VI

 

 Método de São Leonardo de Porto-Maurício

(As Excelências da Santa Missa)

 

 

O TERCEIRO método para assistir com fruto à Santa Missa, é como que a média dos dois precedentes. Não exige a leitura de inúmeras preces vocais do primeiro, nem obriga a um espírito de contemplação tão elevado como o segundo. Bem compreendido, porém, é o mais conforme ao espírito da Santa Igreja, que almeja ver-vos unidos aos sentimentos do sacerdote que celebra. Ora, o sacerdote deve oferecer o sacrifício pelos quatro fins explicados na instrução precedente, pois que a Missa, no dizer de Santo Tomás, é o meio mais eficaz de cumprir os quatro grandes deveres que temos para com DEUS. Por conseguinte, já que exerceis de certo modo o ofício do sacerdote, ao assistir à Santa Missa, deveis aplicar-vos quanto possível à consideração dos ditos quatro fins, que atingis muito facilmente se, durante a Missa fizerdes as quatro ofertas indicadas a seguir. Tomai convosco, durante algum tempo, este livrinho, até que tenhais aprendido bem estes atos, ou ao menos até lhes terdes penetrado bastante o sentido, pois não tenho em mira que estejais ligados demais às palavras.

Logo que a Santa Missa começa, enquanto o sacerdote se humilha ao pé do altar, dizendo o Confiteor, fazei também um pequeno exame, excitai em vosso coração um ato de contrição sincera, pedindo a DEUS perdão de vossos pecados.

Implorai, ao mesmo tempo, o auxílio do ESPÍRITO SANTO e da Santíssima Virgem Maria, a fim de assistir à Santa Missa com todo o respeito e devoção possíveis. Em seguida, dividi em quatro partes o tempo da Missa, para, nessas quatro partes, vos desobrigardes dos quatro grandes deveres, e isso do modo que segue:

Na primeira parte, que irá desde o começo até ao Evangelho, cumpris o primeiro dever de honrar e louvar a majestade de DEUS, digno de receber honras e louvores infinitos. Para isso humilhai-vos com JESUS, abaixando-vos na consideração do vosso nada, e confessai sinceramente que nada sois absolutamente diante da imensa Majestade divina. Dizei-o, humilhando-vos não só em vosso coração, como também exteriormente, pois importa assistir à Santa Missa com uma atitude recolhida e modesta:  “Ó meu DEUS, adoro-vos e reconheço-vos como meu Senhor e o Mestre de minha alma. Tudo que sou, tudo que tenho, reconheço dever a vós. E, como vossa soberana Majestade merece homenagem e adoração infinitas, e eu sou a mais pobre das criaturas, absolutamente incapaz de pagar-vos esta grande dívida, ofereço-vos os méritos das humilhações e homenagens que JESUS vos tributa sobre o altar. O que Ele faz, eu tenho a mesma intenção de fazer. Humilho-me e prostro-me com Ele diante de vossa Majestade, e vos adoro pelas próprias humilhações que JESUS vos oferece. Regozijo-me e felicito-me de que vosso FILHO bem-amado Vos preste por mim homenagem e honra infinitas”. Amém.

Fechai agora o livro; continuai a fazer muitos atos interiores, comprazendo-vos de que DEUS seja infinitamente honrado, e repeti muitas vezes:

Sim, meu DEUS, regozijo-me da honra infinita que resulta deste Santo Sacrifício, para Vossa Majestade; felicito-me e regozijo-me quanto posso.

Não vos preocupeis em observar à risca as palavras que vos indico, mas usai aquelas que vos inspirar vossa piedade, mantendo-vos recolhido e unido a DEUS. Deste modo tereis saldado bem a primeira dívida.

Durante a segunda parte da Santa Missa, do Evangelho à elevação, desobrigar-vos-eis do segundo dever. Lançando um rápido olhar aos vossos pecados, e vendo a dívida imensa que por eles contraístes com a Justiça Divina, dizei, com o coração humilhado:

Eis aqui, ó meu DEUS, este traidor que tantas vezes se revoltou contra vós. Infeliz que sou! Cheio de dor, detesto, odeio, com a mais viva contrição meus enormes pecados, e ofereço-vos em reparação a própria satisfação que JESUS vos dá sobre o altar.

