Anápolis, 06 de outubro de 2001
Ao Exmo. Senhor Bispo
Dom Washington Cruz, C.P.
Digníssimo Bispo de São Luis de Montes
Belos
e Presidente do Regional CO da CNBB.
Recebi a vossa carta datada de 02/10/2001,
e tomo a liberdade de respondê-la, transcrevendo alguns trechos da mesma.
“Desejando ajudar no discernimento, tomo a liberdade
de escrever esta carta pessoal, reservada ao senhor, portanto, não
pública, naturalmente enviando cópia para cada bispo do Regional, como é
do meu dever”
Exmo. senhor Bispo Dom Washington Cruz, fiquei
muito feliz em receber a vossa carta; porém teria ficado ainda mais, se V. Excia. tivesse manifestado a mesma preocupação com os ataques que recebi
no dia 04 de agosto no jornal “O Popular”, ataques diretos por parte de
pessoas ligadas à Diocese de Anápolis, isto é, perseguidores sem rosto que
não se identificaram.
É importante lembrá-lo de que a atenção
deveria ser para todos, e não somente para com os superiores. Infelizmente
entre os homens existe acepção de pessoas, porém, em Deus, não há essa
injustiça: “…o Deus grande, o valente, o terrível, que não faz acepção
de pessoas e não aceita suborno” (Dt 10,17).
Sua Excia. disse que é seu dever enviar
cópia da sua carta para cada bispo do Regional, e é também meu direito,
enviar aos mesmos uma cópia desta.
“Os terríveis acontecimentos nos
Estados Unidos marcaram profundamente a nossa vida”
Realmente Exmo. senhor Bispo, é triste ver
tantos corpos mutilados e desaparecidos e famílias desesperadas, chorando
seus entes queridos; mas o pior de tudo, o que causa realmente verdadeiro
sofrimento e angústia é o seguinte:
-
Ver meninas, moças e senhoras recebendo
seminuas o Corpo de Jesus Cristo: “A atitude corporal (gestos, roupa),
há de traduzir o respeito, a solenidade, a alegria deste momento em que
Cristo se torna hóspede” (Catecismo da Igreja Católica, nº 1387).
-
Contemplar maçons recebendo e distribuindo a
Santíssima Eucaristia: Numa declaração da Sagrada Congregação para a
Doutrina da Fé, de 26 de novembro de 1983, reafirma-se a incompatibilidade
entre a doutrina maçônica e a pertença à Igreja Católica. Ainda mais,
acrescenta-se que os católicos que se inscrevem na maçonaria cometem
pecado grave. E também: “Os fiéis que pertencem às associações
maçônicas estão em estado de pecado grave e não podem aproximar-se da
Sagrada Comunhão” (idem).
-
Presenciar bispos e sacerdotes profanarem a
Santa Missa, abandonando a verdadeira e piedosa liturgia da Igreja, para
saciar os seus caprichos de inculturação com: “show-missa”, “missa do
vaqueiro”, “missa afro”, “missa cabocla”, “missa sertaneja”, etc., tirando
ou acrescentando partes no Missal Romano e cantando cânticos completamente
anti-litúrgicos: “Usem-se somente as Orações eucarísticas incluídas no
Missal Romano ou legitimamente admitidas pela Sé Apostólica, segundo as
modalidades e os limites por ela estabelecidos. Modificar as Orações
eucarísticas aprovadas pela Igreja ou adotar outras diversas de composição
privada é abuso gravíssimo” (Instrução “Inaestimabile Domum”, nº
5), e: “Uma errada aplicação do valor da criatividade e da
espontaneidade nas celebrações, mesmo se típica de tantas manifestações da
vida do vosso povo, não deve levar a alterar nem os ritos, nem os textos,
nem sobretudo o sentido do mistério que se celebra na Liturgia”
(Discursos do Santo Padre aos Bispos brasileiros por ocasião da visita ad
limina Apostolorum, 1995-1996), e também: “…mais ainda, deve-se
assinalar, corrigindo oportunamente, a introdução no rito sacramental
católico – a Santa Missa, mas também em outros sacramentos – de ritos,
cantos e objetos pertencentes explicitamente ao universo dos cultos
afro-brasileiros” (idem).
