PRESÉPIO: PRECIOSA ESCOLA (Lc 2, 12)
“... deitado numa manjedoura”.
Católico, deixemos o mundo e seu barulho e nos aproximemos da Gruta de Belém; nesse santo lugar aprenderemos todas as virtudes de que nossa alma necessita para se salvar. Viremos as costas para o mundo, porque nesse mar de lama não aprenderemos nada de bom, nada que nos possa levar à Eternidade Feliz. Como são loucos os que perdem tempo diante das cloacas do mundo inimigo de Deus e das almas imortais. Como são felizes e sábios os que se prostram diante da Gruta de Belém para aprenderem do Divino Cordeirinho todas as virtudes. Doce Jesus Menino, é nessa Preciosa Escola que devemos estudar, e não no alarido do mundo. No frio, no humilde estábulo, como é lindo o Menino Jesus! Ó graça, ó prodígio, ó milagre... foi por nós que Ele veio. Este doce Cordeiro, este Pequenino, é o Eterno e a Verdadeira Luz, é Ele que Reina no seio do Pai e vem nos dizer tudo sobre Ele. Ó, como se está bem no silêncio, ouvindo-o ainda e sempre, alegrar-se com a paz de sua presença.
1.° Como o mistério do presépio confunde o nosso orgulho.
Católico, o Rei dos reis nasceu numa pobre e úmida gruta; por que você tanto reclama de viver numa casa simples e pobre? Por que tanto orgulho? Arranquemos do nosso coração o maldito orgulho e aprendamos do Menino Deus a viver humildemente. Ó Gruta ditosa, que tiveste a ventura de ver o Verbo divino nascido dentro de ti! Ó presépio ditoso, que tiveste a honra de receber em ti o Senhor do céu! Ó palha ditosa, que serviste de leito Àquele cujo trono é sustentado pelos Serafins! Menino Jesus, ajude-nos a imitá-lO na humildade. O mistério da cruz era uma loucura aos olhos dos gentios; também o do presépio ainda o é aos olhos dos mundanos. “Quem poderá compreender, dizem, como um Deus, a sabedoria incriada, escolheu livremente um estábulo por palácio, uma manjedoura por berço, e por companheiros inseparáveis a humilhação, o sofrimento, a pobreza, de preferência à opulência dos reis da qual poderia dispor à sua vontade? Não excede esse mistério às luzes de nossa razão?” E, com efeito, só a fé no-lo pode explicar. Tomando neste mundo a forma de uma criança, diz-nos ela, o Verbo de Deus quis desfechar um golpe mortal ao principal inimigo do gênero humano, isto é, ao orgulho. Ora, não seria talvez humilhação para nós prestarmos obediência à autoridade divina revestida de glória e majestade. Golpe profundo, porém, para o nosso espírito pretensioso é ter-nos de sujeitar a essa mesma autoridade oculta sob a forma de uma criança. E que criança, grande Deus! Uma criança expulsa de todas as hospedarias de Belém e obrigada a nascer num estábulo de animais! Uma criança privada de tudo, de sorte a não ter nem fogo, nem leito, nem paninhos para se cobrir, o mais pobre de todos os indigentes! E é ante o poder dessa criança tão fraca, tão desprovida de tudo que nos devemos inclinar! Ó confusão! Ó aniquilamento do nosso orgulho! Prostremo-nos diante do Menino Jesus... adoremos o Filho de Deus... arranquemos do nosso coração a nossa vontade própria... sejamos submissos a Ele... eliminemos do nosso interior o orgulho. Ele nasceu privado de tudo, mas nem por isso deixou de ser Deus. Não tinha fogo para aquecê-lO, mas não deixou de ser a Luz Eterna... não tinha leito e paninhos, nem por isso deixou de ser a Riqueza Infinita. Nasceu pobre, longe do aplauso e bajulação dos homens; mas não deixou de ser o Deus imenso. Para enxergar a Luz Eterna, temos que tirar dos nossos olhos a escama venenosa do orgulho. Contemplemos o presépio e aprendamos a verdadeira humildade. E até onde deve chegar a nossa submissão, o nosso aniquilamento? Até ao sacrifício do que nos é mais caro: nossas idéias, nossa ciência, nossos gostos, nossos hábitos; tudo em nós deve curvar-se e obedecer a ponto de amarmos e abraçarmos o que mais repugna à nossa natureza: a pobreza, a dor e abjeção. Ó sabedoria onipotente que quebrais de um só golpe nossa vontade soberba! Ó meu Deus! Proponho-me para esse fim: 1.