Instituto Missionário dos Filhos da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e das Dores de Maria Santíssima

28 de agosto

Santo Agostinho

 

Tão grande é a glória que Santo Agostinho adquiriu, pela sua conversão, santidade de vida e não menos pelos seus escritos, que mais de 150 Congregações religiosas quiseram ter a honra de combater sob a sua bandeira e que reconhecem Santo Agostinho como fundador e pai.

Tagaste, cidade da Numídia, ao norte da África, era lugar tão insignificante, que talvez tivesse ficado completamente desconhecido, se não fosse a terra de Santo Agostinho.

O pai deste era funcionário público e gozava de geral estima, pois era homem correto e leal. Chamava-se Patrício. Deus deu-lhe a graça da conversão ao Cristianismo, pouco antes da morte. Agostinho nasceu aos 13 de Novembro de 354. Sua mãe, Mônica, santa mulher, procurou dar ao filho uma educação correspondente à sua fé religiosa. Grande, porém, foi o desgosto que teve, ao ver que baldados lhe foram os esforços em conservá-lo no caminho do temor de Deus. Bem cedo Agostinho, esquecendo-se dos conselhos da mãe, caiu na escravidão do pecado, como mais tarde teve a nobre franqueza de confessar perante Deus. Causa desses desvarios ele mesmo disse ter sido a leitura de maus livros.

Até a idade de 15 anos fez os estudos em Madaura. Falta de recursos obrigou-o a interromper a freqüência da escola e voltou para Tagaste, onde permaneceu, até que o pai tivesse conseguido os meios necessários, para o filho poder continuar e terminar o curso em Cartago. Todos elogiavam a Patrício, pelo interesse que mostrava em proporcionar ao filho ocasião de fazer um curso brilhante nas escolas superiores. “Meu pai - assim se exprime Agostinho, - fez tudo para me adiantar neste mundo. Pouco se lhe dava, porém, de saber se eu era virtuoso, contanto que fosse eloqüente”.

Durante esse tempo, na idade de 16 anos, Agostinho se entregou de corpo e alma aos prazeres, invejando os companheiros, quando se ufanavam de indignidades por eles praticadas, que não lhe tinha sido possível a ele. O tempo que passou em Cartago, foi a época mais triste de sua vida. Lá teve um filho, fruto do pecado. Agostinho deu-lhe o nome de Adeodato.

Indescritível era a tristeza e dor que a mãe experimentava, sabendo o filho em estado tão lastimável. Essa dor ainda redobrou, quando soube que Agostinho se tinha filiado à seita dos maniqueus. Mônica chorou, como se tivesse perdido o filho pela morte. No entanto não cessou de rezar pelo apóstata, e pediu a pessoas piedosas das suas relações, que unissem as orações às dela, para obter a graça da conversão de Agostinho. Este parecia ficar dia a dia mais orgulhoso e completamente inacessível se tornou aos rogos de sua mãe. Nove anos passou Agostinho nas trevas do erro herético. Mônica teve uma comunicação de Deus, que lhe garantiu a conversão do infeliz filho.

Agostinho, entretanto, abriu em Tagaste e mais tarde em Cartago, um curso de retórica. Era um horizonte muito estreito para sua ambição sem limites que por ideal tinha adquirir fama mundial; assim um dia resolveu ir para a Itália.

Mônica tudo fez para dissuadi-lo desse plano ou pelo menos alcançar que a levasse em sua companhia. Agostinho, para se livrar das importunações da mãe, fingiu levar um amigo até as embarcações, enquanto ela se hospedaria num albergue perto do porto. Mônica passou a noite toda em oração e pranto, e quando chegou o dia, Agostinho já se achava em alto mar, em demanda de Roma. Chegado à cidade eterna caiu gravemente doente. Logo que se restabeleceu, lecionou retórica, e as suas preleções tiveram grande afluência.

Na mesma ocasião achava-se em Roma uma comissão da cidade de Milão, para pedir ao Prefeito Símaco um professor de retórica. Agostinho, por meio de proteção dos amigos maniqueus, conseguiu a preferência entre vários concorrentes e seguiu para Milão.

Uma das primeiras visitas que lá fez, foi ao santo Bispo Ambrósio, que o recebeu com toda a cordialidade.

