curvaturas da
espinha dorsal, mente-se pelo olhar, mente-se nas ruas, nas
vitrines, nos negócios, nas escolas, nas assembleias, nas
reuniões, mente-se despudoradamente” (Gladstone
Chaves de Melo).
É repugnante conviver com pessoas
mentirosas, dúbias e golpistas. Poucas
coisas nos revoltam tanto como sermos vítimas de um engano,
cair numa armadilha e sofrer uma fraude. A mentira causa-nos
repugnância... é revoltante olhar para o rosto de uma pessoa
mentirosa... que já não consegue viver sem mentir.
O Catecismo da Igreja Católica ensina:
“A mentira é uma profanação da palavra
que tem por finalidade comunicar a outros a verdade conhecida. O
propósito deliberado de induzir o próximo em erro por palavras
contrárias à verdade constitui uma falta à justiça e à caridade”.
Quem foge da mentira, além de amar e honrar a
verdade, honra e ama com isso o seu próximo:
“Os homens não poderiam viver juntos se
não tivessem confiança recíproca, quer dizer, se não
manifestassem a verdade uns aos outros (...). Um homem deve
honestamente a um outro a manifestação da verdade”
(Santo Tomás de Aquino).
Um ambiente em que não se sabe que terreno se
está pisando, em que é preciso adivinhar sempre segundas
intenções, em que só o esperto é que singra, torna-se
irrespirável, um verdadeiro inferno.
A mentira é muito mais do que um simples engano,
ou um lapso do pensamento ou das palavras. Pertence à sua
essência um ingrediente perverso, que é a
intenção de enganar:
“A mentira consiste em dizer o que é falso com a
intenção de enganar” (Santo Agostinho).
A língua mentirosa quer deliberadamente despejar
névoa escura na mente do próximo para ocultar assim a verdade.
A mentira é como a névoa. E, como a neblina, muda,
variando constantemente os seus formatos (Pe.
Francisco Faus).
Estimado senhor, reze
com fé e devoção durante os meses de setembro e outubro o Salmo
94: “Senhor, ó
Deus das vinganças, aparece, ó Deus das vinganças! Levanta-te, ó
juiz da terra, devolve o merecido aos soberbos! Até quando os
ímpios, Senhor, até quando os ímpios irão triunfar? Eles
transbordam em palavras insolentes, todos os malfeitores se
gabam! É teu povo, Senhor, que eles massacram, é tua herança que
eles humilham; matam a viúva e o estrangeiro e aos órfãos
assassinam. E pensam: ‘Deus nada vê, o Deus de Jacó nem
percebe...’ Percebei vós, ó imbecis consumados, idiotas, quando
ireis entender? Quem plantou o ouvido não ouvirá? Quem formou o
olho não olhará? Quem educa as nações não punirá? Ele ensina ao
homem o conhecimento: Deus conhece os pensamentos do homem, e
que são apenas um sopro. Feliz o homem a quem corriges, Senhor,
e a quem ensinas por meio de tua lei, dando-lhe descanso nos
dias maus, até que abram uma cova para o ímpio. Pois Deus não
rejeita seu povo, jamais abandona sua herança, até que o
julgamento se converta em justiça e todos os corações retos o
sigam. Quem se levanta por mim contra os maus? Quem se coloca ao
meu lado contra os malfeitores? Se Deus não viesse em meu
socorro, em breve eu habitaria no silêncio. Quando eu digo: ‘Meu
pé vai tropeçar’, o teu amor, Senhor, me sustenta; quando as
preocupações se multiplicam em mim, as tuas consolações me
deleitam. Estás aliado a um tribunal criminoso que erige a
desordem em nome da lei? Eles atacam a vida do justo, declaram
culpado o sangue do inocente. Mas Deus é uma fortaleza para mim,
meu Deus é a rocha em que me abrigo; ele fará sua iniquidade
recair sobre eles e os destruirá por sua própria maldade, o
Senhor nosso Deus os destruirá!”
Leia com atenção essa “historinha”: Prefiro
morrer!
Um soldado piemontês, na confissão que fez
antes de entrar para a milícia, propôs aos pés do Crucifixo
antes morrer que pecar, dizendo uma mentira.
Fazia poucos meses que estava no quartel;
entretanto, como não podia mais conter o desejo de rever os
pais, estando de guarda, quis aproveitar a ocasião para
desertar. Mas, ao saltar um muro, foi tão infeliz que quebrou
uma perna. Obrigado a pedir socorro, aparece o cabo e
pergunta-lhe porque saltara o muro.
