(Gravada em CD no dia 02 de maio de
2005)
Lc 10, 38: “Estando
em viagem, entrou num povoado, e certa mulher chamada Marta,
recebeu-o em sua casa”.
Nosso Senhor Jesus Cristo, o grande e
incansável missionário, deixou Jericó e foi em viagem para
Jerusalém: “Estando em viagem”
(Lc 10, 38).
Poucos quilômetros antes de chegar à cidade de Jerusalém, Ele
deteve-se em casa de seus amigos de Betânia: Marta, Maria e Lázaro.
São Lucas diz que Nosso Senhor “… entrou num
povoado”, mas o evangelista não dá o nome do povoado. O
apóstolo São João diz-nos que estas duas irmãs e Lázaro viviam em Betânia, a uns cinco quilômetros de Jerusalém:
“Havia
um
doente, Lázaro, de Betânia, povoado de Maria e de sua irmã Marta”
(Jo 11, 1).
Essa família era bem conhecida na cidade. Jesus Cristo amava muitos
estes irmãos, e ali parou muitas vezes buscando um pouco de paz e de
descanso: “Em seguida, deixando-os, saiu fora
da cidade e dirigiu-se para Betânia. E ali pernoitou”
(Mt 21, 17),
em Jo 12, 1-2 diz: “Seis dias antes da Páscoa,
Jesus foi a Betânia, onde estava Lázaro, que ele ressuscitara dos
mortos. Ofereceram-lhe aí um jantar; Marta servia e Lázaro era um
dos que estavam à mesa com ele”. Entre Marta, Maria e Lázaro,
Jesus Cristo encontrava-se com gosto. Tratavam-no sempre bem, e era
recebido em qualquer dia e a qualquer hora com alegria e afeto. E
Jesus Cristo foi recebido com respeito por Marta:
“…
e certa mulher, chamada Marta, recebeu-o em sua casa”
(Mt 10, 38).
O trabalho devia ser abundante. Atender um grupo tão numeroso, ainda
que a tivessem avisado com certa antecedência, não era tarefa fácil.
E Marta ocupava-se com eficácia em preparar o conveniente.
E você católico? Você recebe Jesus
Cristo com alegria e respeito no vosso coração? A exemplo de Marta,
o vosso coração está sempre com a porta aberta para receber a Nosso
Senhor?
Lc 10, 39: “Sua
irmã, chamada Maria, ficou sentada aos pés do Senhor,
escutando-lhe a palavra”.
Maria preferiu ficar sentada aos pés de
Jesus Cristo, e se alimentar das palavras que saíam de seus lábios,
palavras de verdade e de consolo. Santo Agostinho escreve:
“Maria
preferiu alimentar-se do que dizia o Senhor. Não reparou de certo
modo na agitação contínua de sua irmã e sentou-se aos pés de Jesus,
sem fazer outra coisa senão escutar as suas palavras. Tinha
compreendido de forma fidelíssima o que diz o Salmo 46, 11:
“Descansai e vede que Eu sou o Senhor”. Marta consumia-se, Maria
alimentava-se; aquela abraçava muitas coisas, esta só atendia a uma.
Ambas as coisas são boas”.
E você católico, será que você reserva
um ou mais horários por dia para dialogar com Deus através de uma
oração fervorosa, ou prefere passar o dia correndo, igual a uma
barata tonta, preocupado somente com os afazeres? Lembre-se de que é
na oração perseverante que você encontrará força e coragem para
vencer os obstáculos da vida, e também ânimo para percorrer com
convicção e fé o caminho da salvação, permanecendo sempre unido a
Cristo Senhor, como escreve São Josemaría Escrivá:
“Ai
está ela, (Maria), bebendo as palavras do Mestre. Em aparente
inatividade, reza e ama – depois, acompanha Jesus em suas pregações
por cidades e aldeias; sem oração, como é difícil acompanhá-lo!”
Lc 10, 40: “Marta
estava ocupada pelo muito serviço. Parando, por fim, disse: ‘Senhor, a ti não importa que minha irmã me deixe assim sozinha a
fazer o serviço? Dize-lhe, pois, que me ajude”.
Está claro que Marta quis preparar uma
refeição para Jesus Cristo e para quem O acompanhava, cansados
depois de uma longa viagem por aqueles caminhos duros e poeirentos.