Ofereço-vos o CRISTO total, com seu preciosíssimo Sangue, e todos os Seus méritos, DEUS e Homem, que na qualidade de vítima, de novo se sacrifica por mim. Pois que o Senhor JESUS se faz, sobre este altar, meu mediador, meu advogado, e por seu Sangue implora o perdão para mim, eu me uno à voz deste SENHOR tão amante, e vos peço misericórdia por tantos pecados tão graves, que tenho cometido. Misericórdia! Clama-vos o Sangue de JESUS. Misericórdia! Clama-vos meu coração desolado.

Ah! Meu adorável SENHOR, se minhas lágrimas não vos comovem, deixai-vos tocar pelos gemidos de JESUS. Por que não obteria Ele para mim, sobre este altar, o perdão que, na Cruz, mereceu para todo o gênero humano? Em virtude deste preciosíssimo Sangue, espero que me perdoeis, também, todos os meus pecados, os quais não cessarei de chorar até meu último suspiro. Amém.

Fechai o livro e repeti muitos destes atos de profunda e sincera contrição. Dai livre curso a vossos sentimentos e, sem confusão de palavras, mas do fundo do coração dizei a JESUS:

JESUS adorável, dai-me as lágrimas de São Pedro, a contrição de Madalena, e a dor daqueles santos que, depois de terem sido grandes pecadores, se tornaram verdadeiros penitentes, a fim de que, por esta Santa Missa, eu obtenha o mais completo perdão de meus pecados. Amém.

Fazei muitos destes atos, todo recolhido em DEUS, e ficai certo de que assim pagareis completamente todas as dívidas que, por vossos pecados, contraístes com DEUS.

Na terceira parte, isto é, depois da Elevação até à Comunhão, considerai os imensos benefícios de que fostes cumulado e, em troca, oferecei a DEUS um presente de valor infinito: o Corpo e o Sangue de JESUS CRISTO. Convidai mesmo todos os Anjos e Santos a render graças a DEUS, por vós, da maneira seguinte ou de outra qualquer equivalente:

Eis-me aqui, meu amado SENHOR, cumulado de benefícios, tanto gerais como particulares, que me concedestes e quereis conceder-me no tempo e na eternidade. Reconheço que vossas misericórdias para comigo foram e são infinitas. Eis aqui, portanto, em reconhecimento e em paga, este Sangue Divino, este Corpo Sacratíssimo, que vos apresento pela mão do sacerdote. Estou certo de que esta oferenda é suficiente para vos pagar por todos os bens que me tendes concedido.

Este dom de valor infinito vale por si todos os dons que recebi, que recebo, e que ainda receberei de vós. Ah! Santos Anjos e vós todos os habitantes do Céu, ajudai-me a agradecer a DEUS, e oferecei-Lhe em ação de graças não só esta Santa Missa, mas todas as que se celebram neste momento no Mundo inteiro, a fim de que sua bondade tão cheia de amor seja dignamente agradecida, por tantas graças que me concedeu e que quer conceder-me agora e nos séculos dos séculos. Amém

Ah! Quanto agradará a nosso boníssimo DEUS tão afetuoso reconhecimento! Como não ficará pago com esta única oferta que vale mais que tudo, porque é de valor infinito! E, para mais excitar estes piedosos sentimentos, convidai o Céu a cooperar convosco. Invocai os Santos aos quais tendes mais devoção e dizei-lhes do fundo do coração: Ó queridos Santos, meus advogados, agradecei por mim a DEUS de infinita bondade, não viva e morra eu como ingrato. Peco-vos, suplicai-Lhe aceitar minha boa vontade e levar em conta o agradecimento cheio de amor, que, por esta Santa Missa, Lhe oferece, por mim, o adorável JESUS. Amém.

