Parábola do filho pródigo
(LC 15, 11-32)
(O Revmo. Pe.
Luís Lima de Sousa não escreveu a sua palestra; por esse
motivo, colocamos uma palestra sobre a Parábola do filho
pródigo feita pelo nosso fundador Pe. Divino Antônio Lopes
FP., sendo que a mesma foi gravada em CD no dia 26 de
outubro de 2007)
“Um homem
tinha dois filhos. O mais jovem disse ao Pai: ‘Pai, dá-me a
parte da herança que me cabe’. E o pai dividiu os bens entre
eles. Poucos dias depois, ajustando todos os seus haveres, o
filho mais jovem partiu para uma região longínqua e ali
dissipou sua herança numa vida devassa. E gastou tudo.
Sobreveio àquela região uma grande fome e ele começou a
passar privações. Foi, então, empregar-se com um dos homens
daquela região, que o mandou para seus campos cuidar dos
porcos. Ele queria matar a fome com as bolotas que os porcos
comiam, mas ninguém lhas dava. E caindo em si, disse:
‘Quantos empregados de meu pai têm pão com fartura, e eu
aqui, morrendo de fome! Vou-me embora, procurar o meu pai e
dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou
digno de ser chamado teu filho. Trata-me como um dos teus
empregados’. Partiu, então, e foi ao encontro de seu Pai.
Ele estava ainda ao longe, quando seu pai viu-o, encheu-se
de compaixão, correu e lançou-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o
de beijos. O filho, então, disse-lhe: ‘Pai, pequei contra o
Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho’.
Mas o pai disse aos seus servos: ‘Ide depressa, trazei a
melhor túnica e revesti-o com ela, ponde-lhe um anel no dedo
e sandálias nos pés. Trazei o novilho cevado e matai-o;
comamos e festejemos, pois esse meu filho estava morto e
tornou a viver; estava perdido e foi reencontrado!’ E
começaram a festejar. Seu filho mais velho estava no campo.
Quando voltava, já perto de casa ouviu músicas e danças.
Chamando um servo, perguntou-lhe o que estava acontecendo.
Este lhe disse: ‘É teu irmão que voltou e teu pai matou o
novilho cevado, porque o recuperou com saúde. Então ele
ficou com muita raiva e não queria entrar. Seu pai saiu para
suplicar-lhe. Ele, porém, respondeu a seu pai: ‘Há tantos
anos que eu te sirvo, e jamais transgredi um só dos teus
mandamentos, e nunca me deste um cabrito para festejar com
meus amigos. Contudo, veio esse seu filho, que devorou teus
bens com prostitutas, e para ele matas o novilho cevado!’
Mas o pai lhe disse: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo
o que é meu é teu. Mas era preciso que festejássemos e nos
alegrássemos, pois esse teu irmão estava morto e tornou a
viver; ele estava perdido e foi reencontrado!’”
Em Lc 15, 11-13
diz: “Um homem tinha dois filhos. O mais jovem disse ao
Pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me cabe’. E o pai
dividiu os bens entre eles. Poucos dias depois, ajustando
todos os seus haveres, o filho mais jovem partiu para uma
região longínqua e ali dissipou sua herança numa vida
devassa”.
Estamos perante
uma das parábolas mais belas de Jesus Cristo, em que nos é
ensinado uma vez mais que Deus é bom e
compreensivo, como está em 2 Cor 1,3:
“Bendito
seja o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo. O Pai das
misericórdias e Deus de toda consolação”.
No versículo 11
diz: “Um homem tinha dois filhos”. Esse homem é
Deus. O Cônego Duarte Leopoldo escreve: “O pai de
família é Deus”, e o Papa João Paulo II diz: “O
pecado, tão detalhadamente descrito na parábola do filho
pródigo, consiste na rebelião contra Deus, ou ao menos no
esquecimento ou indiferença para com Ele e para com o seu
amor”, e São Josemaría Escrivá diz também:
“Recordemos a parábola do filho pródigo que Jesus nos contou
para que entendêssemos o amor do Pai que está nos céus”.
