MARTÍRIO DA VIRGEM MARIA
(Jo 19, 25)
“Perto da cruz de
Jesus”.
I - Motivos de
compaixão para com as dores de Nossa Senhora.
A Virgem Maria,
mulher forte e fiel permaneceu perto da cruz...
Ela estava junto da cruz... Estava firme... de pé... pelo
espaço de três horas, não desmaiada nem revoltada... Estava
ali, no Calvário, apesar dos sofrimentos desde o dia
antecedente e de toda a noite sem descanso... estava de pé
pelo espaço de três horas. Estava junto da cruz... quando
todos fugiam, outros se escondiam... quando as mais devotas
mulheres olhavam só de longe.
Imitemos o exemplo
de Nossa Senhora. Jamais abandonemos a nossa missão por
causa dos obstáculos e dificuldades
que surgirem à nossa frente... não se conquista o céu
fugindo da cruz:
“Não recebe a coroa, senão aquele que lutou
segundo as regras do jogo”
(2 Tm 2, 5), e:
“Terá maior coroa quem combate com maior paciência”
(Santo Afonso Maria de Ligório).
A Virgem
Santíssima não se afastou da cruz... o seu amor por Nosso
Senhor era verdadeiro. Que o nosso amor pelo Salvador seja
também autêntico:
“Ó Mãe amante, que nem o horror da morte pode
separar do Filho amado!”
(Vulgato Boaventura).
Permaneçamos
também perto da cruz: ela é a escada do céu... é o trono
dos verdadeiros amigos de Nosso Senhor... é o troféu dos
santos... é um bem para o corpo e para a alma... ela ergue a
nossa esperança para os bens do céu... inflama o coração no
amor de Jesus Cristo:
“Sem
cruz não há vida na terra! Chorando entramos neste mundo e
chorando havemos de sair dele!”
(Pe. Alexandrino Monteiro).
São Bernardo de
Claraval diz:
“Um homem e uma mulher, Adão e Eva, causaram
nossa ruína, convinha que um segundo Adão e uma segunda Eva,
Jesus e Maria, operassem conjuntamente a nossa salvação”.
Proporcionaram-nos juntos a vida da graça, infinitamente
mais preciosa que a do corpo:
“Ora, se não podemos
deixar de sentir as dores dos autores dos nossos dias,
quanto mais devemos compadecer-nos do Salvador e de sua
terna Mãe que suportaram tantas angústias por nossa causa!”
(Pe. Luís Bronchain).
Segundo Santo
Tomás de Aquino,
“Jesus padeceu em sua alma muito mais do que
todos os penitentes”,
foi necessário que Maria sofresse da mesma forma:
“Jesus é
chamado Rei das dores e Rei dos mártires, porque em sua vida
mortal padeceu mais que todos os outros mártires. Assim
também é Maria chamada com razão Rainha dos Mártires, visto
ter suportado o maior martírio que se possa padecer depois
das dores de seu Filho”
(Santo Afonso Maria de Ligório). Assim
como Eva esteve ao pé da árvore da ciência do bem e do mal,
Maria Santíssima conservou-se em pé junto à árvore da cruz:
“Perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe...”
(Jo 19, 25). Eva viu e participou da queda de Adão; Nossa Senhora viu o suplício de Jesus
moribundo e nele tomou parte real. E essa participação não
se pode medir e compreender senão sondando até ao fundo o
abismo das angústias e dores do Homem-Deus; o que é
impossível a uma inteligência criada.
Santo Anselmo
escreve:
“As penas interiores de Maria foram
proporcionadas à sua incompreensível ternura para com Nosso
Senhor, seu Filho e seu Deus. Na medida do seu amor, sofreu
os tormentos, os opróbrios e a morte do Redentor”.
Santo Ildefonso
escreve:
“Fica muito aquém, quem compara as dores de
Nossa Senhora às de todos os santos reunidos. O seu amor a
Jesus excedeu ao de todos os homens e por isso a sua dor foi
maior de que todas as penas suportadas por todo o gênero
humano”.
