Instituto Missionário dos Filhos e Filhas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e das Dores de Maria Santíssima

 

026 / 2017

 

Anápolis, 16 de setembro de 2017

 

Ao senhor Salatiel Queiroga

Benfeitor do Instituto, Brasília – DF

 

Prezado senhor, viva sempre na presença do Deus verdadeiro e busque a verdade... somente ela pode encher o nosso coração de paz, alegria e convicção. Os mentirosos não podem agradar a Deus, porque percorrem o caminho das trevas: “Não me assento com os homens mentirosos, e não quero associar-me aos ímpios; eu detesto a companhia dos malvados, e com os ímpios não desejo reunir-me” (Sl 25, 4-5).

 

A mentira invadiu amplamente o coração das pessoas... é difícil encontrar  alguém que ame a verdade.

A mentira é um “esporte” tão amplamente praticado que bate de longe todos os demais e cada dia adquire técnicas e requintes de maior quilate. A mentira se espalhou como “poeira”... está em toda parte: nas escolas, no futebol, nas praças, nos parques, nas casas, nas lojas, nas sacristias e nas ruas: “Mente-se por palavras, mente-se por atos, mente-se por atitudes, mente-se por escrito, mente-se pelo silêncio, mente-se pelas curvaturas da espinha dorsal, mente-se pelo olhar, mente-se nas ruas, nas vitrines, nos negócios, nas escolas, nas assembleias, nas reuniões, mente-se despudoradamente” (Gladstone Chaves de Melo).

É repugnante conviver com pessoas mentirosas, dúbias e golpistas. Poucas coisas nos revoltam tanto como sermos vítimas de um engano, cair numa armadilha e sofrer uma fraude. A mentira causa-nos repugnância... é revoltante olhar para o rosto de uma pessoa mentirosa... que já não consegue viver sem mentir.

O Catecismo da Igreja Católica ensina: “A mentira é uma profanação da palavra que tem por finalidade comunicar a outros a verdade conhecida. O propósito deliberado de induzir o próximo em erro por palavras contrárias à verdade constitui uma falta à justiça e à caridade”.

Quem foge da mentira, além de amar e honrar a verdade, honra e  ama com isso o seu próximo: “Os homens não poderiam viver juntos se não tivessem confiança recíproca, quer dizer, se não manifestassem a verdade uns aos outros (...). Um homem deve honestamente a um outro a manifestação da verdade” (Santo Tomás de Aquino).

Um ambiente em que não se sabe que terreno se está pisando, em que é preciso adivinhar sempre segundas intenções, em que só o esperto é que singra, torna-se irrespirável, um verdadeiro inferno.

A mentira é muito mais do que um simples engano, ou um lapso do pensamento ou das palavras. Pertence à sua essência um ingrediente perverso, que é a intenção de enganar: “A mentira consiste em dizer o que é falso com a intenção de enganar” (Santo Agostinho).

A língua mentirosa quer deliberadamente despejar névoa escura na mente do próximo para ocultar assim a verdade. A mentira é como a névoa. E, como a neblina, muda, variando constantemente os seus formatos (Pe. Francisco Faus).

Estimado senhor, reze com fé e devoção durante os meses de setembro e outubro o Salmo 94: “Senhor, ó Deus das vinganças, aparece, ó Deus das vinganças! Levanta-te, ó juiz da terra, devolve o merecido aos soberbos! Até quando os ímpios, Senhor, até quando os ímpios irão triunfar? Eles transbordam em palavras insolentes, todos os malfeitores se gabam! É teu povo, Senhor, que eles massacram, é tua herança que eles humilham; matam a viúva e o estrangeiro e aos órfãos assassinam. E pensam: ‘Deus nada vê, o Deus de Jacó nem percebe...’ Percebei vós, ó imbecis consumados, idiotas, quando ireis entender? Quem plantou o ouvido não ouvirá? Quem formou o olho não olhará? Quem educa as nações não punirá? Ele ensina ao homem o conhecimento: Deus conhece os pensamentos do homem, e que são apenas um sopro. Feliz o homem a quem corriges, Senhor, e a quem ensinas por meio de tua lei, dando-lhe descanso nos dias maus, até que abram uma cova para o ímpio. Pois Deus não rejeita seu povo, jamais abandona sua herança, até que o julgamento se converta em justiça e todos os corações retos o sigam. Quem se levanta por mim contra os maus? Quem se coloca ao meu lado contra os malfeitores? Se Deus não viesse em meu socorro, em breve eu habitaria no silêncio. Quando eu digo: ‘Meu pé vai tropeçar’, o teu amor, Senhor, me sustenta; quando as preocupações se multiplicam em mim, as tuas consolações me deleitam. Estás aliado a um tribunal criminoso que erige a desordem em nome da lei? Eles atacam a vida do justo, declaram culpado o sangue do inocente. Mas Deus é uma fortaleza para mim, meu Deus é a rocha em que me abrigo; ele fará sua iniquidade recair sobre eles e os destruirá por sua própria maldade, o Senhor nosso Deus os destruirá!”