No versículo 12
diz que o filho mais jovem pediu ao Pai a parte da
herança que lhe cabia. E o pai dividiu os bens entre
eles.
O filho mais
jovem que pede a parte da sua herança é figura do
homem pecador que se afasta de Deus por causa do pecado.
O Cônego Duarte Leopoldo escreve: “Diz o Evangelho que
este filho era o mais moço, porque o pecador é leviano,
inconstante e irrefletido como a mocidade”.
A herança,
segundo o Cônego Duarte Leopoldo, “são os dons naturais e
sobrenaturais, os bens da alma e do corpo”, e o Papa
João Paulo II escreve: “Este filho, que recebe do pai a
parte da herança que lhe toca e deixa a casa paterna para
esbanjar essa herança numa terra longínqua ‘vivendo
dissolutamente,’ em certo sentido, é o homem de todos os
tempos, a começar por aquele que foi o primeiro a perder a
herança da graça e da justiça original. Neste ponto a
analogia é muito vasta. Indiretamente a parábola estende-se
a todas as rupturas da aliança de amor: a toda a perda da
graça e todo o pecado”.
No versículo 13
diz que o filho mais jovem partiu para uma terra
longínqua, e ali dissipou sua herança numa vida devassa.
O filho
mais novo quer ser feliz a seu modo, por sua
conta, sem contar com o seu pai, e, por isso,
abandona-o e parte para um país longínquo. O Pe. Francisco
Fernandes Carvajal escreve: “Para o judeu, um país
longínquo era a terra de gentios e pagãos. O egoísmo toma a
dianteira ao amor: nisso consiste o pecado. E o pai não quis
retê-lo à força”, e o Cônego Duarte Leopoldo também
escreve: “Essa região longínqua é o país do pecado, para
onde se retira o pecador a fim de não mais ouvir a voz de
seu Pai, as suas recriminações e os seus sábios conselhos. O
pecador não quer ser importunado; sedento de liberdade, da
liberdade do vício, dissipa no esquecimento de Deus e da sua
fé, toda a sua fortuna de graças – primeiro a graça
santificante, depois as virtudes de uma educação cristã, a
inteligência, o brio, o pudor, muitas vezes o seu dinheiro e
quase sempre a saúde”, e o Pe. João Colombo escreve:
“Fora do olhar paterno, sem freio e sem comedimento, cometeu
todas as torpezas e satisfez o capricho de todas as
paixões”.
No versículo 13
diz que o filho mais novo “… dissipou os seus
bens”. Estas palavras revelam um sentido mais profundo
quando o pecador é cristão, pois seria inexato afirmar que
todas as obras do pecador são más. Muitos pecadores têm uma
conduta exterior irrepreensível; muitos praticam o bem e
suas obras não são todas más, mas são desperdiçadas,
perdem-se para o céu pois o mérito sobrenatural é inerente
ao estado de graça. O Monsenhor Georges Chevrot
escreve: “Essa fortuna que o cristão dissipa é a sua
parte na herança celeste. É a vida eterna que recebe de Deus
e que é algo do próprio Deus. O cristão pecador já
não é senão um ramo separado do tronco. Ao sair da casa
paterna, o filho mais novo não leva consigo a sua liberdade:
leva-lhe o cadáver”.
Em Lc 15, 14-16
diz: “E gastou tudo. Sobreveio àquela região uma grande
fome e ele começou a passar privações. Foi, então,
empregar-se com um dos homens daquela região, que o mandou
para seus campos cuidar dos porcos. Ele queria matar a fome
com as bolotas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava”.
No versículo 14
diz que o filho pródigo gastou tudo e começou a passar fome.
Foi buscar a liberdade no mundo mas encontrou a escravidão,
deixou a casa paterna para tornar-se escravo dos vícios.
O filho mais
moço, ao sair de casa, prometia a si mesmo encontrar coisas
felizes fora dos limites da fazenda, mas começou a passar
fome. A satisfação acabou-se depressa. Vieram, a seguir, a
solidão e a indignidade. O Papa João Paulo II escreve:
“Vem a solidão e o drama da dignidade perdida, a consciência
da filiação divina deitada a perder”.
