Instituto Missionário dos Filhos e Filhas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e das Dores de Maria Santíssima

 

057 / 2017

 

Anápolis, 13 de novembro de 2017

 

À senhora Maria das Graças Castro

Benfeitora do Instituto, Goiânia – GO

 

Estimada senhora, viva nesse mundo sem se apegar às coisas passageiras; mas sim, amando a Jesus Cristo sobre todas as coisas. Todo o amor que se coloca nas criaturas esvazia o coração: “Bem-aventurado o que conhece o que é amar a Jesus e desprezar-se a si mesmo por amor de Jesus! Nosso amor para com Ele deve apartar-nos de qualquer outro amor, porque Jesus quer ser amado sobre todas as coisas” (Tomás de Kempis).

 

Quem deixa de amar a Jesus Cristo para mendigar o amor das criaturas perde tempo e vive na ilusão... porque o coração do homem é falso, perigoso e muda continuamente. O amor de Jesus é verdadeiro, fiel e constante.

Apaixonar-se por Jesus é grande sabedoria! Sem dúvida Nosso Senhor Jesus Cristo merece que o amemos infinitamente por todos os bens que nos tem liberalizado desde que estamos na terra, assim como por todos aqueles que nos destina no céu.

Quando se recorre a Jesus Cristo com confiança, tem-se sempre a certeza de ser bem recebido. Como Ele é bom! Quanto digno é de todo o nosso culto! Ele é o único e verdadeiro amigo das almas! Prostremo-nos a seus pés, e expandamos no seu Coração toda a nossa gratidão (M. Hamon).

É grande desgraça e enorme perigo para a salvação da alma desprezar o amor de Jesus Cristo para se apegar ao falso amor das criaturas... quem se agarra às criaturas cairá com elas. Jesus jamais nos trairá... o seu amor é verdadeiro e sincero; Ele nos protegerá até o fim.

 

Senhora Maria, leia atenciosamente a Vida de Santa Maria Madalena.

Era Maria Madalena conhecida na cidade por pecadora, como afirma o Santo Evangelho, que relata história da conversão dessa alma predileta de Deus. Dos espinhos da penitência brotou-lhe a rosa do amor.

As lágrimas de arrependimento lavaram-lhe a veste maculada da alma. Vem, ó esposa de Cristo! — é o cântico com que a Igreja entra na festa de Santa Maria Madalena. Será possível que estas palavras se apliquem a uma pecadora? Será possível que uma pessoa nas condições de Maria Madalena possa merecer o qualificativo honroso de esposa de Cristo? A coroa da inocência, que perdera, foi substituída pela coroa do amor penitente. As graças abundantes que do Senhor recebeu, provam-nos o amor imenso que Deus tem à nossa alma.

Nas margens do lago de Genezaré havia, no tempo de Nosso Senhor, uma rica vivenda, chamada Magdala. Quer a tradição que aquela vivenda tenha sido a residência de Maria Madalena, jovem descendente de família nobre e rica, dotada de qualidades invejáveis de cor e espírito.

Órfã de tenra idade, bem cedo adquiriu uma certa independência, o que lhe foi de perdição. Cortejada pelos jovens mais distintos, que lhe cobiçavam a grande fortuna, Madalena deixou-se arrastar para um terreno perigosíssimo, à vaidade, ao desejo de agradar. O resultado foi que, pouco a pouco, perdendo a prudente reserva e o recato próprio de uma donzela, deu ouvidos à voz sedutora da paixão. Na ambição de ser rainha dos corações, chegou a ser escrava do pecado.

Anos se passaram. Madalena sorvera o cálice do prazer até ao fundo, quando, um dia, o coração se lhe sentiu tocado pela graça divina.

Quis a Providência divina, como por acaso, que o olhar se lhe cruzasse com o olhar sereno e majestoso do Divino Mestre. Pela primeira vez se lhe veio à compreensão de que outra coisa, que não a sensualidade, era capaz de ferir o coração humano: o amor divino. Bastou um olhar de Jesus Cristo para dissipar as nuvens do pecado que ofuscavam o espírito da pobre pecadora; bastou um olhar de Jesus para fazer derreter-lhe o gelo do coração.

