Instituto Missionário dos Filhos e Filhas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e das Dores de Maria Santíssima

 

 

Onde nasceu, viveu e morreu

 

 

 

Chile

 

Nome Oficial: República do Chile

Área: 756,252 Km2

População: 14.000.000 hab.

Gentílico: Chileno

Idioma: Espanhol (Oficial)

Localização: Sudeste da América do Sul

Principais cidades: Santiago, Viña del Mar, Valparaíso e Concepción.

Moeda: Peso Chileno

Religião: Católica

 

 

 

 

 

Laura do Carmo Vicuña, filha primogênita de José Domingos Vicuña e de Mercêdes Pino, nasceu em Santiago do Chile a 5 de abril de 1891, às 22:00 horas, na rua Mapocho, nº 62, pouco distante do rio do mesmo nome.

O batismo de Laura foi retardado por causa de agitação e desordem reinantes na capital, quando da guerra civil entre balmacedistas e revolucionários. Vindo ao mundo a 5 de abril, domingo "in albis" só foi levada à Paróquia de Sant'Ana a 24 de maio próximo, festa da Santíssima Trindade.

À nova filha da Igreja foi imposto o nome de Laura do Carmo, o que prova o espírito cristão de seus pais. Figuram como padrinhos de Laura, no batismo, um certo Venceslau Calderón e uma tal Rosária Rojas, dos quais apenas se conserva o nome. A cerimônia foi efetuada pelo Pároco Pe. Bernardo Aranguiz e nada teve de particular.

A guerra, sempre mais cruel de ambas as partes, fazia centenas de vítimas. O pai de Laura se viu obrigado a abandonar Santiago e a carreira iniciada; só o seu nome era suficiente para denunciá-lo como balmacedista.

Naquela hora de derrota militar e política os nomes de Balmaceda e do seu eventual sucessor e continuador foram tomados de mira e cruelmente hostilizados. Isso foi para José Domingos Vicuña a ruína do homem e do cidadão. Antes o renegara a família por ter casado com uma costureira, e agora o renegava a Pátria que ele amara e servira com lealdade e coragem.

José Domingos Vicuña, fugiu com a sua pequena família para o sul, andou errante, até que estacionou em Temuco, centro da Província Meridional de Cautín, a uns 500 km de Santiago. Temuco, naquela época, era um conjunto irregular de casinholas, com população variada e nômade.

Em 1893, em Temuco, nasceu Júlia Amandina, trazendo um sopro de alegria à pobre casa de José Domingos de Vicuña e Mercedes Pino. Poucos meses após o nascimento de Júlia, acometido por um mal súbito, José Domingos fechava precocemente os olhos ao mundo, deixando esposa e filhas no mais cruel abandono: "Laura, a minha doce e inesquecível amiga de Colégio, disse-me haver sabido da mãe que seu pai falecera com poucos dias de enfermidade, talvez pneumonia; que tinha sido militar e que era muito bom!" (Depoimentos da irmã Mercedes Vera), e a esposa Mercedes Pino descrevia assim o esposo: "Baixote de estatura, cabelos loiros, olhos azuis e de porte nobre", a mesma acrescenta: "Laura era o retrato do pai".

Com a morte do esposo e com duas filhas para sustentar, Mercedes Pino teve que reunir a custo as suas energias físicas e morais para não se deixar arrastar pela tormenta que a assaltava com a fúria dos ventos sulinos. Não podia mais voltar à Santiago, decidiu então continuar em Temuco. Para sustentar as filhas, retomou com coragem o ofício de costureira, comprou um bazar na esperança de poder atender melhor às filhas, única consolação de sua vida difícil e amargurada.

A estada em Temuco prolongou-se por seis anos, de 1893 a 1899, ou seja, da morte de José Domingos Vicuña até a mudança de Mercedes Pino para Junin de Los Andes - Argentina: "A minha querida filha nunca me deu desgosto algum; desde pequena foi obediente e boazinha" (Mercedes Pino).

 

 

 

Argentina

 

Nome Oficial: República Argentina

Área: 2.766.889 Km2

População: 34.300.000 hab.

Gentílico: Argentino

Idioma: Espanhol

Localização: Sul da América do Sul

Principais cidades: Buenos Aires, Córdoba e Rosário

Moeda: Peso Argentino

Religião: Católica

 

 

 

 

 

 

 

 

A partida das Missionárias Salesianas para as bandas do Neuquén - Argentina, aumentou em Mercedes Pino, mãe de Laura o desejo de imitar-lhes o exemplo. Já de algum tempo andava ela acariciando o sonho de tentar a sorte em outras paragens. Decidiu então emigrar para além da Cordilheira; em linha reta, seriam aí umas centenas de quilômetros: "Mercedes Pino transferiu-se do Chile para a Argentina, para fugir à baixa condição a que se vira reduzida; mas piorou a sua sorte" (Josefina Ferré).

