CURA DA
FILHA DE UMA MULHER CANANÉIA
(Mt 15, 21-28)
"21
Jesus, partindo dali, retirou-se para a região de Tiro e de Sidônia.
22
E eis que uma mulher Cananéia, daquela região, veio gritando:
'Senhor, filho de Davi, tem compaixão de mim: a minha filha
está horrivelmente endemoninhada'.
23
Ele, porém, nada lhe respondeu. Então os seus discípulos se
chegaram a ele e pediram-lhe: 'Despede-a, porque vem gritando atrás de
nós'.
24
Jesus respondeu: 'Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa
de Israel'.
25
Mas
ela, aproximando-se, prostrou-se diante dele e pôs-se a rogar:
'Senhor, socorre-me!'
26
Ele
tornou a responder: 'Não fica bem tirar o pão dos filhos e atirá-lo
aos cachorrinhos'.
27
Ela insistiu: 'Isso é verdade, Senhor, mas também os cachorrinhos
comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos!'
28
Diante disso, Jesus lhe disse: 'Mulher, grande é a tua fé! Seja feito
como queres!' E a partir daquele momento sua filha ficou curada".
Em Mt
15, 21 diz:
"Jesus,
partindo dali, retirou-se para a região de Tiro e de Sidônia".
São
Jerônimo
escreve: "O Salvador, depois de abandonar
os fariseus e os caluniadores, passou para o território de Tiro e
Sidônia para curar os seus habitantes, e por isso diz: 'E saindo Jesus
dali, foi para Tiro e Sidônia",
e: "Tiro e Sidônia eram cidades
habitadas pelos gentios. Porque Tiro era a metrópole dos cananeus e
Sidônia, o limite"
(Remígio), e também:
"É digna de atenção a conduta do Senhor, o qual
afastou os judeus da observância sobre os alimentos e abriu a porta
aos gentios. Assim também Pedro recebeu, numa visão, a ordem de abolir
essa lei, e imediatamente foi enviado a Cornélio (At 10, 5). Porém, se
alguém pergunta: como é que depois de haver dito o Senhor a seus
discípulos que não fossem pelos caminhos dos gentios, agora Ele mesmo
vai por esse caminho? Responderemos em primeiro lugar, que o Senhor
não estava sujeito ao preceito que deu aos discípulos, e, além disso,
porque não foi ali para pregar e por isso disse São Marcos (Mc 7, 24)
que se ocultou a si mesmo"
(São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, hom. 51,
1),
e ainda:
"Foi ali para curar os habitantes de Tiro e de Sidônia, ou seja, para
livrar do demônio a filha dessa mulher e condenar, por sua fé, a
perversidade dos escribas e dos fariseus. Dessa mulher disse o
evangelista: 'Está aqui uma mulher Cananéia, que havia saído daqueles
limites"
(Remígio).
Nosso
Senhor dirigiu-se com os apóstolos em direção noroeste, atravessando a
parte superior da Galiléia. Assim chegou ao Líbano, à região de Tiro e
Sidônia, fora da autoridade de Herodes; pertencia à Fenícia,
convertida em província romana e unida à Síria nos dias de Pompeu (64
a. C). Era uma região pagã e, segundo o historiador Flávio Josefo
(Contra Apión, 1, 13), hostil aos judeus.
Edições
Theologica comenta:
"Tiro e Sidônia são duas cidades fenícias, na costa do Mediterrâneo,
atualmente pertencentes ao Líbano. Nunca fizeram parte da Galiléia,
mas encontram-se perto da fronteira noroeste desta região. Portanto,
no tempo de Jesus estavam fora dos domínios de Herodes Antipas. Para
ali se retira o Senhor para evitar a perseguição deste e dos judeus, e
atender de modo mais intenso à formação dos Seus Apóstolos. Na região
de Tiro e Sidônia a maioria dos habitantes eram pagãos. São Mateus
chama a esta mulher 'cananéia'. Segundo o Gênesis 10, 18-19, esta
região foi uma das principais colônias dos Cananeus; São Marcos 7, 26,
chama sírio-fenícia a esta mulher. Ambos os Evangelhos põem em realce
a sua condição de pagã, com o que adquire maior relevo a sua fé no
Senhor, como aconteceu também no caso do centurião, Mt 8, 5-13".
