Instituto Missionário dos Filhos e Filhas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e das Dores de Maria Santíssima

 

08 de Outubro

São Luiz Bertrand (Beltrão) O. P. Missionário

São Luiz Bertrand (Beltrão), natural de Valência, na Espanha, era filho de um tabelião da mesma cidade e veio ao mundo em 1526. Nos primeiros anos da infância dava indícios indubitáveis de futura santidade. Sete anos tinha, quando começou a recitar diariamente o ofício de Nossa Senhora. O prazer do piedoso menino era ir à igreja. Às práticas de piedade aliava uma obediência incondicional aos pais, amor às mortificações, ao estudo e à leitura espiritual. Sempre que podia, trocava a cama pelo soalho, procurando em tudo imitar o seu santo parente Vicente Ferrer. Mocinho, afastou-se clandestinamente da casa paterna, em demanda de uma solidão, onde pudesse mais desembaraçadamente se entregar a exercícios de piedade e de penitência. O pai descobriu-lhe o esconderijo e obrigou ao filho a voltar para casa, não podendo, entretanto, evitar mais tarde que entrasse para o Ordem Dominicana. Os progressos de Luiz na virtude e na perfeição religiosa foram tais, que sete anos depois da entrada na Ordem, foi nomeado Mestre do Noviciado. Com grande proficiência desempenhou-se por diversas vezes da missão de missionário. Além de dispor de grandes recursos retóricos, possuía o dom de ler nas consciências e de predizer coisas futuras. Passando certa vez por um campo onde um homem guardava o rebanho, disse ao pastor: “Meu amigo, sei que o estado de sua alma não é bom. Há três anos já que não faz boa confissão. Se tem amor à sua alma, não deixe de confessar-se o quanto antes, porque a morte está à sua espera. Estou pronto para dar-lhe a absolvição”.

O pastor ao ouvir estas palavras, assustou-se, mas reconhecendo a graça de Deus, que tão inesperadamente se lhe oferecia, aceitou o convite e confessou-se contrito. Três dias depois morreu.

No ano de 1557 a peste assolou a cidade de Valência. Luiz aproveitou-se da ocasião, para praticar obras heróicas de caridade. A terrível epidemia poupou-lhe a pessoa; mas logo que as coisas se normalizaram, pediu aos superiores que o destinassem às missões entre os indígenas da América. Como recompensa dos serviços prestados nos dias da peste, obteve o que pedira. Em 1562 partiu para as índias ocidentais, em companhia de outros sacerdotes da Ordem. Ardia-lhe no coração o desejo de salvar almas e de dar a vida em testemunho da fé que pregava. Grande foi o número de pagãos que ganhara para a religião de Cristo. Nos maiores perigos e dificuldades, aparentemente insuperáveis, a proteção divina era visível, e muitos foram os milagres que Deus se dignou de operar por intermédio de seu santo servo.

A biografia do Santo afirma que, apesar de ter sido senhor de um só idioma, todos os povos que o ouviam falar, o compreendiam perfeitamente. Mais de uma vez correu perigo de ser envenenado por pagãos, que o odiavam, como inimigos que eram da religião de Cristo, mas a mão de Deus estava com ele, e nada puderam fazer que o prejudicasse. Estava combinada sua morte pelo apedrejamento. Luiz, porém, soube de tal maneira amainar o espírito dos inimigos, que estes não só desistiram do plano, mas acabaram por aceitar a religião cristã e pediram o batismo. Numerosos são os fatos da vida deste Santo, que provam a assistência e proteção visíveis de que gozava da Divina Providência.

Poucos anos Luiz trabalhara na seara das missões, quando os superiores lhe reclamaram os serviços na Europa. Na travessia do mar sobreveio uma tempestade, que pos em risco de vida os passageiros, mas Luiz tranqüilizou-os, com o sinal da cruz. O resto da vida Luiz passou-o no desempenho de diversas incumbências da Ordem. Admirável foi a paciência com que sofreu as dores da última doença. Quando o sofrimento chegava ao auge, se servia da palavra de Santo Agostinho, que dizia: “Senhor, queimai, cortai enquanto eu tiver vida, contanto que useis comigo de misericórdia na eternidade”.

