Anápolis, 26 de julho de 2016
Memória de São Joaquim e Sant’Ana,
pais da Virgem Maria
À Madre Gabriela de Nossa Senhora das
Dores FP(C)
Superiora da Missão de Nossa Senhora dos
Trinta e Três
Rivera – Uruguai
Caríssima Madre Gabriela, enfrente as
dificuldades com a cabeça erguida e com os olhos fixos em
Jesus Cristo. As dificuldades amadurecem os amigos de
Jesus Cristo e torna-os fortes e ousados na prática do bem:
“É melhor
para mim, Senhor, ser atribulado, contanto que estejas
comigo, do que reinar sem Ti, banquetear-me sem Ti, sem Ti
ser glorificado. É melhor para mim, Senhor, abraçar-Te na
tribulação, ter-Te comigo na fornalha, do que sem Ti estar
até mesmo no céu” (São Bernardo de
Claraval), e:
“Cristo comigo, a quem temerei? Mesmo que as ondas se agitem
contra mim, mesmo os mares, mesmo o furor dos príncipes:
tudo isto me é mais desprezível que uma aranha”
(São João Crisóstomo).
Parabéns pelo seu aniversário!
Que o Senhor a proteja nessa
encantadora missão de alimentar crianças pobres,
maltrapilhas e famintas.
Nessa simples carta
tratarei de dois assuntos:
1.º assunto: Buscar sempre a Jesus
Cristo crucificado.
Não estamos nesse mundo e, principalmente na
vida religiosa, para vivermos comodamente e na
“poltronice”; mas devemos seguir a Jesus
Cristo que SOFREU desde o VENTRE MATERNO:
“Nem ainda Jesus Cristo Nosso
Senhor esteve, enquanto viveu, uma hora sem padecer”
(Tomás de Kempis).
A vida de Jesus Cristo, nosso Salvador, foi
um MAR de SOFRIMENTO... a nossa
não pode ser diferente: “O servo
não é maior que seu senhor” (Jo 15, 20).
Hoje, infelizmente, em muitos conventos
e seminários existem
“patricinhas” e “mauricinhos”, isto é,
rapazes e moças sedentos pelo
bom prato, travesseiro fofo, carro importado, televisão
no quarto, bermudas ridículas, tinta no cabelo, viagens
inúteis e mundanas, banho de sauna e sesta prolongada.
O Bem-aventurado José Allamano escreveu no seu precioso
livro, A Vida Espiritual, que muitas
moças buscam os mosteiros não porque sentem sede de Deus;
mas sim, querem o comodismo e a vida fácil.
Em muitos mosteiros não estão mais contemplando a Jesus
Sacramentado, e, sim, as novelas.
Prezada Madre, traga Jesus Sofredor
sempre no coração... na vida... no pensamento... em cada
gesto e ação... jamais afaste os olhos desse Senhor
que sofreu por nós e continua sendo
desprezado e zombado pelos homens
ingratos e rebeldes:
“Eis o coração que tanto ama os
homens, e recebe somente ingratidão”
(Jesus Cristo à Santa Margarida Maria Alacoque).
Aconteça o que acontecer, jamais afaste os
passos do Calvário... não desça desse formoso Monte... n’ele
está o Senhor a quem buscamos:
“O monte Calvário é o
monte dos amantes. Todo o amor que não tiver por origem a
Paixão do Salvador é frívolo e perigoso”
(São Francisco de Sales).
Quem mergulha nas dores de Jesus Cristo com
sinceridade, jamais o abandona.
O profeta Isaías chama a Jesus Cristo
de homem das dores. E com razão, porquanto a
natureza humana de Jesus foi criada expressamente para
padecer, e assim desde o berço começou a sofrer as
maiores dores que os homens jamais têm sofrido.
Para o primeiro homem, Adão, houve um tempo em que gozava as
delícias do paraíso terrestre; mas o segundo Adão,
Jesus Cristo, não teve nem sequer um instante de vida que
não fosse cheio de aflições e agonias. Desde o
berço afligiu-o a dolorosa previsão de todas as penas e
ignomínias que deveria padecer no correr de sua vida e
particularmente na hora de sua morte, quando deveria
terminar a vida como que submergido num oceano de dores e de
opróbrios, assim como o predisse Davi: Cheguei ao alto mar e
a tempestade me submergiu.