Nosso
Senhor se retira para a região de Tiro e Sidônia, para evitar a
perseguição de Herodes e dos judeus.
Cabe a
nós imitarmos o exemplo de Cristo Jesus. Não devemos perder tempo
dando atenção aos nossos perseguidores; pelo contrário, desprezemos os
seus ataques e continuemos a fazer o bem.
Às vezes
é necessário até partirmos para regiões distantes, como aconteceu com
Nosso Senhor; mas o importante é perseverarmos no bem.
Em Mt 15,
22 diz:
"E eis
que uma mulher Cananéia, daquela região, veio gritando: 'Senhor, filho
de Davi, tem compaixão de mim: a minha filha está horrivelmente
endemoninhada".
São João
Crisóstomo escreve: "O evangelista a chama Cananéia, a fim de fazer
notar a influência que nela exercia a presença de Cristo. Os cananeus
que haviam sido expulsos para que não corrompessem os judeus, se
mostraram nesta ocasião mais sábios que os judeus, saindo fora de suas
fronteiras e aproximando-se de Cristo. Mas esta mulher, logo que se
aproximou de Cristo, não Lhe pediu mais que misericórdia. Por isso
segue: 'E chamava dizendo-Lhe: Senhor, filho de Davi, tende piedade de
mim"
(Homiliae
in Matthaeum, hom. 52, 1),
e:
"Grande fé se nota nestas palavras da Cananéia:
acreditava na divindade de Cristo quando O chama Senhor, e em sua
humanidade quando Lhe diz filho de Davi. Ela não pede nada em nome de
seus merecimentos, invoca só a misericórdia de Deus, dizendo: 'Tende
piedade'. E não disse, tende piedade de minha filha, mas de mim,
porque a dor da filha é a dor da mãe; e a fim de movê-Lo à compaixão,
Lhe conta toda a sua dor. Por isso segue: 'Minha filha está
horrivelmente atormentada pelo demônio'. Nestas palavras, ela descobre
suas feridas ao médico e a grandeza e características de sua
enfermidade. A grandeza, quando disse: 'É atormentada horrivelmente',
e as características pelas palavras: 'pelo demônio"
(Glosa).
A
intenção do Senhor era de permanecer oculto naquela região, mas não
foi possível:
"Saindo dali, foi para o território de Tiro. Entrou numa casa e não
queria que ninguém soubesse, mas não conseguiu permanecer oculto"
(Mc 7, 24).
Uma
mulher cananéia, pagã,
"ouviu
falar dele"
(Mc 7, 25), e entrou na casa onde
estava Cristo Jesus.
Aquela
mulher não se intimidou diante das pessoas ali presentes, não deixou
para depois nem pediu em voz baixa; mas prostrando-se aos pés de Nosso
Senhor gritava:
"Senhor,
filho de Davi, tem compaixão de mim: a minha filha está horrivelmente
endemoninhada".
A oração
dessa mulher é perfeita. Ela reconhece Jesus como Messias (Filho de
Davi):
"Perante a
incredulidade dos judeus, expõe a sua necessidade com palavras claras
e simples, insiste sem desanimar diante dos obstáculos e exprime
humildemente a sua petição: Tem compaixão de mim"
(Edições
Theologica).
Aprendamos da cananéia
a rezar com fé, confiança, perseverança e humildade:
"O
Senhor atendeu a oração dos humildes"
(Sl
101, 18),
e: "Deus resiste aos soberbos e dá a graça
aos humildes"
(Tg 4,
6),
e também: "Deus não houve as orações dos
soberbos, que confiam na própria força e por isso abandona-os às suas
misérias"
(Santo Afonso Maria
de Ligório), e ainda:
"Só nos vasos da confiança o
Senhor coloca o azeite de sua misericórdia"
(São Bernardo de Claraval)
, e:
"Aproximemo-nos
com confiança do trono da graça a fim de alcançarmos misericórdia e de
acharmos graça, para sermos socorridos oportunamente"
(Hb 4, 16),
e também:
"É,
pois, necessário que rezemos com humildade e confiança. Entretanto,
isto só não basta para alcançarmos a perseverança final e, com ela, a
salvação eterna. As graças particulares que pedimos a Deus, podemos
obtê-las por meio de orações particulares. Mas, se não perseverarmos
na oração, não conseguiremos a perseverança final, a qual compreende
uma cadeia de graças e, por isso, supõe orações repetidas e
continuadas até à morte"
(Santo Afonso Maria de Ligório).
