Instituto Missionário dos Filhos e Filhas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e das Dores de Maria Santíssima

 

Carta a Dom Washington Cruz,

quando era Bispo da Diocese de São Luiz de Montes Belos - GO,  hoje, Arcebispo de Goiânia - GO

 

Dom Washington Cruz, sem conhecer a real história, escreveu uma carta para o nosso Revmo. Pe. Divino Antônio Lopes FP., mas ao invés de aconselhá-lo, começou também a acusá-lo, colocando-o como culpado de tais acontecimentos e inocentando o senhor Bispo Dom Manoel Pestana Filho. Diante das acusações, o nosso padre deu-lhe a seguinte resposta:

 

Carta 1

 

Anápolis, 06 de outubro de 2001

 

Ao Exmo. Senhor Bispo

Dom Washington Cruz, C.P.

Digníssimo Bispo de São Luis de Montes Belos

e Presidente do Regional CO da CNBB.

 

Recebi a vossa carta datada de 02/10/2001, e tomo a liberdade de respondê-la, transcrevendo alguns trechos da mesma.

 

“Desejando ajudar no discernimento, tomo a liberdade de escrever esta carta pessoal, reservada ao senhor, portanto, não pública, naturalmente enviando cópia para cada bispo do Regional, como é do meu dever”

 

Exmo. senhor Bispo Dom Washington Cruz, fiquei muito feliz em receber a vossa carta; porém teria ficado ainda mais, se V. Excia. tivesse manifestado a mesma preocupação com os ataques que recebi no dia 04 de agosto no jornal “O Popular”, ataques diretos por parte de pessoas ligadas à Diocese de Anápolis, isto é, perseguidores sem rosto que não se identificaram.

É importante lembrá-lo de que a atenção deveria ser para todos, e não somente para com os superiores. Infelizmente entre os homens existe acepção de pessoas, porém, em Deus, não há essa injustiça: “…o Deus grande, o valente, o terrível, que não faz acepção de pessoas e não aceita suborno” (Dt 10,17).

Sua Excia. disse que é seu dever enviar cópia da sua carta para cada bispo do Regional, e é também meu direito, enviar aos mesmos uma cópia desta.

 

“Os terríveis acontecimentos nos Estados Unidos marcaram profundamente a nossa vida”

 

Realmente Exmo. senhor Bispo, é triste ver tantos corpos mutilados e desaparecidos e famílias desesperadas, chorando seus entes queridos; mas o pior de tudo, o que causa realmente verdadeiro sofrimento e angústia é o seguinte:

-     Ver meninas, moças e senhoras recebendo seminuas o Corpo de Jesus Cristo: “A atitude corporal (gestos, roupa), há de traduzir o respeito, a solenidade, a alegria deste momento em que Cristo se torna hóspede” (Catecismo da Igreja Católica, nº 1387).

-     Contemplar maçons recebendo e distribuindo a Santíssima Eucaristia: Numa declaração da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, de 26 de novembro de 1983, reafirma-se a incompatibilidade entre a doutrina maçônica e a pertença à Igreja Católica. Ainda mais, acrescenta-se que os católicos que se inscrevem na maçonaria cometem pecado grave. E também: “Os fiéis que pertencem às associações maçônicas estão em estado de pecado grave e não podem aproximar-se da Sagrada Comunhão” (idem).

-     Presenciar bispos e sacerdotes profanarem a Santa Missa, abandonando a verdadeira e piedosa liturgia da Igreja, para saciar os seus caprichos de inculturação com: “show-missa”, “missa do vaqueiro”, “missa afro”, “missa cabocla”, “missa sertaneja”, etc., tirando ou acrescentando partes no Missal Romano e cantando cânticos completamente anti-litúrgicos: “Usem-se somente as Orações eucarísticas incluídas no Missal Romano ou legitimamente admitidas pela Sé Apostólica, segundo as modalidades e os limites por ela estabelecidos. Modificar as Orações eucarísticas aprovadas pela Igreja ou adotar outras diversas de composição privada é abuso gravíssimo”  (Instrução “Inaestimabile Domum”, nº 5), e: “Uma errada aplicação do valor da criatividade e da espontaneidade nas celebrações, mesmo se típica de tantas manifestações da vida do vosso povo, não deve levar a alterar nem os ritos, nem os textos, nem sobretudo o sentido do mistério que se celebra na Liturgia” (Discursos do Santo Padre aos Bispos brasileiros por ocasião da visita ad limina Apostolorum, 1995-1996), e também: “…mais ainda, deve-se assinalar, corrigindo oportunamente, a introdução no rito sacramental católico – a Santa Missa, mas também em outros sacramentos – de ritos, cantos e objetos pertencentes explicitamente ao universo dos cultos afro-brasileiros” (idem).