Desde o seio de Maria Santíssima, Jesus
Cristo aceitou obediente a ordem de seu Pai acerca da sua
paixão e morte. De sorte que
já antes de nascer previu os açoites e apresentou seu corpo
para recebê-los; previu os espinhos e apresentou-lhes a
cabeça; previu as bofetadas, e apresentou-lhes as faces;
previu os cravos e apresentou-lhes as mãos e os pés; previu
a cruz e apresentou a sua vida. Nosso Redentor, desde a
primeira infância e a cada instante da sua vida, padeceu um
contínuo martírio, e a cada instante oferecia esse martírio
por nós ao Pai Eterno.
Mas, o que mais o atormentou, foi a
vista dos pecados que os homens haviam de cometer, mesmo
depois da sua tão dolorosa Redenção.
Na luz divina conhecia Jesus perfeitamente a malícia de cada
pecado e veio ao mundo exatamente para tirar os pecados;
mas ao ver em seguida o número tão grande de pecados que
ainda iam ser cometidos, a angústia que o Coração de Jesus
sofreu, foi maior do que a que tem sofrido ou ainda sofrerão
todos os homens da terra.
A Sagrada Paixão de Jesus Cristo durou
todo o tempo da sua vida.
No mesmo instante em que foi criada a
alma de Jesus e unida com seu pequenino corpo no seio de
Maria Santíssima, o Pai Eterno manifestou a seu Filho a sua
vontade que morresse para a redenção do mundo.
No mesmo tempo pôs diante de seus olhos a vista triste de
todos os sofrimentos que deveria sofrer até a morte a fim de
remir o gênero humano. Mostrou-lhe então todos os
trabalhos, desprezos e pobreza que deveria suportar em toda
a sua vida, tanto em Belém como no Egito e em Nazaré.
Mostrou-lhe em seguida todas as dores e ignomínias de sua
dolorosa Paixão: os açoites, os espinhos, os cravos e
a cruz; todos os desgostos, tristezas, agonias e abandono em
que havia de terminar a sua vida no Calvário.
Toda a vida, portanto, e todos os anos
do Redentor foram vida e anos de dores e de lágrimas.
O seu divino Coração não teve um instante livre de
padecimento. Quer vigiasse, quer dormisse, sempre tinha
diante dos olhos aquela triste representação que lhe
atormentou mais a santíssima alma do que os santos mártires
foram atormentados por todos os seus suplícios. Os
mártires padeceram, mas, ajudados com a graça, padeceram com
alegria e ardor: Jesus, ao contrário, padeceu sempre com o
Coração cheio de desgosto e tristeza, e aceitou tudo por
nosso amor (Santo Afonso Maria de Ligório).
Está claro que na Sagrada Paixão de Jesus
Cristo encontramos todas as virtudes e
força para superarmos as dificuldades,
provações e obstáculos.
Quem vive unido a Jesus Sofredor caminha com
segurança por esse vale de lágrimas.
Quando surgirem “nuvens negras”
e “ameaçadoras” sobre a nossa vida,
mergulhemos na Bendita Paixão do Senhor; então, o “sol
da paz” brilhará mais forte no nosso caminho.
Quem caminha unido ao Servo Sofredor enfrenta
qualquer provação e diz com convicção:
“Ainda que um
exército acampe contra mim, meu coração não temerá...”
(Sl 27, 3).
O mundo está se tornando um barril de
pólvora; quem for devoto da Paixão do Senhor
permanecerá de pé... os melosos cairão por terra.
2.º assunto: Cuidado com leigos e
religiosos.
Como é importante manter a santa
prudência, principalmente quando falamos
e estamos em contato com os leigos.
É preciso evitar qualquer familiaridade
com os leigos e conversar o menos possível com
eles; e quando por necessidade e para cumprir o
dever missionário, falar somente o que edifica.