Em Mt
15, 23 diz:
"Ele,
porém, nada lhe respondeu. Então os seus discípulos se chegaram a ele
e pediram-lhe: 'Despede-a, porque vem gritando atrás de nós".
São
Jerônimo escreve:
"E não lhe responde, não por um ato de soberba
semelhante à dos judeus, nem pelo orgulho próprio dos escribas, mas
por não parecer que estavam em contradição sua conduta e essas
palavras: 'Não andeis pelos caminhos dos gentios' (Mt 10, 5). Não
queria dar motivo para que O caluniassem e reservava para o tempo de
sua paixão e ressurreição a completa salvação dos gentios", e:
"Com essa demora e falta de resposta, o Senhor
nos manifesta a paciência e a perseverança da mulher. Também foi uma
das causas para não responder: Ele quis que os discípulos suplicassem
por ela, a fim de fazer-nos ver a necessidade da súplica para
conseguir algo dos santos. Por isso segue: 'E chegando os discípulos,
lhe suplicavam"
(Glosa),
e também:
"Os discípulos, que ainda não sabiam nesse
tempo os mistérios de Deus, suplicavam pela mulher Cananéia, ou
movidos à compaixão ou porque desejavam livrar-se de sua insistência"
(São Jerônimo), e ainda:
"Parece existir uma espécie de contradição entre o
que foi dito anteriormente e a narração de São Marcos, que disse que
quando veio a mulher a suplicar por sua filha, se encontrava o Senhor
numa casa. Pode crer-se que São Mateus não falou da casa e contudo,
contou o mesmo trecho. Porém, como ele refere que os discípulos
disseram ao Senhor: 'Despede-a, porque vem gritando atrás de nós',
parece indicar que a mulher dirigiu suas súplicas ao Senhor, quando
Ele andava. Deve, pois, entender-se esta passagem neste sentido: A
mulher entrou na casa onde estava o Senhor, posto que São Marcos disse
que o Senhor estava em uma casa; porém, depois das palavras que refere
São Mateus: 'E não a respondeu'. Durante esse tempo de silêncio (posto
que nenhum evangelista disse se continuou o Senhor na casa) é de
acreditar que o Senhor saiu daquela casa. Assim se enlaça tudo
perfeitamente e desaparece toda diferença entre ambos evangelistas"
(Santo Agostinho, De Consensu Evangelistarum, 2, 29),
e:
"Eu presumo que se entristeceram os discípulos
diante da desgraça da mulher, porém não se atreveram a dizer: Dá-lhe
essa graça, coisa que nos sucede com frequência. Quando queremos
persuadir a alguém, lhe dizemos muitas vezes o contrário do que
queremos. Mas, Jesus respondeu: 'Não fui enviado senão às ovelhas de
Israel"
(São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, hom. 52,
1),
e também:
"Veja a sabedoria dessa mulher. Não foi aos homens sedutores, nem
buscou fórmulas vãs, mas, deixando todas as superstições diabólicas
aproximou-se do Senhor. Não pediu a Tiago, nem suplicou a João, nem se
aproximou de Pedro; mas, amparada na proteção da penitência, correu
sozinha ao Senhor... Pede e manifesta com gritos sua dor ao Senhor que
tanto ama aos homens; o Senhor não lhe responde e por isso segue: 'E
Ele não lhe respondeu"
(Orígenes, Hom. 7 inter collectas ex
diversis locis).
A
cananéia
gritava pedindo ajuda a Nosso Senhor; mas Ele que atendia e dialogava
com todos, nesta ocasião nada respondeu:
"Olhou para ela e não disse nada... Dá a
impressão de não fazer o menor caso dela. Mas ela não desanimou. Pelo
contrário, continuou a clamar e a pedir, inclusive quando saíram da
casa onde se encontravam. Ela seguiu-os com os seus gritos e as suas
vozes" (Pe.
Francisco Fernández Carvajal).
O Senhor ia à frente e
logo atrás caminhava a mulher, aos gritos, pedindo a sua ajuda.