-     Contemplar bispos e padres preocupadíssimos  em usar do altar para politicar, ao invés de pregar o Santo Evangelho: “Os ministros sagrados, bem como os religiosos e religiosas  consagrados, devem evitar cuidadosamente qualquer envolvimento pessoal no campo da política ou do poder temporal” (Discursos do Santo Padre aos Bispos brasileiros por ocasião da visita ad limina Apostolorum, 1995-1996); e: “A homilia tem por fim explicar aos fiéis a Palavra de Deus, proclamada nas leituras(Instrução “Inaestimabile Domum”, nº 3); e também: “Ele (o povo) quer sentir nas músicas de vossas Igrejas o apelo ao louvor de Deus, à ação de Graças, à prece humilde e confiante e se sente desconfortável quando esses cantos em sua letra envolvem uma mensagem política ou puramente terrena, e em sua expressão musical não apresentam a característica de música religiosa, mas são marcadamente profanos no ritmo, na linha melódica e nos instrumentos  musicais de acompanhamento(Discurso do Santo Padre aos Bispos brasileiros por ocasião da visita ad limina Apostolorum, 1995-1996).

-     Ver bispos e padres reunindo multidões, não para falar de Deus, e sim, para colocá-las contra os fazendeiros através da romaria da terra: “A redução da sua missão a tarefas temporais, puramente sociais ou políticas, ou de qualquer modo alheias, não é uma conquista, mas uma perda gravíssima para a fecundidade evangélica da Igreja inteira(Diretório para o Ministério e a Vida dos Presbíteros, nº 33); e: “Compete aos leigos a principal responsabilidade” (Lumen Gentium, nº 36).

-     Presenciar mulheres exercendo a função de coroinhas, infelizmente até na “Rede Vida”: “Porém, não são permitidas às mulheres as funções de servir ao altar como acólito(Sagrada Congregação para o Culto Divino, Instrução Liturgiae Instaurationes, nº 7).

-     É triste e lamentável ver sacerdotes permitirem de qualquer leigo despreparado distribuir a Santa Comunhão, enquanto que os mesmos permanecem sentados: “O fiel, religioso ou leigo, que está devidamente autorizado como ministro extraordinário da Eucaristia, poderá distribuir a Comunhão somente quando faltarem o Sacerdote, o Diácono ou o Acólito, ou quando o Sacerdote estiver por motivo de enfermidade ou por causa da sua idade avançada, ou então quando  o número dos fiéis que se aproximam da Comunhão for tão grande que faça demorar excessivamente a celebração da Missa. É para reprovar portanto, a atitude daqueles Sacerdotes que, embora presentes na celebração, se abstêm de distribuir a Comunhão deixando tal tarefa aos leigos(Instrução “Inaestimabile Domum”, nº 10). É também lamentável, ver leigos, na Santa Missa, lerem o Santo Evangelho no lugar do sacerdote, e ainda rezarem certas orações reservadas somente ao sacerdote: “A leitura da perícope evangélica é reservada ao ministro ordenado, ou seja, ao Diácono ou ao Sacerdote(Instrução “Inaestimabile Domum”, nº 2); e: “É um abuso, portanto, deixar que algumas partes da Oração eucarística sejam ditas pelo Diácono, ou por um Ministro inferior ou pelos simples fiéis(Sagrada Congregação para o Culto Divino, Carta Circular, Eucharistiae Participationem, de 27 de abril de 1973, nº 8), é importante lembrar de que o “Per ipsum (“Por Cristo”), que também é reservado ao Sacerdote” (Instrução “Inaestimabile Domum”, nº 4).

