VIU E CREU
(Jo 20, 8-9)
“... e viu e
creu. Pois ainda não tinham compreendido que, conforme a
Escritura, ele devia ressuscitar dos mortos”.
“E CREU”,
assim absolutamente, sem limite, em João se refere à fé em
Jesus Cristo. Aqui, pelas circunstâncias,
“a fé olha o fato da
ressurreição”
(O. Cullmann).
João põe logo o
testemunho da fé. Também ele ENTROU
“e viu, e
creu”.
VIU o sepulcro VAZIO, sem que
houvesse roubado o corpo do Senhor. E
“CREU”. Creu no que Cristo lhes havia dito de
sua ressurreição.
ACREDITOU
João antes que Pedro; no que vê
Teofilacto um símbolo do que ocorre na vida
cristã. João, segundo Teofilacto, representa
as almas contemplativas; Pedro, as ativas.
Estas, como Pedro, às vezes, pela agudeza mental ou
pelo esforço, penetram antes a verdade dos mistérios
da fé, como Pedro entrou antes que João no sepulcro; porém,
as contemplativas, por sua maior docilidade e maior união
com Deus, frequentemente recebem maior sabedoria e
inclinam-se mais prontamente no sentido da fé. Por isso,
João saiu do sepulcro CRENDO na ressurreição;
enquanto Pedro, que antes que ele havia dado conta da
situação do sepulcro, regressou para sua casa com o
espírito agitado pelo que acabava de ver. Recordemos
que não basta o nosso esforço pessoal para crer; pois a fé é
dom de Deus que só se comunica aos dóceis de pensamento e
vontade.
Santo Agostinho
comenta:
“E viu e acreditou.
Alguns, que não reparam bem, julgam assim: João acreditou
que Jesus tinha ressuscitado. Mas o que se segue não permite
que assim se pense. Pois que significa o que disse logo a
seguir: Ainda não entendiam a Escritura: que importava que
Ele ressuscitasse dentre os mortos? Não podia acreditar que
tivesse ressuscitado aquele que ele não sabia que devia
ressuscitar. Que viu, pois? Que acreditou? Viu o sepulcro
vazio, e acreditou no que a mulher dissera: que Ele tinha
sido tirado do sepulcro”.
“... e viu e
creu”.
Está claro que não basta VER (conhecer a
Sagrada Escritura, Tradição e Magistério) para se
SALVAR, mas é preciso CRER nos seus
ENSINAMENTOS. E também não basta VER
e CRER, mas é preciso VIVER
(colocar em prática) aquilo que VIU e
ACREDITOU:
“Para saber que o
conhecemos, vejamos se guardamos os seus mandamentos. Quem
diz: ‘Eu conheço a Deus’, mas não guarda os seus
mandamentos, é mentiroso, e a verdade não está nele.
Naquele, porém, guarda a sua palavra, o amor de Deus é
plenamente realizado. O critério para saber se estamos com
Jesus é este: quem diz que permanece nele, deve também
proceder como ele procedeu”
(1 Jo 2, 3-6), e:
“Por essa razão, renunciando a toda imundície e a todos os
vestígios de maldade, recebei com docilidade a Palavra que
foi plantada em vossos corações e é capaz de salvar as
vossas vidas. Tornai-vos praticantes da Palavra e não
simples ouvintes, enganando- vos a vós mesmos! Com efeito,
aquele que ouve a Palavra e não a pratica assemelha-se a um
homem que, observando o seu rosto no espelho, se limita a
observar-se e vai-se embora, esquecendo-se logo da sua
aparência. Mas aquele que considera atentamente a Lei
perfeita da liberdade e nela persevera, não sendo um ouvinte
esquecido, antes, praticando o que ela ordena, esse é
bem-aventurado naquilo que faz”
(Tg
1, 21-25), e também:
“Filhinhos, não
amemos com palavras nem com a língua, mas com ações e em
verdade”
(1 Jo 3, 18), e ainda:
“Quando os pagãos
escutam da nossa boca os pensamentos de Deus, admiram a sua
beleza e grandeza; mas, depois, quando percebem que as
nossas obras não correspondem às nossas palavras, então
mudam de idéia e começam a blasfemar dizendo que o
cristianismo é somente um mito e um engano”
(São Clemente Romano),
e:
“Jesus diz que devemos antes fazer e depois
ensinar a fazer; ele coloca a prática do bem antes do
ensino, mostrando que poderemos ensinar com proveito somente
se antes pusermos em prática tudo o que ensinamos, e jamais
fazer o contrário. Em outra ocasião Jesus dirá: ‘Médico,
cura-te a ti mesmo’. Aquele que é incapaz de orientar bem a
sua vida e procura educar os outros, corre o perigo de ser
ridicularizado por muitos; aliás, nem sequer poderá ensinar
porque as suas ações testemunharão o contrário das suas
palavras”
(São
João Crisóstomo), e também: “As
suas palavras permanecem em nós quando fazemos tudo o que
nos ordenou e desejamos o que nos prometeu; no entanto,
quando as suas palavras permanecem em nossa memória, mas em
nossa vida e nos nossos hábitos não se encontra nenhum sinal
delas, então o ramo já não faz parte da videira porque não
absorve mais a vida da sua raiz”
(Santo Agostinho).
