17 de maio
São Pascoal Bailão, O. F. M. (+ 1592)
São Pascoal Bailão, irmão da Ordem de São Francisco de Assis, era de origem espanhola e nasceu em Valença, na festa de pentecostes do ano de 1540. Os pais, pobres camponeses, muito se distinguiam pela piedade e virtude cristã. Se a pobreza não lhes permitia dar ao filho excelentes mestres, que o instruíssem nas ciências, não lhe deixaram faltar o que para o homem é ainda mais necessária e que eles mesmos lhes podiam proporcionar: uma educação sólida, sobre a base do temor de Deus. Tendo Pascoal alcançado a idade de poder prestar algum serviço, confiaram-lhe os pais a guarda do gado no campo. A falta de instrução cívica, o menino mesmo procurou equilibrar, por uma aplicação pouco comum entre meninos de sua idade. Estando a guardar o gado, pedia aos transeuntes que lhe ensinassem as letras e assim, em pouco tempo, aprendeu a ler, - vantagem esta de que se serviu para ainda mais se instruir na doutrina cristão. Foi esta a vida que Pascoal levou até a entrada na Ordem Franciscana. Separado da sociedade, pode-se dizer, só com Deus, em companhia dos animais, Pascoal não chegou a conhecer o mundo, e, quando pediu admissão entre os Frades Menores, nenhum pecado grave lhe tinha manchado a alma. Inimigo da blasfêmia, da mentira, das brigas e conversas e cantigas indecentes, não permitia, que em sua presença se ofendesse a Deus com semelhantes pecados. Cuidadoso no cumprimento do dever, procurava evitar o mais possível que fosse causado prejuízo ao próximo. Se ainda assim acontecia que alguém, por uma qualquer circunstância ou por inadvertência de sua parte, fosse prejudicado, Pascoal indenizava-o pelo seu trabalho ou desconto do salário. Nunca alguém o viu imitar o exemplo que lhe davam, de furtar frutas ou uvas do pomares e vinhedos alheios. Sucedeu que um dos companheiros, mais velho, o mandasse buscar mais uvas numa vinha que não lhe pertencia. Como Pascoal se negasse a isto e o mais velho o ameaçasse com pancadas, respondeu-lhe: “As uvas são de outrem. Antes prefiro deixar-me cortar aos pedaços, do que furtar coisa alheia, o que é pecado”. Tal era o horror que o Santo tinha ao pecado. Fora do comum era o amor que tinha à oração. Sempre que se lhe dava ocasião, entrava na igreja, para adorar o Santíssimo Sacramento e fazer uma visita à Maria Santíssima. Contava vinte anos Pascoal quando, por uma visão que teve de São Francisco e de Santa Clara, reconheceu uma vocação para o estado religioso. Em vão lhe prometeu o patrão tê-lo como filho; em vão lhe fez a proposta de constituí-lo único herdeiro de sua grande fortuna: Pascoal, tendo uma vez conhecido a vontade de Deus, renunciou a todos os bens terrestres, para não por em perigo a salvação da alma. Foi na festa de Nossa Senhora das Candeias, que Pascoal trocou o cajado pelo burel. Se já lhe era santa a vida de pastor, como religioso ainda mais se aperfeiçoou. Às práticas de piedade acrescentou outras, da mais rude penitência, como o jejum, as vigílias e mortificações de toda a espécie, cada qual mais dolorosa e sensível. Grande parte das horas noturnas passava-se Pascoal em oração feita com tanto fervor, que a alma lhe parecia arrebatada em êxtase. Trabalhador, nunca estava ocioso, e antes de começar as ocupações, fazia uma pequena oração. Pontualíssimo nas devoções, não fazia repetições inúteis, como costumam fazer pessoas escrupulosas que, perturbadas por distrações involuntárias, se martirizam inutilmente, repetindo muitas vezes as orações que lhes parecem ter sido mal feitas. Tal procedimento desagrada a Deus e dá ao demônio o prazer de atormentar a alma. Pascoal andava sempre na presença de Deus, e por isto jamais era visto entregue à melancolia e tristeza. Como da peste, fugia dos elogios e alegrava-se com o escárnio e a humilhação, que se lhe faziam. Com um cuidado de todo extraordinário velava pela pureza de consciência, levando esta delicadeza ao ponto de evitar os mais leves pecados. Quando ainda era pastor, os companheiros, de pouco escrúpulo, falavam uma vez num plano, que queriam levar a efeito: de convidar uma mulher, para em companhia