Cristo Jesus ficara
calado, mas ela não. Ela precisava que Ele a ajudasse, e não queria
que o Senhor fosse sem dar-lhe a ajuda.
Sabemos que Cristo
atende aos que Lhe pedem com fé, confiança, humildade e perseverança;
por isso, não desistamos nunca, mas a exemplo da cananéia, peçamos a
Nosso Senhor tudo aquilo de que necessitamos:
"Somos pobres, mas, se
pedirmos, já não somos mais pobres. Se nós somos pobres, Deus é rico.
E Deus é imensamente liberal"
(Santo Afonso Maria de Ligório),
e: "Peçamos-lhe não coisas pequenas e vis,
mas, sim, coisas grandes"
(Santo Agostinho),
e também:
"O Senhor
sente-se honrado com isso e fica tão consolado com as nossas orações,
que até, de certo modo, nos agradece. Porque assim abrimos-lhe o
caminho de seus benefícios; pois o seu desejo é fazer o bem a todos. E
podemos estar certos de que, quando pedimos alguma graça, recebemos
sempre mais do que pedimos"
(Santa Maria Madalena de Pazzi).
A cananéia não parava
de gritar e de insistir com o Senhor. Os discípulos, ouvindo tal
gritaria, disse a Cristo Jesus:
"Despede-a,
porque vem gritando atrás de nós".
Dom
Duarte Leopoldo escreve:
"É de estranhar, à primeira vista, que Jesus, habitualmente tão
bom, tão compassivo, tenha assim repelido, com tanta dureza, a esta
pobre mãe. Quem, porém, conhece o Coração do Divino Mestre, adivinha
logo que se trata de um grande mistério a realizar-se, de uma lição
proveitosa a receber. Os discípulos intercedem por esta mulher
condoídos da sua aflição. Não prova isto que é legítima a intercessão
dos Santos? Se o Divino Mestre não atendeu à súplica dos discípulos,
não foi porque a condenasse, senão por outros motivos".
Milhões
são os católicos que sofrem precisando da ajuda de Nosso Senhor. Cabe
aos sacerdotes, ministros de Deus, pedir a Cristo Jesus que socorra
essas pessoas necessitadas.
Se o
sacerdote estiver envolvido com política e com outras coisas terrenas,
com certeza o povo viverá na amargura.
Em Mt
15, 24 diz:
"Jesus respondeu: 'Eu não fui enviado senão
às ovelhas perdidas da casa de Israel".
Estas
palavras de Jesus não contradizem a universalidade da sua doutrina e
da salvação. Ele veio trazer o seu Evangelho a todo o mundo, mas
diretamente só pregaria principalmente aos judeus. Logo, os seus
discípulos de todos os tempos, por mandato de Cristo, encarregar-se-ão
de evangelizar o mundo inteiro. O próprio São Paulo, nas suas viagens
missionárias, pregou primeiro aos judeus (At 13, 46). Além disso, isto
não quer dizer que Jesus não atendesse os gentios. Nos próprios
Evangelhos vemos que curou alguns deles, que fez grandes elogios do
centurião de Cafarnaum, e que doutrinou os samaritanos, tidos pelos
judeus como gentios.
Dom
Duarte Leopoldo escreve:
"Jesus não
disse que o Messias só vinha salvar o povo judeu, mas que fora
enviado, principalmente, à casa de Israel. Aos seus discípulos
caberia, mais tarde, a missão de evangelizar os pagãos",
e:
"Não
disse isto porque não fora enviado às demais nações, mas para indicar
que foi a Israel, aonde primeiramente havia sido enviado, e depois que
este povo rejeitasse o Evangelho, o Evangelho passaria com justiça aos
gentios"
(São Jerônimo),
e
também:
"Foi
enviado particularmente ao povo de Israel, para que este recebesse sua
doutrina até com sua presença visível"
(Remígio),
e
ainda:
"E
disse com determinação: 'Às ovelhas perdidas de Israel', para que com
estas palavras compreendamos o significado da ovelha perdida de que se
fala em outra parábola (Lc 15)"
(São Jerônimo).
