Instituto Missionário dos Filhos e Filhas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e das Dores de Maria Santíssima

 

 

Carta 79

 

Anápolis, 31 de outubro de 2013

 

Ao adolescente Denilson Rodrigues Farias

Anápolis – GO

 

Caríssimo, um milagre propriamente dito não pode ser obra dos demônios, nem de alguma outra criatura, mas só de Deus.

Santo Agostinho diz: “Por meio das artes dos magos, realizam-se milagres que são em geral semelhantes àqueles operados pelos servos de Deus”.

Como está claro pelo exposto acima, um milagre propriamente dito não pode ser obra dos demônios, nem de alguma outra criatura, mas só de Deus, porque o milagre propriamente dito é o que se faz para além da ordem de toda a natureza criada, dentro da qual está contido todo poder criado. Todavia, às vezes, diz-se milagre de uma maneira mais ampla, como o que ultrapassa a capacidade e o conhecimento humanos. Nesse sentido os demônios podem fazer milagres que enchem os homens de admiração, na medida em que ultrapassa a capacidade e o conhecimento deles. Até mesmo quando um homem faz algo que vai além da capacidade e do conhecimento do outro, leva-o a admirar sua obra, a ponto de parecer ter operado um milagre.

Deve-se, no entanto, saber que embora essas obras dos demônios que nos parecem milagres não possuam a verdadeira razão de milagres, são, às vezes, coisas verdadeiras. Por exemplo, os magos do faraó fizeram, pelo poder dos demônios, verdadeiras serpentes e verdadeiras rãs. E Santo Agostinho diz: “Quando o fogo desceu do céu e consumiu de uma vez a família de Jó com seus rebanhos, e um turbilhão destruiu a casa e matou seus filhos, essas coisas foram obras de Satanás e não fantasias”.

Como diz Santo Agostinho na passagem supracitada, as obras do Anticristo podem ser chamadas de milagres enganosos, seja porque os sentidos mortais serão enganados pelas representações imaginárias, de tal forma que parecerá fazer o que não faz, seja ainda porque, mesmo sendo verdadeiros prodígios, tais obras levarão para a mentira os que nelas acreditarem.

Como já foi dito, a matéria corporal não obedece em si mesma às ordens dos anjos, bons ou maus, de tal maneira que os demônios pudessem mudar a matéria de uma forma para outra. Contudo, podem empregar alguns dos germens que se encontram nos elementos do mundo, a fim de obter tais efeitos, como diz Santo Agostinho. Deve-se, pois, dizer que todas as transformações das coisas corporais passíveis de ser operadas pelas forças naturais às quais pertencem esses germens podem também ser operadas pelos demônios, se recorrerem a tais germens. Assim, por exemplo, certas coisas são transformadas em serpentes ou rãs, dado que estes podem ser gerados pela putrefação. Ao contrário, as transformações das coisas corporais que não podem ser feitas pela força da natureza, não podem ser realizadas de nenhum modo pela ação dos demônios de forma verdadeira. Por exemplo, transformar um corpo humano num de animal ou ainda ressuscitar um corpo morto. Se às vezes tal obra parece ser feita pela ação de demônios, isso não é verdadeiro, mas só aparente.

Isso pode acontecer de duas maneiras. Primeiro, pelo interior, na medida em que o demônio pode agir sobre a imaginação do homem ou mesmo sobre os sentidos corpóreos, levando-os a ver uma coisa de modo  diferente do que é. Em verdade, isso pode acontecer às vezes pela ação de algumas coisas corporais. – Segundo, pelo exterior. Com efeito, o demônio pode formar, com o ar, um corpo de qualquer forma ou figura, de modo que, assumindo-o, apareça de maneira visível. Pela mesma razão, pode envolver qualquer coisa corpórea de uma forma corpórea qualquer, para que apareça em sua imagem. É o que diz santo Agostinho: “O produto da imaginação humana, que, fantasiando ou sonhando, percorre inumeráveis gêneros de coisas, aparece aos sentidos alheios como algo que toma corpo sob a forma de algum animal”. Isso não deve ser entendido no sentido de que a potência imaginativa do homem ou uma sua imagem apareceriam numericamente como que corporificadas nos sentidos de um outro homem. O sentido é que o demônio, capaz de formar uma imagem na imaginação de um homem, é capaz também de mostrar uma imagem semelhante aos sentidos de outro homem.

Segundo Santo Agostinho: “Quando os magos fazem milagres semelhantes aos dos santos, eles o fazem com um fim diferente e por um direito diferente. O que os magos fazem é em vista da própria glória, o que os santos buscam é a glória de Deus. Os magos agem em vista de proveitos pessoais, os santos em vista do bem comum e por ordem de Deus, ao qual todas as criaturas estão sujeitas” (cfr. Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, Volume II).

Parabéns pela sua participação no Santo Retiro nos dias 26 e 27 de outubro. Seja missionário convidando muitas pessoas para o Retiro de dezembro.

Eu te abençôo e te guardo no Coração de Maria Virgem.

Com gratidão,

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.