– Para voltar para casa de meus pais, pois
não aguento mais de saudades.
O cabo, compadecendo-se dele, adverte-o que
não revele o motivo da fuga planejada; diga antes, para
justificar a desgraça, que fez aquilo para impedir a evasão de
alguns detentos. Assim você não será castigado – dizia-lhe o
cabo – antes será premiado e graduado.
O soldado, fiel ao seu propósito,
respondeu:
Isso não; prefiro morrer a mentir!
Chega, entretanto, outro colega que o
exorta a seguir o conselho do cabo. A resposta foi a mesma:
– Prefiro morrer a dizer uma mentira!
E assim foi. Perdeu a perna e teve de
cumprir a pena. Mas, pensando na glória que dava a Deus com a
constância no seu propósito, suportou com grande paciência.
Prezado senhor Salatiel, uma mentira simples, que
não causa prejuízo nem se diz sob juramento, é pecado
venial. Deste tipo costumam ser as que se ouvem os
fanfarrões (e, muitas vezes, os apaixonados pela pesca).
Como também as mentiras que se dizem para evitar uma situação
embaraçosa para a própria pessoa ou para outros. Também se
incluem aqui as que são contadas pelos brincalhões zombeteiros.
Mas, seja qual for a motivação de uma mentira, não dizer a
verdade é sempre pecado. Deus nos deu o dom de podermos
comunicar nossos pensamentos para que manifestemos sempre a
verdade. De cada vez que, por palavras ou obras, divulgamos uma
falsidade, abusamos de um dom divino e pecamos.
Daí se segue que não existem as
“mentirinhas brancas” nem as mentiras inócuas. Um
mal moral, mesmo o mal moral de um pecado venial, é maior que
qualquer mal físico. Não é lícito cometer um pecado venial, nem
mesmo para salvar da destruição o mundo inteiro. No
entanto, deve-se também mencionar que posso não dizer a verdade
sem pecar quando injustamente procuram averiguar por meu
intermédio alguma coisa sobre mim. O que venha a dizer
neste caso poderá ser falso, mas não é uma mentira: é um meio
lícito de autodefesa quando não resta alternativa.
Também não há obrigação de dizer sempre toda a
verdade. Infelizmente, há muitos xeretas neste mundo, que
perguntam o que não tem o direito de saber. É perfeitamente
legítimo dar a tais pessoas uma resposta evasiva. Se alguém me
pergunta quanto dinheiro trago comigo (e suspeito de que
se trata de uma “facada”), e eu lhe respondo que trago
mil reais quando na realidade tenho dez mil, não minto. Tenho
mil reais, mas não menciono os outros nove mil que também tenho.
Mas seria uma mentira, é claro, afirmar que tenho dez mil
reais quando só tenho mil.
Há frases convencionais que aparentemente são
mentiras, mas não o são na realidade, porque toda pessoa
inteligente sabe o que significam. “Não sei” é um
exemplo dessas frases. Qualquer pessoa de inteligência média
sabe que dizer “não sei” pode significar duas
coisas: que realmente desconheço aquilo que me perguntam,
ou que não estou em condições de revelá-lo. É a resposta
do sacerdote – do médico, do advogado ou do
parente –, quando alguém procura tirar-lhe uma
informação confidencial. Outra frase similar é: “não está
em casa”. “Não estar em casa” pode
significar que a pessoa saiu efetivamente, ou que não recebe
visitas. Se a menina, ao abrir a porta, diz ao visitante que
mamãe não está em casa, não mente; não há por que dizer que
mamãe está no banho ou colorindo a roupa. Quem se engana
com frases como esta (ou outras parecidas de uso corrente) não é
enganado: engana-se a si mesmo (Pe. Leo J. Trese).
Caríssimo senhor Salatiel, obrigado pela ajuda
mensal.
Salatiel significa: “aquele que pede a
Deus”.
Rezamos pelo senhor todos os dias.
Eu te abençoo e te guardo no Coração Humilde de
Jesus Cristo: “Como todas as coisas
só têm repouso em seu centro... meu coração está todo ele
lançado neste centro que é o Coração humilde do meu Jesus”
(Santa Margarida Maria Alacoque).
Com respeito e gratidão,
Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)
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