Instituto Missionário dos Filhos e Filhas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e das Dores de Maria Santíssima

 

  27 de Dezembro

 

São João, Apóstolo e Evangelista

 

A Igreja festeja hoje o Apóstolo, o Evangelista, o Profeta e o Confessor Virginal. Mas o que de mais honroso deste Santo se pode dizer é que ele é “o discípulo, a quem Jesus amava”. De si próprio ele mesmo afirma isto, pondo em relevo sempre esta particularidade para ele sumamente honrosa e consoladora.

Vejamos como o Senhor amava a São João. Ao amor, este amor, afora simpatia, é verdade e realidade efetiva. Amor da parte de Jesus a São João já era tê-lo chamado ao apostolado, e lhe ter designado um lugar de destaque entre os seus companheiros. É isto o que ele de comum tem com os outros Apóstolos. Há, porém, provas de amor todo especiais, que o distinguem dos demais amigos do Senhor. São três estas provas.

A primeira São João ele mesmo duas vezes põe-na em relevo. Na última ceia Jesus fê-lo tomar lugar no divan bern ao seu lado direito, de maneira que o discípulo, com um leve movimento podia recostar a cabeça no peito do Senhor, o que parece ter ele feito quando indagou a Jesus o nome do traidor (Jo 13, 23, 25. - 21, 20), Foi sem dúvida já o sinal exterior de uma amizade mais íntima e mais preciosa que o fez conhecedor dos mistérios mais profundos relativos à pessoa e ao espírito de Jesus; mistérios que no coração deste tinham o seu centro e sua origem. Uma coisa é certa: O Evangelho de São João respira uma profundidade, um amor comunicativo a Jesus, como em nenhum dos outros evangelistas o observamos. Nele se percebe a pulsação do Coração divino, que ao feliz Apóstolo era dado auscultar. Ele mesmo na sua primeira epístola afirma: “o que vimos com os nossos olhos, e contemplamos; o que as nossas mãos apalparam do Verbo da vida... nós vô-lo anunciamos”. (Jo l, l - 3) e a Igreja no ofício da festa do Santo diz que do Coração do Salvador ele tirou o Evangelho da sua autoria.

A segunda prova temo-la no fato de só a João foi dada a graça de pessoalmente assistir à morte do seu Mestre. Só ele junto com Maria e as santas mulheres se achava ao pé da cruz. A cena do Calvário é inimaginável sem Maria e João. Foi um privilégio muito grande, desta maneira e tão estreitamente participar da humilhação e do martírio do seu querido Senhor; e por assim dizer com Maria, ser crucificado, e adquirir mais um traço de semelhança com o Mestre. Só a amigos muito íntimos Nosso Senhor concedeu esta participação na sua Paixão e Morte, porque só eles que a sabiam encarecer, e capazes se mostravam de, corajosos e firmes, a presenciar.

A terceira prova foi-lhe dada ainda no Calvário, quando o Salvador lhe confiou e entregou sua santa Mãe. (Jo 19, 27). É fora de dúvida que as palavras de Jesus tiveram efeito imediato. Maria via em João seu filho e com ele ficou, sendo para este penhor de inestimáveis graças, que lhe provinham da convivência com a mãe de Jesus e da grata amizade que lhe devotava.

Ao discípulo foram incutidos o respeito e amor filiais, que do seu Divino Filho Maria era acostumada de receber. Que honra e doce encargo não era para São João, ser substituto e sucessor de Jesus no desempenho dos deveres filiais para com sua mãe! Desde o século doze formou-se na Igreja a convicção de na pessoa de João, todos os cristãos terem-se tornado participantes no maravilhoso e duplo legado por Jesus na hora de sua morte.

Graças e privilégios iguais aos que São João os recebeu, não estão na ordem comum dos merecimentos possíveis de se alcançar. Quando muito póde-se para eles se preparar e reverentemente por eles anelar. A preparação consiste às vezes tambem na posse de qualidades e prerrogativas, que já estão em certa coordenação com esses benefícios, capazes de atrair o amor de Deus.

A primeira preparação que em São João havia, era uma afinidade de espírito e caráter, com o Salvador e a Mãe de Deus. O que a seu respeito sabemos, é que era de boa índole: meigo, brando, amável, delicado, suscetível a sentimentos de amizade e sincero, ardente e grato.

O seu primeiro encontro com Jesus foi decisivo para toda a sua vida (Jo 1, 39). Em Jesus tinha ele achado seu Senhor ideal.

Em seguida foi dele o companheiro fiel, sincero e desinteressado, sempre ao lado do seu Mestre, quer no Tabor, quer no Calvário. A Igreja, no ofício da festa deste Apóstolo tem a seguinte expressão, a ele se referindo: “Eis, meu servo seleto, por mim mesmo escolhido; sobre ele eu pus o meu Espírito”. (Jo 42, 1. Mt 12, 18).

A segunda qualidade, que lhe garantiu a amizade de Jesus, era a sua pureza virginal. Esta angélica pureza é a superioridade que já a Igreja primitiva lhe reconhecia, e que só a ele capacitava para ocupar lugar tão singular na vida de Nosso Senhor e de sua santa Mãe. A pureza virginal é a primeira condição para uma alma que de Deus se quer aproximar; é ainda esta virtude que lhe pode importar os mais altos favores divinos. Como nenhuma outra é ela que do coração remove os impecilhos que se opõem a Deus, ao seu amor e à sua liberalidade. Na pureza virginal Deus reconhece a sua própria formosura, e a ela com prazer e benignidade se comunica.

