Método
de São Leonardo de Porto-Maurício
(As Excelências da Santa Missa)
O TERCEIRO
método para assistir com fruto à Santa Missa, é como que a média dos
dois precedentes. Não exige a leitura de inúmeras preces vocais do
primeiro, nem obriga a um espírito de contemplação tão elevado como
o segundo. Bem compreendido, porém, é o mais conforme ao espírito da
Santa Igreja, que almeja ver-vos unidos aos sentimentos do sacerdote
que celebra. Ora, o sacerdote deve oferecer o sacrifício pelos
quatro fins explicados na instrução precedente, pois que a Missa, no
dizer de Santo Tomás, é o meio mais eficaz de cumprir os quatro
grandes deveres que temos para com DEUS. Por conseguinte, já que
exerceis de certo modo o ofício do sacerdote, ao assistir à Santa
Missa, deveis aplicar-vos quanto possível à consideração dos ditos
quatro fins, que atingis muito
facilmente se, durante a Missa fizerdes as quatro ofertas indicadas
a seguir. Tomai convosco, durante algum tempo, este livrinho, até
que tenhais aprendido bem estes atos, ou ao menos até lhes terdes
penetrado bastante o sentido, pois não tenho em mira que estejais
ligados demais às palavras.
Logo que a Santa
Missa começa, enquanto o sacerdote se humilha ao pé do altar,
dizendo o Confiteor, fazei também um pequeno exame, excitai
em vosso coração um ato de contrição sincera, pedindo a DEUS perdão
de vossos pecados.
Implorai, ao
mesmo tempo, o auxílio do ESPÍRITO SANTO e da Santíssima Virgem
Maria, a fim de assistir à Santa Missa com todo o respeito e devoção
possíveis. Em seguida, dividi em quatro partes o tempo da Missa,
para, nessas quatro partes, vos desobrigardes dos quatro grandes
deveres, e isso do modo que segue:
Na primeira
parte, que irá desde o começo até ao
Evangelho, cumpris o primeiro dever de honrar e louvar a
majestade de DEUS, digno de receber honras e louvores infinitos.
Para isso humilhai-vos com JESUS, abaixando-vos na consideração do
vosso nada, e confessai sinceramente que nada sois absolutamente
diante da imensa Majestade divina. Dizei-o, humilhando-vos não só em
vosso coração, como também exteriormente, pois importa assistir à
Santa Missa com uma atitude recolhida e modesta:
“Ó meu DEUS, adoro-vos e reconheço-vos como meu Senhor e o Mestre
de minha alma. Tudo que sou, tudo que tenho, reconheço dever a vós.
E, como vossa soberana Majestade merece homenagem e adoração
infinitas, e eu sou a mais pobre das criaturas, absolutamente
incapaz de pagar-vos esta grande dívida, ofereço-vos os méritos das
humilhações e homenagens que JESUS vos tributa sobre o altar. O que
Ele faz, eu tenho a mesma intenção de fazer. Humilho-me e prostro-me
com Ele diante de vossa Majestade, e vos adoro pelas próprias
humilhações que JESUS vos oferece. Regozijo-me e felicito-me de que
vosso FILHO bem-amado Vos preste por mim homenagem e honra
infinitas”. Amém.
Fechai agora o
livro; continuai a fazer muitos atos interiores, comprazendo-vos de
que DEUS seja infinitamente honrado, e repeti muitas vezes:
Sim, meu DEUS,
regozijo-me da honra infinita que resulta deste Santo Sacrifício,
para Vossa Majestade; felicito-me e regozijo-me quanto posso.
Não vos preocupeis
em observar à risca as palavras que vos indico, mas usai aquelas que
vos inspirar vossa piedade, mantendo-vos recolhido e unido a DEUS.
Deste modo tereis saldado bem a primeira dívida.
Durante a segunda
parte da Santa Missa, do Evangelho à elevação, desobrigar-vos-eis do
segundo dever. Lançando um rápido olhar aos vossos pecados, e vendo
a dívida imensa que por eles contraístes com a Justiça Divina,
dizei, com o coração humilhado:
Eis aqui, ó meu
DEUS, este traidor que tantas vezes se revoltou contra vós. Infeliz
que sou! Cheio de dor, detesto, odeio, com a mais viva contrição
meus enormes pecados, e ofereço-vos em reparação a própria
satisfação que JESUS vos dá sobre o altar.