Em Mt
15, 25-27 diz:
"Mas ela,
aproximando-se, prostrou-se diante dele e pôs-se a rogar: 'Senhor,
socorre-me!' Ele tornou a responder: 'Não fica bem tirar o pão dos
filhos e atirá-lo aos cachorrinhos'. Ela insistiu: 'Isso é verdade,
Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa
dos seus donos!"
Diante
do silêncio de Nosso Senhor, a cananéia continuou a gritar. Agora
diante das palavras de Cristo:
"Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas
da casa de Israel",
continua a insistir; não desanima nem se afasta, mas
"... aproximando-se, prostrou-se diante dele
e pôs-se a rogar: 'Senhor, socorre-me!"
São João
Crisóstomo escreve:
"Porém, vendo a mulher que nada podiam os
apóstolos, perdeu a vergonha, feliz vergonha! Antes, não se atrevia a
apresentar-se diante do Senhor. Por isso segue: '... vem gritando
atrás de nós'. Mas quando parecia que se retiraria cheia de angústia,
então se aproxima mais do Senhor. Por isso segue: 'Mas ela veio e O
adorou"
(Homiliae
in Matthaeum, hom. 52, 2),
e:
"Note como esta mulher Cananéia O chama com
perseverança filho de Davi, em seguida Senhor e por último O adora"
(São Jerônimo),
e também:
"E por isto não disse: Roga ou suplica a Deus, mas,
ó Senhor, ajuda-me. E quanto mais aumentava a mulher suas súplicas,
menos Ele as atendia. E não chama ovelhas aos judeus, mas filhos. Mas
chama-a de cão. 'E Ele respondendo disse: não fica bem..."
(São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, hom. 52, 2),
e ainda:
"Filhos, são os judeus gerados e alimentados no
culto de um só Deus pela lei. Seu pão são o Evangelho, os milagres e
tudo quanto pertence a nossa salvação. Não é, pois, conveniente que se
tirem todas estas coisas aos filhos e se dêem aos gentios (que são os
cachorros), enquanto são repudiados pelos judeus"
(Glosa), e:
"Os gentios são chamados cachorros por causa de sua idolatria, e os
cachorros bebendo sangue e devorando os cadáveres se voltam raivosos"
(Rábano),
e também:
"Olhe a sabedoria da mulher! Não se atreveu a contradizer, nem
se entristeceu pelos louvores dos outros, nem se abateu pelas coisas
sensíveis que a lançaram no rosto. Por isso segue: 'Mas ela disse: É
verdade, Senhor; porém também os cachorros comem das migalhas que caem
das mesas de seus senhores'. Cristo havia dito: 'Não fica bem...' e
esta disse: 'Assim é, Senhor'. Cristo chama os judeus de filhos e ela
os chama de senhores. Ele chama a mulher de cachorro e ela acrescentou
a qualidade dos cachorros, como se dissera: se sou cachorro, não sou
estranha; me chama de cachorro, alimenta-me o Senhor como a um
cachorro. Eu não posso abandonar a mesa do meu Senhor"
(São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, hom. 52,
2),
e ainda:
"São louvadas a fé, a humildade e a paciência admiráveis desta
mulher. A fé, porque acreditava que o Senhor podia curar sua filha. A
paciência, porque fora desprezada muitas vezes e outras tantas
persevera em suas súplicas. A humildade, porque não só se compara aos
cachorros, mas aos cachorrinhos. Disse que eu não mereço o pão dos
filhos, nem posso tomar seus alimentos, nem sentar-me à mesa com o
pai; porém, me contento com o que é dado aos cachorrinhos, a fim de
chegar, mediante minha humildade, até a mesa onde se serve o pão
inteiro"
(São Jerônimo).
O Pe.
Francisco Fernández Carvajal comenta:
"O
Senhor não parece facilmente disposto a realizar milagres fora de
Israel. Provavelmente encontrava-se de novo na casa, à mesa. A mulher
seguiu-os todo o tempo. Diz então a esta pagã que não fica bem tomar o
pão dos filhos e dá-lo aos cachorrinhos. Evidentemente, os
filhos são os judeus e os cachorrinhos são os pagãos. E esta
mulher, que foi proposta como exemplo para as almas que não se cansam
de pedir, introduz-se com suma humildade e habilidade na semelhança
que acaba de ouvir dos lábios do Mestre, e conquista o seu coração:
Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa
dos seus donos. Ela considera-se um cachorrinho que se alimenta
das migalhas que caem da mesa do seu senhor. Reconhece a superioridade
do povo escolhido e a sua falta de méritos, mas confia na misericórdia
de Cristo, para quem conceder esta graça é como permitir que um
cachorrinho coma as migalhas da sua mesa. Com esta argumentação, não
pode já Jesus continuar com a sua fingida dureza".
