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            Anápolis, 20 de 
            setembro de 2006 
              
            
            À monja carmelita 
            
            Valéria Isabel da 
            Trindade 
              
            
            Caríssima monja 
            Valéria, que a Santíssima Trindade esteja presente na sua alma 
            imortal: “Ó meus Três, meu Tudo, minha Beatitude, Solidão 
            infinita, Imensidade onde me perco, entrego-me a vós como uma presa”
            (Bem-aventurada Elisabete da Santíssima Trindade, Elevação 
            à Santíssima Trindade). 
              
            
            Recebi a vossa carta 
            e fiquei muito feliz com mais esse passo que você dará na vida 
            religiosa, lembro-lhe que é mais um passo, porque para triunfar é 
            preciso ser fiel a Nosso Senhor até o fim: “Aquele, porém, que 
            perseverar até o fim, esse será salvo” (Mt 10, 22), 
            e: “Muitos começam bem, mas poucos são os que perseveram” 
            (São Jerônimo), e também: “Lançaste mão do arado: 
            principalmente a viver bem; portanto, agora, mais do que nunca, 
            deves recear e tremer...” (Santo Afonso Maria de Ligório). 
            
            No mundo existem 
            centenas de ex-monjas que começaram bem, mas não foram fiéis ao 
            Senhor Deus, e por isso fracassaram. Esteja sempre atenta para não 
            naufragar: “Sede sóbrios e vigilantes! Eis que o vosso 
            adversário, o diabo, vos rodeia como um leão a rugir, procurando a 
            quem devorar. Resisti-lhe, firmes na fé” (1 Pd 5, 8-9). 
            
            Em 2003 recebi uma 
            carta sua, onde você dizia que continuava a mesma pessoa, e eu lhe 
            escrevi no dia 19 de março de 2003: “Você disse na sua carta que 
            continua a mesma, que não mudou nada, asseguro-lhe que isso é 
            perigoso para a sua alma”. 
            
            Caríssima monja 
            Valéria, quem sabe você fez um sério exame de consciência e decidiu 
            buscar a santidade com afinco. É muito perigoso viver estacionado na 
            vida espiritual, principalmente você que é uma religiosa 
            contemplativa. São João da Cruz, o verdadeiro carmelita escreve: 
            “…no caminho da perfeição, não ir adiante é recuar; e não ir 
            ganhando é ir perdendo” (Subida do Monte Carmelo, Livro I, 
            Capítulo XI, 5). 
            
            Hoje, infelizmente, 
            muitas moças procuram os mosteiros, não porque possuem uma vocação 
            contemplativa, mas à procura de uma vida fácil e da “poltronice”. Em 
            muitos mosteiros não se reza mais, não vive uma vida de 
            sacrifício e muito menos guardam silêncio; é um ótimo 
            local para as mocinhas preguiçosas se escorarem e viverem 
            comodamente. Muitos mosteiros tornaram-se refúgio para mocinhas 
            amantes do “deus bucho”. 
            
            Prezada monja 
            Valéria, reze para que entre nos mosteiros somente moças com reta 
            intenção em servir ao Deus Eterno, e não amigas da mesa e do
            travesseiro. Penso que se Santa Teresa de Jesus voltasse 
            hoje, ela voltaria com uma vassoura para enxotar muitas amigas do 
            prato e da sesta. 
            
            Em muitos mosteiros 
            existem as irmãs conversas, irmãs tagarelas, irmãs andarilhas, etc., 
            mas, irmãs santas e de vida interior são pouquíssimas. Quem sabe, 
            você que sempre gostou da vida de sacrifício, oração,
            penitência, jejum, vigília, silêncio, 
            etc., ajudará a melhorar os mosteiros. 
            
            Rezo para que você 
            seja uma autêntica monja carmelita, para isso, aconselho-te: 
            
              
              1. Oração 
              constante: “Quem foge da oração, foge de todo o bem”
              (São João da Cruz, Ditos de Luz e Amor, 179), e: 
              “Encanta-me rezar. Desejaria que minha vida fosse uma contínua 
              oração, porque ela é a conversação que temos com Deus” 
              (Santa Teresa dos Andes, Carta 12), e também: “Na 
              montanha do Carmelo, no silêncio, na solidão, na oração que não 
              termina jamais, porque se prolonga através de todos os seus atos, 
              a carmelita já vive, como no céu” (Bem-aventurada 
              Elisabete da Santíssima Trindade, Carta 112). 
              