da mesma passar uma horas bem divertidas. Pascoal, ouvindo-os falar assim, enrubesceu e, indignado, disse-lhes: “Deixai vir aquela sujeita, que a hei de receber com pedras na mão”. Mais tarde, quando se achava no exercício de porteiro do convento, certa vez aconteceu que um leviana o quisesse beijar. Pascoal não a deixou esperar pela paga merecida: deu-lhe um empurrão e fechou a porta. Em outra ocasião, uma mulher pediu um sacerdote para se confessar. Estando este ocupadíssimo com outros trabalhos, disse ao porteiro, que era Pascoal: “Dizei àquela senhora que não estou em casa”. – Prefiro dizer, respondeu Pascoal, que V. Revma. está ocupado”. – “Não, replicou o sacerdote, dai o recado como vos falei; sei porque assim me exprimo”. Pascoal, porém, não se conformando com isto, disse: “Senhor Padre, não farei tal coisa, porque na minha opinião isso é pecado, por ser uma inverdade”. Embora não fosse sacerdote, Pascoal não perdia ocasião de fazer bem ao próximo, levando-o ao caminho da virtude. Com palavra simples, caridosa e convincente, conduziu grandes pecadores ao cumprimento dos seus deveres. Numa viagem que fez da Espanha a Paris, muito sofreu do fanatismo dos Huguenotes. O humilde hábito de Franciscano parecia uma constante provocação à ira dos hereges, que por diversas vezes chegaram a maltratar o pobre viandante. Não fora a intervenção de pessoas compadecidas, teriam dado cabo do piedoso monge. Simples irmão leigo que era, Pascoal, possuía entretanto uma sabedoria profunda nas ciências e mistérios da santa religião, pelo que causou grande admiração aos homens mais sábios do seu tempo. Possuía o Dom de ler nas consciências, predizia cousas futuras e auxiliava os pobres de uma maneira maravilhosa; “O homem – assim costumava dizer – deve ter um coração de criança para com Deus, um coração de mãe para com o próximo e um coração de juiz para consigo mesmo”. Era esta máxima o programa de sua vida. Aos 52 anos, Pascoal adoeceu gravemente. Por inspiração divina, teve conhecimento prévio da hora da morte e para ela se preparou de uma modo edificante. Ao médico que o desenganara, agradeceu por ter-lhe dado notícia tão agradável. Era no Domingo de Pentecostes. Por diversas vezes perguntou Pascoal aos enfermeiros; “Já principiou a Missa solene?” Quando lhe disseram que sim, tomou nas mãos o crucifixo e o terço. Na hora da elevação da sagrada Hóstia entregou o espírito a Deus. Quando, por ocasião das exéquias, o corpo de Pascoal se achava no presbitério, foi observado pelos assistentes que, pela elevação das sagradas espécies por duas vezes os olhos se lhe abriram e fecharam. O corpo do Santo ficou exposto, pelo espaço de três dias. Durante esse tempo, recebeu as homenagens do povo, que o venerava como relíquia preciosíssima. Oito meses depois do sepultamento, foi aberto o túmulo e o corpo encontrado intacto, sem sinal de corrupção, apesar da grande quantidade de cal virgem, com que fora coberto no dia do enterro. Anos depois foi visto no mesmo estado. Grandes e numerosos tem sido os milagres, com que Deus tem glorificado o túmulo de Pascoal Bailão. A bula da canonização frisa dois grandes milagres, que o processo reconheceu como inegáveis. O primeiro deu-se com Francisco Vargas, Vigário de Corralrubio na Espanha. Este sacerdote teve a infelicidade de, pela desajeitada manipulação de um machado, amputar o dedo índex da mão esquerda. Sem ocupar um médico, sem aplicar outros medicamentos, recomendou-se a São Pascoal e pelo fim do terceiro dia teve a mão curada. Outra poderosa intervenção de São Pascoal experimentou o camponês Domingos Perez, que, vendo baldados todos os esforços para encontrar água na sua fazenda, confiadamente se dirigiu a São Pascoal Bailão. Saindo um dia de casa levou consigo um machado. Chegando ao lugar onde desejava ter um poço, deixou cair o machado e disse estas palavras: “Em nome de Deus e de São Pascoal”. Imediatamente se abriu a terra em tal lugar e apareceu uma mina d’água abundante e saborosa. Pascoal Bailão foi canonizado por Alexandre VIII. A Igreja Católica estabeleceu-o como padroeiro dos Congressos Eucarísticos.
|