Instituto Missionário dos Filhos e Filhas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e das Dores de Maria Santíssima

 

Carta a Dom Geraldo Majella Agnelo

Presidente da CNBB

 

 

Carta 1

Anápolis, 21 de fevereiro de 2007

Quarta-Feira de Cinzas

 

Ao Exmo. senhor Cardeal Geraldo Majella Agnelo

Presidente da CNBB

 

Senhor Cardeal, que a Sagrada Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja no seu coração de pastor: “Se quereis progredir no amor de Deus, meditai todos os dias a Paixão do Senhor. Nada contribui tanto para a santidade das pessoas como a Paixão de Cristo” (São Boaventura, Stimulus amoris, p. I, c. 1).

Venho através desta, manifestar a minha tristeza com relação à Campanha da Fraternidade, que ao invés de escolher temas espirituais, escolhe somente temas relacionados às coisas materiais.

O Diretório da Liturgia de 2007, na página 63 diz: “A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil promove, todos os anos, durante a Quaresma e Semana Santa, a Campanha da Fraternidade, cuja finalidade principal é promover a evangelização entre os fiéis”.

  • No ano de 2004, o tema da Campanha da Fraternidade foi: A fraternidade e água. O lema foi: Água, fonte de vida.

  • No ano de 2005, o tema da Campanha da Fraternidade foi: Solidariedade e Paz. O lema foi: Felizes os que promovem a paz.

  • No ano de 2006, o tema da Campanha da Fraternidade foi: A Fraternidade e as Pessoas com deficiência. O lema foi: Levanta-te, vem para o meio.

  • No ano de 2007, o tema da Campanha da Fraternidade é: Fraternidade e Amazônia. O lema é: Vida e missão neste chão.

Exmo. Cardeal, o senhor chama isso de evangelização? Falar sobre água, chão e outros temas vazios ajudará os católicos frios e indiferentes a se converterem? Ajudará também aqueles que ainda vão à igreja a perseverarem no caminho da santidade? Claro que não! Somente Jesus Cristo: Caminho, Verdade e Vida é que pode transformar as trevas em luz: “Não haverá nunca evangelização verdadeira se o nome, a doutrina, a vida, as promessas, o reino, o mistério de Jesus de Nazaré, Filho de Deus, não forem anunciados” (Paulo VI, Exortação Apostólica “Evangelii Nuntiandi”, 22).

Baseando no que escreveu Paulo VI, o que a CNBB faz na Quaresma não tem nada a ver com a evangelização ensinada pela Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

A CNBB está preocupada somente com aquilo que é terreno e passageiro. Os senhores bispos que estão à frente de tão prejudicial Campanha da fraternidade, deveriam obedecer o verdadeiro sentido da evangelização, como escreve Paulo VI: “Evangelizar, para a Igreja, é levar a Boa Nova a todas as parcelas da humanidade, em qualquer meio e latitude, e pelo seu influxo transformá-las a partir de dentro e tornar nova a própria humanidade: ‘Eis que faço novas todas as coisas’ (Ap 21, 5; 2 Cor 5, 17; Gl 6, 15). No entanto não haverá humanidade nova, se não houver em primeiro lugar homens novos, pela novidade do batismo e da vida segundo o Evangelho. A finalidade da evangelização, portanto, é precisamente esta mudança interior; e se fosse necessário traduzir isso em breves termos o mais exato seria dizer que a Igreja evangeliza quando, unicamente firmada na potência divina da mensagem que proclama, ela procura converter ao mesmo tempo a consciência pessoal e coletiva dos homens, a atividade em que eles se aplicam, e a vida e o meio concreto que lhes são próprios” (Exortação Apostólica “Evangelii Nuntiandi”, 18).

Não é dever de vocês bispos cuidar de terra, água, matas, etc., e sim, da pregação do Evangelho, ajudando os católicos a conhecerem o caminho do céu: “… a Igreja nasceu para tornar todos os homens participantes da redenção salvadora e, por eles, ordenar efetivamente a Cristo o universo inteiro, dilatando pelo mundo o Seu Reino para glória de Deus Pai… Aos Apóstolos e seus sucessores, confiou Cristo a missão de ensinar, santificar e governar em Seu nome e com o Seu poder” (Apostolicam actuositatem, n. 2).

Está claro que os Temas escolhidos para tais Campanhas da Fraternidade deturpam completamente o sentido da Quaresma. É uma triste deturpação!

Por que os senhores ao invés de perder tempo falando em água, terra, etc., não usam o Tempo da Quaresma e Semana Santa para:

  • Lembrar os católicos de que os mesmos possuem uma alma imortal para salvar? “O negócio da eterna salvação é, sem dúvida, o mais importante, e, contudo, é aquele de que os cristãos mais se esquecem” (Santo Afonso Maria de Ligório, Preparação para a Morte, Consideração XII, Ponto I), e: “… operai a vossa salvação com temor e tremor” (Fl 2, 12).