Está claro que
aquele que joga Deus fora vive no vazio e na miséria, como
escreve Santo Afonso Maria de Ligório:
“Perdido Deus,
tudo está perdido”.
Neste momento da
parábola vemos as tristes consequências do pecado. Essa fome
nos mostra a ansiedade do vazio que sente o coração do homem
quando está longe de Deus: pelo pecado o homem perde a
liberdade dos filhos de Deus e submete-se ao poder de
Satanás. O Cônego Duarte Leopoldo diz: “No país do
pecado, nessa região longínqua do esquecimento de Deus,
nunca deixa de haver fome, esse vazio imenso de uma alma de
que tudo falta quando lhe falta Deus. E o pecador padece
então os horrores da indigência: nada há que lhe possa matar
a fome devoradora”.
Aquele que
abandona o caminho de Deus para seguir as máximas do mundo
vive mergulhado no vazio e na tristeza, a exemplo do filho
pródigo. Somente em Deus é possível encontrar a verdadeira
felicidade, como escreve Santa Teresa dos Andes: “Deus é
o único Bem que nos pode satisfazer… Encontro tudo nele”.
No versículo 15
diz que o filho pródigo foi pedir emprego a um senhor
daquela região, e este o mandou cuidar dos porcos. O Cônego
Duarte Leopoldo diz: “O dono da fazenda é o demônio: os
porcos são as paixões. Sob a tirania de um senhor sem
piedade, o pecador apascenta em seu coração um rebanho de
paixões imundas. Um grande número de pensamento de crime
grunhe dentro do seu coração pedindo-lhe pasto e alimento”.
Está claro que o
filho pródigo teve que se dedicar a guardar porcos: a pior
das humilhações para um judeu. O porco era um animal
impuro para os judeus e para outros povos do antigo oriente.
Sobre o versículo
15 comenta o Papa João Paulo II: “Mas, esta fuga de Deus
tem como consequência para o homem, uma situação de confusão
profunda sobre a sua própria identidade, ao lado de uma
amarga experiência de empobrecimento e desespero… o filho
pródigo, depois de tudo, começou a passar necessidade e
viu-se obrigado, ele, que tinha nascido em liberdade, a
servir um dos habitantes daquela região”.
No versículo 16
diz que o filho pródigo queria matar a fome com a comida dos
porcos; mas ninguém lha dava. Isto é o que acontece
com a pessoa que abandona a Deus... vive só e amargurada.
O patrão do filho
pródigo foi um duro senhor que nem sequer lhe permitia
saciar-se com a comida que os porcos comiam. Ele procurava
conquistar a liberdade, mas ficou submetido a um duro
tirano.
A liberdade está
ligada ao amor e não ao pecado, como está em Jo 8, 34: “…
quem comete pecado, é escravo do pecado”.
O Cônego Duarte
Leopoldo escreve: “As bolotas, alimento dos porcos,
simbolizam os crimes e os pecados de que se alimenta o
pecador. Devora-o a fome do vício; tudo lhe serve, ainda o
que há de mais desprezível; a tudo se atira faminto e
desesperado, mas… a tanto chegou a sua degradação que já nem
esse alimento lhe é concedido para satisfazer o apetite do
pecado”, e: “Aquele filho fugido de uma casa rica
guardava os porcos e tinha fome: às escondidas estendia as
mãos ao cocho… Desejava encher a barriga com a comida dos
porcos, e ninguém lha dava, nem sequer um punhado”
(Pe. João Colombo), e também: “Os críticos,
incapazes de respeitar uma obra-prima, pensam que esta
sequência da parábola é forçada. Que ajudante de fazenda,
dizem eles, não teria nesse caso tirado um pouco de bolotas
da ração dos porcos a fim de alimentar-se a si próprio?
Não há dúvida, mas isso seria não perceber a
intenção do narrador. Cristo quer fazer-nos tocar com o dedo
a horrível solidão do pecador. O filho pródigo está
abaixo dos animais que guarda. O proprietário preocupa-se
com a alimentação dos seus porcos, mas ninguém se ocupa do
filho pródigo, ninguém pensa em dar-lhe de comer. Para o
patrão, a gordura de seus porcos é mais preciosa do que a
vida de seu empregado. O filho pródigo é abandonado por
todos” (Monsenhor Georges Chevrot).
