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          CURA DA 
          FILHA DE UMA MULHER CANANÉIA 
          
          (Mt 15, 21-28) 
            
          
          "21
          Jesus, partindo dali, retirou-se para a região de Tiro e de Sidônia.
          
          22
          E eis que uma mulher Cananéia, daquela região, veio gritando: 
          'Senhor, filho de Davi, tem compaixão de mim: a minha filha 
          está horrivelmente endemoninhada'. 
          23
          Ele, porém, nada lhe respondeu. Então os seus discípulos se 
          chegaram a ele e pediram-lhe: 'Despede-a, porque vem gritando atrás de 
          nós'. 
          24 
          Jesus respondeu: 'Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa 
          de Israel'. 
          25
          
          Mas 
          ela, aproximando-se, prostrou-se diante dele e pôs-se a rogar: 
          'Senhor, socorre-me!' 
          26
          
          Ele 
          tornou a responder: 'Não fica bem tirar o pão dos filhos e atirá-lo 
          aos cachorrinhos'. 
          27
          Ela insistiu: 'Isso é verdade, Senhor, mas também os cachorrinhos 
          comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos!' 
          28
          
          
          Diante disso, Jesus lhe disse: 'Mulher, grande é a tua fé! Seja feito 
          como queres!' E a partir daquele momento sua filha ficou curada". 
          
            
                 
                     
                   
          
            
          
          Em Mt 
          15, 21 diz: 
          "Jesus, 
          partindo dali, retirou-se para a região de Tiro e de Sidônia". 
          
            
          
          São 
          Jerônimo 
          escreve: "O Salvador, depois de abandonar 
          os fariseus e os caluniadores, passou para o território de Tiro e 
          Sidônia para curar os seus habitantes, e por isso diz: 'E saindo Jesus 
          dali, foi para Tiro e Sidônia", 
          e: "Tiro e Sidônia eram cidades 
          habitadas pelos gentios. Porque Tiro era a metrópole dos cananeus e 
          Sidônia, o limite"
          
          (Remígio), e também: 
          "É digna de atenção a conduta do Senhor, o qual 
          afastou os judeus da observância sobre os alimentos e abriu a porta 
          aos gentios. Assim também Pedro recebeu, numa visão, a ordem de abolir 
          essa lei, e imediatamente foi enviado a Cornélio (At 10, 5). Porém, se 
          alguém pergunta: como é que depois de haver dito o Senhor a seus 
          discípulos que não fossem pelos caminhos dos gentios, agora Ele mesmo 
          vai por esse caminho? Responderemos em primeiro lugar, que o Senhor 
          não estava sujeito ao preceito que deu aos discípulos, e, além disso, 
          porque não foi ali para pregar e por isso disse São Marcos (Mc 7, 24) 
          que se ocultou a si mesmo"
          
          (São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, hom. 51, 
          1),
          
          e ainda:
          
          "Foi ali para curar os habitantes de Tiro e de Sidônia, ou seja, para 
          livrar do demônio a filha dessa mulher e condenar, por sua fé, a 
          perversidade dos escribas e dos fariseus. Dessa mulher disse o 
          evangelista: 'Está aqui uma mulher Cananéia, que havia saído daqueles 
          limites" 
          
          (Remígio). 
          
          Nosso 
          Senhor dirigiu-se com os apóstolos em direção noroeste, atravessando a 
          parte superior da Galiléia. Assim chegou ao Líbano, à região de Tiro e 
          Sidônia, fora da autoridade de Herodes; pertencia à Fenícia, 
          convertida em província romana e unida à Síria nos dias de Pompeu (64 
          a. C). Era uma região pagã e, segundo o historiador Flávio Josefo 
          (Contra Apión, 1, 13), hostil aos judeus. 
          