Foi Deus quem guiou os passos do jovem, que, sem o saber, já se achava nas malhas da graça divina. A amabilidade com que Ambrósio o tratava, a caridade que encontrava e principalmente a eloqüência arrebatadora do santo Bispo, fizeram com que o coração de Agostinho se abrisse ao conhecimento da verdade. Se antes era de opinião que contra as provas do Maniqueismo não havia argumentação, as prédicas de Santo Ambrósio desfizeram essa pretensão. Pouco a pouco conheceu que o sistema da heresia apresentava grandes lacunas, e finalmente se curvou diante da força de verdade.

Agostinho pediu para ser inserido na lista dos catecúmenos. Sabendo quanta mágoa no passado causara à mãe, previa o grande prazer que lhe deveria causar a notícia de sua conversão. Mônica, de fato, veio a Milão, mas nenhuma demonstração deu de satisfação, por ter o filho deixado a heresia. Para Agostinho mesmo seguiram-se ainda dias de graves lutas internas, pois eram precisas resoluções hercúleas, para quebrar os grilhões de maus hábitos, adquiridos em longos anos e deixar-se levar unicamente pelo suave impulso da graça divina.

Em certa ocasião, recebeu a visita do amigo Ponticiano, que lhe contou a vida de Santo Antão. Foi a hora da graça triunfar. Agostinho confessa que, ao conhecer a vida do grande eremita, ficou profundamente comovido, e tão forte foi esta comoção, que se viu tomado de verdadeiro horror do pecado.

Não foi só isto: Deus interveio diretamente na história desta conversão célebre. Quando um dia Agostinho se achava à sombra duma figueira, ouviu perfeita e distintamente as palavras: “Toma e lê”. Instintivamente abriu o primeiro livro que se achava à mão. Eram as epístolas de São Paulo. Abrindo-o, encontrou os versos: “Caminhemos como de dia, honestamente, não em glutonarias e bebedeiras, não em desonestidades e dissoluções; mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não façais uso da carne em seus apetites”. (Rm 13,13). Tendo lido isto, não quis mais prosseguir. Fez-se-lhe luz na alrna. A tristeza estava-lhe transformada em alegria e, tomado dessa alegria, procurou o amigo Alípio, fazendo-o participante de sua satisfação. Alípio abriu o livro e leu adiante as palavras, que Agostinho não tinha visto: “Ao que é ainda fraco na fé, ajudai-o” (Rm 14,l). Apoderou-se também de Alípio grande comoção, que o levou a acompanhar Agostinho na conversão.

Não tardaram a levar à santa Mônica esta boa nova. O coração da pobre mãe transbordou de alegria, quando a recebeu e ouviu de que modo se realizara a transformação no coração do filho. Deus tinha-lhe afinal, ouvido a oração, e não só isto: a conversão de Agostinho dera-se de maneira tão extraordinária, como nunca poderia esperar.

Como estivessem próximas as férias, Agostinho ficou em Milão, continuando as preleções.

Depois, em companhia de sua mãe, de Navígio, seu irmão, Adeodato, seu filho, e Alípio, retirou-se para a casa de campo de um amigo, a fim de preparar-se para o santo Batismo. Recebido este, renunciou a tudo que é do mundo: riqueza, dignidades e posição. O único desejo que tinha era de servir a Deus, sem restrição alguma e, para poder pô-lo em prática, formou uma espécie de congregação, composta de amigos e patrícios, que já se achavam em sua companhia. Mônica cuidava de todos, como se fossem seus filhos. Havia ainda uma dificuldade: achar um lugar onde pudessem, como desejava, viver em comunidade. Resolveram voltar para a África. Quando chegaram ao porto de Óstia, morreu Mônica, e Agostinho deu-lhe sepultura lá mesmo. Chegado a Tagaste, vendeu todos os bens, em benefício dos pobres. Escolheu um lugar perto da cidade, onde, durante três anos, levou com os companheiros uma vida igual à dos primeiros eremitas do Egito.

Negócios urgentes chamaram-no a Ipona. Bispo daquela cidade era Valério. Em diversas ocasiões se dirigiu aos diocesanos, expondo-lhes a necessidade de ordenar sacerdotes. O povo, conhecendo as virtudes e talentos de Agostinho, o propôs ao Antístite, como candidato digno. Embora Agostinho relutasse, alegando indignidade, Valério conferiu-lhe as ordens maiores. Uma vez sacerdote, Agostinho pediu ao Prelado licença para fundar um convento em Ipona, e para esse fim, Valério lhe deu um grande terreno, nas proximidades da igreja.

Muitos outros conventos ainda se fundaram na África setentrional e Agostinho, com razão, é considerado fundador e organizador da vida monástica.