Enquanto isso, sua irmã, Maria, permanecia sentada aos pés de Jesus
Cristo, ouvindo-O. Marta não suportou ver a sua irmã, ali sentada, e
a mesma, como escreve o Pe. Francisco Fernández-Carvajal:
“…
como se Maria, sentada aos pés de Jesus, a irritasse”, diz a Nosso
Senhor: “Senhor, a ti não importa que minha irmã me deixe assim
sozinha a fazer o serviço? Dize-lhe, pois, que me ajude”.
Marta possui muita confiança em Jesus
Cristo, ao ponto de Lhe pedir abertamente que mandasse Maria
ajudá-la: “Senhor, a ti não importa?”,
e depois:“Dize-lhe, pois, que me ajude”.
Estas palavras supõem uma grande amizade com o Mestre e ensinam a
tratá-lO com confiança.
Durante muito tempo, Marta foi
considerada como figura e imagem da vida ativa, enquanto Maria
encarnava o símbolo da vida contemplativa. No entanto, para a
maioria dos cristãos que devem santificar-se no meio das sua tarefas
seculares, esses dois tipos não podem ser considerados dois modos
apostos de viver o cristianismo. Em primeiro lugar, porque não teria
sentido uma vida de trabalho, mergulhada nos negócios, no estudo, ou
preocupada pelos problemas do lar, que se esquecesse de Deus; por
outro lado, porque haveria sérios motivos para duvidar da
sinceridade de uma vida de oração que não se manifestasse num
trabalho realizado com maior perfeição e com uma caridade mais fina,
porque aquele que reza, não consegue ficar parado.
O estudo, os problemas que se apresentam
numa vida normal, longe de serem obstáculo, devem ser meio e ocasião
de um trato afetuoso com Nosso Senhor. São Josemaría Escrivá diz:
“Sejamos
almas contemplativas, absolvidas num diálogo constante com Deus,
procurando a intimidade com o Senhor a toda a hora; pondo
continuamente o nosso coração em Jesus Cristo, Nosso Senhor…”
Os afazeres profissionais, as aspirações
nobres, as preocupações… devem alimentar o nosso diálogo diário com
Jesus Cristo, e não nos separar d’Ele, porque n’Ele encontraremos a
verdadeira força e o mais sincero apoio.
A chave está, pois em saber unir essas
duas vidas, sem prejuízo nem de uma nem da outra. Esta união
profunda entre ação e contemplação, pode viver-se de modos muito
diversos, segundo a vocação concreta que cada um recebe de Deus. O
trabalho, longe de ser obstáculo, há de ser meio e ocasião de uma
intimidade com Nosso Senhor, que é o mais importante; e São
Josemaría Escrivá diz: “Não há outro caminho…
ou sabemos encontrar o Senhor na nossa vida corrente, ou nunca O
encontraremos”.
Lc 10, 41-42: “O
senhor, porém, respondeu: ‘Marta, Marta, tu te inquietas e te
agitas por muitas coisas; no entanto, pouca coisa é necessária,
até mesmo uma só. Maria, com efeito, escolheu a melhor parte, que
não lhe será tirada”.
Podemos imaginar facilmente Jesus Cristo
dirigir a Marta, esta afetuosa recriminação: “Marta,
Marta, tu te inquietas e te agitas por muitas coisas”. O Pe.
Francisco Fernández-Carvajal escreve: “É como
se lhe dissesse: Marta, estás ocupada em muitos afazeres, mas estás
a esquecer-te de Mim; estás ocupada com tarefas necessárias, mas
estás a descuidar de algo mais essencial”.
Jesus Cristo disse para Marta:
“…
pouca coisa é necessária, até mesmo uma só”, isto é,o amor a
Deus e a santidade pessoal, fora isto, tudo é ilusão e perda de
tempo. "Quando Nosso Senhor é o objetivo da nossa vida durante as
vinte e quatro horas do dia, trabalhamos mais e melhor. Este é o fio
forte que, como num colar de pérolas finas, une todas as obras do
dia; assim evitamos a vida dupla: uma para Deus e outra dedicada às
tarefas no meio do mundo"
(Pe. Francisco Fernández-Carvajal). Lembre-se católico, de que não existem
dois deuses: um para as tarefas e outro para a oração; existe sim,
somente um Deus, e precisamos caminhar na presença d’Ele durante
todo o dia, nos afazeres e na oração.
