Santa Gema Galgani
nasceu em
Borgonuovo di Camigliano (Lucca),
região da Toscana, norte da Itália, em 12 de março de 1878, filha
de Henrique Galgani e Aurélia. Em 13 de março de 1878 é batizada
pelo Pe. Pedro Quílici, na igreja de São Miguel. Seu nome
completo: Gema, Maria, Umberta, Pia. O acontecimento principal,
neste dia 13 de março de 1878, foi que ela se tornou, pelo
batismo, templo vivo do Espírito Santo.
A casa dos Galgani foi brindada com uma gema, uma
pedra preciosa. O pai, Henrique Galgani, pensa no futuro dos
filhos. A farmácia de Camigliano é vendida, ele era farmacêutico.
Em abril de 1878, a família se transfere para Lucca, e uma
farmácia se abre em uma rua central da mesma.
Como o senhor Henrique permanecesse o dia todo
atrás do balcão da farmácia e a senhora Aurélia encarregada com os
afazeres da casa; em 1880 achou-se por bem colocar as crianças no
semi-internato das senhoras Emília e Helena Vallini.
O tempo passa, a família aumenta. Depois de Gema
veio Antônio. A seguir, duas meninas: Ângela e Júlia. São 7
irmãos. O oitavo filho morreu no berço.
A senhora Aurélia pressente algo de estranho. Uma
tosse carregada lhe sacode o peito. O esposo não cansa de olhar
para a prateleira da farmácia, mas não encontra nenhum remédio
para ajudar a esposa. Gema não se afasta da mãe adoentada. Está
curiosa. Um dia a mãe apontou para o grande crucifixo do quarto e
lhe disse: "Jesus morreu na cruz por nós!"
Os olhos de Gema se embeberam do crucifixo, ela
deseja saber mais sobre este Amigo diferente. Durante o dia no
semi-internato, durante a noite em casa... não lhe saía da cabeça
este Amigo, que sofreu por ela.
A senhora Aurélia está com tuberculose. O
farmacêutico, seu esposo, possui tantos remédios em sua farmácia,
mas nenhum deles é capaz de eliminar a doença da esposa. A mãe não
pode mais abraçar e beijar os filhos. Há perigo de contágio.
Gema
não se conforma. Quer ficar com a mãe. Ninguém a convence do
contrário. Quer ouvir muita coisa sobre aquele Amigo, pendente da
cruz.
A senhora Aurélia com muito esforço lhe diz: "Jesus
morreu na cruz para nos abrir o paraíso. A cruz é a chave".
Sabendo da aproximação da morte, a mãe pede ao esposo que envie o
mais rápido possível a menina para o sacramento da crisma.
O pároco não faz objeção. Gema recebeu a crisma no
dia 26 de maio de 1885 das mãos do Arcebispo Nicolau Chilardi.
Voltando à casa, após a crisma, Gema chora
encostada ao leito da mãe. Não podia compreender que para ir ao
paraíso era necessário morrer.
Antes da morte da esposa, Henrique Galgani abriga
as crianças, inclusive Gema, na casa da tia materna, Helena Landi.
Na casa da tia, Gema ouve a triste notícia do falecimento da mãe,
19 de setembro de 1886, aos 39 anos de idade, depois de sofrer
durante cinco anos.
Guido, Heitor e Eugênio, os três filhos maiores,
exigem do pai que traga de volta os irmãos menores. Eugênio sente
saudade da irmã mais próxima de sua idade, que é Gema. As
lágrimas são o pão de cada dia nesta casa enlutada.
Gema insiste em realizar a sua primeira comunhão.
Insiste com o pai, com os professores e com o Pe. Volpi. Ela
freqüenta as aulas, como externa, no Instituto Guerra, dirigido
pelas Irmãs de Santa Zita.
Gema fez a primeira comunhão no dia 17 de junho de
1887, aos 9 anos de idade, Festa do Sagrado Coração de Jesus.