-     É realmente muito triste Exmo. senhor Bispo, ver tantos católicos vivendo na ignorância religiosa, muitos nem sabem rezar o Pai-Nosso e  a Ave-Maria, e bispos e padres acomodados sem nada fazerem: “Meu povo será destruído por falta de conhecimento” (Os 4,6); e: “O Bispo diocesano é obrigado a propor e explicar aos fiéis as verdades que se devem crer e aplicar aos costumes, pregando pessoalmente com freqüência; cuide também que sejam observadas com diligência as prescrições dos cânones sobre o ministério da palavra, principalmente a homilia e a instrução catequética, a fim de que toda a doutrina cristã seja ministrada a todos” (Código de Direito Canônico, nº 386 § 1), e também: “Nestas paragens, são muitíssimos aqueles que não se tornam cristãos, simplesmente por faltar quem os faça tais. Veio-me muitas vezes ao pensamento ir pelas academias da Europa, particularmente a de Paris, e por toda parte gritar como louco e sacudir aqueles que tem mais ciência do que caridade, clamando: ‘Oh! Como é enorme o número dos que, excluídos do céu, por vossa culpa se precipitam nos infernos!(Das Cartas de São Francisco Xavier, cf. Liturgia das Horas I, 3 de dezembro).

 

Exmo. senhor Bispo, de todas as catástrofes, estas citadas acima são as piores, muito pior do que os ataques aos Estados Unidos.

 

“Prezado irmão, pode ser que tenha todas as razões, mas está se colocando fora da comunhão plena com o seu legítimo pastor. “Ubi Episcopus ibi Ecclesia”. Não há como viver na Igreja sem a reverência e a obediência que prometemos publicamente ao bispo que nos ordenou e aos seus sucessores”.

 

Exmo. senhor Bispo Dom Washington Cruz, o senhor tem pouco conhecimento sobre o que aconteceu e acontece comigo e com a minha família religiosa para dizer tais palavras. Antes de ter escrito estas palavras, o senhor deveria ter se informado melhor sobre o que aconteceu e vem acontecendo conosco durante cinco anos; vejo nas palavras de V. Excia. uma certa precipitação e imprudência. É importante lembrar de que, a caridade não se regozija com a mentira e sim com a verdade: “A (caridade) não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade” ( 1 Cor 13,6). É muito fácil, Exmo. senhor  Bispo, fazer um julgamento  precipitado estando fora da situação: “Não julgueis pela aparência, mas julgai conforme a justiça” (Jo 7,24). É mais cômodo e aceitável diante dos homens, usar da autoridade e de um cargo para tentar sufocar os súditos que lutam para sobreviver, defendendo a própria honra. Diz um provérbio popular: “A corda sempre arrebenta do lado mais fraco”, será que diante de Deus, que julga com justiça, é também assim?

Se V. Excia. tem tanta certeza do que está falando, cite por favor, quais as minhas desobediências para com o senhor Bispo Dom Manoel. Caso o senhor não consiga citar, peça para que ele as apresente, mas com provas.

Como eu disse na entrevista, no jornal “O Popular”, afastei das atividades da Diocese, devido à omissão do senhor Bispo Dom Manoel, diante das calúnias do Vigário Ilc, e só voltarei a participar se as calúnias forem desfeitas. Será isso desobediência? Não tenho o direito de zelar pelo meu nome? É importante V. Excia. saber que, se o Bispo Dom Manoel é gente, eu também o sou, se ele merece respeito e reverência como Bispo da Diocese, isto não lhe dá o direito de abusar da sua autoridade e muito menos de ficar indiferente diante da situação já explicada. Por mais simples que seja um sacerdote, também é filho e ministro de Deus, e  merece ser respeitado: “ Todo o homem e toda a mulher, por mais insignificantes que pareçam, têm em si uma nobreza inviolável, que eles próprios e os outros devem respeitar sem condições: toda a vida humana merece por si mesma, em qualquer circunstância ser dignificada” (Documento de Puebla, nn. 316 e 317).

Eu e minha família religiosa sempre obedecemos às ordens e desejos do senhor Bispo Dom Manoel, e ele sabe disso, se ele se esqueceu, podemos provar com fotografias, fitas de vídeo e testemunhas; se a situação chegou a esse ponto, não foi devido a desobediências, a razão já foi citada acima e na entrevista ao jornal “O Popular” do dia 28/09/2001.

