AO ENTRAR NA CASA... (Mt 2, 11)
“Ao entrar na casa...”
Maria Santíssima e São José chegaram a uma gruta, dessas tão comuns em Belém: “E justamente naquela que se dizia ter pertencido ao rei Davi” (Ângelo Antônio Dallegrave). São José levantou a lanterna que trazia. No interior viu apenas alguns animais, comendo na manjedoura. Ele dependurou a lanterna à parede, soltou os animais e cobriu de feno a manjedoura. “Ao entrar na casa...” (Mt 2, 11). Devemos expulsar da “gruta” do nosso coração a “escuridão” do pecado com a lanterna da graça santificante... onde a luz da graça entra, a “escuridão” desaparece.
Nossa Senhora ajoelhou-se em um canto para agradecer a Deus o abrigo que lhe proporcionara a si e a seu esposo. Este, por sua vez, terminada a tarefa de improvisar os leitos, juntou suas orações à da Virgem Santíssima. A luz trêmula que iluminava o ambiente fez daquela gruta, “delicioso” abrigo... sublime “capela”: – Maria era o vivo Tabernáculo do Senhor. São José, santo e fiel esposo permaneceu abismado na oração; e ela, isto é, a pequenina lanterna, a luz bruxuleante, foi morrendo, foi se apagando lentamente. “Ao entrar na casa...” (Mt 2, 11). Feliz da pessoa que expulsa da “gruta” do coração as coisas caducas e passageiras desse mundo, para transformá-la numa piedosa “capela” onde Deus habita. Como é encantador entreter-se com o Senhor nessa “gruta!”
Jesus Cristo escolheu por berço a manjedoura, por teto a gruta, abrigo dos animais. “Ao entrar na casa...” (Mt 2, 11). Aprendamos de Nosso Senhor a viver desapegados das vaidades e comodidades desse mundo... somente Ele basta: “Sou a pessoa mais feliz. Já não desejo nada porque meu ser está saciado com o Deus Amor... Quem pode fazer-me mais feliz do que Deus? N’Ele encontro tudo” (Santa Teresa dos Andes).
O Salvador escolheu uma gruta pobre... bem longe dos palácios reais e das ricas moradas dos grandes senhores. “Ao entrar na casa...” (Mt 2, 11). Infeliz da pessoa que se irrita diante da pobreza! Jesus dá-nos o exemplo de desprezar as coisas passageiras da terra: “Precisamos praticar a paciência, suportando a pobreza. É certo que é muito necessário praticar a conformidade, quando nos faltam os bens materiais. Possuindo Deus e estando unido à sua vontade, encontramos nele todos os bens” (Santo Afonso Maria de Ligório), e: “Quem não tem Deus, não tem nada; quem tem Deus, tem tudo” (Santo Agostinho).
São Justino, mártir (160 d. C.) escreve: “Jesus Cristo veio ao mundo em uma gruta, perto da aldeia de Belém” (Dial. c. Tryph. 78), e: “Mas se alguém não estiver muito convencido das profecias de Miquéias e do que narra o Evangelho sobre a infância de Jesus, pretendo ainda (sobre isso) alguma prova mais concreta, para se convencer de que Jesus nasceu em Belém, deve considerar que, em Belém, não se perdeu a tradição e é ainda mostrada a gruta onde Ele nasceu e, na gruta, a manjedoura sobre a qual foi deposto, envolto em panos. Tudo corresponde exatamente à narração do seu nascimento, feita no Evangelho. E é bem sabido naqueles arredores e bem conhecido dos inimigos da fé, que ali, naquela gruta nasceu este mesmo Jesus que pregamos e veneramos como o Cristo” (Orígenes, Contra Celsum, 1, 51). “Ao entrar na casa...” (Mt 2, 11).