Desde a morte da mãe Aurélia, a casa dos Galgani
vive em luto. A morte continua ceifando entes queridos. O avô
Carlos morreu... o tio Maurício, irmão de Henrique foi levado à
sepultura... o irmão de Gema, Eugênio, morre com tuberculose em
setembro de 1884, com 19 anos de idade.
Com 17 anos, Gema faz as vezes de mãe; ela é
conhecida na rua em que mora, como a menina de coração
transparente e de lábios controlados.
Um dia, enquanto passeava com os seus irmãozinhos,
recebeu de um oficial um convite para o namoro, ela lhe pediu
desculpas dizendo que nunca lhe passou pela mente namorar.
Numa das manhãs, quando voltava da igreja de São
Frediano, onde jaz o corpo de Santa Zita, sente umas pontadas no
pé. Trata-se de necrose. A cárie atingiu o osso. Para a cirurgia,
Gema não quer ser cloroformizada. O médico inicia o corte, na carne
viva e raspa até o osso. Gema está com os olhos abertos e fixos
nos pés invisíveis de Cristo. A dor é de desmaiar. O pai chora.
Gema o consola.
As lágrimas do pai têm ainda outro motivo. Na
farmácia, muitos clientes dizem que não possuem dinheiro para
pagar as dívidas. Alguns prometem pagar mais tarde, prometendo
devolver com juros. Gema se recupera aos poucos da cirurgia, agora
quem fica acamado é o pai. Novamente o médico se achega, e com os
olhos arregalados descobre câncer na garganta de Henrique.
Aos 11 de novembro de 1897, Henrique Galgani falece
diante dos olhos estupefatos de seus filhos, que se tornam órfãos
ao pé da letra.
O nome dos Galgani corre de boca em boca pela
cidade. Os órfãos comovem os habitantes. Nenhuma autoridade tem
coragem de expulsar os coitados do seu lar, que foi penhorado.Gema
tem vinte anos, é moça feita, passou por terríveis provações. Os
olhos ligeiramente baixos, são dois diamantes luzidios que
embelezam o rosto arredondado, coberto de cabelos lisos, pretos,
escorregadios.
A presença do Anjo da Guarda, a seu lado, é
tão evidente, que ela o vê sem fixar a atenção na aparência. Mais
um rapaz se aproxima e pede-lhe em namoro, está decido a casar com
ela, ele deseja salvar a família Galgani da ruína, pois é
possuidor de bens. É rico e respeitoso em Camaiore.
Gema pede luzes. Pede solução. Enfim, pede que o
jovem a esqueça...
A resposta para a sua oração vem de modo
inesperado. Novamente dores acenam dentro de seu corpo. A espinha
dorsal não sustenta mais verticalmente o corpo. Dores de ouvido
zunem pela cabeça. Gema pede para voltar à casa paterna.
De volta a seu quarto, em Lucca, ela percebe que
Jesus é cioso, quer tê-la toda para si. O médico constata desvio
da coluna vertebral. Sintoma esquisito: os cabelos caem. Os olhos
de Gema se arregalam: os ouvidos parecem obstruídos por um bloco
de cimento. Quer mover os braços: não consegue erguê-los.
Gema está imóvel e sofre em todo o corpo. A
crucifixão de Cristo realiza-se nela. O calvário de Jerusalém está
redivivo em Lucca.Os sofrimentos inexplicáveis de Gema emocionam a
cidade.
Uma senhora piedosa presenteia Gema com uma
biografia de São Gabriel da Virgem Dolorosa. Na medida que
prossegue a leitura, brota grande simpatia por este moço
extraordinário, que fez de Nossa Senhora das Dores a máxima
vivência interior.
Duas grandes amizades entraram na vida de Gema: o
jovem Gabriel da Virgem Dolorosa e a Mãe de Jesus.