-
Contemplar bispos e padres preocupadíssimos
em usar do altar para politicar, ao invés de pregar o Santo Evangelho:
“Os ministros sagrados, bem como os religiosos e religiosas consagrados,
devem evitar cuidadosamente qualquer envolvimento pessoal no campo da
política ou do poder temporal” (Discursos do Santo Padre aos
Bispos brasileiros por ocasião da visita ad limina Apostolorum, 1995-1996);
e: “A homilia tem por fim explicar aos fiéis a Palavra de Deus,
proclamada nas leituras” (Instrução “Inaestimabile Domum”, nº 3);
e também: “Ele (o povo) quer sentir nas músicas de vossas Igrejas o
apelo ao louvor de Deus, à ação de Graças, à prece humilde e confiante e
se sente desconfortável quando esses cantos em sua letra envolvem uma
mensagem política ou puramente terrena, e em sua expressão musical não
apresentam a característica de música religiosa, mas são marcadamente
profanos no ritmo, na linha melódica e nos instrumentos musicais de
acompanhamento” (Discurso do Santo Padre aos Bispos brasileiros
por ocasião da visita ad limina Apostolorum, 1995-1996).
-
Ver bispos e padres reunindo multidões, não
para falar de Deus, e sim, para colocá-las contra os fazendeiros através
da romaria da terra: “A redução da sua missão a tarefas temporais,
puramente sociais ou políticas, ou de qualquer modo alheias, não é uma
conquista, mas uma perda gravíssima para a fecundidade evangélica da
Igreja inteira” (Diretório para o Ministério e a Vida dos
Presbíteros, nº 33); e: “Compete aos leigos a principal
responsabilidade” (Lumen Gentium, nº 36).
-
Presenciar mulheres exercendo a função de
coroinhas, infelizmente até na “Rede Vida”: “Porém, não são permitidas
às mulheres as funções de servir ao altar como acólito” (Sagrada
Congregação para o Culto Divino, Instrução Liturgiae Instaurationes, nº 7).
-
É triste e lamentável ver sacerdotes
permitirem de qualquer leigo despreparado distribuir a Santa Comunhão, enquanto
que os mesmos permanecem sentados: “O fiel, religioso ou leigo, que
está devidamente autorizado como ministro extraordinário da Eucaristia,
poderá distribuir a Comunhão somente quando faltarem o Sacerdote, o
Diácono ou o Acólito, ou quando o Sacerdote estiver por motivo de
enfermidade ou por causa da sua idade avançada, ou então quando o número
dos fiéis que se aproximam da Comunhão for tão grande que faça demorar
excessivamente a celebração da Missa. É para reprovar portanto, a atitude
daqueles Sacerdotes que, embora presentes na celebração, se abstêm de
distribuir a Comunhão deixando tal tarefa aos leigos” (Instrução
“Inaestimabile Domum”, nº 10). É também lamentável, ver leigos, na
Santa Missa, lerem o Santo Evangelho no lugar do sacerdote, e ainda
rezarem certas orações reservadas somente ao sacerdote: “A leitura da
perícope evangélica é reservada ao ministro ordenado, ou seja, ao Diácono
ou ao Sacerdote” (Instrução “Inaestimabile Domum”, nº 2);
e: “É um abuso, portanto, deixar que algumas partes da Oração
eucarística sejam ditas pelo Diácono, ou por um Ministro inferior ou pelos
simples fiéis” (Sagrada Congregação para o Culto Divino, Carta
Circular, Eucharistiae Participationem, de 27 de abril de 1973, nº 8),
é importante lembrar de que o “Per ipsum (“Por Cristo”), que também é
reservado ao Sacerdote” (Instrução “Inaestimabile Domum”, nº 4).