A etapa inicial de Mercedes Pino na Argentina, foi Ñorquín, na extrema ponta setentrional do Neuquén, foi brevíssima a sua permanência nesse povoado, depois desceu pelo vale do rio Agrio até Las Lajas, vilinha de umas poucas centenas de habitantes. O Pe. Augusto Crestanello, diretor espiritual e confessor de Laura escreve: "Seja em Ñorquín, seja em Las Lajas, onde passou algum tempo, deixou Laura ótimas impressões nos que dela se acercaram. Ela própria lembrava-se muitas vezes, com afeto, das amizades contraídas naqueles lugarejos; e gostava de recordar as companheiras mais virtuosas com que tratara".

 

Sob chuvas torrenciais do inverno de 1899, um dos mais terríveis para os Territórios da Patagônia setentrional e do Neuquén, Mercedes Pino chega a Junin de Los Andes e recebe apoio do senhor Mariano Fosbery em sua Estância.

Essa ajuda, não era a solução nem o sonho de Mercedes Pino, porque a mesma não tinha nenhuma experiência em cuidar do campo.

 

 

 

 

Não podendo mais ficar na Estância Fosbery, Mercedes Pino se viu como uma palhinha joguete da corrente; e no desesperado esforço de não se deixar afogar pela sorte adversa, dobrando-se ao costume do lugar, amadureceu no seu ânimo a decisão de viver com Manuel Mora, na fazenda

Quilquihué, a quem se agarrou como a uma tábua de salvação, e que, ao invés, se transformou no seu feroz tirano: "Manuel Mora, voltando da cadeia de Chos-Malal, onde estivera preso, e passando por Las Lajas, conheceu Mercedes Pino" (Urrutia López, octogenário).

Tem Manuel Mora na vida de Laura, embora de maneira indireta, importância decisiva. É preciso, pois, conhecê-lo.

 

 

Pertencia a uma família abastada da Província de  Buenos Aires, cidade de Azul, depois de ter estado no Forte General Roca, no Alto Rio Negro, foi para uma região sobre o rio Quilquihué, a uns vinte quilômetros de Junin de Los Andes; organizou ali duas estâncias: uma chamada Quilquihué, a outra Mercedes, para criação de gado: "Manuel Mora era muito rico e tinha estâncias... além do Caleufú" (Sabino Cárdenas, processos de Laura), e: "Seu domicílio era uma casa de campanha com alguns cômodos, numa localidade chamada Quilquihué, do rio que corre nas proximidades" (Pe. Genghini), e também: "Sei que a Serva de Deus viveu num lugar chamada Chapelco, onde o senhor Mora tinha sua fazenda; e que dali passou para Junin de Los Andes" (Depoimento de Júlia Amanda, irmã de Laura Vicuña, nos processos).

Já pelos 40, de belo aspecto, e de movimentos galhardos, sobretudo quando empunhava as rédeas, montava e saia a galope, veloz como o vento, era Manuel Mora o tipo do gaúcho argentino: estouvado, gabola, rixento, um romântico e sonhador.

Embora rude e inculto, vestia-se com afetação, à moda dos ricos proprietários rurais. Da cinta lhe pendia o inseparável terçado, de bainha de couro com o cabo embutido em prata. Também nos arreios dos animais de raça, fazia alarde de guarnições e enfeites preciosos; e gostava de gestos aparatosos e desabusados que lhe davam ares de superioridade.

Passava das maneiras gentis e cavalheirescas a modos brutais, e até mesmo a crueldades que fazem estarrecer. O mesmo marcou Tomásia Catalá, com a qual conviveu, com ferro quente que usava para os animais.

Algumas testemunhas limitam-se a chamar-lhe: "Um sujeito mau", "um homem que por um nada puxava o facão e a pistola", "indivíduo perverso, prepotente e grosseiro", etc.

As irmãs salesianas de Junin, tinham-no como: "Rico proprietário de gado, pouco instruído e sem religião".

Foi justamente nas mãos desse indivíduo, como entre as garras de um condor, que caíram tristemente Mercedes Pino e suas filhas.

Mercedes Pino matriculou as filhas no Colégio de Maria Auxiliadora em Junin de Los Andes no início de 1900, sendo diretora, Irmã Ângela Piai.