Gema é propriedade de Cristo: de corpo e alma. Ela
é operada. Cortam o abscesso lombar na altura dos rins. Aplicam
pontas de fogo ao longo da espinha dorsal. Não há parte no corpo
de Gema que não tenha sido crucificada com Jesus... sente dores de
cabeça, os médicos julgam tratar-se dum tumor... a jovem de Lucca
continua imóvel no leito de dor por três meses intermináveis... No
dia 2 de fevereiro de 1899, Gema recebeu a Unção dos Enfermos.
Uma noite, no estado letárgico da doença, ouve
entrechocarem-se contas do rosário. Uma voz jovem, masculina, reza
o terço, é o jovem Gabriel de Nossa Senhora das Dores; ele lhe
diz: "Queres sarar?"
Acordando de manhã, Gema abre os olhos. Tem a
certeza de que os dois grandes amigos, Gabriel e a Mãe Santíssima,
estiveram no seu quarto. Uma alegria inexplicável gira pelo corpo
de Gema. Sem se dar conta, Gema está de pé, os familiares pasmam.
Gema diz que se sente bem.
A paz de Gema é grande, porque o Anjo da Guarda
está do seu lado. A vontade de sofrer por Jesus e de reparar a
frieza das criaturas é o ideal de sua vida.
As visitandinas a convidam para um retiro
prolongado, mas o arcebispo Guilhardi, após consultar os médicos,
não permitiu que ela vestisse o hábito religioso. Ela usava o
espartilho de ferro, que sustinha ereta a coluna vertebral.
Gema sofreu toda a espécie de doenças. Falta sofrer
a Cruz de Cristo. Perdeu entes queridos. Sofreu injustiças: os
enganadores do pai caminham, dia por dia diante de seus olhos.
O encontro mais amistoso de Gema com o divino
Sofredor e sua Mãe Santíssima é cada semana, nas quintas-feiras de
noite.
À tarde do dia 8 de junho de 1899, ela se retira à
solidão do quarto. Estando a sós, mergulha como que no fundo do
mar. Sem nenhum preâmbulo, aparece diante dos olhos interiores a
Mãe de Jesus, que produz nela uma transformação total. À direita
da Mãe de Deus, ela vislumbra o seu Anjo da Guarda, que lhe acena
para fazer o ato de contrição. A Virgem estende o manto azul sobre
ela. Neste instante surge a fisionomia terna e amiga de Jesus, com
as chagas abertas, sem projetar sangue. Mas rompem chamas
ardentes, que se jogam sôfregas sobre as mãos, os pés e o coração
de Gema, que pensa morrer de alegria.
Gema acabou de receber os estigmas da Paixão de
Jesus Cristo. Ninguém pode saber deste segredo, pensa ela. Cobre
as mãos com luvas, envolve as outras partes com meias grossas e
panos.
Ao levantar-se na manhã de 9 de junho de 1899,
festa do Sagrado Coração de Jesus, Gema quer comungar na igreja de
São Frediano. Como ocultar? Não há outro jeito a não ser procurar
uma das tias e lhe mostrar as mãos: "Veja aí, tia, o que Jesus
me fez..."
O número 13 da rua Biscione, em Lucca, torna-se
novamente centro de atenções.
Surge em Lucca, no ano de 1900, o Pe. Caetano do
Menino Jesus, passionista, e ouve o segredo de Gema, ele sempre
alojava na casa do senhor Mateus Giannini. Giannini tem 11 filhos,
morando com ele a sua irmã solteira, Cecília Giannini.
O Pe. Caetano pergunta sobre Gema. Cecília fala dos
acontecimentos trágicos que abalaram esta família provada por
Deus. O Pe. Caetano quer falar com Gema. Cecília procura-a na
cidade, e comunica-lhe o convite do Pe. Caetano. Os olhos dela
rebrilham como o sol após intenso aguaceiro, e lhe conta o
segredo dos estigmas.
Em Lucca, Gema é olhada como a menina de olhos
baixos, provada por Deus e muito resignada. Uma das tias chama-a
de histérica. Gema não consegue explicar o fenômeno.