O filho pródigo
foi desprezado por todos... não recebeu apoio de ninguém.
Jamais devemos
abandonar a Deus para seguir o mundo. O mundo é um palhaço
assassino que atrai para matar.
Em Lc 15, 17-19
diz: “E caindo em si, disse: ‘Quantos empregados de meu
pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome! Vou-me
embora, procurar o meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o
Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho.
Trata-me como um dos teus empregados’”.
No versículo 17
diz que o filho “caiu em si”... longe da casa
paterna sentiu fome. A sua miséria parece não ter fim; longe
do pai encontrou somente vazio e decepção. Então,
“caindo em si”, decidiu iniciar o caminho do
regresso. Assim começa também toda a conversão, todo o
arrependimento: caindo em si, fazendo uma paragem e
considerando aonde o levou a sua má aventura desde que saiu
da casa paterna até a lamentável situação em que agora se
encontra.
Infeliz daquele
que teima em trilhar o caminho das trevas.
É preciso parar e
voltar para Deus enquanto é tempo, como está em Isaías 55,
6: “Procurai o Senhor enquanto pode ser achado”.
O filho pródigo
“caiu em si”.
O
Cônego Duarte Leopoldo diz: “Aqui, a cena se transforma.
A dor, o sofrimento é muitas vezes a voz de Deus que nos
chama”, e: “Não há dúvida de que, ao entrar em si, o
filho vê em primeiro lugar e quase que exclusivamente a sua
miséria. Ainda não enxerga a malícia do pecado: ainda é cedo
para isso. Vê-la-á mais tarde. Agora vê somente a sua
indigência e o seu sofrimento: Morro de fome. Não
compreendemos a gravidade do pecado senão depois de nos
termos convertido e, muitas vezes, vários anos depois de
convertidos” (Monsenhor Georges Chevrot).
No versículo 17
ainda diz: “Quantos empregados de meu pai tem pão com
fartura, e eu aqui, morrendo de fome”.
O Cônego Duarte
Leopoldo diz: “Quantos não tinham, como eu, os mesmos
direitos ao amor de Deus, que não tinham recebido tantas
graças, tantos benefícios, que eram mais pobres, mais
doentes, que tinham menos luzes; quantos gozam da abundância
das consolações da graça, e eu morro de fome ao serviço do
demônio, apascentando os animais imundos!”
No versículo 18 diz que o filho pródigo resolveu procurar o pai e
dizer-lhe: Pai, peguei contra o céu e contra ti.
O Pe. Francisco
Fernandez Carvajal diz: “O filho pródigo resolve desandar
o andado… resolve voltar”.
O filho
continua com saudades do bem-estar que têm os servos na casa
de seu pai, e pouco a pouco adquirem força na sua alma,
outros sentimentos: o calor do lar, a recordação insistente
do rosto do pai e o carinho filial. A dor torna-se
mais nobre e mais sincera aquela frase preparada: Pai,
pequei contra o Céu e contra ti.
São Josemaría
Escrivá comenta: “De certo modo, a vida humana é um
constante regresso à casa do Pai, um regresso mediante a
contrição, a conversão do coração que significa o desejo de
mudar, a decisão firme de melhorar a nossa vida… regresso à
casa do Pai por meio do sacramento do perdão”, e: “O
arrependimento sincero, a verdadeira contrição é sempre
seguida do bom propósito, de resoluções firmes e enérgicas”
(Cônego Duarte Leopoldo).
No versículo 19
diz: “Já não sou digno de ser chamado seu filho. Trata-me
como um dos teus empregados”.
Ainda existe essa
casa de que ele fugiu para tão longe… Ainda existe o seu
pai. Ele já não pode dizer-se seu filho. Tornou-se
indigno de lhe usar o nome, mas seu pai não mudou… esse pai
que por excesso de bondade não tentou retê-lo, esse pai cujo
coração ele despedaçou e cujos bens dissipou, a quem afligiu
e desonrou.
O filho
pródigo arruinou-se, perdeu tudo.