° Trabalhar para submeter meu juízo, minhas inclinações, todos os meus desejos à vossa vontade e à de meus superiores. — 2.º Suportar com paciência tudo o que humilha meu espírito e contraria o meu amor próprio. — Ó Jesus, divino Infante, inspirai-me a coragem de lutar sem tréguas contra as pretensões do meu orgulho, a teimosia das minhas idéias, a insubordinação dos meus sentimentos, a suficiência da minha presunção. Fazei-me romper de vez com o orgulhoso Lúcifer, príncipe das trevas e da morte, a fim de que ande sempre na vossa luz, luz de vida, e participe da vossa ciência, ciência oculta no mistério do vosso rebaixamento.
2.º Lições de humildade e abnegação que recebemos no presépio.
“Eu sou o caminho, a verdade e a vida”, diz-nos o Senhor (Jo 14, 6). “Instruo sem o ruído de palavras, comunico num momento mais ciência do que alguém possa adquirir em muitos anos”. — Já que assim é, aproximemo-nos humildemente do presépio e digamos ao divino Menino com o profeta Samuel: “Falai, Senhor, que o vosso servo vos escuta” (1 Sm 3, 10). Ele responder-nos-á: Se não vos converterdes e vos não tornardes pequenos como as crianças, não entrareis no reino dos céus (Mt 18, 3). Quem não morre ao orgulho a ponto de se submeter à Igreja e a tudo que ela exige para a salvação, será excluído da bem-aventurança celeste. A porta do céu é baixa e estreita: É preciso ser pequeno e humilde para nela entrar. Para entrar na Vida Eterna é preciso ouvir e obedecer ao que a Mãe Igreja ordena. Não basta ouvir; é preciso colocar em prática os seus ensinamentos. Muitos, inchados pelo orgulho, desafiam a Santa Igreja e enveredam pelo caminho da perdição. Pobres infelizes! Esses só se salvarão se combaterem a soberba. Todos somos tentados de soberba. Segundo a expressão de São Francisco de Sales, esta raiz daninha só morrerá conosco. Os santos também provaram semelhantes tentações. Certa vez, o próprio São Francisco de Sales, ouvindo que louvavam um bispo, experimentou um sentimento de inveja. “Apenas me dei conta — escreve ele — peguei o sapo e o esmaguei”. Em outra circunstância perguntaram-lhe se teria abraçado o sacerdócio, no caso que tivesse recebido um ducado... Antes de responder, titubeou um pouco; o pensamento de que talvez teria preferido o ducado perseguiu-o durante certo tempo; porém, tomando consciência da loucura de tal idéia, afastou-a prontamente, como se fora tentação. Não devemos, portanto, inquietar-nos em demasia por causa destas tentações, embora sejam freqüentes. O pesar que provamos ao experimentá-las, é prova de que não consentimos nelas. Somos tentados de duas maneiras: quando realizamos algum bem, quando pecamos, ou ainda por outros motivos. Para vencer a soberba devemos rezar e valer-nos destes meios necessários: atribuir a Deus todas as nossas ações, palavras e pensamentos, começando de manhã e freqüentemente durante o dia; depois, ao surgir a tentação, digamos do fundo do coração ou na presença de Jesus Sacramentado: “Senhor, é coisa vossa! Deus somente! Louco que sou! Vai embora Satanás!” Isto se faz num instante, sem necessidade de proferir palavras, já se sabe. Assim vamos para frente, melhorando sempre. Se, porém, as coisas foram