Consideremos o que
sofreram todas as gerações há seis mil anos, e teremos uma
ideia dos sofrimentos de Nossa Senhora.
II - Motivos
para sofrer com paciência em união com a Virgem Maria.
Santo Afonso Maria
de Ligório escreve:
“Na cruz,
agonizando, está o Filho... e junto à cruz a Mãe agoniza
também, toda compadecida das penas desse Filho”.
Admiremos a
constância da Virgem fiel, conservando-se de pé junto à
cruz, num mar de tribulações, qual rochedo no meio do
oceano. Ao vê-la tão resignada e corajosa, quem não se
sentiria com força para tudo suportar com paciência?
Suportemos, com
paciência, as provações de cada dia:
“Não existe coisa
mais agradável a Deus do que sofrer com paciência e paz
todas as cruzes por ele enviadas”
(Santo Afonso Maria de Ligório),
e:
“Todas as chagas do Redentor são outras tantas palavras que
nos ensinam como devemos sofrer por Ele. Esta é a sabedoria
dos santos, sofrer constantemente por Jesus; assim ficaremos
logo santos”
(São Francisco de Sales), e também:
“Todos os santos foram mártires ou pela espada ou pela
paciência. Nós podemos ser mártires sem a espada, se
guardarmos a paciência”
(São Gregório Magno).
A divina Mãe pode
suportar tantas amarguras, porque se propunha, ao sofrer, os
fins mais nobres e mais dignos dum grande coração:
“Não foi a
necessidade, mas sim, o desejo de honrar o seu Criador.
Queria por suas dores reconhecer e glorificar o soberano
domínio de Deus, três vezes santo, e sua autoridade absoluta
sobre todas as criaturas. Feliz por assim cumprir a vontade
divina e imitar a Jesus padecente, ela tinha em vista
testemunhar ao Bem supremo o amor mais constante e o
devotamento mais generoso”
(Pe. Luís Bronchain).
Católico, como
seria bom se tivéssemos esses sentimentos nas provações da
vida! Se soubéssemos respeitar os direitos de Deus sobre
nós, confessando-Lhe a nossa dependência e reconhecendo as
dívidas numerosas que contraímos com a sua justiça, não
seríamos tão pouco submissos nas adversidades e aflições.
Desde que a cruz do Redentor foi erguida no Calvário,
resgatando-nos pelas dores do Homem-Deus, a lei do
sofrimento, escrita em seu corpo ensanguentado, deveria
gravar-se em nossos corações como o foi no de Maria
Santíssima. Essa Virgem fiel não se admirou de sofrer,
embora inocente, com seu Filho inocente.
E nós, tão
culpados, poderíamos estranhar a dureza das provações neste
mundo?
É vergonhoso ouvir
pessoas revoltadas dizerem: “O que
fiz para sofrer tanto? Por que Deus não me tira desse mundo?
Peço a morte, mas ela não vem”.
Contemplemos a
Virgem Maria ao pé da cruz: silenciosa, paciente,
conformada, inocente, pura... e então nós,
pobres pecadores, suportaremos todas as provações
por amor a Deus:
“Para quem mereceu o inferno, todo sofrimento
é leve”
(Santo Afonso Maria de Ligório).
Pe. Divino Antônio
Lopes FP.
Anápolis, 17 de
junho de 2011
Bibliografia
Sagrada Escritura
São Bernardo de
Claraval, Escritos
Pe. Luís Bronchain,
Meditações para todos os dias do ano
Santo Tomás de
Aquino, Escritos
Santo Anselmo,
Escritos
Santo Ildefonso,
Escritos
Santo Afonso Maria
de Ligório, A prática do amor a Jesus Cristo; Glórias de
Maria
Pe. Alexandrino
Monteiro, Raios de luz
Vulgato Boaventura,
Escritos
São Francisco de
Sales, Escritos
São Gregório
Magno, Homilias
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