          Edições 
          Theologica comenta: 
          "Tiro e Sidônia são duas cidades fenícias, na costa do Mediterrâneo, 
          atualmente pertencentes ao Líbano. Nunca fizeram parte da Galiléia, 
          mas encontram-se perto da fronteira noroeste desta região. Portanto, 
          no tempo de Jesus estavam fora dos domínios de Herodes Antipas. Para 
          ali se retira o Senhor para evitar a perseguição deste e dos judeus, e 
          atender de modo mais intenso à formação dos Seus Apóstolos. Na região 
          de Tiro e Sidônia a maioria dos habitantes eram pagãos. São Mateus 
          chama a esta mulher 'cananéia'. Segundo o Gênesis 10, 18-19, esta 
          região foi uma das principais colônias dos Cananeus; São Marcos 7, 26, 
          chama sírio-fenícia a esta mulher. Ambos os Evangelhos põem em realce 
          a sua condição de pagã, com o que adquire maior relevo a sua fé no 
          Senhor, como aconteceu também no caso do centurião, Mt 8, 5-13". 
          
          Nosso 
          Senhor se retira para a região de Tiro e Sidônia, para evitar a 
          perseguição de Herodes e dos judeus. 
          
          Cabe a 
          nós imitarmos o exemplo de Cristo Jesus. Não devemos perder tempo 
          dando atenção aos nossos perseguidores; pelo contrário, desprezemos os 
          seus ataques e continuemos a fazer o bem. 
          
          Às vezes 
          é necessário até partirmos para regiões distantes, como aconteceu com 
          Nosso Senhor; mas o importante é perseverarmos no bem. 
          
            
          
          Em Mt 15,
          22 diz:
          
          "E eis 
          que uma mulher Cananéia, daquela região, veio gritando: 'Senhor, filho 
          de Davi, tem compaixão de mim: a minha filha está horrivelmente 
          endemoninhada". 
          
            
          
          São João 
          Crisóstomo escreve: "O evangelista a chama Cananéia, a fim de fazer 
          notar a influência que nela exercia a presença de Cristo. Os cananeus 
          que haviam sido expulsos para que não corrompessem os judeus, se 
          mostraram nesta ocasião mais sábios que os judeus, saindo fora de suas 
          fronteiras e aproximando-se de Cristo. Mas esta mulher, logo que se 
          aproximou de Cristo, não Lhe pediu mais que misericórdia. Por isso 
          segue: 'E chamava dizendo-Lhe: Senhor, filho de Davi, tende piedade de 
          mim"
          (Homiliae 
          in Matthaeum, hom. 52, 1),
          
          e: 
          "Grande fé se nota nestas palavras da Cananéia: 
          acreditava na divindade de Cristo quando O chama Senhor, e em sua 
          humanidade quando Lhe diz filho de Davi. Ela não pede nada em nome de 
          seus merecimentos, invoca só a misericórdia de Deus, dizendo: 'Tende 
          piedade'. E não disse, tende piedade de minha filha, mas de mim, 
          porque a dor da filha é a dor da mãe; e a fim de movê-Lo à compaixão, 
          Lhe conta toda a sua dor. Por isso segue: 'Minha filha está 
          horrivelmente atormentada pelo demônio'. Nestas palavras, ela descobre 
          suas feridas ao médico e a grandeza e características de sua 
          enfermidade. A grandeza, quando disse: 'É atormentada horrivelmente', 
          e as características pelas palavras: 'pelo demônio"
          
          (Glosa). 
          
          A 
          intenção do Senhor era de permanecer oculto naquela região, mas não 
          foi possível: 
          "Saindo dali, foi para o território de Tiro. Entrou numa casa e não 
          queria que ninguém soubesse, mas não conseguiu permanecer oculto"
          
          (Mc 7, 24). 
          
          Uma 
          mulher cananéia, pagã, 
          "ouviu 
          falar dele"
          
          (Mc 7, 25), e entrou na casa onde 
          estava Cristo Jesus. 
          
          Aquela 
          mulher não se intimidou diante das pessoas ali presentes, não deixou 
          para depois nem pediu em voz baixa; mas prostrando-se aos pés de Nosso 
          Senhor gritava:
          
          "Senhor, 
          filho de Davi, tem compaixão de mim: a minha filha está horrivelmente 
          endemoninhada". 
          
          A oração 
          dessa mulher é perfeita. Ela reconhece Jesus como Messias (Filho de 
          Davi): 
          "Perante a 
          incredulidade dos judeus, expõe a sua necessidade com palavras claras 
          e simples, insiste sem desanimar diante dos obstáculos e exprime 
          humildemente a sua petição: Tem compaixão de mim" 
          (Edições 
          Theologica). 
          