Foi uma circunstância singular que trouxe Madalena aos pés de Jesus. A conversão efetuou-se durante um banquete. Assim o tinha determinado a Providência Divina. Aquela, cujo pecado tinha sido público, devia prestar reparação pública. Escrava da sensualidade, por ocasião de um grande banquete, devia derramar lágrimas de penitência. Com santa impaciência o divino Pastor tinha esperado a volta da ovelha perdida. Se aceitara o convite do fariseu para o banquete, era com a esperança de encontrar aquela ovelha.

Reunidos os convivas, em meio do banquete aparece a figura da pecadora. Nas mãos trêmulas segura um vaso de alabastro, com unguentos preciosos para, segundo o costume do país, ungir a testa e o cabelo dos que jaziam à mesa. A rica cabeleira cai-lhe desordenadamente sobre as espáduas, e o belo rosto traz-lhe estampadas a tristeza e a confusão.

O fariseu, vendo-a entrar, finge não ligar importância ao fato. Para ele, Madalena é uma decaída, objeto de desprezo. Que não se atrevesse a chegar perto para ungir-lhe a cabeça!

Eis que a pobre mulher se aproxima do Cordeiro de Deus. Estupefação geral! Mas o olhar da pecadora não ousa enfrentar a luz do Sol divino: “Retro”, diz o Evangelho, – de costas se chega aos pés do divino Salvador.

Pouco, se lhe dá que a persigam olhares malévolos e a firam censuras sarcásticas. Uma só coisa quer, uma ideia a ocupa: obter o perdão d’Aquele que veio trazer a salvação.

Ei-la, de joelhos, perante o Senhor da vida e da morte; ei-la na presença do juiz. Palavra nenhuma os lábios lhe articulam. A dor embarga-lhe a voz. Dos olhos lhe jorra a fonte amarga da penitência. Se viera para ungir a seu Deus e Senhor, as lágrimas pressurosas estão a substituir o nardo precioso. E assim, prostrada aos pés do Mestre, não mais as retém, orvalhando-os abundantemente com a linfa preciosa do arrependimento. Não era o que queria; não era essa sua intenção; mas não mais possível lhe é abafar o fogo que lhe invade o peito; não mais resiste ao calor abrasador que lhe arde no coração. Não tem palavra para dizer o que lhe vai na alma.

Mais eloquentes são as lágrimas que gotejam sobre os pés de Jesus. Grande silêncio fez-se na sala, interrompido somente pelos discretos soluços da mulher.

No meio da dor que lhe dilacera o coração, como se sente bem! Oprimida pelo peso dos crimes, sabe que está aos pés d’Aquele que é a caridade. O único olhar que teve a felicidade de receber dos olhos do Filho do homem, disse-lhe que está aberta a porta do perdão a todos, – também a ela o está.

Entre os convivas corre um malicioso cochichar: “Se este fosse profeta, deveria saber quem é essa mulher, e não permitir que o tocasse”. Têm eles razão, e quem de nós, em seu lugar, teria formado conceito contrário? Mas Jesus Cristo assim não pensa.

Vendo os pensamentos dos fariseus, disse a Simão: Simão, tenho uma coisa a dizer-te – e ele disse: Mestre, fala. (Lc 7, 40). Um credor tinha dois devedores; um devia-lhe quinhentos dinheiros e o outro cinquenta. Como não tivessem com que lhe pagar, perdoou-lhes a dívida a ambos. Qual dos dois lhe ficará querendo mais bem? Simão respondeu: “Penso que é aquele a quem perdoou maior soma”. Jesus disse-lhe: “Julgaste bem”. E voltando-se para a mulher, disse a Simão: “Vês esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para lavar os pés; ela os regou com as lágrimas e enxugou com os cabelos. Não me deste o ósculo da boa vinda; e ela não cessou, desde que entrou aqui, de beijar-me os pés. Tu não me derramaste óleo perfumado na cabeça; ela me ungiu os pés com perfumes. Por isto te declaro: Muitos pecados lhe são perdoados, porque ela amou muito. Pois ama menos a quem menos se perdoa”. Silenciosa, tinha ouvido essas palavras a pecadora. De joelhos, os olhos ainda embaciados de chorar, tímidos e confiantes, procuraram o rosto do Senhor. O coração diz-lhe que já achou o perdão; sente pousar sobre o olhar da caridade, que purifica, perdoa e eleva.

Como lhe jubila o coração, quando o Bom Pastor se lhe dirige, com palavras doces como mel: “Teus pecados estão perdoados. Tua fé te salvou: vai em paz”.