-
É realmente muito triste Exmo. senhor Bispo, ver
tantos católicos vivendo na ignorância religiosa, muitos nem sabem rezar o
Pai-Nosso e a Ave-Maria, e bispos e padres acomodados sem nada fazerem:
“Meu povo será destruído por falta de conhecimento” (Os 4,6);
e: “O Bispo diocesano é obrigado a propor e explicar aos fiéis as
verdades que se devem crer e aplicar aos costumes, pregando pessoalmente
com freqüência; cuide também que sejam observadas com diligência as
prescrições dos cânones sobre o ministério da palavra, principalmente a
homilia e a instrução catequética, a fim de que toda a doutrina cristã
seja ministrada a todos” (Código de Direito Canônico, nº 386 § 1),
e também: “Nestas paragens, são muitíssimos aqueles que não se tornam
cristãos, simplesmente por faltar quem os faça tais. Veio-me muitas vezes
ao pensamento ir pelas academias da Europa, particularmente a de Paris, e
por toda parte gritar como louco e sacudir aqueles que tem mais ciência do
que caridade, clamando: ‘Oh! Como é enorme o número dos que, excluídos do
céu, por vossa culpa se precipitam nos infernos!” (Das Cartas de
São Francisco Xavier, cf. Liturgia das Horas I, 3 de dezembro).
Exmo. senhor Bispo, de todas as catástrofes,
estas citadas acima são as piores, muito pior do que os ataques aos
Estados Unidos.
“Prezado irmão, pode ser que tenha
todas as razões, mas está se colocando fora da comunhão plena com o seu
legítimo pastor. “Ubi Episcopus ibi Ecclesia”. Não há como viver na
Igreja sem a reverência e a obediência que prometemos publicamente ao
bispo que nos ordenou e aos seus sucessores”.
Exmo. senhor Bispo Dom Washington Cruz, o
senhor tem pouco conhecimento sobre o que aconteceu e acontece comigo e
com a minha família religiosa para dizer tais palavras. Antes de ter
escrito estas palavras, o senhor deveria ter se informado melhor sobre o
que aconteceu e vem acontecendo conosco durante cinco anos; vejo nas
palavras de V. Excia. uma certa precipitação e imprudência. É importante
lembrar de que, a caridade não se regozija com a mentira e sim com a
verdade: “A (caridade) não se alegra com a injustiça, mas se regozija
com a verdade” ( 1 Cor 13,6). É muito fácil, Exmo.
senhor Bispo, fazer um julgamento precipitado estando fora da situação:
“Não julgueis pela aparência, mas julgai conforme a justiça” (Jo
7,24). É mais cômodo e aceitável diante dos homens, usar da
autoridade e de um cargo para tentar sufocar os súditos que lutam para
sobreviver, defendendo a própria honra. Diz um provérbio popular: “A corda
sempre arrebenta do lado mais fraco”, será que diante de Deus, que julga
com justiça, é também assim?
Se V. Excia. tem tanta certeza do que está falando, cite
por favor, quais as minhas desobediências para com o senhor
Bispo Dom Manoel. Caso o senhor não consiga citar, peça para que ele as
apresente, mas com provas.
Como eu disse na entrevista, no jornal “O Popular”, afastei
das atividades da Diocese, devido à omissão do senhor Bispo
Dom Manoel, diante das calúnias do Vigário Ilc, e só voltarei a participar
se as calúnias forem desfeitas. Será isso desobediência? Não tenho o
direito de zelar pelo meu nome? É importante V. Excia. saber que, se o
Bispo Dom Manoel é gente, eu também o sou, se ele merece respeito e
reverência como Bispo da Diocese, isto não lhe dá o direito de abusar da
sua autoridade e muito menos de ficar indiferente diante da situação já
explicada. Por mais simples que seja um sacerdote, também é filho e
ministro de Deus, e merece ser respeitado: “ Todo o homem e toda a
mulher, por mais insignificantes que pareçam, têm em si uma nobreza
inviolável, que eles próprios e os outros devem respeitar sem condições:
toda a vida humana merece por si mesma, em qualquer circunstância ser
dignificada” (Documento de Puebla, nn. 316 e 317).
Eu e minha família religiosa sempre obedecemos às ordens e
desejos do senhor Bispo Dom Manoel, e ele sabe disso,
se ele se esqueceu, podemos provar com fotografias, fitas de vídeo e
testemunhas; se a situação chegou a esse ponto, não foi devido a
desobediências, a razão já foi citada acima e na entrevista ao jornal “O
Popular” do dia 28/09/2001.
“O senhor cita o episódio de Dom
Bosco e Dom Gastalde (que precisa ser contextualizada), mas a História
da Igreja, está repleta de santos e santas que, como Cristo, “aprenderam
a obedecer” (Hb 5,8)”.
