Instituto Missionário dos Filhos e Filhas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e das Dores de Maria Santíssima

07 de Dezembro

Santo Ambrósio

O advento do governo de Constantino, o Grande, cessaram de vez as cruéis perseguições de que eram alvo os cristãos, mal o recuo do paganismo diante da cruz de Cristo não se efetuou tão silenciosamente como pode parecer. O inverno da idolatria foi seguido de uma época de transição cheia de horríveis tempestades, anunciadoras de tempos melhores, prelúdio da primavera cristã.

Grande parte do povo, mormente as classes privilegiadas da aristocracia fanaticamente se agarraram às antigas tradições pagãs e à Religião de Cristo opuseram tenaz resistência. Se os imperadores já eram cristãos, governavam não menos despoticamente; muitos se imis cuiam nos interesses da Igreja, quando, setários do Arianismo não chegaram a perseguí-la. As fronteiras sofriam constantemente as invasões dos povos germânicos, quando no interior sucessivas revoltas militares preparavam a queda do império, abalado já que se achava em seus fundamentos. Foi este o ambiente político-religioso, em que apareceu a grande figura de Ambrósio, bispo de Milão. — Ambrósio nasceu provavelmente em Tréves, onde viu a luz do mundo em 340. O pai de Ambrósio era governador de grande parte da Itália, Espanha, França e Alemanha. Pela morte do pai a família de Ambrósio mudou-se para Roma. Sob as vistas de Marcelina, sua irmã mais velha, que no palácio paternal levava uma vida monástica, Ambrósio recebeu educação primorosa. Lá ele começou os estudos e, decorridos poucos anos, já seu nome, como orador e poeta, estava na boca de todos. Tantos eram os triunfos, que alcançava nos tribunais de Roma, que o governo resolveu mandá-lo para o norte da Itália, como governador daquela parte do império, com residência em Milão. Pela morte de Auxêncio, bispo ariano de Milão, a cidade foi teatro de lutas apaixonadas entre católicos e arianos. Ambrósio, como governador, julgou ter o dever de intervir naquela questão, que ameaçava degenerar em guerra religiosa.

Pela firmeza, prudência e circunspecção, mas antes de tudo pela eloqüência arrebatadora, conseguiu que os ânimos serenassem e acabassem com as contendas. Deu-se na mesma ocasião um fato extraordinário, que impressionou profundamente tanto os católicos, como os arianos. Ambrósio mal tinha terminado o discurso diante de muito povo, quando uma criança, levantou bem alto a voz e disse: “Ambrósio é nosso Bispo!” Católicos e arianos atônitos entreolharam-se, e a multidão, que enchia o templo, rompeu na aclamação uníssona: “Ambrósio será o nosso Bispo!” Embora este protestasse contra a manifestação espontânea da vontade do povo, embora alegasse que não era batizado ainda, a multidão não se deixou demover da sua atitude, e mais alto ressoaram as aclamações: “Ambrósio é nosso Bispo!” O Imperador Valeriano, colocando-se ao lado do povo, empenhou-se com sua autoridade, para que Ambrósio aceitasse a dignidade episcopal. Ambrósio, porém, fugiu de Milão, mas, passados alguns dias, foi pelo povo levado em triunfo à cidade, onde então sucessivamente dum bispo católico recebeu os sacramentos do Batismo e da Ordem.

Uma vez bispo, entregou-se às obras da caridade, revelando ao mesmo tempo um zelo apostólico extraordinário. A grande fortuna, desapareceu-lhe nas mãos das pobres, e o jejum que guardava, era tão rigoroso e desapiedado, que os discípulos se julgaram obrigados a dirigir-lhe o pedido de poupar a saúde. Ambrósio respondeu: “Muitos já morreram pelo excesso no comer, porém, ninguém ainda jejuando.” Três coisas Ambrósio propôs-se:

A celebração cotidiana da Santa Missa, a pregação dominical e a luta contra a heresia e os maus costumes, únicos em beleza são os tratados que escreveu sobre a castidade e virgindade. Movidas pelas instruções de Ambrósio, muitas donzelas deixaram o mundo, para abraçar a vida religiosa. O afluxo do elemento feminino ao estado religioso tomou tais formas, que as mães cuidaram de afastar suas filhas das práticas do bispo, receando que para casa voltassem com a resolução de entrar no convento. As pregações do Santo Prelado eram tão abençoadas por Deus, que inúmeros hereges se lhe prostraram aos pés, pedindo absolvição do erro e readmissão no seio da Igreja. Enriqueceu o ofício divino de belos hinos sacros; organizou o canto dos salmos pela assistência toda, dividida em dois coros, e criou o rito ambrosiano, até hoje observado na Igreja de Milão. O maior triunfo da vida apostólica de Santo Ambrósio é a conversão de Santo Agostinho, o qual, ouvindo a palavra evangélica do santo Arcebispo, o procurou e abjurou a heresia do Maniqueismo.

A sombra acompanha a luz. Era natural que o demônio com seus sequazes movesse guerra ao homem de Deus. Uma inimiga terrível surgiu-lhe na pessoa da Imperatriz Justina, adepta fanática do Arianismo.

Furiosa por causa da grande influência do Arcebispo, por essa paixão nada poupou, para fazê-lo desaparecer. Dinheiro, intrigas, maledicências, calunias e perseguições disfarçadas e abertas eram as armas a que recorreu aquela mulher, para conseguir o seu diabólico plano.