Cumpre vivermos
segundo a fé. Se há um Deus, é preciso viver por Ele. Deus é
maior, mais importante do que tudo o que existe no universo.
Dinheiro, amor, alegrias e prazeres da terra passam. Só Deus
permanece. Crer significa descortinar Deus acima do mundo.
Na medida em que crermos em Deus, obedecemos-Lhe. Já não
pensamos mais nos próprios desejos, na própria dignidade,
mas entregamo-nos completamente nas mãos de Deus. Quem não
crê só tem em mira o dinheiro, o prazer e a própria
satisfação. Não vê a Deus, porque seus olhos estão cegos.
“Pois ainda não
tinham compreendido...”
Não haviam
compreendido bem, não estavam persuadidos. Os verbos em João
é frequente que tenham esse sentido de intensidade e
perfeição, de progresso na ação que expressam. Note-se a
antítese (oposição) entre a fé
(no singular, própria de João:
“viu e creu”)
e a ignorância (no plural, comum
dos dois:
“ainda
não tinham compreendido”).
O advérbio indica que depois compreenderam.
Só então
COMPREENDERAM eles o verdadeiro sentido das
Escrituras que prediziam a Ressurreição,
porque, habituados a ouvir o Divino Mestre falar em
parábolas à multidão, tomaram as suas predições como simples
alegorias.
A Sagrada
Escritura é como uma carta de Deus dirigida aos
homens; porém, os homens não podem interpretá-la ao
bel-prazer; mas necessitam ser conduzidos pela Igreja
Católica que é a intérprete autorizada das divinas
Escrituras, a que tem a luz e a assistência do
Espírito Santo.
“...
conforme a Escritura”.
A Escritura,
nas passagens que anuncia a ressurreição do Messias. A
Escritura tem que cumprir-se sempre, segundo
João. Por isso, porque a Escritura havia
anunciado a ressurreição: ele devia ressuscitar dos
mortos.
Não nos atrevamos,
pois, ler a Sagrada Escritura sem o sentido de
Deus e sem a união com quem tem a autoridade de Deus para
interpretá-la. Seria condenar-nos à ignorância... a erros
grosseiros sobre seu conteúdo. Esta é a causa das
caídas de quem interpreta as Escrituras fora da Igreja
Católica.
Pe. Divino Antônio
Lopes FP (C)
Anápolis, 22 de
abril de 2014
Bibliografia
Sagrada Escritura
Pe. Manuel de Tuya,
Bíblia comentada
O. Cullmann,
Escritos
G. de Rosa,
Escritos
P. Benoit,
Escritos
São João
Crisóstomo, Escritos
São Clemente
Romano, Escritos
Santo Agostinho,
Escritos
B. Lindars,
Escritos
Teofilacto,
Escritos
Pe. Alfred Barth,
Enciclopédia Catequética
Dom Duarte
Leopoldo, Concordância dos Santos Evangelhos
Dom Isidro Gomá y
Tomás, O Evangelho Explicado
Bíblia Sagrada,
Pontifício Instituto Bíblico de Roma
Pe. Juan Leal, A
Sagrada Escritura (texto e
comentário)
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