Exmo. senhor Bispo, quem leu uma vida de Dom
Bosco, conhece a dolorosa controvérsia que teve de suportar por doze anos
(1871 – 1883) com a Cúria de Turim, nomeadamente com o Arcebispo Lourenço Gastalde (até então amigo e confidente do Santo, o qual o havia proposto
com insistência a Pio IX para a Sé de Turim). Eram diferentes as
mentalidades, as idéias sobre a Igreja e sobre o modo de governar nela.
Esperava o Arcebispo que a Sociedade Salesiana continuasse diocesana e à
sua disposição... Os dois episódios mais penosos foram: a proibição feita
ao Padre Bonetti de confessar e pregar no Oratório de Santa Teresa de
Chieri, do qual era diretor, acompanhada do seu recurso à Congregação do
Concílio em Roma contra tal medida (1879); a ameaça de suspensão ao
próprio Dom Bosco após a publicação anônima de opúsculos ofensivos ao
Arcebispo (1878 – 1879). Este, pensando que fossem inspirados por Dom
Bosco e pelo Pe. Bonetti promoveu contra eles um processo diante da
Congregação. Na confusão das duas questões, o Papa Leão XIII pensou em
poder apoiar-se na humildade de Dom Bosco para resolvê-las mediante uma
acomodação. Redigiu-se em junho de 1882 uma “Concórdia” em sete artigos: o
primeiro exigia que Dom Bosco, conquanto inocente, “implorasse perdão ao
Bispo” pela possível intervenção de alguns salesianos nos incidentes
ocorridos. Dom Bosco, acreditando num primeiro momento que os artigos
fossem somente uma proposta da parte adversária, recusou-se para não
parecer dar razão às acusações que lhe eram movidas. Mas depois, como
escreveu ao Cardeal Nina, prefeito do Concílio “tendo sabido que (os
artigos) são a vontade explícita do Santo Padre, dei-me pressa em cumprir
o primeiro artigo, que dizia respeito sobretudo a mim”.
Mesmo com o pedido de perdão, o Exmo. e
Digníssimo Arcebispo Dom Lourenço Gastalde não ficou calado, mas jogava
continuamente os seus espinhos sobre Dom Bosco. O Santo escreveu ao
Cardeal Nina logo em seguida dizendo: “Uma vez que estou submetendo a
pobre Sociedade Salesiana a esta humilhação pelo menos as coisas durassem!
Mas receio muito. Vai-se propalando que Dom Bosco foi condenado, que o Pe.
Bonetti não irá mais a Chieri etc. De toda maneira agi com seriedade e
conservando silêncio vou para frente…” Turim 18 de julho de 1882.
Ao Pe. Dalmazzo, Dom Bosco escreveu o
seguinte: “…as coisas com o Arcebispo sofrem diariamente alternativas.
Hoje é tudo paz, amanhã tudo é guerra e eu aceito tudo e assim iremos
para a frente…” Turim 29 de julho de 1882.
Exmo. senhor Bispo Dom Washington Cruz, o
senhor tem toda razão em dizer: “A História da Igreja está repleta de
santos e santas que, como Cristo, “aprenderam a obedecer” (Hb
5,8). Gostaria que o senhor me explicasse, se é desobediência zelar
pelo bom nome. Será que Nosso Senhor Jesus Cristo tornou-se desobediente
quando se defendeu durante o julgamento: “Durante o julgamento de
Cristo diante do Sinédrio, um servo do Sumo Sacerdote deu uma bofetada no
Senhor, que tinha respondido a uma pergunta de Caifás. E Jesus
defendeu-se, dizendo: “Se falei mal, mostra-me em quê; mas, se falei bem,
porque me bates?” (Jo 18,23). Jesus deu-nos o exemplo de
como se deve defender a boa fama quando injustamente nos atacam”
(Curso de Teologia Moral, Ricardo Sada e Alfonso Monroy, pág. 237).
