Virgem bendita, Virgem mais que bendita, acorrei,
primeiro, em nome de vossa natureza. Porventura a vossa deificação
vos teria feito perder a lembrança da vossa humanidade? Por certo
que não, ó minha Soberana. Vós bem sabeis em meio de quantos perigos
nos deixastes e quais aqui embaixo as infidelidades de vossos
servos.
Não convém a uma tão grande misericórdia que se
esqueça de tão espantosa miséria. Se vossa glória dela nos afasta,
que a natureza vo-lo lembre... Não sois tão impassível que já não
possais compadecer-te. Tendes nossa natureza e não outra... Em
segundo lugar, acorrei em nome de vosso poder.
Aquele que é poderoso fez em vós grandes coisas. Todo
poder vos foi dado no céu e na terra... Será possível ao poder
divino opor-se ao vosso poder, ele que recebeu de vossa carne a
carne que o fez homem?
Vós vos acercais do trono da reconciliação não apenas
com orações, senão também com ordens, Soberana mais ainda que serva.
Em terceiro lugar, acorrei em nome do vosso amor.
Eu o sei, ó minha divina Senhora, sois benigníssima e
nos amais com amor invencível a nós que vosso Filho e vosso Deus
amou em vós e por vós com caridade ilimitada.
Quem sabe que de vezes abrandastes a cólera do
soberano Juiz, quando a justiça de Deus se desencadeava para atingir
os pecadores? Acorrei em nome de vossa singularidade.
Às vossas mãos foram confiados todos os tesouros das
misericórdias divinas e só vós fostes escolhida para receber o
depósito de graça tão maravilhosa. Não apraza a Deus que vossa mão
fique ociosa, porquanto só buscais ocasião de salvar os miseráveis e
de fazer correr sobre eles a misericórdia.
Não é diminuição, mas acréscimo de vossa glória,
quando os penitentes são admitidos ao perdão e os justificados, à
glória.
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