Instituto Missionário dos Filhos e Filhas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e das Dores de Maria Santíssima

 

 

Cartas a Dom Manoel Pestana Filho,

Bispo de Anápolis - Go

 

 

Carta 8

 

 

Jaraguá, 30 de agosto de 1996

 

Senhor Bispo

 

O senhor disse na sua carta: “Tenho uma pena imensa do senhor”.

Agradeço-lhe pela “pena”, isto é, compaixão, dó; agora não sei o porquê dessa “pena”. Não sou herege, nem rebelde e nem desobediente às Leis da Igreja Católica; sou apenas um “POBRE” padre como o senhor mesmo afirmou, comedor de poeira, da roça, escravo do dever, alvo de calúnias engraçadas que fazem até os mais simples sorrirem, perseguido e ridicularizado por 70% dos padres da Diocese.

Quando ao “nojo” e a frase: “em quase tudo pelo que não é seu”, é muito obscura. Seja qual foi a intenção do senhor, quero responder como entendi.

Se foi em relação à Paróquia, o senhor se enganou mais uma vez. Dos 8.000 católicos praticantes, apenas 600 são Lanceiros, e existem vários movimentos dentro da Paróquia. Todos recebem a mesma formação e a porta da minha casa está aberta para todos.

Se foi em relação à Diocese, nunca recusamos um convite feito pelo senhor ou por um sacerdote para qualquer manifestação ou trabalho apostolar.

Quanto à frase: “Um nojo, fruto amargo de desprezo, ressentimento (muito pior que o ódio, pois paralisa a inteligência e o coração…, revolta)”. Isso é um jogo de palavras que não tem nada a ver com a minha pessoa e o meu comportamento; que pode ser muito bem esclarecido  assim que o senhor quiser pelos paroquianos praticantes; e não pela maçonaria, espíritas, caóticos repugnantes; mas se quiser, poderá pedir esclarecimento até para os protestantes que estão voltando em grande número para a Igreja Católica em Jaraguá.

Quanto a ameaça que o Pe. Vittorio Lucchesi lhe fez, caso eu não entrasse na filosofia, não é fruto da imaginação e muito menos alucinação, é pura realidade. A não ser que o Pe. Vittorio estivesse mentindo, que não era do temperamento dele.

Fico feliz em saber que o senhor não vende ordenação, mas o Pe. Vittorio não disse ordenação, e sim, o meu ingresso na filosofia. Por falar em ordenação, gostaria que o senhor fosse bem prudente antes de impor as mãos sobre alguns rapazes do vosso Seminário Diocesano e também de alguns diáconos permanentes; sendo que se tratando de ordenação, sempre lhe admirei a prudência.

Quanto a dor e lágrimas do Pe. Vittorio, parece-me que é o contrário, porque, quatro meses antes de morrer, ele pediu-me para ingressar em seu Instituto; realmente sofreu muito quando lhe disse não. Quanto àquilo que o senhor disse “compreendo cada vez mais e as suas alusões”, deixo por sua conta, o importante é que estou feliz em ser padre fiel à Igreja, e o senhor sabe muito bem disso.

Quanto ao “ataque”, o senhor se enganou mais uma vez, apenas me defendo.

Quanto à frase: “Mesmo depois de ter traído três vezes. Pedro não foi rejeitado por Cristo e ainda ouviu três vezes: “Apascenta...” Já que Cristo perdoou Pedro três vezes, siga o exemplo d’Ele vindo em Jaraguá conforme o senhor prometeu, e eu já avisei aos paroquianos. Venha apascentar as ovelhas que estão à sua espera”.

Quanto ao perdão, na prática acontece o contrário; o senhor sendo um bispo, deixa de cumprir o seu dever por causa de cartas, sendo que eu, um pobre padre, nunca deixei de ir nas reuniões do clero por causa de cartas. Onde está faltando o perdão?

Se o senhor realmente não quiser vir a Jaraguá, ficarei tranqüilo e ao mesmo tempo escandalizado pelo mau exemplo do meu Superior, que deveria ser luz para mim, mas em todo caso, a decisão é do senhor.

Quanto ao padre que o senhor enviar, será muito bem recebido, mas se alguém perguntar sobre a ausência do senhor, direi toda a verdade.

Quanto à resposta que o senhor exige, responda primeiro as minhas, o que escrevi está escrito, mesmo se o mundo cair não voltarei atrás.

O senhor disse: “Não tenho mais cara ou condições para ir aí”. Eu sempre tive e terei cara e condição para ir na reunião do clero, e também na casa do senhor, como já o fiz a pouco tempo.

Quanto à essa frase: “Aliás, o senhor faz sempre sentir que não precisa absolutamente de mim”, para mim ela é inexistente e jamais continuaria o meu ministério com esse espírito.

Nunca divulguei nada sem consultá-lo e quero continuar assim, apesar do desprezo de vossa parte, como aconteceu em relação ao meu primeiro livro que está sendo editado.

O senhor se lembra do dia 12 de outubro de 1995,  quando mais de 1.300 pessoas participavam da 1ª Marcha sobre Nazaré ao Encontro de Nossa Senhora Rainha, em Jaraguá, todos esperavam pelo senhor que não compareceu, sendo que já havíamos marcado com três meses de antecedência?

Sobre a inauguração ou aniversário do Movimento e Instituto no final desse ano, ainda não obtive resposta.

Nas outras cartas já lhe convidei várias vezes. Seria isso desprezo?

Apesar de tudo o que está acontecendo, o senhor é o meu Superior, apenas respondo as cartas absurdas que recebo. Quem será que gerou esse clima? Qual o motivo?

Sobre aquela calúnia “…que eu proíbo os casais esterilizadas de terem relações”, é muito engraçada. Apenas acho baixo um bispo com tanta responsabilidade ter coragem de fazer essas perguntas, e pior, acreditar em fofocas.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

 

 

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