Ofereço-vos o
CRISTO total, com seu preciosíssimo Sangue, e todos os Seus méritos,
DEUS e Homem, que na qualidade de vítima, de novo se sacrifica por
mim. Pois que o Senhor JESUS se faz, sobre este altar, meu mediador,
meu advogado, e por seu Sangue implora o perdão para mim, eu me uno
à voz deste SENHOR tão amante, e vos peço misericórdia por tantos
pecados tão graves, que tenho cometido. Misericórdia! Clama-vos o
Sangue de JESUS. Misericórdia! Clama-vos meu coração desolado.
Ah! Meu
adorável SENHOR, se minhas lágrimas não vos comovem, deixai-vos
tocar pelos gemidos de JESUS. Por que não obteria Ele para mim,
sobre este altar, o perdão que, na Cruz, mereceu para todo o gênero
humano? Em virtude deste preciosíssimo Sangue, espero que me
perdoeis, também, todos os meus pecados, os quais não cessarei de
chorar até meu último suspiro. Amém.
Fechai o livro e
repeti muitos destes atos de profunda e sincera contrição. Dai livre
curso a vossos sentimentos e, sem confusão de palavras, mas do fundo
do coração dizei a JESUS:
JESUS adorável,
dai-me as lágrimas de São Pedro, a contrição de Madalena, e a dor
daqueles santos que, depois de terem sido grandes pecadores, se
tornaram verdadeiros penitentes, a fim de que, por esta Santa Missa,
eu obtenha o mais completo perdão de meus pecados. Amém.
Fazei muitos
destes atos, todo recolhido em DEUS, e ficai certo de que assim
pagareis completamente todas as dívidas que, por vossos pecados,
contraístes com DEUS.
Na terceira parte,
isto é, depois da Elevação até à Comunhão, considerai os imensos
benefícios de que fostes cumulado e, em troca, oferecei a DEUS um
presente de valor infinito: o Corpo e o Sangue de JESUS CRISTO.
Convidai mesmo todos os Anjos e Santos a render graças a DEUS, por
vós, da maneira seguinte ou de outra qualquer equivalente:
Eis-me aqui,
meu amado SENHOR, cumulado de benefícios, tanto gerais como
particulares, que me concedestes e quereis conceder-me no tempo e na
eternidade. Reconheço que vossas misericórdias para comigo foram e
são infinitas. Eis aqui, portanto, em reconhecimento e em paga, este
Sangue Divino, este Corpo Sacratíssimo, que vos apresento pela mão
do sacerdote. Estou certo de que esta oferenda é suficiente para vos
pagar por todos os bens que me tendes concedido.
Este dom de
valor infinito vale por si todos os dons que recebi, que recebo, e
que ainda receberei de vós. Ah! Santos Anjos e vós todos os
habitantes do Céu, ajudai-me a agradecer a DEUS, e oferecei-Lhe em
ação de graças não só esta Santa Missa, mas todas as que se celebram
neste momento no Mundo inteiro, a fim de que sua bondade tão cheia
de amor seja dignamente agradecida, por tantas graças que me
concedeu e que quer conceder-me agora e nos séculos dos séculos.
Amém
Ah! Quanto
agradará a nosso boníssimo DEUS tão afetuoso reconhecimento! Como
não ficará pago com esta única oferta que vale mais que tudo, porque
é de valor infinito! E, para mais excitar estes piedosos
sentimentos, convidai o Céu a cooperar convosco. Invocai os Santos
aos quais tendes mais devoção e dizei-lhes do fundo do coração: Ó
queridos Santos, meus advogados, agradecei por mim a DEUS de
infinita bondade, não viva e morra eu como ingrato. Peco-vos,
suplicai-Lhe aceitar minha boa vontade e levar em conta o
agradecimento cheio de amor, que, por esta Santa Missa, Lhe oferece,
por mim, o adorável JESUS. Amém.