              2. União com 
              Deus: “Procure trazer sempre Deus presente e conservar 
              em si a pureza que Deus lhe ensina” (São João da Cruz, 
              Ditos de Luz e Amor, 140), e: “Cada dia reverencio e 
              admiro e amo mais a Santíssima Trindade. Encontrei, por fim, o 
              centro, o lugar de meu descanso e recolhimento” (Santa 
              Teresa dos Andes, Carta 109). 
              
              3. Desapego 
              das criaturas: “As honras, as riquezas não dão a 
              felicidade. Os aplausos, o carinho se apagam e se extinguem por 
              qualquer desengano. Só Deus pode nos satisfazer. Ele é a verdade e 
              o bem imutável. Ele é o amor eterno” (Santa Teresa dos 
              Andes, Diário 42), e: “Quem a tudo souber morrer terá 
              vida em tudo” (São João da Cruz, Ditos de Luz e Amor, 
              170). 
              
              4. Sacrifício: 
              “No sacrifício que se faz por Deus está a mais pura satisfação. 
              Mas isto é quando a vontade de Deus o pede” (Santa Teresa 
              dos Andes, Carta 27). 
             
            
            Caríssima monja 
            Valéria, existem muitos outros meios para ajudá-la a ser uma 
            perfeita carmelita, mas citei apenas esses quatro. 
            
            Não olhe para o 
            mosteiro carmelita como se o mesmo fosse um restaurante, 
            hotel ou ponto de ônibus. Não busque jamais uma vida de 
            comodismo e de preguiça. 
            
            A carmelita deve ser 
            simples, amiga do Calvário, apóstola da cruz e sedenta de 
            sacrifícios: “A carmelita sobe o Calvário, ali imola-se pelas 
            almas. O amor a crucifica, morre para si mesma e para o mundo. 
            Sepulta-se, e seu sepulcro é o Coração de Jesus; e dali ressuscita, 
            renasce para nova vida e vive espiritualmente unida ao mundo 
            inteiro” (Santa Teresa dos Andes, Diário 58), e: 
            “A carmelita tem sua cela separada. Ali é onde penetra como num 
            templo para sacrificar-se. Nela há uma cruz sem Cristo. É essa a 
            cruz onde ela deve morrer; nesse templo só ela penetra. Está 
            reservado só para Deus e a alma. Ali vive num completo isolamento 
            das criaturas e ocupada só com o Senhor” (Santa Teresa dos 
            Andes, Carta 51). 
            
            Será que vocês estão 
            vivendo aquilo que Santa Teresa dos Andes escreveu? Ela sim, era uma 
            carmelita autêntica, isto é, colocava em prática a Regra deixada por 
            Santa Teresa de Jesus. 
            
            Cuidado com as lobas 
            que existem dentro dos mosteiros, procure seguir o exemplo de Santa 
            Teresa de Jesus, Santa Teresinha do Menino Jesus, Bem-aventurada 
            Elisabete da Santíssima Trindade e de Santa Teresa dos Andes. 
            
            Há dois anos estive 
            em Los Andes – Chile, para venerar as relíquias de Santa Teresa dos 
            Andes; grande foi a minha surpresa quando me deparei com a Madre 
            Cecília saindo do mosteiro com outra monja para trocar de carro no 
            centro da cidade, até parecia duas “pombinhas” desorientadas fugindo 
            da solidão do mosteiro. 
            
            Rezarei pela sua 
            perseverança e para as monjas do mosteiro de Santa Teresa de Jesus, 
            ao qual você pertence. Viva radicalmente a Regra deixada pela mãe 
            Fundadora. 
            
            Eu te abençôo e te 
            guardo no Coração Santíssimo de Jesus Cristo. 
              
            
            Pe. Divino Antônio 
            Lopes FP. 
			 
             
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