Em Mt
15, 28 diz:
"Diante disso, Jesus lhe disse: 'Mulher, grande é a tua fé! Seja feito
como queres!' E a partir daquele momento sua filha ficou curada".
São João
Crisóstomo escreve:
"Por esta razão, se prolongava o Senhor. Ele
sabia que ela lhe falava dessa maneira e não queria que ficasse oculta
tão grande virtude. Por isso segue: 'Então respondeu Jesus e lhe
disse: 'Ó mulher, grande é sua fé: seja feito como queres!' Como se
dissera: tua fé pode compreender coisas maiores que estas, porém, seja
feito como queres. Observe que esta mulher influiu não pouco na cura
de sua filha, por isso não disse Cristo: Seja curada tua filha, mas:
'Tua fé é grande: seja feito como queres'. Desta maneira nos dá a
entender a simplicidade de coração com que falava essa mulher, não
para adular ao Senhor, mas para manifestar-lhe sua grande fé. Esta
palavra de Cristo é parecida àquela outra: 'Faça o firmamento e ele
foi feito' (Gn 1, 6). Por isso segue: 'E desde aquela hora foi curada
sua filha'. Olha como alcança a mulher o que não obtiveram os
apóstolos. Tão grande poder tem a insistência na oração! Deus prefere
que lhe dirijamos a Ele nossas súplicas por nossos pecados, do que
valermos das súplicas dos outros"
(Homiliae in Matthaeum,
hom. 52, 2-3),
e:
"Estas palavras nos dá um exemplo da necessidade que há de catequizar
e batizar as crianças. Porque não disse a mulher: salva a minha filha,
ou ajuda-a, mas sim, tem compaixão de mim e ajuda-me. Daqui vem o
costume da Igreja de prometer aos fiéis a fé em Deus no lugar de seus
filhos pequenos, por não ter estes a razão e a idade suficientes para
fazer a Deus essa promessa; e assim, como pela fé dessa mulher foi
curada sua filha, assim também, pela fé dos fiéis, se perdoam os
pecados das crianças. Esta mulher significa, em sentido alegórico, a
Igreja Santa, formada por todas as nações. A vinda do Senhor, depois
de abandonar os escribas e os fariseus, ao território de Tiro e
Sidônia, nos figura o abandono em que depois deixaria aos judeus e que
se passaria aos gentios. E saiu esta mulher dos confins de sua terra,
porque a Igreja Santa saiu dos erros e vícios antigos"
(Remígio),
e também:
"Penso que a filha da Cananéia representa as almas
dos fiéis, que eram cruelmente maltratadas pelo demônio, quando não
conheciam o seu Criador e adoravam as pedras"
(São Jerônimo), e ainda:
"O Senhor indica com a palavra 'filhos' aos
patriarcas e profetas daquele tempo; com a palavra 'mesa', a Sagrada
Escritura, e com 'migalhas', os preceitos leves ou os mistérios
íntimos que dão o alimento à Igreja, e com 'casca', os preceitos
carnais que observavam os judeus. Diz-se que é comida as migalhas que
estão debaixo da mesa, porque a Igreja se submete com humildade ao
cumprimento dos preceitos divinos"
(Remígio),
e:
"Os cachorros pequenos não comem as cascas, mas as migalhas do pão
das crianças, porque os que eram desprezados entre as nações,
convertendo à fé, buscam, não a superfície literal da Escritura, mas o
sentido espiritual, com o que pode adiantar em suas boas obras"
(Rábano),
e também:
"Com razão se chama grande a essa fé, porque as nações, sem
haver sido imbuídas na lei, nem haver sido instruídas pelos profetas,
obedeceram prontamente às primeiras palavras que lhes dirigiam os
apóstolos, por cuja obediência mereceram a salvação, e sem o Senhor,
adia a salvação de suas almas e não atende às primeiras súplicas da
Igreja; nunca essas almas devem desesperar-se ou deixar de suplicar,
mas ao contrário, devem insistir em suas preces"
(Idem.),
e ainda: "O não vir o Senhor às casas do
filho do centurião e da Cananéia, significa que as nações onde Ele não