 

“O senhor cita o episódio de Dom Bosco e Dom Gastalde (que precisa ser contextualizada), mas a História da Igreja, está repleta de santos e santas que, como Cristo, “aprenderam a obedecer” (Hb 5,8)”.

 

Exmo. senhor Bispo, quem leu uma vida de Dom Bosco, conhece a dolorosa controvérsia que teve de suportar por doze anos (1871 – 1883) com a Cúria de Turim, nomeadamente com o Arcebispo Lourenço Gastalde (até então amigo e confidente do Santo, o qual o havia proposto com insistência a Pio IX para a Sé de Turim). Eram diferentes as mentalidades, as idéias sobre a Igreja e sobre o modo de governar nela. Esperava o Arcebispo que a Sociedade Salesiana continuasse diocesana e à sua disposição... Os dois episódios mais penosos foram: a proibição feita ao Padre Bonetti de confessar e pregar no Oratório de Santa Teresa de Chieri, do qual era diretor, acompanhada do seu recurso à Congregação do Concílio em Roma contra tal medida (1879); a ameaça de suspensão ao próprio Dom Bosco após a publicação anônima de opúsculos ofensivos ao Arcebispo (1878 – 1879). Este, pensando que fossem inspirados por Dom Bosco e pelo Pe. Bonetti promoveu contra eles um processo diante da Congregação. Na confusão das duas questões, o Papa Leão XIII pensou em poder apoiar-se na humildade de Dom Bosco para resolvê-las mediante uma acomodação. Redigiu-se em junho de 1882 uma “Concórdia” em sete artigos: o primeiro exigia que Dom Bosco, conquanto inocente, “implorasse perdão ao Bispo” pela possível intervenção de alguns salesianos nos incidentes ocorridos. Dom Bosco, acreditando num primeiro momento que os artigos fossem somente uma proposta da parte adversária, recusou-se para não parecer dar razão às acusações que lhe eram movidas. Mas depois, como escreveu ao Cardeal Nina, prefeito do Concílio “tendo sabido que (os artigos) são a vontade explícita do Santo Padre, dei-me pressa em cumprir o primeiro artigo, que dizia respeito sobretudo a mim”.

Mesmo com o pedido de perdão, o Exmo. e Digníssimo Arcebispo Dom Lourenço Gastalde não ficou calado, mas jogava continuamente os seus espinhos sobre Dom Bosco. O Santo escreveu ao Cardeal Nina logo em seguida dizendo: “Uma vez que estou submetendo a pobre Sociedade Salesiana a esta humilhação pelo menos as coisas durassem! Mas receio muito. Vai-se propalando que Dom Bosco foi condenado, que o Pe. Bonetti não irá mais a Chieri etc. De toda maneira agi com seriedade e conservando silêncio vou para frente…” Turim 18 de julho de 1882.

Ao Pe. Dalmazzo, Dom Bosco escreveu o seguinte: “…as coisas com o Arcebispo sofrem diariamente alternativas. Hoje é tudo paz, amanhã tudo é guerra e  eu aceito tudo e assim iremos para a frente…” Turim 29 de julho de 1882.

Exmo. senhor Bispo Dom Washington Cruz, o senhor tem toda razão em dizer: “A História da Igreja está repleta de santos e santas que, como Cristo, “aprenderam a obedecer(Hb 5,8). Gostaria que o senhor me explicasse, se é desobediência zelar pelo bom nome. Será que Nosso Senhor Jesus Cristo tornou-se desobediente quando se defendeu durante o julgamento: “Durante o julgamento de Cristo diante do Sinédrio, um servo do Sumo Sacerdote deu uma bofetada no Senhor, que tinha respondido a uma pergunta de Caifás. E Jesus defendeu-se, dizendo: “Se falei mal, mostra-me em quê; mas, se falei bem, porque me bates?” (Jo 18,23). Jesus deu-nos o exemplo de como se deve defender a boa fama quando injustamente nos atacam (Curso de Teologia Moral, Ricardo Sada e Alfonso Monroy, pág. 237).