Ela se levanta e, silenciosa como viera, se retira. Não é mais pecadora. Perdoada, santificada, inteiramente transformada, a alma de Madalena nada em felicidade, abrasada de amor divino, de um amor forte, durável e eterno.

No monte Calvário encontramos a santa penitente, entre as almas eleitas de Nosso Senhor Jesus Cristo. Surda aos gritos blasfemos de uma multidão sacrílega, indiferente aos motejos sarcásticos e injuriosos, a atenção concentra-se toda na vítima, que na cruz se oferece ao eterno Pai, em expiação dos pecados do mundo. Com o mesmo ardor com que na mocidade se entregava aos paroxismos da paixão que a devorava, sem que se deixasse incomodar pela crítica que a censurava, assim na hora suprema do sacrifício sanguinolento, no Gólgota, a vemos ao pé da cruz, com a fidelidade inquebrantável, entregue ao amor divino.

Esse mesmo amor, na madrugada da Páscoa, a levou ao túmulo do querido Mestre para receber a recompensa superabundante. Tendo achado vazio o sepulcro, lá se deixou ficar, debulhada em lágrimas. Assim chorando, se debruçou sobre a sepultura. Aí viu dois anjos, vestidos de branco, assentados no lugar do corpo, um à cabeceira, outro aos pés. Eles lhe disseram: “Mulher, porque choras?” Ela respondeu: “Porque tiraram meu Senhor e não sei onde o puseram”. Então se voltou e viu Jesus em pé, mas não o conheceu. Disse-lhe Jesus: “Mulher, porque choras?” Ela, julgando que fosse o jardineiro com quem estava falando, disse-lhe: “Senhor, se fostes vós quem o tirou, dizei-me onde o pusestes e irei buscá-lo”. Jesus lhe: “Maria!” Ela se virou e respondeu: “Rabboni!” (isto é, Mestre!).

Essa única palavra, “Maria”, foi o bastante para tirar-lhe o véu dos olhos. “Maria!” — nome que pronunciado por Nosso Senhor, despertou na alma de Madalena uma longa série de reminiscências.

O nome de Maria, falado naquela ocasião por Jesus Cristo, era a expressão sintética de uma história, de uma vida inteira. Dizendo “Maria”, Jesus Cristo exprimira tudo que se tinha passado, entre Ele e a penitente.

Na casa de Simão fora o juiz que a tratara de mulher, dizendo-lhe: “Mulher, vai em paz. Teus pecados estão perdoados”. No dia da Ressurreição, Madalena, ouvindo seu nome de Maria pronunciado pelo Salvador ressuscitado, reconhece a voz do Pai.

Desde aquele dia, o nome de Maria Madalena, da santa penitente de Magdala, Apóstola dos Apóstolos, é pronunciado com respeito pela leitura do Evangelho da Ressurreição.

O santo Evangelho nada mais diz de Maria Madalena. É provável que tivesse estado presente à grandiosa manifestação do Divino Espírito Santo, no dia de Pentecostes. Igualmente é de supor que, junto com os santos Apóstolos e Maria Santíssima, tenha assistido à Ascensão de Nosso Senhor.

Um escritor grego, referindo-se a Maria Madalena, afirma que a mesma, depois da Ascensão de Nosso Senhor se mudou com Maria Santíssima e São João Evangelista para Éfeso, onde teria morrido santamente.

Há uma outra lenda, segundo a qual a família de Lázaro, isto é, Lázaro, Marta e Maria Madalena para fugir das perseguições que os judeus lhes faziam, teriam fugido da Palestina e fixado residência em Marselha. Diz a mesma lenda que Maria Madalena teria vivido mais trinta anos, depois da Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo e passado esse tempo todo numa gruta, onde se entregara a prática de penitências austeras. Seja como for, o certo é que Maria Madalena, rainha das almas penitentes, entre as santas mulheres, exceto Maria Santíssima, é a mais venerada pelo povo cristão, graças ao seu grande amor a Deus e extraordinária penitência.

 

Caríssima senhora, reze os Salmos 90 e 92 durante os meses de novembro e dezembro.