fora, alcançaram a salvação por meio de sua palavra. A cura do filho
do centurião e da filha da mulher Cananéia, mediante as súplicas de
seus pais, é figura da Igreja que é mãe de todos os membros que são
seus filhos. Porque a chama mãe de todos os homens que a compõem e
estes levam o nome de filhos"
(Santo Agostinho, Quaestiones Evangeliorum, 1, 18),
e:
"Ou
também, esta mulher, que saiu dos limites de seu território, é a
primeira dos prosélitos. É dizer, saiu dentre as nações para ir ao
meio do povo que lhe era estranho; suplica por sua filha (isto é, pela
gente humilde das nações, submetidas à dominação do espírito imundo) e
chama ao Senhor filho de Davi, porque o conhecia pela lei"
(Santo Hilário, In Matthaeum, 15),
e também:
"Afinal, se alguém manchou a consciência pela imundície de algum
vício, esse tem, indubitavelmente, a sua filha horrivelmente
atormentada pelo demônio, e se alguém tem corrompido suas boas obras
com o veneno do pecado, esse também tem sua filha agitada pelas fúrias
do espírito impuro e necessita, por conseguinte, de recorrer com
súplicas e lágrimas e pedir a intercessão e o auxílio dos santos"
(Rábano).
A filha
ficou sã naquele instante. A sua perseverança e a sua humildade tinham
vencido. A mãe encontrou pouco depois a filha em casa, deitada na
cama,
"sem a tensão que tinha sofrido até este momento. Esta
teria uma vida pela frente para agradecer a sua mãe uma segunda
existência, finalmente livre. E devemos supor que procuraria mais
tarde Jesus e que se converteria depressa à fé cristã. Tinha os seus
bons motivos"
(Pe. Francisco Fernández Carvajal).
Segundo
uma tradição que remonta ao século III, ambas eram conhecidas na
comunidade cristã: a mulher chamar-se-ia Justa, e a sua filha,
Berenice (testemunhos nas obras duvidosas de Clemente Romano, MG 2,
87 e 158).
Edições
Theologica comenta:
"O diálogo é de uma beleza incomparável. Com aparente dureza Jesus
consegue assegurar a fé da Cananéia, que chega a merecer um dos
maiores elogios que saíram da boca de Jesus: 'é Grande a tua fé!",
e:
"Que
perseverança na oração e na humildade a desta mulher pagã! Enquanto
Jesus parece repeli-la, a sua fé aumenta cada vez mais. Advertida de
que se acha na mesma relação em que estão os cães para os filhos da
casa, ela replica que não pede o pão dos filhos, mas somente as
migalhas que se dão aos animais. Quando a dor nos oprime, quando a
nossa alma está desolada e aflita, em completa escuridão, sob os
golpes do infortúnio; quando já nos parece que Deus nos abandonou,
surdo às nossas súplicas, é então que é preciso rezar, rezar ainda, e
não deixar de rezar. Porque as orações que fazemos nesse estado de
alma, são de eficácia soberana, desprendem um perfume de fé e de
confiança que alegra o Coração de Jesus. Se perseverarmos na fé, na
confiança e na oração, não sairemos da prova, sem ouvir estas doces
palavras - Faça-se como queres"
(Dom Duarte Leopoldo).
A filha
dessa mulher estava endemoninhada, e a mesma se preocupou em pedir ao
Senhor que libertasse a sua filha das garras de Satanás.
Hoje,
são milhares de jovens que são escravas das drogas, bebidas e
prostituição. Será que as mães católicas se preocupam em pedir a Nosso
Senhor que liberte suas filhas de tamanha desgraça?
Muitas
mães, infelizmente, além de não ajudarem as filhas, aconselham-nas a
afundarem mais e mais nas trevas do pecado.
O que
essas mães dirão a Deus na hora do julgamento? Onde essas víboras
passarão a eternidade?
Pe.
Divino Antônio Lopes FP.
Anápolis, 28 de junho de 2007
Veja também:
...veio gritando...
Senhor, socorre-me |