23 de Dezembro
São João Câncio
“Insigne João, glória da nação polonesa, esplendor do clero, honra da universidade, pai da pátria”. Assim é saudado São João Câncio num hino em seu louvor. De fato, ele é um dos santos mais representativos da nobre e heróica Polônia que se orgulha de sua fé cristã e de sua fidelidade à Cátedra de Pedro. Nascido em 1390, no povoado de Kenty, de onde lhe veio o sobrenome, viveu sempre em sua cidade, Cracóvia. Conquistou com brilhantismo todos os graus acadêmicos e, nomeado professor da mesma universidade, aí lecionou até à morte. Preocupou-se em seu magistério como transmitir aos alunos os conhecimentos não à luz duma ciência fria e anônima, mas como irradiação da ciência suprema que tem sua fonte em Deus. Foi no sentido pleno da palavra um mestre ideal que transformava, no dizer do apóstolo São Paulo, a “verdade em caridade”. Ordenado sacerdote, continuou a cultivar a ciência ao mesmo tempo em que se prestava, de boa vontade, ao ministério pastoral. Seu itinerário de santidade foi o magistério que ele viveu intensamente, irradiando inexcedível amor aos estudantes e aos pobres. Homem de profunda vida interior, jejuava e penitenciava-se semanalmente. Humildade e caridade para com os pobres eram suas virtudes características. Aconteceu-lhe freqüentemente dar suas próprias roupas e calçados. Em espírito de penitência e pelo amor que alimentava à paixão e morte de Jesus, percorreu três vezes, descalço, a longa, cansativa e perigosa viagem até aos Lugares Santos na Palestina. Realizou, inclusive, várias romarias aos túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo em Roma. Numa destas viagens, assaltado por ladrões, entregou-lhes tudo o que tinha. Perguntado se nada mais possuía, deu resposta negativa. Contudo, lembrando-se, pouco depois, que possuía mais umas moedas no forro do manto, correu atrás dos assaltantes e, entregando-lhes as moedas, pediu desculpa pelo esquecimento. Este episódio revela uma alma profundamente simples e avessa à mentira. Se, ao falar a verdade, percebia de ter magoado alguém, pedia perdão de sua falta antes da celebração eucarística. A fim de se precaver do pecado de maledicência, escreveu na parede do seu quarto as palavras que Santo Agostinho tinha mandado pintar sobre a parede do refeitório: “Toma cuidado de não contristar o próximo com tuas palavras. Toma cuidado de não difamá-lo, pois te seria duro desdizer as palavras proferidas”. Já velho e doente, ao se despedir dos mestres e alunos da universidade de Cracóvia, deixou esta recomendação: “Vigiai atentamente sobre a doutrina, conservai o depósito da fé sem alteração e combatei, sem jamais cansar-vos, toda opinião contrária à verdade. Mas revesti-vos neste combate das armas da paciência, da doçura e da caridade, recordando que a violência, além do dano que faz às nossas almas, prejudica as melhores causas. Se eu estivesse no erro num ponto verdadeiramente capital, jamais um homem violento conseguiria tirar-me dele. Muitos homens, sem dúvida, são como eu. Tende cuidado dos pobres, dos enfermos, dos órfãos”. Sentindo a morte se aproximar, distribuiu o resto de seus bens aos pobres e adormeceu no Senhor nas vésperas de Natal do ano 1473. Foi canonizado por Clemente XIII em 1767. Polônia e Lituânia, com justiça, veneram-no como padroeiro principal da nação.
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