          Aprendamos da cananéia 
          a rezar com fé, confiança, perseverança e humildade: 
          "O 
          Senhor atendeu a oração dos humildes"
          (Sl 
          101, 18), 
          e: "Deus resiste aos soberbos e dá a graça 
          aos humildes" 
          (Tg 4, 
          6), 
          e também: "Deus não houve as orações dos 
          soberbos, que confiam na própria força e por isso abandona-os às suas 
          misérias"
          (Santo Afonso Maria 
          de Ligório), e ainda: 
          "Só nos vasos da confiança o 
          Senhor coloca o azeite de sua misericórdia" 
          (São Bernardo de Claraval) 
          , e: 
          "Aproximemo-nos 
          com confiança do trono da graça a fim de alcançarmos misericórdia e de 
          acharmos graça, para sermos socorridos oportunamente"
          (Hb 4, 16), 
          e também: 
          "É, 
          pois, necessário que rezemos com humildade e confiança. Entretanto, 
          isto só não basta para alcançarmos a perseverança final e, com ela, a 
          salvação eterna. As graças particulares que pedimos a Deus, podemos 
          obtê-las por meio de orações particulares. Mas, se não perseverarmos 
          na oração, não conseguiremos a perseverança final, a qual compreende 
          uma cadeia de graças e, por isso, supõe orações repetidas e 
          continuadas até à morte"
          
          (Santo Afonso Maria de Ligório). 
          
            
          
          Em Mt 
          15, 23 diz:
          
          "Ele, 
          porém, nada lhe respondeu. Então os seus discípulos se chegaram a ele 
          e pediram-lhe: 'Despede-a, porque vem gritando atrás de nós". 
          
            
          
          São 
          Jerônimo escreve:
          "E não lhe responde, não por um ato de soberba 
          semelhante à dos judeus, nem pelo orgulho próprio dos escribas, mas 
          por não parecer que estavam em contradição sua conduta e essas 
          palavras: 'Não andeis pelos caminhos dos gentios' (Mt 10, 5). Não 
          queria dar motivo para que O caluniassem e reservava para o tempo de 
          sua paixão e ressurreição a completa salvação dos gentios", e: 
          "Com essa demora e falta de resposta, o Senhor 
          nos manifesta a paciência e a perseverança da mulher. Também foi uma 
          das causas para não responder: Ele quis que os discípulos suplicassem 
          por ela, a fim de fazer-nos ver a necessidade da súplica para 
          conseguir algo dos santos. Por isso segue: 'E chegando os discípulos, 
          lhe suplicavam" 
          (Glosa),
          
          e também:
          "Os discípulos, que ainda não sabiam nesse 
          tempo os mistérios de Deus, suplicavam pela mulher Cananéia, ou 
          movidos à compaixão ou porque desejavam livrar-se de sua insistência"
          
          (São Jerônimo), e ainda:
          
          "Parece existir uma espécie de contradição entre o 
          que foi dito anteriormente e a narração de São Marcos, que disse que 
          quando veio a mulher a suplicar por sua filha, se encontrava o Senhor 
          numa casa. Pode crer-se que São Mateus não falou da casa e contudo, 
          contou o mesmo trecho. Porém, como ele refere que os discípulos 
          disseram ao Senhor: 'Despede-a, porque vem gritando atrás de nós', 
          parece indicar que a mulher dirigiu suas súplicas ao Senhor, quando 
          Ele andava. Deve, pois, entender-se esta passagem neste sentido: A 
          mulher entrou na casa onde estava o Senhor, posto que São Marcos disse 
          que o Senhor estava em uma casa; porém, depois das palavras que refere 
          São Mateus: 'E não a respondeu'. Durante esse tempo de silêncio (posto 
          que nenhum evangelista disse se continuou o Senhor na casa) é de 
          acreditar que o Senhor saiu daquela casa. Assim se enlaça tudo 
          perfeitamente e desaparece toda diferença entre ambos evangelistas"
          