Não vos contenteis
em dizer isto uma vez, mas repeti-o, e ficai certo de que assim
chegareis a pagar completamente esta grande dívida. Maior sucesso
ainda tereis se cada manhã fizerdes o ato de oferecimento que começa
com as palavras
DEUS ETERNO a fim de
com este intuito oferecer todas as Santas Missas celebradas no Mundo inteiro.
Na quarta parte,
depois da Comunhão até ao fim da Santa Missa, enquanto o sacerdote
comunga sacramentalmente, fareis a
COMUNHÃO ESPIRITUAL.
Em seguida, contemplando a DEUS no íntimo de vosso coração,
não receeis pedir-Lhe muitas graças, pois neste momento JESUS une-se
todo a vós e Ele mesmo ora por vós.
Expandi, portanto,
vosso coração, pedindo, não coisas de pouca importância, mas grandes
graças. Já que tão grande é a oferenda que Lhe fazeis, o seu Divino
Filho. Dizei-Lhe, então, com o coração repleto de humildade: Ó
meu DEUS, reconheço-me por demais indigno de vossos favores;
confesso minha suma indignidade, e que, tendo cometido tantos e tão
grandes pecados, não mereço ser atendido. Como poderíeis, porém,
deixar de escutar vosso Divino Filho, que sobre este altar, pede por
mim, oferecendo-vos sua vida e seu Sangue? Ó meu DEUS, fonte do
Amor, ouvi as súplicas deste poderoso advogado, e, em consideração a
Ele, concedei-me todas as graças que sabeis que necessito para
realizar o grande trabalho de minha salvação eterna. É agora que
ouso pedir-vos o perdão geral de todos os meus pecados e a graça da
perseverança no bem. Mais ainda, confiante nas preces de JESUS,
peço-vos, ó meu DEUS, todas as virtudes num grau heróico, e todas as
graças eficazes para tornar-me um verdadeiro santo. Peço-vos a
conversão de todos os infiéis e de todos os pecadores e
particularmente daqueles a quem estou unido pelos laços do sangue ou
por um parentesco espiritual.
Imploro-vos a
libertação não só de uma, mas de todas as almas do Purgatório:
libertai-as todas e que, pela eficácia deste Divino Sacrifício,
fique vazia aquela prisão. Peço-vos, humildemente, a conversão de
todos os vivos, a fim de que este miserável Mundo se transforme num
paraíso de delícias onde sejais amado, reverenciado, adorado por
todos no tempo, para depois irmos louvar-vos e bendizer-vos por toda
a eternidade. Amém
Pedi ainda, graças
para vós, para as crianças, para vossos amigos, parentes e
conhecidos; implorai socorro para todas as vossas necessidades
espirituais e temporais; rogai para a Santa Igreja Católica
Apostólica Romana, pedindo a plenitude de todos os bens, e o fim de
todos os males.
Rezai muito,
especialmente pelo Sacerdote que celebrou a Santa Missa, mais do que
todos, ele merece sua gratidão. Peça ao boníssimo DEUS a
perseverança para ele e, muito especialmente, que faça dele um
grande santo.
E não façais com
negligência, mas com grande confiança, seguros de que vossas
orações, unidas às de JESUS, serão atendidas.
Terminada a Santa
Missa, fazei um ato de agradecimento a DEUS, dizendo-Lhe: Agimus
tibi gratias, etc., Se puderdes, ficai uns quinze minutos em Ação de
graças, depois saí da Igreja com o coração compungido, como se
descêsseis do Calvário.
Dizei-me agora: se
tivésseis assistido deste modo a todas as Santas Missas, do passado
até ao presente, de quantos tesouros não teríeis enriquecido vossa
alma!? Oh! Que enormes prejuízos vos causastes, quando assistíeis à
Santa Missa, olhando para um e outro lado, observando os que
entravam e saíam da igreja e,
muitas vezes até, conversando ou cochilando, ou, sobretudo,
engrolando de qualquer jeito algumas preces vocais, sem o menor
recolhimento interior. Tomai, portanto, a resolução de adotar este
método tão fácil, tão suave, de assistir com fruto à Santa Missa, e
que consiste em cumprirdes os quatro grandes deveres para com DEUS:
não tenhais dúvida que em pouco tempo reunireis um grande tesouro de
graças especiais, e nunca mais vos virá à idéia dizer: “Uma missa
a mais, uma missa a menos, que importa!”
|