“Mas Jesus, soltando de novo um grande brado expirou”
(Mt 27, 50).
Silêncio! Silêncio porque o Doce Cordeiro está morto. Calem-se as vozes, cessem o farfalhar das árvores e o cantar dos pássaros... cessem também o murmúrio das ondas dos oceanos e das águas correntes.
Silêncio! O Amigo Jesus está morto, prostremo-nos por terra e aprendamos d’Ele realmente o que é amor:
“Sim, Jesus, vós estais louco de amor. Eu o digo e sempre direi, estais louco de amor”
(Santa Maria Madalena de Pazzi, cit. de Puccini, Vita, p. I, c. 11).
Silêncio! O Bondoso Senhor está morto na cruz; beijemos as Vossas santíssimas mãos transpassadas por grossos cravos:
“…os algozes se serviram de pregos sem ponta para que causassem dor mais violenta”
(São Bernardo de Claraval).
Silêncio! O Senhor da vida está morto... aqueles pés que caminharam pelas estradas poeirentas da Palestina agora estão transpassados por cravos pregados na cruz:
“Ó pés sacrossantos, que vos cansastes tantas vezes na busca das ovelhas perdidas, que somos nós, porque vos pregam com tanta dor nesse patíbulo?”
(Santo Afonso Maria de Ligório).
Silêncio! O Servo Sofredor está morto na cruz. Ele sofreu terrivelmente por nosso amor... Ele é o Rei dos mártires:
“A morte do Salvador foi rigoroso holocausto que Ele próprio ofereceu ao Pai para a nossa redenção; ainda que as dores e padecimentos da Sua paixão foram tão graves e fortes que qualquer outro mortal teria sucumbido a eles, a Jesus não Lhe teriam dado morte se Ele o não tivesse consentido, e se o fogo do Seu amor infinito não tivesse consumido a Sua vida. Ele foi, pois, sacrificador de Si mesmo; ofereceu-se ao Pai e imolou-se no amor…”
(São Francisco de Sales, Tratado do Amor de Deus, Livro 10, Cap. 17).
Silêncio! O Fiel Amigo está morto, de Seu bendito peito correm sangue e água. Ele é generoso, deu tudo para nos salvar:
“Ali abria-se a porta da vida, donde manaram os sacramentos da Igreja, sem os quais não se entra na verdadeira vida (…). Este segundo Adão adormeceu na cruz para que dali fosse formada uma esposa que saiu do lado d’Aquele que dormia. Oh morte que dá vida aos mortos! Que coisa mais pura que este sangue! Que ferida mais salutar que esta!”
(Santo Agostinho, In Ioann. Evang., 120, 2).
Silêncio! O Amor Eterno está na cruz, o Vosso boníssimo coração está transpassado. Ele não fala com a boca, e sim, com a chaga do lado dizendo que o amor verdadeiro nunca diz basta:
“Cristo na Cruz, com o Coração trespassado de Amor pelos homens, é uma resposta eloquente – as palavras não são necessárias – à pergunta sobre o valor das coisas e das pessoas. Pois valem tanto os homens a sua vida, a sua felicidade, que o próprio Filho de Deus se entrega para se remir, para os purificar, para os elevar!”
(São Josemaría Escrivá, Cristo que passa, 165).
Silêncio! O Rei dos reis está morto. Ele morreu na cruz e sofreu humilhação para nos salvar; ajoelhemo-nos diante d’Ele e agradeçamos por tanto amor:
“Jesus Cristo, verdadeiro Deus, amou-nos até sofrer por nós a morte na cruz… Por que não abraçamos Jesus Cristo Crucificado para morrer na cruz com Ele?”
(São Francisco de Sales, Tratado do Amor de Deus).
Silêncio criatura ingrata! Lembre-se de que é sexta-feira santa, dia de recolhimento, penitência e desagravo. Já que possuis uma vida mesquinha e um comportamento ridículo, lembre-se ao menos de que um Deus morreu na cruz para te salvar; quem sabe assim tu levarás um “choque” na consciência e enveredarás pelo bom caminho.
Não se esqueça: um Deus derramou o Preciosíssimo Sangue por ti, mas tu dizes que não liga a mínima. Cuidado! Tu não ligas a mínima, mas o Cordeiro Imaculado lhe pedirá conta de cada graça jogada fora.
Silêncio! Hoje é sexta-feira da Paixão. Que faça silêncio o santo para pedir perdão e conversão do pecador. Que faça silêncio o pecador para receber a graça do arrependimento.
Silêncio! Todos em silêncio! Silêncio no Calvário e silêncio no sepulcro.
Silêncio! Silêncio! Silêncio!
Pe. Divino Antônio Lopes FP(C)
Anápolis, 14 de abril de 2006
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