28 de Março
São Guntrano
“Deus é rico em misericórdia” é o título da recente encíclica do Papa João Paulo II. A misericórdia de Deus é de fato paciente, longânime, como a evidencia a parábola do Filho Pródigo. Assim Deus agiu com São Guntrano, rei dos francos, no século VI. O reino dos francos tinha conseguido uma relativa união política por obra do grande rei Clodoveu, que foi o primeiro rei a se converter ao Cristianismo, levado sobretudo pelos exemplos e preces de sua santa esposa, Clotilde. O reino ficou unido também com o filho Clotário, mas os quatro filhos deste repartiram o reino em quatro partes. Uma, a de Borgonha e Orléans, coube a Guntrano, o santo comemorado hoje no Martirológio Romano com este elogio: “Em Cha-lon-sur-Saône, na França, o trânsito de São Guntrano, rei dos francos, o qual se deu tanto às coisas espirituais, que deixou de lado as pompas do século e distribuiu com liberalidade os seus tesouros às igrejas e aos pobres”. Contudo, Guntrano teve uma vida agitada sob o aspecto moral e político. Sob o aspecto moral seus inícios do reino não foram exemplares. Com uma sociedade decaída teve também comportamento impróprio partilhando da moral dos tempos semibárbaros, um tanto pragmática. Devido ao problema de descendência, não conseguindo filhos, passou sucessivamente a três uniões, mas sem êxito algum. Se nasciam filhos, estes morriam pouco depois, até que se resolveu, não sem graves contrastes, adotar um sobrinho para que fosse herdeiro do trono. “Por causa dos meus pecados, dizia ele, fiquei sem filhos. Peço me seja concedido que este sobrinho seja reconhecido com todos os direitos como meu filho”. O sobrinho chamava-se Quildeberto e foi de fato seu braço direito no governo e depois seu sucessor no trono. Desde este tempo Guntrano mudou radicalmente de conduta. Faleceram os outros três irmãos, cada qual governando uma parte do antigo reino do pai Clotário. Guntrano conseguiu com muito tino diplomático incorporar ao próprio trono os dos irmãos de maneira tal que se deu mais uma vez a unificação do reino dos francos. O governo de Guntrano durou trinta e um anos e é lembrado na história da França como um período próspero e relativamente tranqüilo. Os méritos do governo deste rei dizem respeito à devoção sincera à Igreja, sempre pronto à obediência e humildade. Protegeu a liberdade da Igreja, favorecendo-lhe também a difusão. Nos problemas mais delicados do governo sabia recorrer com muita humildade ao conselho dos bispos. Com seus súditos foi pai bondoso, solícito e grande benfeitor do seu povo nas contingências mais adversas. Foi homem reto nos assuntos administrativos. Legou seu nome a numerosas obras assistenciais; à construção de igrejas, mosteiros e à educação do seu povo. Com suas orações e jejuns quis expiar os desmandos da juventude. São Gregório de Tours, contemporâneo e amigo do rei, elogia bastante Guntrano pelas iniciativas da caridade, pelos bons exemplos de piedade, retidão e por ter favorecido a disciplina eclesiástica. Faleceu com 68 anos de idade em 28 de março de 593. Seu corpo foi sepultado na igreja de São Marcelo em Chalon-sur-Saône por ele construída. A Igreja ratificou o culto que o povo lhe tributou desde sua morte.
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