Ninguém estendeu a mão para socorrê-lo, todos lhe deram as
costas sem piedade. Nada mais lhe restava no mundo a não ser
esse pai cujo carinho ele retribuiu tão mal.
Diante das
fraquezas e ingratidões, o homem não deve se desesperar;
deve lembrar-se de que existe um Pai que está pronto para
perdoar um coração arrependido, como está em Isaías 30, 18:
“Deus espera o pecador, a fim de que se arrependa e desse
modo lhe perdoe e o salve”.
Em Lc 15, 20-21
diz: “Partiu, então, e foi ao encontro de seu pai. Ele
estava ainda ao longe, quando seu pai viu-o, encheu-se de
compaixão, correu e lançou-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de
beijos. O filho, então, disse-lhe: ‘Pai, pequei contra o Céu
e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho’”.
Quando o filho
decide regressar à casa paterna e trabalhar na fazenda como
um servo, o pai, profundamente comovido ao ver as condições
em que retorna, corre ao seu encontro e demonstra-lhe
prodigamente o seu amor: Lançou-lhe os braços ao pescoço e cobriu-o de beijos.
Acolhe-o como filho imediatamente.
São Josemaría
Escrivá diz: “Pode-se falar com mais calor humano?
Pode-se descrever de maneira mais gráfica o amor paternal de
Deus pelos homens? Perante um Deus que corre ao nosso
encontro, não nos podemos calar e temos de dizer-lhe com São
Paulo: Abba, Pai! Pai, meu Pai!, porque, sendo Ele o Criador
do universo, não se importa de que não o tratemos com
títulos altissonantes (pomposos), nem reclama
a devida confissão do seu poder. Quer que lhe chamemos Pai,
que saboreemos essa palavra, deixando a alma inundar-se de
alegria”, e: “A misericórdia de Deus sai ao encontro
do pecador, cai-lhe nos braços e dá-lhe o beijo da paz”
(Cônego Duarte Leopoldo), e também: “O
pai tem pressa de reconquistar o objeto da sua ternura:
joga-se ao pescoço do filho, aperta-o de encontro ao peito,
sem se importar com o odor de chiqueiro que exalam as suas
vestes sórdidas… o pai aperta o filho em seus braços e
cobre-o de beijos” (Monsenhor Georges Chevrot).
Muitas pessoas se
desesperam diante de seus pecados; dizem que não serão mais
perdoadas por Deus; que tudo já está perdido e que estão
condenadas… e assim perdem a fé, deixam a oração, os
sacramentos e até cometem o suicídio.
Esta não é a
solução. Nada de desespero. É preciso confiar em Deus,
arrepender dos pecados e confiar no seu perdão, como escreve
Santo Afonso: “Deus chega até a assegurar que, quando o
pecador se arrepende, ele risca da memória as ofensas, como
se nunca houvessem existido. Logo que nos
arrependemos, Deus nos responde prontamente e logo nos
perdoa”.
No versículo 21
diz que o pai correu ao encontro do filho.
Sabemos que Deus
ama o filho que está arrependido e lança sobre o mesmo o
laço da sua misericórdia, como escreve São João da Cruz:
“Tu, Senhor, voltas com alegria e amor a levantar aquele que
te ofende…”
Em Lc 15, 22 diz:
“Mas o pai disse aos seus servos: ‘Ide depressa, trazei a
melhor túnica e revesti-o com ela, ponde-lhe um anel no dedo
e sandálias nos pés”.
O pai pediu que lhe vestisse
com a melhor túnica. A túnica, para Santo Agostinho,
representa a veste da graça santificante que perderam Adão e
Eva (encontraram-se nus), e que não tinha aquele que
foi rejeitado nas bodas do grande Rei (Mt 22, 11).
O pai disse:
“… ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés”. Com o
anel é devolvido ao filho o poder de selar, a autoridade e
todos os direitos; as sandálias declaram-no homem livre,
porque os escravos andavam descalços.