Fazendo ela valer então a sua autoridade de mãe sobre o filho, Imperador Valentiniano II, exigiu de Ambrósio a entrega de uma das igrejas aos arianos. Ambrósio respondeu-lhe: ''As praças do mundo pertencem ao Imperador, as igrejas ao Bispo. Se esqueceste, que és príncipe católico, eu te mostrarei que sou bispo católico. O Imperador pertence à Igreja, mas não lhe fica acima. Não serei traidor do rebanho de Cristo, e não entregarei o templo de Deus aos falsificadores da fé. Se quiseres minha fortuna toma-a; minha vida está em tuas mãos, mas não a entregarei senão nos degraus do altar”.

Justina tomada de ódio, mandou sicários com ordem de assassinar o Arcebispo. Este, porém, defendido pelos fiéis, saiu incólume de todos os perigos. Um dos facínoras, experimentou o castigo de Deus, no momento em que ia apunhalar o Arcebispo; o braço ficou-lhe duro. Ambrósio não só lhe perdoou o crime, mas ainda lhe curou o braço e despediu-o, dando-lhe conselhos paternais.

O Imperador Valentiniano II, destronado pelo general Máximo, foi por Teodósio o Grande restabelecido no poder. Fiel ao costume observado em Constantinopla, Teodósio também em Milão escolhera lugar no presbitério. Ambrósio, vendo nisto uma arrogância indébita, intimou-o a descer para onde estavam os demais fiéis. “Pela púrpura és Imperador, mas não sacerdote”, disse a Teodósio, o qual, longe de levar a mal esta franqueza, disse aos amigos: “Afinal achei um homem, que me disse a verdade. Entre os bispos conheço só um: — Ambrósio.”

Em 390 a plebe de Tessalônica tinha linchado o governador imperial. Teodósio, num acesso de furor, decretou a morte de todos os habitantes daquela cidade. Às instâncias de Ambrósio, desistiu da execução da sentença. Mais tarde porém, esquecido da palavra dada ao Arcebispo, cometeu o crime bárbaro. Ambrósio, inteirado do ocorrido, excomungou Teodósio e condenou-o a fazer penitência pública. Quando, apesar da excomunhão, em dia de grande festa, Teodósio se dirigiu ao templo, para assistir aos santos mistérios, encontrou na porta Ambrósio em ornato episcopal, vedando-lhe a entrada.

“Tuas mãos estão ainda gotejando do sangue de justos, — disse ao Imperador, — e tu te atreverás a levantá-las a Deus? Terás a ousadia de receber o corpo de Deus na boca, que proferiu uma sentença tão horrível?” Teodósio animou-se a replicar: “Não pecou também o rei Davi?” Ambrósio respondeu: “Já que imitaste a Davi no pecado, imita-o também na penitência!” Teodósio humildemente aceitou o que o Arcebispo lhe impôs, e durante oito meses fez penitência pública.

Ambrósio faleceu na Sexta-Feira Santa do ano de 397, em 4 de Abril. no dia da Páscoa teve seu sepultamento na Basílica, entre os corpos dos Santos Gervásio e Protásio. No féretro compareceu a plêiade de neófitos batizados por ele, que, todos de branco, à beira do túmulo entoaram o jubiloso Aleluia da Páscoa. São Paulino relata, que alguns destes neobatizados viram o Santo Bispo glorificado, dando-lhes a sua bênção. A morte do grande Bispo foi muito sentida por todos e considerada um desastre para a Itália. Stilicão, o célebre general do Imperador, chegou a dizer: “Se este homem morre, a Itália está perdida” Grande foi a alegria da cristandade toda, quando em 1871 foram descobertas as relíquias de Santo Ambrósio, que se julgavam perdidas; pois durante 1.000 anos se ignorava o lugar onde tinham sido depositadas.

7 de Dezembro é o dia da sagração do grande Bispo.

 REFLEXÕES

“Não temo a morte, porque temos um bondoso Senhor” — disse Santo Ambrósio. Sim, temos um Senhor de uma misericórdia ilimitada. Consolem-se com esta verdade aqueles, que durante a vida procuram fazer o bem e servir a Deus com toda a fidelidade. É coisa sabida, que o demônio procura inocular o desânimo nas almas dos fiéis servidores de Deus. A lembrança dos sacrifícios, das orações e das boas obras, a lembrança das confissões bem feitas, pelo contrário, deve enchê-las de ânimo. Com Santo Ambrósio, digam confiadamente: “Nós temos um Senhor muito bondoso”. Nele pus toda a minha confiança e esperança. Não hei de ser confundido”. O exercício da esperança é utilíssimo para aqueles que se vêem tentados pelo desânimo e pelo desespero, quando a consciência lhes dá o testemunho de terem cumprido o dever. “O Senhor é minha luz e minha salvação, a quem devo, pois temer? O Senhor é o protetor da minha vida, diante de quem temerei? Ainda que exércitos se levantem contra mim, meu coração não temerá. Não aparteis de mim a vossa face! Vós sois meu protetor; não me abandoneis e não me desprezeis, vós, meu Deus e Salvador! (Sl 26.1.3.9) “Por Vós clamei, Senhor. Disse: Vós sois a minha esperança e minha porção na terra dos viventes”. (Sl 141.6) “Coração de Jesus, em vós confio!”

Que Deus se digne de dar à Igreja sempre bispos da têmpera de um Santo Ambrósio, cujo túmulo se vê encimado por três palavras: a do Santo, do Doutor da Igreja, e do Cantor litúrgico.