Gema
leva uma vida de penitência e mortificação; veste-se com
simplicidade e modéstia.
Os dias passam. O mistério de Gema cada vez mais
delicado. É de Deus? É do demônio? É super-tensão da fantasia? É
neurose, etc., muitos afastam-se dela.
Nas quintas-feiras, a experiência é sempre grande
na casa dos Giannini. Cecília providencia que não haja imprudência
e indiscrições. Zela para que seja respeitada a sublime
experiência da jovem.
De repente, durante o êxtase, surgem na costa das
mãos e no centro da palma uma mancha vermelha, que se abre
progressivamente sob o epiderme e aparece uma fenda na carne viva.
O fenômeno dos estigmas durou cinco a seis minutos.
Iluminada interiormente, Gema vê um terceiro
defensor. Mas ele está em Roma. Sem tê-lo visto, Gema lhe escreve
uma carta. Mons. Volpi apóia o pedido. Seu nome:
Pe. Germano de
Santo Estanislau.
Gema sofre muito por causa dos estigmas da Paixão.
Sob a vigilância de Cecília Giannini e a orientação do Pe.
Germano, voltou-lhe a segurança interior.
Antes da meia-noite, ela participa da flagelação de
Jesus. Seu corpo estático às vezes se contrai.
Sexta-feira de manhã, Gema se levanta exausta e
ensanguentada. Lava o corpo e vai à igreja comungar. Pelo meio
dia, recomeça a Paixão visível de Jesus em sua fiel seguidora.
O
Pe. Germano de Santo Estanislau jamais sonhara em
sua vida que um dia encontraria esta jovem tão agraciada por Deus.
Gema escreve-lhe com freqüência; podia estar onde quisesse, mas as
cartas o atingiam infalivelmente. Um segredo surge entre a vidente
e o diretor espiritual. Familiarizada com o companheiro invisível
e ciente de que está a seu serviço, confia-lhe recados e pede que
leve as cartas ao destinatário. As cartas assomam sobre a mesa do
Pe. Germano, ou por debaixo da porta e isto, uma vez, à meia
noite.
Algumas cartas de Gema são alarmantes. Acontece-lhe
algo incrível. O demônio tem muita raiva dela e do Pe. Germano.
Quando algumas cartas de Gema falam dos ataques físicos do
demônio, que a joga no chão, puxa-lhe os cabelos, bate-lhe no
corpo, arrasta as mesas, esmurra contra as paredes, o Pe. Germano
acode em socorro.
O demônio a odeia. Passados alguns dias, Gema julga
ver o demônio sair, numa gargalhada infernal, pela janela do
quarto vizinho. Levava na mão um maço de papéis, o mesmo grita:
"Guerra, guerra! O teu manuscrito está em minha mãos!"
Gema acode à senhora Cecília. Essa, escreve
imediatamente ao Pe. Germano, que está junto ao túmulo de São
Gabriel da Virgem Dolorosa, em Ísola del Gran Sasso.
O sacerdote faz junto ao túmulo do santo jovem
passionista um exorcismo, para que o demônio devolva o manuscrito.
Tudo voltou a seu lugar. Algumas folhas estavam
como que chamuscadas e escuras, com manchas. O fato desafia a
todos. O manuscrito ainda hoje está aí como testemunho.
1903. Começa o mês de abril. Gema está no altar do
sacrifício. O corpo está imóvel, como o corpo de Cristo na cruz. A
lucidez da morte paira à sua frente. Ela não tem medo de morrer.
Tem medo de ofender a Deus.
A debilidade de Gema é grande. Delírios e êxtases
andam de mãos dadas.
No dia 8 de abril, quarta-feira santa, Gema recebe
o viático.
11 de abril de 1903, sábado santo, 13: 45,
Gema
morre em Lucca, com 25 anos de idade.
Gema foi beatificada em 14 de maio de 1933 pelo
papa Pio XI, e canonizada pelo papa Pio XII em 2 de maio de 1940.
Ela é padroeira dos farmacêuticos.
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