Luiz Bertrand morreu em 9 de Outubro de 1581, conforme predissera.

Como sua paciência, grande era sua humildade, que o fazia reconhecer em si próprio o maior pecador do mundo. Tinha como regra de vida: “Desprezar a si próprio, não desprezar a ninguém, desprezar o desprezo.” Como de uma serpente, fugia do elogio. Repreensões, censuras e críticas a seu respeito, ouvia com toda a calma para depois dizer: “O que os senhores de mim afirmam é a pura verdade. Melhor do que eu conhecem-me”.

Certa vez alguém fez referências elogiosas a Luiz, por causa dos milagres que fazia. “Pensa o Senhor, respondeu-lhe o Santo, que fazer milagre é sinal de santidade? Fique certo de que não é nada menos que isso, mas única e exclusivamente efeito da fé. Poder incomparavelmente maior recebeu Lúcifer e perdeu-se”.

Luiz Bertrand cultivou a virtude angélica com o maior esmero, encontrando na oração e na penitência meios poderosos para conservar-se fiel ao voto.

Era muito amigo da oração, que o aproximava o mais possível de Deus.

Não impediu a prática dessas virtudes todas que o santo Servo de Deus vivesse num temor contínuo de não se salvar. Este temor arrancava-lhe profundos gemidos e muitas vezes dizia: “Outros são muito mais perfeitos que eu. Muito mais graças do que eu, receberam. Lúcifer e Judas, como muitos outros foram condenados. Quem me dirá que não me possa acontecer a mesma coisa? Oh miséria das misérias! Viver nesta incerteza terrível e não sentir temor!”

Pouco antes de expirar, virou-se para os irmãos de Ordem e disse: “Rezai por mim, meus irmãos, para que Deus não me condene”.

Foi justamente este temor permanente que fez Luiz Bertrand proceder com muita cautela e fugir do perigo. Era ainda este temor que constantemente o animava a praticar boas obras. Um dia o enfermeiro descobriu que o doente conservava escondido um tijolo, que punha sobre o peito. Espantado por ver a pedra, disse a Luiz Bertrand:

“Porque Vossa Revma. se martiriza dessa maneira? Já não bastam as dores que a doença lhe faz suportar?”

O Santo respondeu:

“Que hei de fazer? A morte já está à porta e o reino dos céus padece força”.

Até o fim da vida Luiz Bertrand trabalhou, lutou e sofreu para ganhar o céu. Milagres sem conta e número por ele praticados convenceram o mundo católico da grande glória de que goza no céu. O Papa Clemente X celebrou-lhe a canonização em 1671.

REFLEXÕES

“A morte está à porta e o reino do céu padece força”, dizia São Luiz Bertrand àqueles que o queriam afastar da penitência. É a mesma coisa que Deus Nosso Senhor ensinava, em termos ainda mais positivos, quando falava da necessidade da penitência, da mortificação dos sentidos e da carne. “Quem quer seguir-me, negue-se a si próprio, tome a sua cruz e siga-me. — Quem não tomar sua cruz sobre si e não me seguir, não é digno de mim”. — “Quem procura conservar a vida, perdê-la-á; mas aquele que perder a vida por amor de mim, acha-la-á”.

São Paulo confessa de si, dizendo: “Assim eu corro, não como atrás de coisa incerta; pelejo da mesma maneira, mas não para açoitar o ar; mas castigo o meu corpo e reduzo-o à escravidão, para que não suceda que, havendo pregado a outros, venha eu mesmo a ser condenado” (I Cor 9, 26-27). Verdadeiros servidores de Cristo crucificam a carne com todas as más inclinações; reduzem o corpo à escravidão, para um dia poderem dar conta a Deus de sua administração.