          (Santo Agostinho, De Consensu Evangelistarum, 2, 29),
          
          e: 
          "Eu presumo que se entristeceram os discípulos 
          diante da desgraça da mulher, porém não se atreveram a dizer: Dá-lhe 
          essa graça, coisa que nos sucede com frequência. Quando queremos 
          persuadir a alguém, lhe dizemos muitas vezes o contrário do que 
          queremos. Mas, Jesus respondeu: 'Não fui enviado senão às ovelhas de 
          Israel"
          
          (São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, hom. 52, 
          1), 
          e também:
          
          "Veja a sabedoria dessa mulher. Não foi aos homens sedutores, nem 
          buscou fórmulas vãs, mas, deixando todas as superstições diabólicas 
          aproximou-se do Senhor. Não pediu a Tiago, nem suplicou a João, nem se 
          aproximou de Pedro; mas, amparada na proteção da penitência, correu 
          sozinha ao Senhor... Pede e manifesta com gritos sua dor ao Senhor que 
          tanto ama aos homens; o Senhor não lhe responde e por isso segue: 'E 
          Ele não lhe respondeu"
          
          (Orígenes, Hom. 7 inter collectas ex 
          diversis locis).  
          
          A 
          cananéia 
          gritava pedindo ajuda a Nosso Senhor; mas Ele que atendia e dialogava 
          com todos, nesta ocasião nada respondeu: 
          "Olhou para ela e não disse nada... Dá a 
          impressão de não fazer o menor caso dela. Mas ela não desanimou. Pelo 
          contrário, continuou a clamar e a pedir, inclusive quando saíram da 
          casa onde se encontravam. Ela seguiu-os com os seus gritos e as suas 
          vozes" (Pe. 
          Francisco Fernández Carvajal). 
          
          O Senhor ia à frente e 
          logo atrás caminhava a mulher, aos gritos, pedindo a sua ajuda. 
          
          Cristo Jesus ficara 
          calado, mas ela não. Ela precisava que Ele a ajudasse, e não queria 
          que o Senhor fosse sem dar-lhe a ajuda. 
          
          Sabemos que Cristo 
          atende aos que Lhe pedem com fé, confiança, humildade e perseverança; 
          por isso, não desistamos nunca, mas a exemplo da cananéia, peçamos a 
          Nosso Senhor tudo aquilo de que necessitamos: 
          "Somos pobres, mas, se 
          pedirmos, já não somos mais pobres. Se nós somos pobres, Deus é rico. 
          E Deus é imensamente liberal" 
          (Santo Afonso Maria de Ligório), 
          e: "Peçamos-lhe não coisas pequenas e vis, 
          mas, sim, coisas grandes" 
          (Santo Agostinho), 
          e também: 
          "O Senhor 
          sente-se honrado com isso e fica tão consolado com as nossas orações, 
          que até, de certo modo, nos agradece. Porque assim abrimos-lhe o 
          caminho de seus benefícios; pois o seu desejo é fazer o bem a todos. E 
          podemos estar certos de que, quando pedimos alguma graça, recebemos 
          sempre mais do que pedimos"
          
          (Santa Maria Madalena de Pazzi). 
          
          A cananéia não parava 
          de gritar e de insistir com o Senhor. Os discípulos, ouvindo tal 
          gritaria, disse a Cristo Jesus:
          
          "Despede-a, 
          porque vem gritando atrás de nós". 
          
          Dom 
          Duarte Leopoldo escreve: 
          "É de estranhar, à primeira vista, que Jesus, habitualmente tão 
          bom, tão compassivo, tenha assim repelido, com tanta dureza, a esta 
          pobre mãe. Quem, porém, conhece o Coração do Divino Mestre, adivinha 
          logo que se trata de um grande mistério a realizar-se, de uma lição 
          proveitosa a receber. Os discípulos intercedem por esta mulher 
          condoídos da sua aflição. Não prova isto que é legítima a intercessão 
          dos Santos? Se o Divino Mestre não atendeu à súplica dos discípulos, 
          não foi porque a condenasse, senão por outros motivos". 
          