Jamais será permitida a mínima
familiaridade com leigos, sejam eles quais forem:
“Aquele que se afeiçoa a
familiaridades perigosas não tardará a cair em algum
precipício”
(Santo Agostinho), e:
“Seria menor milagre ressuscitar um
morto, do que conservar a castidade vivendo em habitual
familiaridade com uma mulher (falando aos sacerdotes)”
(São Bernardo de Claraval), e também:
“Procedei de modo que nem sequer
passeis perto da casa daquela que o Demônio toma como
instrumento para vos tentar; afastai-vos de lá”
(Pr 5, 8), e ainda:
“Quando houver necessidade
verdadeira de falardes com uma mulher, fazei-o com
brevidade em termos austeros (falando aos sacerdotes)”
(Santo Agostinho).
Cristo Jesus nos ensina com seu exemplo a
amar o silêncio, o recolhimento e a solidão.
Em nenhum trecho do Santo Evangelho encontramos o Filho de
Deus falando com excesso, e jamais saiu de
seus lábios uma palavra ociosa; que o exemplo do Salvador
sirva para controlar a língua de quem fala muito.
A religiosa que não mortifica a língua e que
anda sempre a tagarelar não possui vida interior, e acaba
sendo uma desgraça para a comunidade onde vive.
O povo costuma dizer que a religiosa que fala
muito não tem o que fazer; por isso, ela deve guardar
rigoroso silêncio nas horas determinadas pelo horário e
também quando estiver próxima de algum leigo.
São João da Cruz
diz: “Quando trato com as pedras,
tenho menos matéria de confissão do que quando trato com os
homens”, e: “Entre as
pedras, sinto-me melhor do que com os homens”.
Alguém perguntou a Pitágoras como poderia
chegar a ser seu discípulo. O filósofo respondeu:
“Guardando silêncio
até que seja necessário falar; não dizendo senão o que
sabeis bem; fazendo o maior bem possível e falando pouco,
porque o silêncio é sinal de prudência e a tagarelice é
sinal de tolice…”
É estritamente proibido dormir, fazer
refeição ou lanchar na casa dos
leigos. Alguém poderia dizer que Jesus Cristo fazia isso;
mas é bom lembrar que Jesus é Deus e nós somos criaturas
miseráveis.
Quanto ao diálogo com os leigos, o mesmo
deverá acontecer somente quando for necessário. Deverá ser:
breve, respeitoso, educado e em bom tom:
“Quando se houver de falar a
mulheres, é necessário fazê-lo de passagem, sem demora, e
como que de fugida (falando aos sacerdotes)”
(São Cipriano).
Jamais será permitido beijar e
abraçar os leigos:
“Quanto ao sentido do tato, é necessário, primeiro, que
evitemos toda a familiaridade com pessoas do outro sexo,
embora parentas. – São minhas irmãs, minhas sobrinhas. –
Sim, mas são mulheres (falando aos sacerdotes)”
(Santo Afonso Maria de Ligório).
Não é permitido fixar os olhos
(encarar) os leigos durante o diálogo; mas é permitido
olhar para os mesmos candidamente sem encará-los:
“Se a necessidade vos obriga a
falar, conservai os olhos baixos”
(Santo Isidoro de Pelusa), e:
“Se vos acontecer olhar para
alguma pessoa, guardai-vos, pelo menos, de fixá-la”
(Santo Agostinho).
O diálogo não pode durar além do necessário:
“Dizei
somente o preciso e apressai-vos a fugir”
(Santo Isidoro de Pelusa). Além de evitar o
diálogo prolongado com mulheres, quaisquer que sejam,
deve-se evitar também prolongar o diálogo com homens:
“Torna-se o homem semelhante àqueles
que frequentam” (São Jerônimo).
É proibido fazer gracejos, contar
piadas, dar gargalhadas, gesticular com grosseria e jogar
palavras fora diante dos leigos.
A religiosa do Instituto deve portar-se com
recato (resguardo, precaução e modéstia)
diante dos leigos: “Quanto mais
nos escondermos das pessoas do mundo, tanto mais Deus se nos
manifestará nesta vida com sua graça e na outra com a sua
glória”
(Venerável Francisca Farnese).
A religiosa não pode aceitar nenhum presente
do leigo sem a licença dos superiores; nem presenteá-lo sem
a devida licença dos superiores.