A 01 de abril, segunda-feira santa, abriu-se o ano escolar de 1900. A crônica, reduzida como a do ano anterior, assinala a presença de 14 alunas internas e 19 externas: 33 ao todo: "Meninas da roça, pobrezinhas, humildes, de casca dura e deselegantes... que mais facilmente empunham as rédeas do cavalo que a pena ou a agulha... selvagens caipirinhas que é preciso domesticar" (Crônicas).

Em 1900, no Colégio, Laura foi classificada entre as alunas de segunda ou terceira elementar; Júlia, entre as pequeninas da primeira. Concluiu também com sucesso, os anos de 1901 e 1902, sendo que neste mesmo ano, ela recebeu o sacramento da Crisma, conferido por Dom Juan Cagliero, filho predileto de São João Bosco. Dom Cagliero morreu em Roma em 1926, seu corpo descansa na catedral de Viedma - Argentina.

Já então conhecia a Irmã Azócar as duas irmãs, e mostrava apreciar Laura pela boa vontade que a animava e a tornava apontada entre as mais solícitas e caprichosas no cumprimento dos múltiplos deveres da vida colegial, e também da vida espiritual.

Laura Vicuña amava ardorosamente a Jesus Sacramentado e Maria Santíssima, rezava com fervor e se sacrificava pela conversão do próximo; era dócil e obediente às Irmãs do Colégio, ao ponto de, por obediência, plantar um galho seco de roseira, e a mesma brotou e permanece até hoje. Laura amava todas as religiosas, mas tinha por modelo a Irmã Ana Maria a quem imitava nas virtudes.

Com o passar do tempo, Laura descobriu que a sua mãe vivia em pecado, morando com o fazendeiro Manuel Mora: "A primeira vez que expliquei o sacramento do matrimônio, Laura desmaiou, certamente porque pelas minhas palavras percebeu que a mãe vivia em estado de culpa..." (Irmã Azócar).

Laura sentia pavor em passar as férias na Estância Quilquihué (lugar dos falcões), justamente porque devia enfrentar o monstro Manuel Mora que não a deixava em paz,  o mesmo tentou violentá-la por várias vezes.

A Estância Quilquihué não era para ela um lugar desejado. Amava a sua mãe com terníssimo afeto; desejava revê-la e estar perto dela. Ansiava pelo ar puro do campo; e bem que gostava de se entreter mais tempo com Júlia e com qualquer outra menina, para lhes ensinar o que sabia. Mas o pensamento e a só figura de Manuel Mora enchiam-na de horror e de pavor: "...as preferências de Manuel Mora eram para a própria Laura, que a fazia educar para depois casar-se com ela" (Júlia Cifuentes, companheira de Laura, declarou verbalmente em 1956).

O único recurso e inabalável sustentáculo de Laura era a oração, que tanto lhe tinham inculcado em Junín e que a fazia reviver no isolamento espiritual das férias, as doces e inesquecíveis horas do colégio.

Laura fez a Primeira Comunhão no dia 02 de junho de 1901, na capela do colégio salesiano ou na igrejinha paroquial de Junín. Vestida de branco, coroada de flores, com a alegria a irradiar-lhe do rosto, Laura foi ao encontro do Amigo da alma. Seus propósitos:

"Primeiro. Ó meu Deus, quero amar-vos e servir-vos por toda a vida; por isso eu vos dou a minha alma, o meu coração, todo o meu ser".

"Segundo. Antes morrer que ofender-Vos com o pecado; por isso tenciono mortificar-me em tudo o que me afasta de vós".

"Terceiro. Proponho fazer tudo quanto puder para que vós sejais conhecido e amado e para reparar as ofensas que recebeis todos os dias dos homens, especialmente das pessoas de minha família".

"Meu Deus, dai-me uma vida de amor, de mortificação, de sacrifício".

 Vendo a mãe na companhia de Manuel Mora, Laura resolve dar tudo: oferecer a vida pela conversão da mãe.

A partir desse momento, a saúde de Laura Vicuña começa a debilitar-se. O Retiro Espiritual de 1903 foi o último acontecimento na vida colegial de Laura.

As meditações sobre o fim do homem, a salvação da alma, a morte, a misericórdia, o paraíso, rasgaram uma fresta para a eternidade e a prepararam para o grande passo.

A mãe, Mercedes Pino, vindo visitar a filha no Colégio, achou-a muito fraca e decidiu levá-la a Quilquihué para uma tentativa de repouso absoluto. Para Laura foi um duplo sacrifício: deixar o suave "paraíso" onde esperava fechar os olhos; e voltar para a estância que lhe suscitava tristes memórias.

Laura Vicuña partiu para Quilquihué a 15 de setembro de 1903: "Como sempre, trazia um traje simples, mas elegante para nosso pequeno mundo" (Irmã Ângela Piai), e: "Laura, naquele dia, usava um vestido roxo, modesto, mas bonito" (Irmã Rosa Azócar).

