Um rastro de conflitos
A palavra Sudão deriva da
expressão árabe Bilad-as-Sudan, que significa
“terra dos negros”. No entanto, para o governo
sudanês, a palavra parece ter perdido o sentido.
Desde 1956, quando o Sudão
conquistou sua independência do Reino Unido,
o país passou a ser governado por um
sistema totalitário, que provocou uma guerra civil de quase
vinte anos.
Houve uma trégua em 1972 e,
durante uma década, o Sudão permaneceu sob uma paz frágil e
delicada. Porém, em 1983,
fundamentalistas islâmicos tomaram o poder e impuseram as
leis islâmicas (Sharia*) ao restante do país.
*A charia, chariá, xaria ou
xariá (em árabe
شريعة), também grafada sharia, shariah, shari'a ou
syariah, é o nome que se dá ao código de leis do islamismo.
A Sharia
dividiu o Sudão e uma atmosfera de
tensão recobriu o país, culminando em uma nova guerra que
subsiste até hoje.
De um lado,
o governo fundamentalista islâmico,
representado pelos árabes do norte e sua Frente Islâmica
Nacional (FIN). Do outro, os guerrilheiros africanos das
tribos do sul, que formaram a organização camuflada Exército
da Libertação do Povo do Sudão (ELPS).
Entre o fogo cruzado, encontra-se a
população cristã, que habita, em sua maioria, no sul do país.
Há cerca de dois anos, outra frente de combate surgiu
no oeste, na região de Darfur, onde os confrontos geraram
uma crise humanitária inconcebível.
O Sudão é o maior país do
continente africano com cerca de 33 milhões de habitantes:
70% são muçulmanos, 20% são
cristãos e 10% dividem-se em crenças tradicionais e aqueles
que não possuem religião. Após duas décadas de
conflito, os números revelam um triste rastro de miséria e
morte: 5 milhões de refugiados e 3 milhões de mortos.
Um regime de perseguição, tortura e dor
Devido aos constantes
distúrbios de paz, houve uma deterioração da infra-estrutura
do país. Quase 2,4 milhões de
sudaneses estão ameaçados pela fome e a capacidade do
governo em atender ao serviço social é irrisória.
Doenças como hepatite, malária, tuberculose e a febre
tifóide são freqüentes entre a população castigada pelo
conflito.
Os cristãos são
os que mais sofrem no Sudão, vitimados pelas campanhas de
islamização impostas pela Frente Islâmica Nacional.
Os combatentes roubam os rebanhos e desabrigam e
incendeiam os vilarejos. Bombardeios aéreos geram
destruição, trauma e morte, além de provocar o deslocamento
forçado de milhões de cristãos.
A fome é
utilizada pelo governo como arma de guerra no conflito,
causando sofrimento e ceifando vidas.
A ordem é para reter as remessas humanitárias, que acabam
sendo distribuídas entre os próprios soldados, proliferando
uma multidão de famintos e necessitados nos campos de
refugiados.
Milícias
muçulmanas
provocam sequestros, atacam e violentam mulheres e
meninas, como parte de uma estratégia para aterrorizar e
humilhar a comunidade cristã.
Registros denunciam a separação de
famílias, a obrigatoriedade da conversão de crianças cristãs
ao islamismo e a venda de cristãos como escravos a
comerciantes árabes do norte do Sudão.
Ao longo dos
últimos anos, igrejas e instituições católicas foram
destruídas ou tomadas à força, padres e religiosos foram
presos sob falsas acusações e até casos de pena de morte aos
muçulmanos convertidos ao cristianismo já ocorreram.
Relatos ainda revelam a utilização de tortura, além da
prática da “crucificação”
de cristãos, que consiste no espancamento de pessoas
amarradas em cruzes.
Em Wau, cidade situada ao sul
do país e severamente castigada pelas milícias do governo, o
padre Gabriel recebeu a visita da obra de caridade
internacional Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) e
fez o seguinte relato à entidade:
“As pessoas estão com sede. Elas têm
sede de ajuda e por isso vêm até a Igreja, porque nós
sofremos com elas. Procuram por conselhos e nós tentamos,
urgentemente, dar o que elas necessitam”.
Projetos que aliviam e
salvam
Diante da terrível
perseguição a que os cristãos estão sendo submetidos, a AIS
foi impelida a desenvolver um trabalho de total empenho em
atender às necessidades da Igreja no Sudão, trazendo a luz
da esperança e da fé àqueles que sofrem no maior país da
África.
Com o suporte financeiro de
seus benfeitores, a entidade socorre mais de 50 mil crianças
nos campos de refugiados e ao redor de Cartum, capital do
país. Apóia projetos que mantêm escolas cristãs; atende aos
pedidos dos bispos locais, providenciando cuidado social e
suprimento de remédios, alimentos e água limpa para as
famílias pobres.
A Bíblia da Criança,
propagada mundialmente pela AIS, foi traduzida para alguns
dialetos locais e distribuída pelas aldeias; além de
projetos de reconstrução e reforma das igrejas destruídas
pelas tropas governamentais. Nos vilarejos vitimados pela
guerra, projetos de auto-suficiência são implementados para
ensinar apropriadamente a costurar, a cozinhar e a realizar
o plantio e a colheita, para que, dessa maneira, os
habitantes possam vender nas feiras os produtos produzidos
por eles.
Em quase todo o Brasil, campanhas foram iniciadas para dar o estímulo
que a Igreja do Sudão, pobre e devastada, tanto necessita:
recursos financeiros para livros, transporte de seminaristas
e o apoio a programas de catequização nas paróquias, que
batizam centenas de adultos por ano. Mesmo com todas as
dificuldades, a AIS exorta os cristãos sudaneses a
permanecerem fiéis a Cristo, porque acredita que a paz
prevalecerá e que o verdadeiro significado do nome Sudão
será respeitado.
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