Em 395, a pedido e insistência do Bispo Valério, foi Agostinho sagrado Bispo. A nova posição não mais lhe permitia a permanência no convento. Para não perturbar a vida monástica, com as freqüentes visitas que havia de atender, transferiu sua residência para uma outra casa, onde foi viver em companhia de sacerdotes, diáconos e subdiáconos.

Naquela pequena comunidade reinavam os costumes dos primeiros cristãos. A ninguém era permitido ter propriedade. O que possuíam, servia à comunidade. Ninguém era admitido, que não se ligasse pela promessa de sujeitar-se a esse regulamento.

À mulher era vedada a entrada. Nessa proibição estava a própria irmã de Agostinho, que era viúva e superiora num convento de religiosas.

Se o múnus pastoral lhe impunha a visita a uma pessoa do outro sexo, fazia-se acompanhar por um dos sacerdotes.

Duas ordens religiosas tiveram sua origem da Comunidade fundada por Santo Agostinho, em Tagaste: a dos Cônegos regulares de Santo Agostinho, e dos Agostinianos propriamente ditos, chamados estes também Eremitas de Santo Agostinho. Ambas as Ordens acham-se estabelecidas no Brasil. - Em 1597 São Pedro Fourier e o venerável Aleixo lê Clerc fundaram a Congregação das Religiosas de Nossa Senhora, Cônegas regulares de Santo Agostinho, que se dedicam ao ensino. Esta Congregação espalhou-se rapidamente na Alemanha e na França, (Tem em São Paulo o colégio “Dês Oiseaux”).

Os escritos de Agostinho dão testemunho do seu amor a Deus, da sua humildade, vigilância e zelo apostólico.

35 anos tinha Santo Agostinho governado a Igreja de Ipona, quando a África sofreu a invasão dos Vândalos e Alanos, que, vindo das Gálias e da Espanha comandados por Genserico, devastaram toda região norte-africana. Para Agostinho havia possibilidade de se pôr a seguro. Preferiu, entretanto, partilhar a sorte do seu rebanho. Esperando a cada momento a tomada da cidade pelas hordas invasoras, rodeado de amigos e de bispos fugitivos, a alma cheia de dor e amor, pediu a Deus salvasse a África ou aceitasse o sacrifício da sua vida. Acometido de uma febre violenta, sob a recitação dos salmos penitenciais, morreu na idade de 76 anos, em 28 de Agosto de 430. Levou consigo ao túmulo a Igreja africana, a própria África com sua alta cultura e civilização. Depois dos vândalos vieram os maometanos, e com eles o extermínio do cristianismo naquelas regiões.

Grandes, são os tesouros espirituais que Agostinho deixou à Igreja, nos seus livros, que apresentam eterno valor. Por uma especial providência, aconteceu que no grande incêndio que os Vândalos causaram na tomada de Ipona, fossem poupadas a igreja e a biblioteca do grande Bispo.

 

REFLEXÕES

 

1. Santo Agostinho converteu-se na idade de 33 anos. De grande pecador que era, transformou-se em grande penitente e santo. Se tua vida passada apresentar traços semelhantes aos da vida de Santo Agostinho antes da conversão, procura imitá-lo também na penitência e no zelo de salvar tua alma.

2. Santo Agostinho prorrogara a conversão, sem por muito tempo achar coragem de mudar de vida. Mas uma vez que se resolvera a abandonar o caminho do pecado, não mais voltou atrás, ficando firme nos bons propósitos. - Se ainda hesitares em fazer penitência, toma, como Santo Agostinho, uma firme resolução de emenda; converte-te, faze penitência e persevera nela.

3. A conversão de Santo Agostinho foi o resultado da audição das prédicas de Santo Ambrósio e da leitura das epístolas de São Paulo. - O pecador que despreza a audição da palavra de Deus e a leitura de livros espirituais, está bem longe da conversão.

4. Santo Agostinho, para maior humilhação, escreveu e publicou a própria confissão. - Se estiveres em pecado, porque não te animas a fazer uma boa confissão? Lembra-te da palavra do mesmo Santo Agostinho, que diz: “Se sem confissão tua vida está bem oculta”, isto é, se encobres teus pecados e não os confessas, “sem confissão serás condenado”.

5. Santo Agostinho, vendo-se tão escravo da paixão, chegando quase a descrer da possibilidade da conversão, encheu-se de coragem com o exemplo dos Santos. “Eles se salvaram, porque não hei de salvar-me também?” - dizia, e com a boa vontade, com a graça de Deus, conseguiu livrar-se dos terríveis liames do pecado. - A mesma experiência fazem todos aqueles, que sinceramente procuram o caminho da conversão.