Exmo. senhor Bispo, era desobediência quando o
Bem-aventurado João Batista Scalabrini escreveu ao Cardeal Jacobini em 08
de abril de 1883, as seguintes palavras: “Chegou o momento em que devo
absolutamente justificar-me ou ser justificado. Aconselhar-me o silêncio
nesse caso, seria acrescentar ultraje a ultraje da parte do sacrílego
difamador; seria reconhecer que nada importa que a autoridade episcopal
seja jogada na lama; seria dar crédito à voz que corre de boca em boca,
que se tem medo da força oculta de certos homens astutos e que se é
incapaz de dominá-los…” e quando São Tomás de Cantalupo recorreu a
Roma apelando ao Papa Martinho IV, pelo fato de ter sido caluniado e
excomungado pelo Arcebispo de Cantuária, isso também foi desobediência?
(O Santo do Dia, Dom Servilio Conti, 09 de agosto).
“Aliás, “quem obedece cantará
vitória”. Todos acreditaram colocaram em prática as palavras de Jesus:
“Quem vos ouve a mim ouve, quem vos despreza a mim despreza”. As grandes
figuras da nossa Igreja, jamais dispensaram as mediações humanas, às
vezes tendo que lidar com situações bem difíceis e disse foi: “Prefiro
errar com a Igreja do que acertar sozinho”. Infelizmente, depois fez o
contrário”
Este trecho está ligado ao do item dois da
sua carta: “…aprenderam a obedecer.” Creio que já está bem
explicado. Além do mais, esse trecho da sua carta está cheio de citações
avulsas e sem nexo.
“Meu irmão, você pode ter grandes
coisas para oferecer à Igreja. Mas agindo desta forma, está
comprometendo a sua obra. Bispo algum, nem agora nem depois, poderá se
dispensar de exercer seu “Sagrado poder-dever” de discernir os carismas.
Dom Manoel, pacientando, está se santificando, mas o Senhor está se
auto-destruindo. Nós todos iremos passar, não apenas Dom Manoel. Mas o
Senhor permanecerá e a Igreja também”.
Graças a Deus, eu e minha família religiosa
lutamos e lutaremos sempre para oferecer o melhor para a Santa Igreja
Católica Apostólica Romana. Procuraremos fazer tudo para a glória de Deus,
sem jamais deixar transparecer em nós a mínima sombra de duplicidade, jogo
de cintura ou atitude camaleônica, buscando a santidade através da
verdade: “Dizer sempre a verdade. A duplicidade é máscara. Encobrimos
com ela a covardia e a vergonha de nos mostrarmos como somos. Sejamos
corajosos. Arranquemos todos esses disfarces. Não permitamos que o menor
sinal de inverdade apareça em nossos gestos ou nas nossas palavras”
(Fortaleza, Dom Rafael Lhano Cifuentes, pág. 66).
Exmo. senhor Bispo, nem todos os bispos são
iguais, e também não estamos pedindo que nenhum bispo omita o seu “sagrado
poder-dever” de discernir os carismas. Gostaria de saber se a omissão
e a indiferença com relação a nossa situação, também faz parte desse “sagrado
poder-dever”. Nada vi na Moral católica a respeito de que a omissão
seria uma atitude santificadora, vejo que o senhor está confundindo
paciência com omissão; e quanto a minha auto-destruição, deixe que o
próprio Jesus Cristo responda: “Com efeito, uma árvore é conhecida por
seu próprio fruto” (Lc 6,44). Assim como São João Bosco
esperou com ansiedade a vinda de outro bispo, nós também estamos ansiosos;
e, ao futuro bispo, faremos nossas as palavras de Dom Bosco: “A
Congregação será sempre toda sua” (Carta de São João Bosco ao
Arcebispo Gaetano Alimonda, 07 de agosto de 1884).
“O senhor alega que foi criticado,
caluniado. A história nos ensina que, por incrível que pareça, isso pode
ser um bem. Toda obra de Deus precisa ser testada, provada e, algumas
vezes, até mesmo purificada. “Quem perseverar até o fim, esse será
salvo” (Mt 10,23). Além do mais, Jesus chama bem-aventurados os
perseguidos”.
Como V. Excia. leu na entrevista do jornal
“O Popular”, já faz cinco anos que estamos sendo caluniados e criticados,
portanto a questão não é verificar na história as justificações, mas é um
dever zelar pelo bom nome, como ensina a própria Igreja: “…é necessário
defender-se tranqüilamente a reputação dos agravos recebidos”
(São Francisco de Sales, Filotéia, parte III, capítulo VII).