Santo Agostinho
escreve: “O vestido mais precioso converte-o em hóspede
de honra, o anel devolve-lhe a dignidade perdida e as
sandálias declaram-no livre”, e: “O amor paterno de
Deus inclina-se para todos os filhos pródigos, para qualquer
miséria humana, especialmente para a miséria moral. Então,
aquele que é objeto da compaixão divina ‘não se sente
humilhado, mas reencontrado e revalorizado” (Papa
João Paulo II).
O pai devolveu
tudo ao filho arrependido.
Na confissão,
através do sacerdote, Deus devolve-nos tudo o que perdemos
por culpa própria: a graça e a dignidade de filhos de Deus.
Cumula-nos da sua graça e, se o arrependimento é
profundo, coloca-nos num lugar mais alto do que aquele em
que estávamos anteriormente.
Em Lc 15, 23-24
diz: “Trazei o novilho cevado e matai-o; comamos e
festejemos, pois esse meu filho estava morto e tornou a
viver; estava perdido e foi reencontrado!’ E começaram a
festejar”.
No versículo 23
fala sobre a festa, tendo como comida, o novilho cevado. O
Cônego Duarte Leopoldo diz: “Os judeus usavam de carne
muito raramente. O banquete em que se servia um novilho e,
dos melhores do rebanho, indicava bem a alegria que reinava
na casa”, e: “Da nossa miséria tira riqueza; da nossa
debilidade, fortaleza. O que não nos há de preparar então,
se não o abandonamos, se frequentamos a sua companhia todos
os dias, se lhe dirigimos palavras de carinho confirmadas
com as nossas ações, se lhe pedimos tudo, confiados na sua
onipotência e na sua misericórdia? Se prepara uma festa para
o filho que o traiu, só por tê-lo recuperado, o que não nos
outorgará a nós, se sempre procuramos ficar a teu lado?”
(São Josemaría Escrivá).
E no versículo 24
diz: “… meu filho estava morto e tornou a viver; estava
perdido e foi reencontrado!”.
O Monsenhor
Georges Chevrot escreve: “O filho pródigo entende enfim
donde é que volta … só agora é que está convertido.
Não estava convertido quando morria de fome. Não estava
convertido quando sofria no caminho do retorno. É nos braços
de seu pai que se realiza a sua conversão”.
O filho pródigo
está convertido, não deve mais lhe falar da sua ingratidão
passada nem da sua conduta indigna: que nunca mais a
mencione! Ele não tem outra coisa a fazer senão
deixar-se amar e nunca mais abandonar seu pai. Ele, o filho
pródigo, foi encontrado, estava morto e tornou a viver.
Quem está morto
espiritualmente, isto é, com o pecado mortal na alma,
vivendo longe de Deus, percorrendo o caminho largo das
paixões e do vício; deve se arrepender de seus pecados,
procurar um sacerdote e fazer uma sincera confissão. Com
certeza, a sua volta para os braços do Pai será festejada,
como está em Mt 18,13: “Se consegue achá-la, em verdade
vos digo, terá maior alegria com ela do que com as noventa e
nove que não se extraviaram”.
Deus é rico no
perdão, como está em Ef 2, 4: “… Deus é rico em
misericórdia”; por isso, não é correto abusar da sua
misericórdia, como escreve São João Crisóstomo: “Judas se
condenou, porque se atreveu a pecar confiando na clemência
de Jesus Cristo”. Feliz daquele que chora os seus
inúmeros pecados e se aproxima de Deus com sinceridade, como
está no Salmo 50,19 : “… coração contrito e esmagado, ó
Deus, tu não desprezas”.
Em Lc 15, 25-27
diz: “Seu filho mais velho estava no campo. Quando
voltava, já perto de casa ouviu músicas e danças. Chamando
um servo, perguntou-lhe o que estava acontecendo. Este lhe
disse: ‘É teu irmão que voltou e teu pai matou o novilho
cevado, porque o recuperou com saúde”.
Quando a parábola
parece concluída, surge um novo personagem: o filho
mais velho.
No versículo 25
diz que ele estava voltando do campo e perto da casa ouviu
músicas e danças. Era justamente a festa pela volta de seu
irmão mais novo, que estava morto e tornou a viver;
que estava perdido e foi reencontrado.