Exmo. senhor Bispo, era desobediência quando o Bem-aventurado João Batista Scalabrini escreveu ao Cardeal Jacobini em 08 de abril de 1883, as seguintes palavras: “Chegou o momento em que devo absolutamente justificar-me ou ser justificado. Aconselhar-me o silêncio nesse caso, seria acrescentar ultraje a ultraje da parte do sacrílego difamador; seria reconhecer que nada importa que a autoridade episcopal seja jogada na lama; seria dar crédito à voz que corre de boca em boca, que se tem medo da força oculta de certos homens astutos e que se é incapaz de dominá-los…” e quando São Tomás de Cantalupo recorreu a Roma apelando ao Papa Martinho IV, pelo fato de ter sido caluniado e excomungado pelo Arcebispo de Cantuária, isso também foi desobediência? (O Santo do Dia, Dom Servilio Conti, 09 de agosto).

 

Aliás, “quem obedece cantará vitória”. Todos acreditaram colocaram em prática as palavras de Jesus: “Quem vos ouve a mim ouve, quem vos despreza a mim despreza”. As grandes figuras da nossa Igreja, jamais dispensaram as mediações humanas, às vezes tendo que lidar com situações bem difíceis e disse foi: “Prefiro errar com a Igreja do que acertar sozinho”. Infelizmente, depois fez o contrário

 

Este trecho está ligado ao do item dois da sua carta: “…aprenderam a obedecer.” Creio que já está bem explicado. Além do mais, esse trecho da sua carta está cheio de citações avulsas e sem nexo.

 

Meu irmão, você pode ter grandes coisas para oferecer à Igreja. Mas agindo desta forma, está comprometendo a sua obra. Bispo algum, nem agora nem depois, poderá se dispensar de exercer seu “Sagrado poder-dever” de discernir os carismas. Dom Manoel, pacientando, está se santificando, mas o Senhor está se auto-destruindo. Nós todos iremos passar, não apenas Dom Manoel. Mas o Senhor permanecerá e a Igreja também”.

 

Graças a Deus, eu e minha família religiosa lutamos e lutaremos sempre para oferecer o melhor para a Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Procuraremos fazer tudo para a glória de Deus, sem jamais deixar transparecer em nós a mínima sombra de duplicidade, jogo de cintura ou atitude camaleônica, buscando a santidade através da verdade: “Dizer sempre a verdade. A duplicidade é máscara. Encobrimos com ela a covardia e a vergonha de nos mostrarmos como somos. Sejamos corajosos. Arranquemos todos esses disfarces. Não permitamos que o menor sinal de inverdade apareça em nossos gestos ou nas nossas palavras(Fortaleza, Dom Rafael Lhano Cifuentes, pág. 66).

Exmo. senhor Bispo, nem todos os bispos são iguais, e também não estamos pedindo que nenhum bispo omita o seu “sagrado poder-dever” de discernir os carismas. Gostaria de saber se a omissão e a indiferença com relação a nossa situação, também faz parte desse “sagrado poder-dever”. Nada vi na Moral católica a respeito de que a omissão seria uma atitude santificadora, vejo que o senhor está confundindo paciência com omissão; e quanto a minha auto-destruição, deixe que o próprio Jesus Cristo responda: “Com efeito, uma árvore é conhecida por seu próprio fruto(Lc 6,44). Assim como São João Bosco esperou com ansiedade a vinda de outro bispo, nós também estamos ansiosos; e, ao futuro bispo, faremos nossas as palavras de Dom Bosco: “A Congregação será sempre toda sua(Carta de São João Bosco ao Arcebispo Gaetano Alimonda, 07 de agosto de 1884).

 

O senhor alega que foi criticado, caluniado. A história nos ensina que, por incrível que pareça, isso pode ser um bem. Toda obra de Deus precisa ser testada, provada e, algumas vezes, até mesmo purificada. “Quem perseverar até o fim, esse será salvo” (Mt 10,23). Além do mais, Jesus chama bem-aventurados os perseguidos”.