          Milhões 
          são os católicos que sofrem precisando da ajuda de Nosso Senhor. Cabe 
          aos sacerdotes, ministros de Deus, pedir a Cristo Jesus que socorra 
          essas pessoas necessitadas. 
          
          Se o 
          sacerdote estiver envolvido com política e com outras coisas terrenas, 
          com certeza o povo viverá na amargura. 
          
            
          
          Em Mt 
          15, 24 diz:
          "Jesus respondeu: 'Eu não fui enviado senão 
          às ovelhas perdidas da casa de Israel". 
          
            
          
          Estas 
          palavras de Jesus não contradizem a universalidade da sua doutrina e 
          da salvação. Ele veio trazer o seu Evangelho a todo o mundo, mas 
          diretamente só pregaria principalmente aos judeus. Logo, os seus 
          discípulos de todos os tempos, por mandato de Cristo, encarregar-se-ão 
          de evangelizar o mundo inteiro. O próprio São Paulo, nas suas viagens 
          missionárias, pregou primeiro aos judeus (At 13, 46). Além disso, isto 
          não quer dizer que Jesus não atendesse os gentios. Nos próprios 
          Evangelhos vemos que curou alguns deles, que fez grandes elogios do 
          centurião de Cafarnaum, e que doutrinou os samaritanos, tidos pelos 
          judeus como gentios. 
          
          Dom 
          Duarte Leopoldo escreve: 
          "Jesus não 
          disse que o Messias só vinha salvar o povo judeu, mas que fora 
          enviado, principalmente, à casa de Israel. Aos seus discípulos 
          caberia, mais tarde, a missão de evangelizar os pagãos",
          e:
          
          "Não 
          disse isto porque não fora enviado às demais nações, mas para indicar 
          que foi a Israel, aonde primeiramente havia sido enviado, e depois que 
          este povo rejeitasse o Evangelho, o Evangelho passaria com justiça aos 
          gentios" 
          
          (São Jerônimo), 
          e 
          também: 
          "Foi 
          enviado particularmente ao povo de Israel, para que este recebesse sua 
          doutrina até com sua presença visível"
          
          (Remígio), 
          e 
          ainda: 
          "E 
          disse com determinação: 'Às ovelhas perdidas de Israel', para que com 
          estas palavras compreendamos o significado da ovelha perdida de que se 
          fala em outra parábola (Lc 15)"
          
          (São Jerônimo). 
          
            
          
          Em Mt 
          15, 25-27 diz: 
          "Mas ela, 
          aproximando-se, prostrou-se diante dele e pôs-se a rogar: 'Senhor, 
          socorre-me!' Ele tornou a responder: 'Não fica bem tirar o pão dos 
          filhos e atirá-lo aos cachorrinhos'. Ela insistiu: 'Isso é verdade, 
          Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa 
          dos seus donos!" 
          
            
          
          Diante 
          do silêncio de Nosso Senhor, a cananéia continuou a gritar. Agora 
          diante das palavras de Cristo:
          "Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas 
          da casa de Israel", 
          continua a insistir; não desanima nem se afasta, mas
          "... aproximando-se, prostrou-se diante dele 
          e pôs-se a rogar: 'Senhor, socorre-me!" 
          
          São João 
          Crisóstomo escreve:
          "Porém, vendo a mulher que nada podiam os 
          apóstolos, perdeu a vergonha, feliz vergonha! Antes, não se atrevia a 
          apresentar-se diante do Senhor. Por isso segue: '... vem gritando 
          atrás de nós'. Mas quando parecia que se retiraria cheia de angústia, 
          então se aproxima mais do Senhor. Por isso segue: 'Mas ela veio e O 
          adorou" 
          (Homiliae 
          in Matthaeum, hom. 52, 2), 
          e:
          "Note como esta mulher Cananéia O chama com 
          perseverança filho de Davi, em seguida Senhor e por último O adora"
          
          (São Jerônimo),
          
          e também: 
          "E por isto não disse: Roga ou suplica a Deus, mas, 
          ó Senhor, ajuda-me. E quanto mais aumentava a mulher suas súplicas, 
          menos Ele as atendia. E não chama ovelhas aos judeus, mas filhos. Mas 
          chama-a de cão. 'E Ele respondendo disse: não fica bem..."
          