Nos versículos 26
e 27 pergunta o porquê da festa... e o servo informa-o de
que estão celebrando o retorno do irmão mais novo que
chegou esfarrapado e que finalmente voltou.
Nós católicos, que
acreditamos na misericórdia de Deus, precisamos acolher com
alegria as pessoas que desejam com sinceridade se aproximar
d’Ele; devemos festejar a volta das mesmas para os braços do
Pai Eterno: “Nunca devemos considerar os homens como
perdidos e sem esperança de salvação, nem deixar de ajudar
com todo o empenho os que se encontram em perigo nem demorar
em prestar-lhes auxílio” (Santo Astério de Amaséia).
Se o filho
pródigo voltou para a casa paterna, com certeza não
encontrou paz nem amor no mundo; porque se o
mundo inimigo de Deus fosse um mar de paz e de amor, com
certeza todos os mundanos seriam santos canonizados.
Em Lc 15, 28 diz:
“Então ele ficou com muita raiva e não queria entrar. Seu
pai saiu para suplicar-lhe”.
Com certeza, o filho mais
velho era fiel ao pai. Trabalhava até ao cair da noite;
quando, segundo a narrativa, a festa já se tinha iniciado,
ele ainda estava voltando do campo; mas como
está no versículo 28, ficou sabendo do motivo da
festa, se irritou e não queria entrar para festejar a volta
de seu irmão mais novo.
O Monsenhor Georges Chevrot
escreve: “As mais belas virtudes empalidecem aos olhos de
Deus quando a pessoa se orgulha das suas virtudes. E ele não
quis entrar. Já não se sente em casa, naquela casa em que se
canta e se dança para participar da alegria do pai… Como é
grave que este filho obediente se torne incapaz de amar!…
esse filho que sempre obedeceu, acaba por contrariar o amor
de seu pai”, e: “Se alguém disser: ‘Amo a
Deus’, mas odeia o seu irmão, é um mentiroso” (1 Jo
4,20).
Eis, portanto, o
véu que nos esconde de Deus e que nos impede de aproximar
d’Ele: o nosso terrível egoísmo, o nosso
insuportável amor-próprio, esse EU para o qual nos voltamos
a toda a hora, o egoísmo que levou o filho mais novo a
deixar a casa paterna, o egoísmo que impediu o mais velho de
nela entrar…
Sobre o
aborrecimento do filho mais velho escreve Santo Agostinho:
“O canto, a alegria e a festa não te moveram o coração? O
banquete do novilho gordo não te fez pensar? Ninguém te
exclui. Tudo em vão: o servo fala, mas o aborrecimento
persiste, e ele mesmo não quer entrar”.
Hoje,
infelizmente, em muitas dioceses e paróquias existem
milhares de discípulos do filho mais velho, são
principalmente senhoras desocupadas que andam a bisbilhotar
a vida de todos aqueles que entram na igreja. Essas senhoras
atiram pedras e agem com azedume contra as pessoas que antes
viviam nas trevas e que agora estão se aproximando de Deus.
Estas se julgam “anjos do Apocalipse”, sentam em
lugares reservados, sempre duas a duas, apontam os dedos e
balançam a cabeça continuamente; para essas velhotas,
ninguém se arrepende e merece a salvação, somente elas são
as santinhas imaculadas.
O pai possui
um coração cheio de compaixão e amor; preparou uma grande
festa para o filho que havia se convertido, e agora suplica
ao filho mais velho que faça parte da festa.
Em Lc 15, 29-30
diz: “Ele, porém, respondeu a seu pai: ‘Há tantos anos
que eu te sirvo, e jamais transgredi um só dos teus
mandamentos, e nunca me deste um cabrito para festejar com
meus amigos. Contudo, veio esse teu filho, que devorou teus
bens com prostitutas, e para ele matas o novilho cevado!’”
No versículo 29,
o filho mais velho desabafa com o pai dizendo:
“Há tantos
anos que eu te sirvo… jamais transgredi um só dos teus
mandamentos, e nunca me deste um cabrito para festejar…”
Era verdade o que
o filho mais velho dizia, e o pai não o contradiz.