 

Como V. Excia. leu na entrevista do jornal “O Popular”, já faz cinco anos que estamos sendo caluniados e criticados, portanto a questão não é verificar na história as justificações, mas é um dever zelar pelo bom nome, como ensina a própria Igreja: “…é necessário defender-se tranqüilamente a reputação dos agravos recebidos (São Francisco de Sales, Filotéia, parte III, capítulo VII).

Se as calúnias viessem apenas dos leigos, seria mais fácil guardar silêncio, mas quando vem de uma autoridade da Igreja, as dimensões são tais que se permanecermos calados, seremos aniquilados em pouco tempo. A defesa não é uma rebeldia, e sim um dever como nos mostra o Bem-aventurado João Batista Scalabrini: “O opúsculo do autor anônimo é a manifestação de um ânimo irrequieto e vaidoso, indócil às leis da caridade e da moderação, fruto das loucuras a que facilmente incorrem as ambições insatisfeitas e as aversões impotentes… Se, por desgraça, o autor for realmente um bispo, pobre de sua Diocese, infelizes os seus padres e traídos os católicos!(Osservatore Cattólico, 19 de dezembro de 1885).

 

Antes que seja tarde demais, se reconcilie com o seu legítimo superior eclesiástico. Aproveite a porta que o seu bispo continua deixando aberta para um diálogo filial, fraternal e respeitoso. Aceite as diretrizes que lhe der e as correções que lhe fizer”.

 

Como eu disse na entrevista do jornal “O Popular”, se as calúnias forem desfeitas, irei correndo; caso contrário, permaneço como estou. Quanto ao diálogo filial, fraterno e respeitoso, ouça por favor com muita atenção os avisos do Pe. Aluizo Lopes, na fita cassete que lhe envio em anexo do dia 29/07/2001.

 

Deus resiste aos soberbos, mas dá sua graça aos humildes” (Tg 4,5). “Aos humildes” querido irmão, “aos humildes”.

 

Ser humilde não significa engolir a lama da calúnia: “Entretanto, aconselha o sábio que cuidemos de nosso bom nome, porque a reputação não se funda na excelência duma virtude ou perfeição, mas nos bons costumes e na integridade da vida; e, como a humildade não proíbe crer que temos este merecimento comum e ordinário, também não nos proíbe que amemos e cuidemos da reputação. É verdade que a humildade desprezaria a fama, se não fosse necessária à caridade, mas, sendo a reputação um dos principais fundamentos da sociedade humana e sendo nós sem ela não só inúteis, mas até perniciosos ao bem público, pela razão do escândalo que damos, a caridade nos obriga a desejá-la e conservá-la, e a humildade conforma-se com esses desejos e cuidados” (São Francisco de Sales, Filotéia, Parte III, capítulo VII).

Exmo. senhor Bispo, agora eu pergunto: teria sido também falta de humildade:

-     A defesa de Jesus Cristo na hora de seu julgamento?

-     A atitude de Santa Cunegundes em defender a sua honra diante de seus servos, uma vez que o caso estava se agravando a ponto de destruir o seu matrimônio?

-     O grito do Bem-aventurado João Batista Scalabrini: “Não calarei”, ao ser aconselhado pelo Cardeal Jacobini de guardar silêncio diante das calúnias?

 

O senhor sita um texto do Papa, mas o Papa tem falado também sobre a virtude da humildade e recomendado aos presbíteros a docilidade necessária para caminhar como um corpo bem unido com o bispo.

Com toda certeza, se o Santo Padre fosse informado dessa situação, ficaria entristecido, como acredito que o estejam todos os bispos deste nosso Regional.

 

Eu e a minha família religiosa não somos contra a humildade, pelo contrário, rezamos insistentemente aos Corações de Jesus e Maria para que aumente em nós essa virtude. E como escreve o Bem-aventurado João Batista Scalabrini: “União não é omissão, silêncio ou passividade, mas co-responsabilidade”.

Ficaria o Santo Padre, o Papa João Paulo II ainda mais triste se descobrisse as desobediências por parte de bispos e padres sobre aquilo que mencionei nas páginas 1, 2 e 3 desta carta.

Ao terminar esta, peço a V. Excia. que abençoe a minha família religiosa e reze para que façamos sempre aquilo que é agradável a Deus.

 

Filial e cordialmente, subscrevo-me,

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.