Não vos contenteis em dizer isto uma vez, mas repeti-o, e ficai certo de que assim chegareis a pagar completamente esta grande dívida. Maior sucesso ainda tereis se cada manhã fizerdes o ato de oferecimento que começa com as palavras DEUS ETERNO a fim de com este intuito oferecer todas as Santas Missas celebradas no Mundo inteiro.

Na quarta parte, depois da Comunhão até ao fim da Santa Missa, enquanto o sacerdote comunga sacramentalmente, fareis a COMUNHÃO ESPIRITUAL. Em seguida, contemplando a DEUS no íntimo de vosso coração, não receeis pedir-Lhe muitas graças, pois neste momento JESUS une-se todo a vós e Ele mesmo ora por vós.

Expandi, portanto, vosso coração, pedindo, não coisas de pouca importância, mas grandes graças. Já que tão grande é a oferenda que Lhe fazeis, o seu Divino Filho. Dizei-Lhe, então, com o coração repleto de humildade: Ó meu DEUS, reconheço-me por demais indigno de vossos favores; confesso minha suma indignidade, e que, tendo cometido tantos e tão grandes pecados, não mereço ser atendido. Como poderíeis, porém, deixar de escutar vosso Divino Filho, que sobre este altar, pede por mim, oferecendo-vos sua vida e seu Sangue? Ó meu DEUS, fonte do Amor, ouvi as súplicas deste poderoso advogado, e, em consideração a Ele, concedei-me todas as graças que sabeis que necessito para realizar o grande trabalho de minha salvação eterna. É agora que ouso pedir-vos o perdão geral de todos os meus pecados e a graça da perseverança no bem. Mais ainda, confiante nas preces de JESUS, peço-vos, ó meu DEUS, todas as virtudes num grau heróico, e todas as graças eficazes para tornar-me um verdadeiro santo. Peço-vos a conversão de todos os infiéis e de todos os pecadores e particularmente daqueles a quem estou unido pelos laços do sangue ou por um parentesco espiritual.

Imploro-vos a libertação não só de uma, mas de todas as almas do Purgatório: libertai-as todas e que, pela eficácia deste Divino Sacrifício, fique vazia aquela prisão. Peço-vos, humildemente, a conversão de todos os vivos, a fim de que este miserável Mundo se transforme num paraíso de delícias onde sejais amado, reverenciado, adorado por todos no tempo, para depois irmos louvar-vos e bendizer-vos por toda a eternidade. Amém

Pedi ainda, graças para vós, para as crianças, para vossos amigos, parentes e conhecidos; implorai socorro para todas as vossas necessidades espirituais e temporais; rogai para a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, pedindo a plenitude de todos os bens, e o fim de todos os males.

Rezai muito, especialmente pelo Sacerdote que celebrou a Santa Missa, mais do que todos, ele merece sua gratidão. Peça ao boníssimo DEUS a perseverança para ele e, muito especialmente, que faça dele um grande santo.

E não façais com negligência, mas com grande confiança, seguros de que vossas orações, unidas às de JESUS, serão atendidas.

Terminada a Santa Missa, fazei um ato de agradecimento a DEUS, dizendo-Lhe: Agimus tibi gratias, etc., Se puderdes, ficai uns quinze minutos em Ação de graças, depois saí da Igreja com o coração compungido, como se descêsseis do Calvário.

Dizei-me agora: se tivésseis assistido deste modo a todas as Santas Missas, do passado até ao presente, de quantos tesouros não teríeis enriquecido vossa alma!? Oh! Que enormes prejuízos vos causastes, quando assistíeis à Santa Missa, olhando para um e outro lado, observando os que entravam e saíam da igreja e, muitas vezes até, conversando ou cochilando, ou, sobretudo, engrolando de qualquer jeito algumas preces vocais, sem o menor recolhimento interior. Tomai, portanto, a resolução de adotar este método tão fácil, tão suave, de assistir com fruto à Santa Missa, e que consiste em cumprirdes os quatro grandes deveres para com DEUS: não tenhais dúvida que em pouco tempo reunireis um grande tesouro de graças especiais, e nunca mais vos virá à idéia dizer: “Uma missa a mais, uma missa a menos, que importa!”