Cuidado com os parentes:
Santo Afonso Maria de Ligório
escreve: “Portanto, para se
chegar a uma perfeita intimidade com Deus, é necessário um
desapego total das criaturas. Falando mais detalhadamente, é
preciso que nos desprendamos das afeições desordenadas aos
nossos parentes... Muitas vezes, quando se trata de bens
espirituais, nossos maiores inimigos podem ser nossos
parentes: ‘Os inimigos do homem serão as pessoas de sua
própria casa’ (Mt 10, 37). São Carlos Borromeu dizia
que indo à casa de seus parentes, voltava sempre
espiritualmente mais frio. Perguntaram, certa vez, ao Pe.
Antônio Mendozza porque não queria dormir na casa de seus
parentes. Ele respondeu: ‘Porque eu sei por experiência que
em lugar nenhum os religiosos perdem tanto a piedade como na
casa de seus parentes’”, e :
“Quanto de
amor pomos nas criaturas, tanto tiramos de Deus”
(São Felipe Neri), e também:
“Todo o
ser das criaturas comparado ao ser infinito de Deus nada é.
Resulta daí que a alma, dirigindo suas afeições para o
criado, nada é para Deus, e até menos que nada, pois,
conforme já dissemos, o amor a assemelha e torna igual ao
objeto amado e a faz descer ainda mais baixo. Esta alma tão
apegada às criaturas não poderá de forma alguma unir-se ao
seu infinito Deus...”
(São João da Cruz), e ainda:
“Evita a
convivência com pessoas do mundo e leigos; evita o contato e
até a recordação dos próprios parentes, como se fossem
serpentes venenosas... Quantas colunas vimos ruir por terra,
por ficarem andando e viverem fora das suas celas...
Conheceis as consequências da permanência fora da cela
exterior? Algo mortífero: distrai-se a mente ao procurar a
companhia dos homens e esquecer-se dos Anjos; esvazia-se a
mente dos santos pensamentos sobre Deus, enchendo-a de
pensamentos humanos; a boa vontade e a devoção decaem por
causa de preocupações dissipadas e más; escancaram-se as
portas dos sentidos: do olho, para ver o que não se deve;
dos ouvidos, para escutar o que é contrário à vontade de
Deus e à salvação das almas; da língua, para pronunciar
palavras e deixar de falar sobre Deus. Afinal, pela falta de
oração e de bons exemplos, a pessoa prejudica a si mesma e
os outros. As palavras são insuficientes para descrever os
males derivantes. E se a pessoa não estiver atenta, sem
perceber irá decaindo aos poucos, chegando até a abandonar o
sagrado aprisco da vida consagrada”
(Santa Catarina de Sena).
É preciso também tomar muito cuidado
com os sacerdotes, religiosos
e religiosas.
As religiosas do Instituto devem tratar com
respeito, educação e caridade os religiosos e
religiosas dos outros Institutos e sacerdotes diocesanos;
mas devem evitar qualquer familiaridade e amizade:
“Deveis ser também sumamente
reservados (as) com religiosos (as) ou sacerdotes, quando
perceberdes que vêm visitar-vos, não para vos falar de Deus
ou da alma, mas por simpatia para convosco”
(Santo Afonso Maria de Ligório), e:
“O sacerdote deve temer mais os que
lhe estão próximos, inclusive os colegas de cargo”
(São João Crisóstomo).
Não será permitido pernoitar nas residências
de outros religiosos nem nas dos diocesanos.
Fuja e evite qualquer contato com religiosos
e sacerdotes diocesanos que vivem escandalosamente.
Estimada Madre, VIVA ESCONDIDA
no Coração de Jesus Cristo, porque o coração do homem
é um abismo muito perigoso.
Leia com atenção e medite o livro escrito por
Santo Afonso Maria de Ligório: A verdadeira esposa de
Jesus Cristo (2 volumes).
Aproveite o tempo e faça o bem para todos,
principalmente para as crianças pobres e famintas.
Reze todos os dias pelo Santo Padre, o Papa
Francisco. Reze também pelo senhor bispo Julio Bonino que
está muito enfermo (levou uma queda e está
hospitalizado em estado grave).
Reze ainda pela conversão dos
Muçulmanos e dos Protestantes...
grandes perseguidores da Igreja Católica. Os
Muçulmanos matam com a espada; os Protestantes matam com a
língua.
O Santo Retiro será em setembro, nos
dias 16, 17 e 18.
Eu te abençoo e te guardo no Sagrado Coração
de Jesus Cristo; fornalha ardente de caridade.
Com respeito,
Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)
|