 

Salmo 90: “Senhor, foste para nós um refúgio de geração em geração. Antes que os montes tivessem nascido e fossem gerados a terra e o mundo, desde sempre e para sempre tu és Deus. Fazes o mortal voltar ao pó, dizendo: ‘Voltai, ó filhos de Adão!’ Pois mil anos são aos teus olhos como o dia de ontem que passou, uma vigília dentro da noite! Tu os inundas com sono, eles são como erva que brota de manhã: de manhã ela germina e brota, de tarde ela murcha e seca. Sim, por tua ira nós somos consumidos, ficamos transtornados pelo teu furor. Colocaste nossas faltas à tua frente, nossos segredos sob a luz da tua face. Nossos dias todos passam sob tua cólera, como um suspiro consumimos nossos anos. Setenta anos é o tempo da nossa vida, oitenta anos, se ela for vigorosa; e a maior parte deles é fadiga e mesquinhez, pois passam depressa, e nós voamos. Quem conhece a força de tua ira, e, temendo-te, conhece teu furor? Ensina-nos a contar nossos dias, para que venhamos a ter um coração sábio! Volta, Deus! Até quando? Tem piedade dos teus servos! Sacia-nos com teu amor pela manhã, e, alegres, exultaremos nossos dias todos. Alegra-nos pelos dias em que nos castigaste e os anos em que vimos a desgraça. Que tua obra se manifeste aos teus servos, e teu esplendor esteja sobre nossos filhos! Que a bondade do Senhor esteja sobre nós! Confirma a obra de nossas mãos!”

 

Salmo 92: “É bom celebrar a Deus e tocar ao teu nome, ó Altíssimo; anunciar pela manhã teu amor e tua fidelidade pelas noites; com a lira de dez cordas e a cítara, e as vibrações da harpa. Pois tu me alegras com teus atos, Deus, eu exulto com as obras de tuas mãos: ‘Quão grandes são tuas obras, ó Deus, e teus projetos, quão profundos!’ O imbecil nada compreende, disso nada entende o idiota. Ainda que os ímpios brotem como erva, e todos os malfeitores floresçam, eles serão para sempre destruídos, e tu, Deus, tu és elevado para sempre! Eis que teus inimigos perecem, e os malfeitores todos se dispersam; tu me dás o vigor de um touro e espalhas óleo novo sobre mim; meu olho vê aqueles que me espreitam, meus ouvidos escutam os malfeitores. O justo brota como a palmeira, cresce como um cedro no Líbano. Plantados na casa de Deus, brotam nos átrios do nosso Deus. Eles dão fruto mesmo na velhice, são cheios de seiva e verdejantes, para anunciar que Deus é reto: meu Rochedo, nele não há injustiça”.

 

Leia com atenção essa “historinha”: Uma ação boa faz muito bem.

Um dia, um estudante universitário encontrou num bosque perto de Viena (Áustria) uma pobre velha, que, curvada sob o peso de um feixe de lenha, ia caminhando com muita dificuldade.

– Boa velhinha – disse o estudante – deixe-me carregar um pouco o seu feixe de lenha.

E, tomando o feixe, levou-o até a casa da pobre velha, a qual, muito comovida com a bondade do moço, perguntou-lhe:

– E, agora, meu senhor, quando lhe devo?

– Reze por mim um Pai-Nosso, boa velhinha – foi a resposta.

– Sim, sim, eu o farei – respondeu ela, – e esse é o primeiro Pai-Nosso que vou rezar depois de uns vinte anos! Não se espante, meu senhor, as minhas contínuas desventuras, os desprezos recebidos de tanta gente, haviam-me afastado de Deus; o senhor, com a sua caridade, tocou-me o coração e vou começar de novo a rezar.

Está claro que devemos fazer sempre o bem! O tempo de entesourar tesouros no céu é agora... não depois da morte. Infeliz da pessoa que morrer com as mãos vazias!

Não devemos desprezar a Deus... a vida de oração... por causa do desprezo, zombaria e maldade  das pessoas. Estar com Deus deve ser a nossa grande alegria!

Devemos sim, nos alegrar diante do desprezo das pessoas... porque o coração do homem é um abismo profundo: “Cessai de confiar no homem, cuja vida se prende por um fôlego” (Is 2, 22).

Prezada senhora, obrigado pela ajuda mensal.

Rezamos pela senhora e família todos os dias.

Eu te abençoo e te guardo no Coração de Jesus Cristo: “Talvez alguém diga: ‘Se Ele (Jesus) era santo, por que quis ser batizado?’ Escuta: Cristo foi batizado, não para ser santificado pelas águas, mas para santificá-las e para purificar as torrentes com o contato do seu corpo” (São Máximo de Turim).

Com respeito e gratidão,

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

 

 

 

 

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