Se as calúnias viessem apenas dos leigos,
seria mais fácil guardar silêncio, mas quando vem de uma autoridade da
Igreja, as dimensões são tais que se permanecermos calados, seremos
aniquilados em pouco tempo. A defesa não é uma rebeldia, e sim um dever
como nos mostra o Bem-aventurado João Batista Scalabrini: “O opúsculo
do autor anônimo é a manifestação de um ânimo irrequieto e vaidoso,
indócil às leis da caridade e da moderação, fruto das loucuras a que
facilmente incorrem as ambições insatisfeitas e as aversões impotentes…
Se, por desgraça, o autor for realmente um bispo, pobre de sua Diocese,
infelizes os seus padres e traídos os católicos!” (Osservatore
Cattólico, 19 de dezembro de 1885).
“Antes que seja tarde demais, se
reconcilie com o seu legítimo superior eclesiástico. Aproveite a porta
que o seu bispo continua deixando aberta para um diálogo filial,
fraternal e respeitoso. Aceite as diretrizes que lhe der e as correções
que lhe fizer”.
Como eu disse na entrevista do jornal “O
Popular”, se as calúnias forem desfeitas, irei correndo; caso contrário,
permaneço como estou. Quanto ao diálogo filial, fraterno e respeitoso,
ouça por favor com muita atenção os avisos do Pe. Aluizo Lopes, na fita
cassete que lhe envio em anexo do dia 29/07/2001.
“Deus resiste aos soberbos, mas dá sua
graça aos humildes” (Tg 4,5). “Aos humildes” querido irmão, “aos
humildes”.
Ser humilde não significa engolir a lama da
calúnia: “Entretanto, aconselha o sábio que cuidemos de nosso bom nome,
porque a reputação não se funda na excelência duma virtude ou perfeição,
mas nos bons costumes e na integridade da vida; e, como a humildade não
proíbe crer que temos este merecimento comum e ordinário, também não nos
proíbe que amemos e cuidemos da reputação. É verdade que a humildade
desprezaria a fama, se não fosse necessária à caridade, mas, sendo a
reputação um dos principais fundamentos da sociedade humana e sendo nós
sem ela não só inúteis, mas até perniciosos ao bem público, pela razão do
escândalo que damos, a caridade nos obriga a desejá-la e conservá-la, e a
humildade conforma-se com esses desejos e cuidados” (São Francisco de
Sales, Filotéia, Parte III, capítulo VII).
Exmo. senhor Bispo, agora eu pergunto: teria
sido também falta de humildade:
- A defesa de Jesus Cristo
na hora de seu julgamento?
-
A atitude de Santa Cunegundes em defender a
sua honra diante de seus servos, uma vez que o caso estava se agravando a
ponto de destruir o seu matrimônio?
-
O grito do Bem-aventurado João Batista
Scalabrini: “Não calarei”, ao ser aconselhado pelo Cardeal Jacobini
de guardar silêncio diante das calúnias?
“O senhor sita um texto do Papa, mas o
Papa tem falado também sobre a virtude da humildade e recomendado aos
presbíteros a docilidade necessária para caminhar como um corpo bem
unido com o bispo.
Com toda certeza, se o Santo
Padre fosse informado dessa situação, ficaria entristecido, como
acredito que o estejam todos os bispos deste nosso Regional.”
Eu e a minha família religiosa não somos
contra a humildade, pelo contrário, rezamos insistentemente aos Corações
de Jesus e Maria para que aumente em nós essa virtude. E como escreve o
Bem-aventurado João Batista Scalabrini: “União não é omissão, silêncio
ou passividade, mas co-responsabilidade”.
Ficaria o Santo Padre, o Papa João Paulo II
ainda mais triste se descobrisse as desobediências por parte de bispos e
padres sobre aquilo que mencionei nas páginas 1, 2 e 3 desta carta.
Ao terminar esta, peço a V. Excia. que
abençoe a minha família religiosa e reze para que façamos sempre aquilo
que é agradável a Deus.
Filial e cordialmente, subscrevo-me,
Pe. Divino Antônio Lopes FP.
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