          (São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, hom. 52, 2),
          
          e ainda: 
          "Filhos, são os judeus gerados e alimentados no 
          culto de um só Deus pela lei. Seu pão são o Evangelho, os milagres e 
          tudo quanto pertence a nossa salvação. Não é, pois, conveniente que se 
          tirem todas estas coisas aos filhos e se dêem aos gentios (que são os 
          cachorros), enquanto são repudiados pelos judeus" 
          (Glosa), e: 
          "Os gentios são chamados cachorros por causa de sua idolatria, e os 
          cachorros bebendo sangue e devorando os cadáveres se voltam raivosos"
          
          (Rábano), 
          e também: 
          "Olhe a sabedoria da mulher! Não se atreveu a contradizer, nem 
          se entristeceu pelos louvores dos outros, nem se abateu pelas coisas 
          sensíveis que a lançaram no rosto. Por isso segue: 'Mas ela disse: É 
          verdade, Senhor; porém também os cachorros comem das migalhas que caem 
          das mesas de seus senhores'. Cristo havia dito: 'Não fica bem...' e 
          esta disse: 'Assim é, Senhor'. Cristo chama os judeus de filhos e ela 
          os chama de senhores. Ele chama a mulher de cachorro e ela acrescentou 
          a qualidade dos cachorros, como se dissera: se sou cachorro, não sou 
          estranha; me chama de cachorro, alimenta-me o Senhor como a um 
          cachorro. Eu não posso abandonar a mesa do meu Senhor"
          
          (São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, hom. 52, 
          2), 
          e ainda: 
          "São louvadas a fé, a humildade e a paciência admiráveis desta 
          mulher. A fé, porque acreditava que o Senhor podia curar sua filha. A 
          paciência, porque fora desprezada muitas vezes e outras tantas 
          persevera em suas súplicas. A humildade, porque não só se compara aos 
          cachorros, mas aos cachorrinhos. Disse que eu não mereço o pão dos 
          filhos, nem posso tomar seus alimentos, nem sentar-me à mesa com o 
          pai; porém, me contento com o que é dado aos cachorrinhos, a fim de 
          chegar, mediante minha humildade, até a mesa onde se serve o pão 
          inteiro" 
          (São Jerônimo). 
          
          O Pe. 
          Francisco Fernández Carvajal comenta: 
          "O 
          Senhor não parece facilmente disposto a realizar milagres fora de 
          Israel. Provavelmente encontrava-se de novo na casa, à mesa. A mulher 
          seguiu-os todo o tempo. Diz então a esta pagã que não fica bem tomar o 
          pão dos filhos e dá-lo aos cachorrinhos. Evidentemente, os 
          filhos são os judeus e os cachorrinhos são os pagãos. E esta 
          mulher, que foi proposta como exemplo para as almas que não se cansam 
          de pedir, introduz-se com suma humildade e habilidade na semelhança 
          que acaba de ouvir dos lábios do Mestre, e conquista o seu coração: 
          Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa 
          dos seus donos. Ela considera-se um cachorrinho que se alimenta 
          das migalhas que caem da mesa do seu senhor. Reconhece a superioridade 
          do povo escolhido e a sua falta de méritos, mas confia na misericórdia 
          de Cristo, para quem conceder esta graça é como permitir que um 
          cachorrinho coma as migalhas da sua mesa. Com esta argumentação, não 
          pode já Jesus continuar com a sua fingida dureza". 
          
            
          
          Em Mt 
          15, 28 diz:
          
          
          "Diante disso, Jesus lhe disse: 'Mulher, grande é a tua fé! Seja feito 
          como queres!' E a partir daquele momento sua filha ficou curada". 
          
