Anápolis, 19 de março de 2003
À monja Valéria Isabel da Trindade O.C.D.
Caríssima monja Valéria, recebi com muita alegria a
sua carta, espero que você escreva mais vezes, porque podemos
fazer um belíssimo e piedoso apostolado através das cartas.
A vida contemplativa levada a sério deve ser muito
bonita, porque a monja vive mergulhada no Deus Infinito, e faz tudo
para agradá-lO: “No Carmelo experimentamos a calma, a paz de
Deus. Pertencemos-lhe e estamos sob sua proteção”
(Bem-aventurada Elisabete da Santíssima Trindade).
Imagino a felicidade que você possui na alma em viver somente para
Nosso Senhor, respirar o mesmo ar que Ele respira, estar sempre em
íntima união com Ele, vivendo sempre na sua cela em total silêncio,
ocupando somente das coisas do Senhor Deus e longe das criaturas: “No
silêncio, na solidão, numa oração que nunca cessa porque se prolonga
em tudo, a carmelita já vive, como no céu, somente de Deus”
(Bem-aventurada Elisabete da Santíssima
Trindade), e a mesma diz : “A
carmelita deve ser uma pessoa amante do silêncio, mas se a sua
caneta se cala, sua alma e seu coração esquecem o espaço para
dirigir-se para junto daqueles a quem ela permanece profundamente
unida”.
Caríssima monja Valéria, recebi uma revista de Santa
Teresinha do Menino Jesus, e li com tristeza que algumas carmelitas
e padres carmelitas estão se reunindo de quatro em quatro anos para
tratar de assuntos "espirituais"; vi nessa atitude
o dedo e o rabo de Satanás. Se uma monja já possui dentro do
mosteiro o Seu Divino Esposo, que é a Alegria do seu coração, para
que viajar de avião, ônibus, carro, etc., para tratar de coisas
secundárias? Para mim, isso é o começo do fim, é o modernismo
entrando no Carmelo.
Você disse na sua carta que continua a mesma, que não
mudou nada; asseguro-lhe que isso é perigoso para a sua alma. Santa
Teresa dos Andes viveu onze meses no Carmelo e se santificou, e você
já está há três anos e diz que continua a mesma coisa. Cuidado!
Aquele que não faz progresso acaba regredindo, e com certeza Deus
lhe pedirá contas de todas as graças: “Jesus me pede a renúncia
completa de minha vontade. Se quero ser crucificada à sua
semelhança, é necessário viver a cada instante cumprindo
perfeitamente sua divina vontade, embora ela me traga sacrifício e
imolação” (Santa Teresa dos Andes).
Você perguntou como nós estamos. Graças ao Bom Deus e
sua Mãe Maria Santíssima estamos bem; rezamos como verdadeiros
monges e trabalhamos como autênticos missionários. Não corremos da
cruz nem nos escondemos por causa das perseguições, em nossas veias
corre sangue de mártires, de pessoas apaixonadas por Jesus Cristo e
verdadeiros amigos da cruz: “A cruz é o trono dos que amam a Jesus
Cristo de verdade. As cruzes, os desprezos, as dores, as aflições
são os verdadeiros tesouros dos que amam a Jesus Crucificado. A cruz
é o tesouro precioso que só pode ser conservado quando sepultado em
humilde silêncio” (Santa Margarida Maria
Alacoque).
Eu te abençôo e te guardo no Sacratíssimo Coração de
Jesus, nossa Clausura de amor.
Pe. Divino Antônio Lopes FP.
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