O Papa João Paulo II escreve:
“Na
existência do cristão, não pode haver duas vidas paralelas: por um
lado, a vida chamada espiritual, com os seus valores e exigências;
e, por outro lado, a chamada vida secular, ou seja, a vida da
família, do trabalho, das relações sociais, do empenho político e da
cultura; a vide (vara de videira), incorpora na videira que é
Cristo, dá os seus frutos em todos os ramos da atividade e da
existência”.
Católico, é preciso evitar, custe o que
custar, a falsa piedade, essa que lembra de Deus só quando está em
oração; é preciso também lembrar de Nosso Senhor durante as tarefas,
é preciso estar unido a Ele vinte e quatro horas por dia, como
escreve o Pe. Francisco Fernández-Carvajal: “Os
acontecimentos diários, a intensidade no trabalho, o cansaço, as
relações com os outros, são circunstâncias que se oferecem para
praticarmos não só as virtudes humanas, mas também as sobrenaturais.
Temos Jesus muito perto de nós, como Marta. Acompanha-nos no lar, no
escritório… quando vamos para a rua. Não deixemos de referir à sua
Pessoa tudo o que nos acontece ao longo da jornada”.
Nosso Senhor disse para Marta:
“Uma
só coisa é necessária”; isto é, a amizade crescente com Jesus
Cristo. Cassiano escreve: “Este deve ser o
objetivo e o desígnio constante do nosso coração… Tudo o que o
afasta disso, por grande que possa parecer, deve ocupar um lugar
secundário, ou, para dizê-lo melhor, o último de todos. Devemos
considerá-lo como um dano positivo”.
Católico, "...o maior bem que podemos
prestar à família, ao trabalho, aos nossos amigos…, à sociedade, é o
cuidado desses meios que nos unem a Jesus Cristo: a presença de Deus
durante o dia – alimentada por atos de amor, de desagravo, de ações
de graças... –, o empenho na meditação diária, a Confissão freqüente
cheia de contrição, etc. E o maior mal…, é o descuido desses meios
que nos aproximam de Jesus Cristo, coisa que pode acontecer por
desordem, por tibieza, etc"
(Pe. Francisco
Fernández-Carvajal). Santo Inácio de Antioquia escrevia a São
Policarpo que devemos desejar este trato amistoso com Deus
“da
mesma forma que o piloto deseja ventos favoráveis e o marinheiro
surpreendido pela tempestade suspira pelo porto”.
Católico, não perca jamais a intimidade
com Deus, independente da sua ocupação, porque o trato sincero com
Jesus Cristo, enriquece todas as atividades.
"Assim que você perceber que a
multiplicidade de afazeres, e a urgência dos problemas tendem a
afogar o tempo que você dedica especialmente a Deus, ouça na
intimidade de Jesus Cristo: Uma só coisa é necessária"(Pe.
Francisco Fernández-Carvajal). A busca da
santidade é a primeira coisa que se deve procurar nesta vida, a que
sempre deve estar em primeiro lugar: “Buscai,
pois, em primeiro lugar, o reino de Deus e a sua justiça, e tudo o
resto será dado por acréscimo”
(Mt 6, 33).
O Cônego Duarte Leopoldo escreve:
“Uma
só coisa é necessária… isto é, a salvação eterna, o conhecimento de
Deus, o seu amor. Jesus não condena a atividade de Marta, deseja-lhe
apenas mais recolhimento e menos dissipação no trabalho. A oração
vale mais que o trabalho, quando este não é obrigatório. Unidos e
sabiamente combinados entre si, fazem a perfeição da vida, pois são
igualmente indispensáveis. Em uma palavra, é preciso trabalhar, sem
perder de vista a salvação eterna”.
Católico, agradeça a Jesus Cristo por
ter-lhe ajudado a compreender que “uma só
coisa é necessária”.
"Peçamos à Virgem Maria que nunca
percamos de vista a Jesus Cristo, enquanto procuramos realizar com
perfeição os nossos afazeres"
(Pe.
Francisco Fernández-Carvajal).
Pe. Divino Antônio
Lopes FP.
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