José Patsch escreve: “São José limpou a gruta dos excrementos dos animais, preparou uma cama de palha limpa e fez tudo para tornar mais confortável a Maria a estada em um local tão incômodo”. “Ao entrar na casa...” (Mt 2, 11). Para viver em paz com Jesus Cristo, é preciso “varrer” com a “vassoura” de uma sincera confissão, da “gruta” do nosso coração, os “excrementos” do pecado.
Vendo a gruta, o Santo Casal fala sobre ela: “José, meu esposo, não precisamos ir mais longe; entremos nesta gruta e deixemo-nos ficar aqui. Mas como? Responde São José; não vês, minha esposa, que essa gruta é tão fria que a água escorre em toda parte? Não vês que não é uma morada para homens, senão uma estribaria para animais? Como queres passar aqui a noite e dar à luz?” (Santo Afonso Maria de Ligório). “Ao entrar na casa...” (Mt 2, 11). Hoje, infelizmente, existem milhões de corações, “grutas” frias, que são indiferentes e ingratos para com Nosso Senhor Jesus Cristo, desprezando-o com zombarias.
A gruta não estava no centro de Belém; mas sim, aos arredores. Não estavam ali homens bebendo e dançando... mas somente animais. Depois chegou o Santo Casal. “Ao entrar na casa...” (Mt 2, 11). Jesus Cristo ama os corações silenciosos, “grutas” silenciosas: “Se é difícil calar para escutar o outro falar-nos, mais difícil ainda é fazer silêncio para ouvir a voz de Deus” (São Francisco de Sales).
Cerca de 400 anos mais tarde, na gruta de Belém, se estabeleceu o grande padre da Igreja, São Jerônimo. Sua ilustre discípula Santa Paula ali construiu um claustro, onde passou a viver em companhia da sua filha Eustóquia e de um seleto grupo de damas romanas, sob a direção espiritual de São Jerônimo. Todas eram muito felizes, morando naquela tão santa solidão. Aqui São Jerônimo rezava, fazia penitência e traduzia o Antigo Testamento do hebraico para o latim, perante a insistência de sua filha espiritual a cujas numerosas perguntas respondia, esclarecendo suas dúvidas de natureza exegética. Partiram da gruta silenciosa suas cartas ardorosas, seus escritos de polêmica, que se difundiam por todo o mundo. Viveu ele feliz na sua cela durante 35 anos até ser colhido pela morte em 420. Em uma carta ao seu amigo Paulino, assim escrevia ele em 395, sobre a Santa Gruta: “Desde os tempos de Adriano até o Imperador Constantino, durante cerca de 180 anos esteve instalada uma estátua de Júpiter no local da Ressurreição, e sobre o monte Calvário, uma estátua de mármore, representando Vênus. Os perseguidores pagãos pensavam que profanando os lugares santos com os seus ídolos nos retirariam a fé na Ressurreição e na Cruz. Sobre a nossa Belém, o mais importante lugar de toda a terra, do qual o salmista canta: – A verdade se levantou da terra – (Sl 85, 12), lançava sua sombra um pequeno bosque dedicado a Thamus, isto é, Adonis, e na gruta aonde veio ao mundo o Menino Jesus, era carpido o amante de Vênus chorando” (Epist. 58 ad Paulinum). São Paulo, claro que não é São Paulo Apóstolo, escreve à sua amiga Marcela que se achava em Roma: “Deixa agora que eu vá ao casebre de Cristo e ao abrigo de Maria, porque sabemos louvar melhor aquilo que possuímos. Com que palavras, com que sentimentos devo descrever-te a Gruta do Salvador? Eis que, neste lugar tão pequeno e humilde nasceu o Criador do céu e da terra” (Ep. 46, 10, entre as cartas de São Jerônimo). “Ao entrar na casa...” (Mt 2, 11).
OBS: Essa pregação não está concluída; assim que “surgirem” novas mensagens as acrescentaremos.
Pe. Divino Antônio Lopes FP (C) Anápolis, 14 de novembro de 2017
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