mal, não nos detenhamos em exames, digamos apenas: “São couves da minha horta!”, e afastemos a inquietação. Agindo desta forma venceremos a soberba e conquistaremos a humildade. A soberba, segundo Santo Tomás de Aquino, pode ser tomada em dois sentidos: genérico e particular. Em sentido genérico, como vício capital, ela tem parte em todos os pecados, visto que todo pecado é uma rebelião contra Deus. Em sentido particular, São Bernardo a define: “Amor desregrado à própria excelência”. Especificando: é amar desordenadamente as nossas possíveis qualidades, ou ainda tudo o que temos. Não sempre fazemos uma idéia exata da humildade, nem da soberba. Alegrar-se porque algo vai bem, por exemplo, de rezar devotamente, etc., não é soberba. É o amor desordenado que é mal. E quando esse amor é desordenado? Santo Tomás de Aquino, seguindo o pensamento de São Gregório, afirma que podemos pecar por soberba de quatro maneiras: 1. Estimando os bens que temos como se fosse coisa nossa. 2. Considerando como devido a nós, como fruto dos nossos méritos, aquilo que recebemos de Deus, quando, na verdade, após o cumprimento da nossa obrigação, cabe-nos dizer apenas: “Somos servos inúteis” (Lc 17, 10). Não é Nosso Senhor que está em dívida conosco, nós é que somos seus devedores. 3. Gloriando-nos daquilo que temos, por exemplo, da nossa inteligência. 4. Procurando aparecerem excêntricos, singulares e desprezando os outros. Católico, da mesma forma, se não mudardes as idéias mundanas e não cessardes de procurar com paixão os bens perecíveis, a vida efeminada e sensual, não compreendereis jamais os mistérios da graça; muito menos sabereis pô-los em prática. Em vez de vos contentardes com o necessário, ambicionareis o supérfluo e caireis nas garras de Satanás, em uma multidão de desejos inúteis e prejudiciais e assim na perdição (1 Tm 6, 9). — Aprendei, pois, a desprezar o que passa, a detestar os vãos prazeres, a sofrer com resignação todas as penas e a colocarem só em Cristo Jesus as vossas esperanças e o vosso amor. Contemple o presépio e veja que o lixo oferecido pelo mundo não tem sentido. O que nos podem oferecer as criaturas? Quem não se desprender das criaturas não poderá ocupar-se livremente das coisas de Deus. Quem não ama só o único, imenso e eterno Bem, permanecerá muito tempo no seu estado imperfeito. Católico, o mundo está condenado ao eterno choro, ao passo que os que, pelo desprezo do mundo, seguiram a Cristo, depois das lágrimas do exílio, verão a sua tristeza convertida em alegria. Assim nos fala o Menino de Belém. Cada um sonde o seu coração e examine: 1.º Quantas vezes o assaltam desejos de estima e vanglória, temores da abjeção, da humilhação e do desprezo; sentimentos de inveja ao ver o próximo celebrado, e de alegria maligna ao vê-lo humilhado! — 2.° A respeito do desprezo dos bens sensíveis, que não temos nós talvez a nos exprobrar! Quanta solicitude e cuidado para o temporal, quanta sensualidade e amor das comodidades em tudo o que fazemos! Não dirão os homens que a nossa única ocupação consiste em tratarmos da nossa saúde, em fugirmos das dificuldades e em gozarmos a vida presente como os que esquecem a eternidade?
Pe. Divino Antônio Lopes FP. Anápolis, 13 de dezembro de 2008
Bibliografia
Bíblia Sagrada Tomás de Kempis, Imitação de Cristo Bem-aventurada Elisabete da Trindade, Obras Completas Santo Afonso Maria de Ligório, Meditações Pe. Alexandrino Monteiro, Raios de Luz Pe. Luis Bronchain, Meditações para todos os dias do ano Bem-aventurado José Allamano, A Vida Espiritual
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