Leia com atenção essa “historinha”: Prefiro morrer!

Um soldado piemontês, na confissão que fez antes de entrar para a milícia, propôs aos pés do Crucifixo antes morrer que pecar, dizendo uma mentira.

Fazia poucos meses que estava no quartel; entretanto, como não podia mais conter o desejo de rever os pais, estando de guarda, quis aproveitar a ocasião para desertar. Mas, ao saltar um muro, foi tão infeliz que quebrou uma perna. Obrigado a pedir socorro, aparece o cabo e pergunta-lhe porque saltara o muro.

– Para voltar para casa de meus pais, pois não aguento mais de saudades.

O cabo, compadecendo-se dele, adverte-o que não revele o motivo da fuga planejada; diga antes, para justificar a desgraça, que fez aquilo para impedir a evasão de alguns detentos. Assim você não será castigado – dizia-lhe o cabo – antes será premiado e graduado.

O soldado, fiel ao seu propósito, respondeu:

Isso não; prefiro morrer a mentir!

Chega, entretanto, outro colega que o exorta a seguir o conselho do cabo. A resposta foi a mesma:

– Prefiro morrer a dizer uma mentira!

E assim foi. Perdeu a perna e teve de cumprir a pena. Mas, pensando na glória que dava a Deus com a constância no seu propósito, suportou com grande paciência.

Prezado senhor Salatiel, uma mentira simples, que não causa prejuízo nem se diz sob juramento, é pecado venial. Deste tipo costumam ser as que se ouvem os fanfarrões (e, muitas vezes, os apaixonados pela pesca). Como também as mentiras que se dizem para evitar uma situação embaraçosa para a própria pessoa ou para outros. Também se incluem aqui as que são contadas pelos brincalhões zombeteiros. Mas, seja qual for a motivação de uma mentira, não dizer a verdade é sempre pecado. Deus nos deu o dom de podermos comunicar nossos pensamentos para que manifestemos sempre a verdade. De cada vez que, por palavras ou obras, divulgamos uma falsidade, abusamos de um dom divino e pecamos.

Daí se segue que não existem as “mentirinhas brancas” nem as mentiras inócuas. Um mal moral, mesmo o mal moral de um pecado venial, é maior que qualquer mal físico. Não é lícito cometer um pecado venial, nem mesmo para salvar da destruição o mundo inteiro. No entanto, deve-se também mencionar que posso não dizer a verdade sem pecar quando injustamente procuram averiguar por meu intermédio alguma coisa sobre mim. O que venha a dizer neste caso poderá ser falso, mas não é uma mentira: é um meio lícito de autodefesa quando não resta alternativa.

Também não há obrigação de dizer sempre toda a verdade. Infelizmente, há muitos xeretas neste mundo, que perguntam o que não tem o direito de saber. É perfeitamente legítimo dar a tais pessoas uma resposta evasiva. Se alguém me pergunta quanto dinheiro trago comigo (e suspeito de que se trata de uma “facada”), e eu lhe respondo que trago mil reais quando na realidade tenho dez mil, não minto. Tenho mil reais, mas não menciono os outros nove mil que também tenho. Mas seria uma mentira, é claro, afirmar que tenho dez mil reais quando só tenho mil.

Há frases convencionais que aparentemente são mentiras, mas não o são na realidade, porque toda pessoa inteligente sabe o que significam. “Não sei” é um exemplo dessas frases. Qualquer pessoa de inteligência média sabe que dizer “não sei” pode significar duas coisas: que realmente desconheço aquilo que me perguntam, ou que não estou em condições de revelá-lo. É a resposta do sacerdote do médico, do advogado ou do parente , quando alguém procura tirar-lhe uma informação confidencial. Outra frase similar é: “não está em casa”. “Não estar em casa” pode significar que a pessoa saiu efetivamente, ou que não recebe visitas. Se a menina, ao abrir a porta, diz ao visitante que mamãe não está em casa, não mente; não há por que dizer que mamãe está no banho ou colorindo a roupa. Quem se engana com frases como esta (ou outras parecidas de uso corrente) não é enganado: engana-se a si mesmo (Pe. Leo J. Trese).

Caríssimo senhor Salatiel, obrigado pela ajuda mensal.

Salatiel significa: “aquele que pede a Deus”.

Rezamos pelo senhor todos os dias.

Eu te abençoo e te guardo no Coração Humilde de Jesus Cristo: “Como todas as coisas só têm repouso em seu centro... meu coração está todo ele lançado neste centro que é o Coração humilde do meu Jesus” (Santa Margarida Maria Alacoque).

Com respeito e gratidão,

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

 

 

 

 

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