A chegada à fazenda não podia ser alegre. Dois anos atrás tinha a menina partido de Quilquihué com ótima saúde; voltava desfeita, como arbusto que a tormenta vergou. Manuel Mora a recebeu com desprezo, não era homem para se comover com o sofrimento alheio: muito menos com o de Laura que o enfrentara, humilhando-o repetidamente nos seus insensatos intentos.

A estada em Quilquihué em vez de lhe infundir energias, lhe renovava e aumentava as amarguras do coração. Sentia falta da Santa Missa, das amiguinhas, dos conselhos do confessor, etc.

Na estância, Mercedes Pino não passava de um miserável joguete nas mãos de Manuel Mora, que ora a acariciava, como se acariciasse a crina de seus cavalos, ora a cortava de chicote, como fazia com os novilhos e potros rebeldes.

A pobre mulher assistia com melancólica tristeza ao lento declínio da filha, sem compreender os secretos ardores que a consumiam. Nem o ar puro nem o sol que investia contra os Andes devolvia a saúde à angélica menina.

Mercedes Pino, vendo a saúde de Laura piorar, aluga um ranchinho, de palha e barro, próximo ao Colégio: "A mãe levou de novo Laura para Junin a fim de poder ser mais atendida" (Irmã Marieta Rodrigues, enfermeira).

No alvorecer de 1904, as forças de Laura pareciam ter chegado ao fim, a moléstia fatal que a corroía tinha terminado o seu trabalho: não restavam senão as últimas e débeis esperanças para derrocar: "Devorada por uma febre que não a deixava, Laura saía ainda, vez por outra, amparada pela mãe, mas somente nas horas frescas do dia, para respirar um pouco de ar. Caminhando devagar, rosto

magro e afilado, a enferma causava dó a quem parasse para vê-la" (Pe. Augusto Crestanello). Na tentativa de diminuir a febre que a queimava, a mãe e algumas mulheres a levavam nos braços até o rio Chimehuín para banhá-la em suas águas geladas.

Mesmo consumida pela doença, Laura teve de suportar um terrível ataque de Manuel Mora. Uma tarde, pela metade de janeiro, ele apareceu na vila e pretendeu passar a noite naquela casinhola, onde Laura consumava a sua oblação. Mercedes Pino ficou aflita e tentou opor-se, mas Manuel Mora insistiu, prorrompendo em palavrões, xingamentos e impropérios; o mesmo cobriu Laura de insultos. Laura disse à sua mãe: "Se ele ficar, eu vou para o Colégio, com as irmãs!" Manuel ficou furioso, atirou-se sobre a menina, agarrou-lhe o braço e começou a bater-lhe; depois, derrotado pela indômita Filha de Maria, voltou para a Estância Quilquihué.

Laura piorava a cada dia, recebeu uma procissão contínua de companheiras, conhecidas e amigas, que chegavam com admiração para visitá-la.

No dia 22 de janeiro de 1904, que devia ser o último dia da sua vida terrena, a "...pobrezinha, reduzida a pele e osso, pôde receber a Santíssima Eucaristia como Viático" (Francisca Mendoza).

À tarde do mesmo dia, Laura Vicuña chama a mãe e lhe diz: "Mãe, há dois anos ofereci minha vida a Deus em sacrifício para obter que não vivas mais em união livre. Você deve separar-se deste homem e viver santamente. Antes de morrer terei a alegria de seu arrependimento e seu pedido de perdão a Deus e que comeces a viver santamente?", a mãe, entre lágrimas, lhe diz: "Sim, minha filha, amanhã cedo vou à igreja com Amandina e me confesso".

A exausta menina beijou repetidas vezes o crucifixo que tinha nas mãos. Olhou para a fita azul que entretecia a inicial do nome de Maria e disse baixinho: "Obrigada, Jesus! Obrigada, Maria! Agora morro contente", serenamente expirou: "Laura morreu falando" (Júlia Cifuentes). Foi às 16 horas, sexta-feira, 22 de janeiro de 1904. O Pe. Crestanello escreve que Laura morreu às 18:00 horas: "Eram seis da tarde, e Laura não existia mais"(Vida, p. 88-90). Faltavam 2 meses e poucos dias para Laura completar 13 anos.

Manuel Mora morreu esfaqueado em uma corrida de cavalos em Paso Montenegro (alguns dizem, Paso Flores), quatro anos após o falecimento de Laura Vicuña. Muitos viram nesse acontecimento a mão pesada de Deus.

 

 

Onde estão os seus restos mortais