  • Aconselhar os fiéis a meditarem piedosamente a Sagrada Paixão de Nosso Senhor, não aquela editada pela CNBB, cheia de política e vazia de conteúdo religioso, mas usando diretamente a Sagrada Escritura? “Quem pode negar que a devoção à paixão de Jesus Cristo é a devoção mais útil, a mais tenra e a mais cara a Deus? Devoção que mais consola os pecadores e mais anima as pessoas que amam? De onde recebemos tantos bens, senão da paixão de Cristo? De onde temos a esperança de perdão, a força contra as tentações, a confiança de chegar ao paraíso? De onde vêm tantas luzes da verdade, tantos convites de amor, tantos estímulos para mudar de vida, tantos desejos de nos doar a Deus, senão da paixão de Cristo?” (Santo Afonso Maria de Ligório, A Prática do Amor a Jesus Cristo, capítulo I).

  • Incentivar as pessoas a se aproximarem com fé e freqüência do sacramento da confissão? “Recebendo mais freqüentemente, por meio deste sacramento, o dom da misericórdia do Pai, somos levados a ser misericordiosos como ele” (Catecismo da Igreja Católica, 1458).

  • Lembrar os católicos de que é preciso fazer penitência para conquistar a Vida Eterna? “Ele diz-nos que, sem o santo Batismo, ninguém entrará no Reino dos Céus (cf. Jo 3, 5); e noutro lugar, que se não fizermos penitência todos pereceremos (Lc 13, 3). Tudo se compreende facilmente. Desde que o homem pecou, todos os seus sentidos se rebelaram contra a razão; por conseguinte, se quisermos que a carne esteja submetida ao espírito e à razão, é necessário mortificá-la; se quisermos que o corpo não faça a guerra à alma, é preciso castigá-lo a ele e a todos os sentidos; se quisermos ir a Deus, é necessário mortificar a alma com todas as suas potências” (São João Maria Vianney, Sermões escolhidos, Quarta-Feira de Cinzas).

  • Aconselhar os católicos a rezarem com fé, devoção e respeito, lembrando-lhes que sem a oração todos irão para o inferno? “Quem reza se salva, quem não reza se condena” (Santo Afonso Maria de Ligório, Oração).

Ao invés dos senhores usarem tantos temas vazios e terrenos, por que não usam temas convidando os católicos à santidade, a amarem a Deus, a deixarem a imoralidade, a desapegarem das coisas da terra, a estudarem a Santa Doutrina Católica? Agindo dessa forma, vocês serão bispos segundo o Coração de Jesus: “Abandonamos o ministério da pregação e, reconheço-o para pesar nosso, chamam-nos de bispo a nós que temos a honra do nome, não o mérito. Aqueles que nos foram confiados abandonam a Deus e nos calamos. Jazem em suas más ações e não lhes estendemos a mão da advertência. Quando, porém, conseguiremos corrigir a vida de outrem, se descuramos a nossa? Preocupados com questões terrenas, tornamo-nos tanto mais insensíveis interiormente quanto mais parecemos aplicados às coisas exteriores… Postos como guardas às vinhas, de modo algum guardamos a nossa porque, enquanto nos embaraçamos, com ações exteriores, não damos atenção ao ministério de nossa ação verdadeira” (Das Homilias sobre os Evangelhos, de São Gregório Magno, papa).

Senhor Cardeal, tudo passa aqui na terra, vocês também passarão, e com certeza absoluta, prestarão uma terrível conta a Deus no dia do julgamento, pela péssima e desastrosa administração: “… além de cristãos, tendo de prestar contas a Deus de nossa vida, somos também bispos, e teremos de responder a Deus por nossa administração” (Início do Sermão sobre os pastores, de Santo Agostinho, bispo).

Vocês bispos, homens capacitados e autônomos, tenham misericórdia das ovelhinhas católicas que estão agonizando por falta do remédio espiritual, não lhes dêem mais terra nem água, e sim, o Deus da Vida, o único que pode saciá-las plenamente: “Deus é o único Bem que nos pode satisfazer, o único ideal que nos pode apaixonar inteiramente. Encontro tudo nele. Alegro-me até o íntimo por vê-lo tão lindo por sentir-me sempre unida a Ele” (Santa Teresa dos Andes, Carta 121).

Dos sem terra, cuida o presidente da República, enquanto que os senhores, homens cultos e piedosos, devem cuidar dos sem Deus.

 

Respeitosamente,

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.