            
          
          São João 
          Crisóstomo escreve:
          "Por esta razão, se prolongava o Senhor. Ele 
          sabia que ela lhe falava dessa maneira e não queria que ficasse oculta 
          tão grande virtude. Por isso segue: 'Então respondeu Jesus e lhe 
          disse: 'Ó mulher, grande é sua fé: seja feito como queres!' Como se 
          dissera: tua fé pode compreender coisas maiores que estas, porém, seja 
          feito como queres. Observe que esta mulher influiu não pouco na cura 
          de sua filha, por isso não disse Cristo: Seja curada tua filha, mas: 
          'Tua fé é grande: seja feito como queres'. Desta maneira nos dá a 
          entender a simplicidade de coração com que falava essa mulher, não 
          para adular ao Senhor, mas para manifestar-lhe sua grande fé. Esta 
          palavra de Cristo é parecida àquela outra: 'Faça o firmamento e ele 
          foi feito' (Gn 1, 6). Por isso segue: 'E desde aquela hora foi curada 
          sua filha'. Olha como alcança a mulher o que não obtiveram os 
          apóstolos. Tão grande poder tem a insistência na oração! Deus prefere 
          que lhe dirijamos a Ele nossas súplicas por nossos pecados, do que 
          valermos das súplicas dos outros"
          (Homiliae in Matthaeum, 
          hom. 52, 2-3), 
          e: 
          "Estas palavras nos dá um exemplo da necessidade que há de catequizar 
          e batizar as crianças. Porque não disse a mulher: salva a minha filha, 
          ou ajuda-a, mas sim, tem compaixão de mim e ajuda-me. Daqui vem o 
          costume da Igreja de prometer aos fiéis a fé em Deus no lugar de seus 
          filhos pequenos, por não ter estes a razão e a idade suficientes para 
          fazer a Deus essa promessa; e assim, como pela fé dessa mulher foi 
          curada sua filha, assim também, pela fé dos fiéis, se perdoam os 
          pecados das crianças. Esta mulher significa, em sentido alegórico, a 
          Igreja Santa, formada por todas as nações. A vinda do Senhor, depois 
          de abandonar os escribas e os fariseus, ao território de Tiro e 
          Sidônia, nos figura o abandono em que depois deixaria aos judeus e que 
          se passaria aos gentios. E saiu esta mulher dos confins de sua terra, 
          porque a Igreja Santa saiu dos erros e vícios antigos"
          (Remígio),
          
          e também: 
          "Penso que a filha da Cananéia representa as almas 
          dos fiéis, que eram cruelmente maltratadas pelo demônio, quando não 
          conheciam o seu Criador e adoravam as pedras"
          
          (São Jerônimo), e ainda:
          
          "O Senhor indica com a palavra 'filhos' aos 
          patriarcas e profetas daquele tempo; com a palavra 'mesa', a Sagrada 
          Escritura, e com 'migalhas', os preceitos leves ou os mistérios 
          íntimos que dão o alimento à Igreja, e com 'casca', os preceitos 
          carnais que observavam os judeus. Diz-se que é comida as migalhas que 
          estão debaixo da mesa, porque a Igreja se submete com humildade ao 
          cumprimento dos preceitos divinos"
          
          (Remígio), 
          e: 
          "Os cachorros pequenos não comem as cascas, mas as migalhas do pão 
          das crianças, porque os que eram desprezados entre as nações, 
          convertendo à fé, buscam, não a superfície literal da Escritura, mas o 
          sentido espiritual, com o que pode adiantar em suas boas obras"
          
          (Rábano), 
          e também: 
          "Com razão se chama grande a essa fé, porque as nações, sem 
          haver sido imbuídas na lei, nem haver sido instruídas pelos profetas, 
          obedeceram prontamente às primeiras palavras que lhes dirigiam os 
          apóstolos, por cuja obediência mereceram a salvação, e sem o Senhor, 
          adia a salvação de suas almas e não atende às primeiras súplicas da 
          Igreja; nunca essas almas devem desesperar-se ou deixar de suplicar, 
          mas ao contrário, devem insistir em suas preces"
          
          (Idem.),
          
          e ainda: "O não vir o Senhor às casas do 
          filho do centurião e da Cananéia, significa que as nações onde Ele não 
          fora, alcançaram a salvação por meio de sua palavra. A cura do filho 
          do centurião e da filha da mulher Cananéia, mediante as súplicas de 
          seus pais, é figura da Igreja que é mãe de todos os membros que são 
          seus filhos. Porque a chama mãe de todos os homens que a compõem e 
          estes levam o nome de filhos"
          
