Padre durão de Pirenópolis agora usa tattoo e curte rock |
09/11/07 |
Figura polêmica, Joel Alves de Oliveira volta à antiga paróquia totalmente mudado. Menos radical, usa calça jeans, tênis e carro turbinado e pregações estão mais amenas
Marly Paiva
Lembra-se do padre Joel Alves de Oliveira, que se tornou conhecido em Pirenópolis por suas idéias conservadoras e controvertidas? Então, esquece. Aquele sacerdote de idéias radicais, que comandou por seis anos a paróquia local, de 1994 a março de 2000, e protagonizou muita polêmica por dar bronca nos fiéis que se recusavam a rezar por seu catecismo, já não é o mesmo. Depois de ficar outros seis anos afastado, cuidando do pequeno rebanho católico do distrito pirenopolino de Jaranápolis, ele está de volta há alguns meses à cidade, como sacerdote auxiliar, e já construiu uma nova imagem de si.
A batina, que ficou só para as celebrações, foi substituída por uma camisa escura, às vezes com o clergima (colarinho romano, branco). A calça preta ou de cor cinza-escuro ocasionalmente é substituída por uma esportiva, como a jeans, não raro com um tênis. O sacerdote pode ser visto de camiseta sóbria, boné ou até de jaqueta de couro mais tradicional, em dias frios, quando deixa seu Saveiro preto de quatro escapamentos e muitas modificações e acessórios e atravessa a cidade com sua motocicleta 450 cilindradas.
Ele mora em Anápolis, onde ontem havia deixado a motocicleta. Carros adaptados e motos não são novidade em sua vida e o gosto por eles, garante, em nada interfere em sua missão religiosa.
"Sempre gostei também de rock (bem comportado, tem som no carro) lutas de defesa pessoal, como o caratê, e de pescar, mas hoje até jogos de bola são poucos entre os padres", disse. O nome de Jesus gravado em tatuagem no braço fica discreto, coberto pela camisa, mas os cabelos cuidados, com tintura para disfarçar os fios brancos, reforçam a nova aparência.
Pregações amenas
As missas estão mais ao gosto dos fiéis. Nada de sermões moralistas e de missa por duas longas horas de muita sisudez. Agora, a celebração fica no limite de uma hora e quinze minutos de duração e as pregações estão amenas, evidenciam tolerância e boa-vontade com as "ovelhas" menos disciplinadas, sem que ele deixe de se aprofundar em suas reflexões. Padre Joel acredita que conseguiu se aproximar, dessa forma, dos que se mantinham afastados, por não gostar de seus modos. "A liturgia era antiga, o bispo da Diocese de Anápolis não a adota. Já minhas homilias, que estão mais doutrinárias, antes eram mais moralistas."
Padre Joel, agora aos 49 anos, admite que implicava, mas, como justifica, não foi fácil para um padre de pouco tempo de sacerdócio conviver com as visitas de turistas descontraídos demais para o ambiente religioso. Pessoas de diferentes costumes entravam a qualquer momento no templo, até em hora de missa, não raro com bermudas curtas ou a parte superior de um biquíni em lugar da blusa, desviando a atenção dos fiéis.
Chegavam em caravana, por exemplo, desciam de um ônibus nem atentavam para os trajes impróprios, situação que hoje não ocorre tanto, até porque os ônibus de turistas já não param no local. Ele admite que colocou placa próxima à entrada da matriz com a proibição. Agora, confessa, se limitaria a escrever "proibida entrada com trajes de banho".
Algumas de suas idéias foram mantidas, como se nota em uma placa da prefeitura, nos fundos da igreja, advertindo que pessoas se instalem e pernoitem no local. Ele avalia que até agiu "com renúncia ao tirar a imagem do Santíssimo da parte central da igreja matriz, colocando-a em um espaço mais reservado, para que a visitação continuasse a ocorrer. Mesmo assim, à entrada colocou um porteiro para conter excessos e cobrar uma taxa que ajudasse a custear o serviço. "Faltava harmonia entre o turismo e a fé, os dois lados erraram, amadureci e pude perceber meus erros. Estou mais tolerante", assinala.
Mudanças agradam a católicos de todas as idades
A mudança de comportamento apresentada pelo padre Joel Alves de Oliveira está agradando tanto aos fiéis jovens quando aos mais idosos, pelo que foi possível ouvir em consulta a vários católicos nas ruas. Entre os que aplaudem o novo padre Joel está o último dos fabriqueiros da igreja, Pompeu Cristóvão de Pina, que continua como auxiliar na paróquia. Eleusa Donite Campos, orientadora de turismo, disse que ele deixou o radicalismo e passou a ser melhor compreendido. "A população gosta muito dele, mas antes o padre cobrava muito", explicou. "Os jovens perderam o receio", diz a comerciária Paula de Siqueira Aquino, 22. "Eu o achava muito exigente, proibia até uso de batom para ir à missa, agora, mudou muito, está bem melhor".
Samuel Oliveira, 27, confessa que não se assustava com seu jeito severo, mas elogia a mudança, "Hoje é um padre mais próximo dos jovens", analisa. Os mais conservadores dizem que ele não mudou o trabalho doutrinário. Propaga o mesmo ideal religioso, apenas de modo mais paciente. Carros adaptados e motos não são novidade em sua vida e o gosto por eles parece pouco importar a quem vai às suas missas, por exemplo, às 19h30 das quartas-feiras ou às 9 horas do domingo. Outros horários se alternam mais com as celebrações feitas pelo padre Oscar Vasconcelos, o atual pároco.
Padre Joel conta que suas convicções doutrinárias não mudaram e seu modo de vida, assegura, não interfere em suas atividades religiosas. Ele continua a realizar missas mais tradicionais, sem músicas modernas. Adota apenas os hinos da religião. "Amadureci e temos novas orientações do bispo d. João Vilk", afirmou, referindo-se ao bispo diocesano de Anápolis, ao qual está subordinada a paróquia de Pirenópolis.
NA HISTÓRIA
Posições polêmicas
30/6/1995 - A Justiça da comarca de Pirenópolis absolve o padre Joel Alves de Oliveira da acusação de dano ao patrimônio público local por ter mandado retirar e destruir um banco de concreto do pátio em frente à igreja católica da cidade. Ele retirou o banco porque casais usavam o local para "namoros escandalosos" em plena praça pública.
6/1/1996 - Padre Joel, responsável pela paróquia de Nossa Senhora do Rosário, reassume a administração do Cemitério São Miguel e propõe que as famílias dos mortos enterrados no local paguem 100 reais para conservar o espaço no cemitério.
15/2/1997 - A Justiça manda padre Joel desobstruir via pública e que a prefeitura providencie para que o fato não ocorra novamente. Ele fechou a viela para não sofrer perturbações durante as celebrações religiosas.
1/3/2000 - O POPULAR noticia que o período em que o padre Joel permaneceu à frente da paróquia local fez aumentar significativamente a taxa de natalidade no município. É que uma das primeiras determinações do religioso, em 1994, foi proibir a venda de ANTICONCEPCIONAIS e preservatios masculinos nas farmácias. Houve também no período o crescimento de doenças sexualmente transmissíveis.
O Popular - GO
http://opopular.globo.com/anteriores/09nov2007/
http://www.aids.gov.br/data/Pages/
LUMISDA56F374ITEMIDEC21EC28D2634C8586833D0018F1B663PTBRIE.htm