O Monsenhor
Georges Chevrot escreve: “Em um instante, esse modelo de
obediência, que é o filho mais velho, mostra-se ambicioso,
invejoso, avarento, mau e duro”.
O filho mais
velho disse: “Há tantos anos que eu te sirvo…” É uma
resposta que esconde toda uma série de mágoas
inconfessáveis... é como se ele dissesse: se me fosse
possível voltar atrás, não seria tão ingênuo…
aproveitaria ao máximo, como o mais novo… Nunca reclamei
do meu trabalho, estava fora todo o tempo, trabalhei em
dobro depois da partida do extraviado, para que a produção
agrícola não sofresse com a sua ausência, e tu não tiveste a
menor atenção comigo. Nunca me deste um cabrito, sequer,
para que o repartisse com os meus amigos.
E no versículo
30, ele mostra todo o seu desprezo para com o irmão mais
novo quando diz: “... esse teu filho”.
O filho mais
velho procura a palavra que pode ferir mais cruelmente o
coração do pai. Ele evita cuidadosamente dizer “meu
irmão”, mas diz “Esse seu filho, este que devorou os
teus bens com as prostitutas, este que gastou nosso dinheiro
que ganhamos com tanto sacrifício”.
O Monsenhor
Georges Chevrot falando sobre o filho mais velho diz:
“Parecia tão bom esse filho mais velho! Sim, mas não basta
parecer, é necessário ser: e nem sempre se é, o que se
parece ser”.
A misericórdia de
Deus é tão grande que escapa à compreensão do homem...
este é caso do filho mais velho que considera excessivo
o amor do pai para com o filho mais novo; a sua inveja não o
deixa compreender as manifestações de amor que o pai mostra
ao recuperar o filho perdido, nem compartilhar a alegria da
família.
Por outro
lado, devemos considerar que se Deus tem compaixão dos
pecadores, quanto mais terá dos que se esforçam por
permanecerem fiéis a Ele, como escreve Santa Teresa do
Menino Jesus: “Por que, pois temer? O bom Deus,
infinitamente justo, que se dignou perdoar com tanta
misericórdia as culpas do filho pródigo, não será também
justo comigo que estou sempre junto d’Ele?”
Em Lc 15, 31-32
diz: “Mas o pai lhe disse: ‘Filho, tu estás sempre
comigo, e tudo o que é meu é teu. Mas era preciso que
festejássemos e nos alegrássemos, pois esse teu irmão estava
morto e tornou a viver; ele estava perdido e foi
reencontrado!”
No versículo 31,
o pai corrige a impropriedade da linguagem do mais velho:
“Filho, tu estás sempre comigo. Sempre te tratei como filho.
Minha alegria era ver-te perto de mim”.
O Cônego Duarte
Leopoldo diz: “Sempre bom, ouve o pai, cheio de doçura,
as queixas do filho mais velho. Ele o ama também, e
muitíssimo, pois toda a sua fortuna lhe pertence sem
reserva. Mas não é possível conter a alegria sensível que
experimenta ao ter recuperado o filho perdido. Assim ama
Nosso Senhor ao justo que sempre lhe permanece fiel, e a sua
alegria pela conversão do pecador em nada diminui os
privilégios da alma inocente e pura”.
No versículo 32,
o pai continua a falar ao filho mais velho que está irritado
e carrancudo: “… era preciso que nos festejássemos e nos
alegrássemos, pois esse teu irmão estava morto e tornou a
viver; ele estava perdido e foi reencontrado!”
Católico, que
contradição entre o coração magnânimo do Pai e a mesquinhez
do filho mais velho! É a imagem do justo que se torna
cego a ponto de não compreender que servir a Deus e gozar da
sua amizade e presença é uma festa contínua, que, no fundo,
servir é reinar.
Deus espera de
nós uma entrega alegre, sem tristeza, pois: “Deus ama
aquele que dá com alegria” (2Cor 9,7).
Os pecadores que
escutavam a Jesus Cristo se retiraram contentes e
reconfortados para as suas casas. Entenderam bem o que o
Mestre queria dizer nesta parábola.
Pe. Divino Antônio Lopes FP.
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