          (Santo Agostinho, Quaestiones Evangeliorum, 1, 18),
          
          e: 
          "Ou 
          também, esta mulher, que saiu dos limites de seu território, é a 
          primeira dos prosélitos. É dizer, saiu dentre as nações para ir ao 
          meio do povo que lhe era estranho; suplica por sua filha (isto é, pela 
          gente humilde das nações, submetidas à dominação do espírito imundo) e 
          chama ao Senhor filho de Davi, porque o conhecia pela lei"
          
          (Santo Hilário, In Matthaeum, 15),
          
          e também:
          
          "Afinal, se alguém manchou a consciência pela imundície de algum 
          vício, esse tem, indubitavelmente, a sua filha horrivelmente 
          atormentada pelo demônio, e se alguém tem corrompido suas boas obras 
          com o veneno do pecado, esse também tem sua filha agitada pelas fúrias 
          do espírito impuro e necessita, por conseguinte, de recorrer com 
          súplicas e lágrimas e pedir a intercessão e o auxílio dos santos"
          
          (Rábano). 
          
          A filha 
          ficou sã naquele instante. A sua perseverança e a sua humildade tinham 
          vencido. A mãe encontrou pouco depois a filha em casa, deitada na 
          cama, 
          "sem a tensão que tinha sofrido até este momento. Esta 
          teria uma vida pela frente para agradecer a sua mãe uma segunda 
          existência, finalmente livre. E devemos supor que procuraria mais 
          tarde Jesus e que se converteria depressa à fé cristã. Tinha os seus 
          bons motivos"
          (Pe. Francisco Fernández Carvajal). 
          
          Segundo 
          uma tradição que remonta ao século III, ambas eram conhecidas na 
          comunidade cristã: a mulher chamar-se-ia Justa, e a sua filha, 
          Berenice (testemunhos nas obras duvidosas de Clemente Romano, MG 2, 
          87 e 158). 
          
          Edições 
          Theologica comenta: 
          "O diálogo é de uma beleza incomparável. Com aparente dureza Jesus 
          consegue assegurar a fé da Cananéia, que chega a merecer um dos 
          maiores elogios que saíram da boca de Jesus: 'é Grande a tua fé!",
          e:
          "Que 
          perseverança na oração e na humildade a desta mulher pagã! Enquanto 
          Jesus parece repeli-la, a sua fé aumenta cada vez mais. Advertida de 
          que se acha na mesma relação em que estão os cães para os filhos da 
          casa, ela replica que não pede o pão dos filhos, mas somente as 
          migalhas que se dão aos animais. Quando a dor nos oprime, quando a 
          nossa alma está desolada e aflita, em completa escuridão, sob os 
          golpes do infortúnio; quando já nos parece que Deus nos abandonou, 
          surdo às nossas súplicas, é então que é preciso rezar, rezar ainda, e 
          não deixar de rezar. Porque as orações que fazemos nesse estado de 
          alma, são de eficácia soberana, desprendem um perfume de fé e de 
          confiança que alegra o Coração de Jesus. Se perseverarmos na fé, na 
          confiança e na oração, não sairemos da prova, sem ouvir estas doces 
          palavras - Faça-se como queres"
          
          (Dom Duarte Leopoldo). 
          
          A filha 
          dessa mulher estava endemoninhada, e a mesma se preocupou em pedir ao 
          Senhor que libertasse a sua filha das garras de Satanás. 
          
          Hoje, 
          são milhares de jovens que são escravas das drogas, bebidas e 
          prostituição. Será que as mães católicas se preocupam em pedir a Nosso 
          Senhor que liberte suas filhas de tamanha desgraça? 
          
          Muitas 
          mães, infelizmente, além de não ajudarem as filhas, aconselham-nas a 
          afundarem mais e mais nas trevas do pecado. 
          
          O que 
          essas mães dirão a Deus na hora do julgamento? Onde essas víboras 
          passarão a eternidade? 
          
            
          
            
          
          Pe. 
          Divino Antônio Lopes FP. 
          
          Anápolis, 28 de junho de 2007 
              
          Veja também: 
      
          ...veio gritando... 
      
      Senhor, socorre-me    |