Jaraguá, 29 de junho de 1995
Exmo. Senhor Bispo
Dom Manoel Pestana Filho
Antes de viajar para São Paulo, nesse
dia tão maravilhoso em que celebramos a Festa dos Gloriosos Pedro e
Paulo, resolvi escrever-lhe com a intenção sincera de agradecer-lhe
por tudo o que o senhor fez por mim até hoje.
O que não consigo entender, é esse
apoio que o senhor está dando para o lado profano das festas
religiosas. Em Jaraguá, por exemplo, estou recebendo todas as semanas
pessoas que estão voltando para a Santa Madre Igreja, sendo que antes,
estavam no protestantismo por causa dessas festas.
O senhor conhece muito bem o escândalo
que acontece em Monte Castelo durante a festa, e infelizmente
continua mandando padre só para destruir o trabalho que comecei nessa
capela todos os domingos: primeira Comunhão, curso para noivos,
catequese para adultos, etc.
O Papa João Paulo II, graças a Deus não
pensa assim. Leia com atenção esse trecho da “Alocução da Audiência
Geral de quarta-feira, 14 de junho de 1995”: “Nunca se poderão
comprovar costumes em contraste com as decisões do Evangelho”, e
também Gaudium et Spes, 58: “Ao mesmo tempo a Igreja enviada
a todos os povos de qualquer época e região, não está ligada de
maneira exclusiva e indissolúvel a nenhuma raça ou nação, a nenhuma
forma particular de costumes e a nenhum hábito antigo ou recente. Fiel
à própria Tradição e simultaneamente consciente de sua missão
universal, ela pode entrar em comunhão com as diversas formas de
cultura, donde resultará um enriquecimento tanto para a Igreja como
para as diferentes culturas”. Aqui fala de enriquecimento e não de
destruição da piedade, isto é, destruir aquilo que está sendo
construído com muito sacrifício, só para agradar os inimigos da Igreja
ou simplesmente para mostrar a sua autoridade, afastando também os
católicos verdadeiros da Igreja.
No Código de Direito Canônico, Cân.
1230, diz que Santuário é a igreja ou outro lugar sagrado, aonde os
fiéis em grande número, por algum motivo de piedade, fazem
peregrinações… Será que Monte Castelo está de acordo com esse cânone?
Claro que não! Esse povo que vem em
Monte Castelo está atrás somente dos bailes, bebidas, prostituição,
etc.
Gostaria que o senhor proibisse na sua
Diocese esses bailes nos salões paroquiais, por exemplo: Nerópolis,
Ouro Verde, etc.
Se o senhor está enviando padres para
atacar-me com a intenção de prejudicar-me, é perda de tempo, porque
cada um prestará contas a Deus do seu escândalo. Gostaria que o
senhor tomasse conhecimento do ranchão e cervejas que as Irmãs e o
Padre… ofereceram para o povo na festa de Pentecostes em São Francisco
de Goiás.
Querer agradar um grupo de pessoas que
usam a Igreja para subir na vida política, é um crime terrível,
principalmente quando um bispo tira a autoridade de um padre só para
agradar certas pessoas que nem são católicas: “Ai de vós, quando
vos louvarem os homens, porque assim faziam seus pais aos falsos
profetas” (Lc 6,26),
e também: “Seria crime negar obediência a Deus para dá-la aos
homens; seria delito, infringir as leis de Jesus Cristo para obedecer
aos magistrados… Não há melhor cidadão quer na paz, quer na guerra, do
que o cristão que o é deveras; mas por isso mesmo que o é, deve estar
resolvido a sofrer tudo e mesmo a morte, do que desertar a causa de
Deus e da Igreja… recuar diante do inimigo, ou calar-se, quando de
toda parte se ergue tanto alarido contra a verdade, é próprio de homem
covarde ou de quem vacila no fundamento de sua crença. Qualquer dessas
coisas é vergonhosa em si; é injuriosa a Deus; é incompatível com a
salvação tanto dos indivíduos, como da sociedade e só é vantajosa aos
inimigos da fé, porque nada tanto afoita a audácia dos maus, como a
pusilanimidade dos bons” (Leão XIII, “Sapientiae Christianae).
Apesar de tudo, celebro a Santa Missa
todos os dias para o senhor e o estimo de coração, menos naquilo que
disse na carta.
Pe. Divino Antônio Lopes FP.
Obs: O nome do sacerdote foi preservado
nessa página, porém, o mesmo está citado na carta original que se
encontra guardada em nossos arquivos.
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