Impossível não é, que São João por si tenha devotado grande veneração e amor à Mãe do Senhor, de modo que por ela tenha sido convidado para acompanhá-la até ao monte Calvário, onde o esperavam favores tão extraordinários. A devoção à Mãe de Deus é sempre fonte de muitas graças.

João correspondeu à predileção que o Divino Mestre lhe tinha, não só com a prontidão de, como um dos primeiros apóstolos, o seguir, e nunca mais dele se separar, de com o seu apostolado o glorificar, primeiro em Jerusalém, depois na Ásia Menor, onde fundou e regeu muitas igrejas, onde criou uma escola apostólica, na qual se formaram um Santo Inácio de Antioquia e um São Policarpo; em Roma, mesmo segundo outros em Éfeso no império de Domiciano glorificou-o com o martírio, do qual ileso saiu; sendo Nerva imperador, voltou para a Ásia Menor e com 100 anos de idade, o único entre os apóstolos morreu de morte natural. As encantadoras lendas, que nos falam dos seus cuidados de pastor por um discípulo infiel, das respostas acertadas que aos seus discípulos dava referentes ao mandamento da caridade, e o que disse a um caçador estranhado pelas carícias que fazia a uma perdiz, dão testemunho do seu bom coração e da amabilidade e lhaneza que tinha aprendido do seu Divino Mestre. Assim podemos dar crédito a que a tradição a seu respeito nos diz: que os primeiros cristãos tinham em muito grande veneração o santo ancião, seu pastor, no qual reverenciavam a testemunha única ainda vivente da fundação do cristianismo, o discípulo predileto do Senhor, o intérprete fidelíssimo da sua doutrina, o filho adotivo de sua Mãe santíssima.

Única e inconfundível, porém, é a atividade de São João como escritor eclesiástico, como autor que é do seu Evangelho, das suas epistolas e do Apocalipse. O Evangelho de São João é o mais belo e o mais sublime. Pressupõe os outros três, completa-os com episódios preciosos, intérpreta-os e intrinsecamente os comprova. Construído da narração dos feitos, dos milagres e prédicas de Jesus, toma forma de prova grandiosa, histórica e instrutiva da divindade de Cristo para os cristãos, contra os judeus, em primeiro lugar, como também contra os gnósticos, corrigindo-lhes a errônea explicação dos termos “Verbo, Luz, Mundo, Vida”. O Apóstolo São João tem seu estilo característico, que se distingue pela simplicidade, clareza, profundeza e sublimidade. Seu Evangelho é a expressão e o reflexo de um espírito, todo imbuído na visão dos mistérios mais elevados da divindade, desfrutando uma paz imperturbável na posse da suprema verdade e do Sumo Bem. As epístolas são comentários suplementares do Evangelho. Nelas o autor põe em relevo a verdade da Redenção pelo Filho de Deus e o mandamento da caridade. No Apocalipse, o único livro profético do novo testamento, o Apóstolo vaticina os destinos do Reino de Cristo, suas lutas e sua vitória final com a vinda de Cristo, e sua consumação na glória eterna. São imagens grandiosas, que o escritor esboça para consolar a Igreja perseguida, e para confortar os fiéis na paciência e perseverança.

 Em consideração de tudo isto, a Igreja em seu ofício divino apresenta-nos o Apóstolo São João digno de toda a nossa veneração e do nosso amor. Que o discípulo predileto de Nosso Senhor, o confidente e arrimo de Maria Santíssima, o evangelista e profeta inspirado, conserve à Igreja o espírito que o animou e dirigiu: o espírito da humildade, da fortaleza, do mais acendrado amor de Deus e o zelo pelas almas.

São João Evangelista bem merece um lugar perto do pobre presépio do Salvador. Qual raio luminoso do céu a sua palavra dissipa as trevas da noite do nascimento de Jesus: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava em Deus, e o Verbo era Deus... e o Verbo se fez carne”. (Jo 1, 1) “De tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho Unigênito” (Jo 3,16). É esta a bela e profunda interpretação do mistério de Belém e do Gólgota. É esta a revelação do grande milagre do amor de Deus feita a nós pobres homens. O amor tudo opera, tudo explica; o amor é onipotente no céu e na terra. João é o arauto, o profeta deste amor, figura grandiosa e sempre amada. Lugar de honra lhe compete perto do presépio do Senhor, na Oitava da Festa do Natal.

REFLEXÕES

“Filhinhos, amai-vos uns aos outros”, era a exortação constante por São João dada aos discípulos. Nas epístolas é sempre a caridade que ele aos fiéis recomenda. Ensinamento de São João também é este: que o cristão deve ser caridoso, não só de língua e em palavras, mas por obra e em verdade. O amor de Deus manifesta-se pela observação dos mandamentos. “É este o amor de Deus, que observemos os seus mandamentos.” (I Jo 5, 3) Quem não os quer observar, não ama a Deus verdadeiramente. O amor ao próximo está em nós, quando observamos as palavras de Cristo, que diz: “Tudo que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles”. (Mt 7, 2) Sabei que para alcançar a vida eterna, o amor de Deus e ao próximo são indispensáveis. “Ninguém se iluda, pensando que por meio do jejum, da oração e pela prática de outras virtudes, chegue a salvar a alma, se não tiver amor sincero a Deus e ao próximo”. (São  Cirilo de Alexandria).