Anápolis, 26 de dezembro de 2005
À Sua Santidade
Papa Bento XVI
“Meu bondoso e santo pai!”
(Santa Catarina de Sena, Carta 196, 3)
Santo Padre, que a fortaleza e a doçura
do Coração de Maria Santíssima estejam na vossa alma:
“Vejo-vos, ó
Maria, no alto do Calvário, em pé, junto à Cruz, como sacerdote no
altar, oferecendo, para saciar a justiça do Pai, o doce Emanuel, o
vosso amado Jesus” (Santa Teresa do Menino Jesus, Poesias 34,
21-23).
Escrevo-lhe para tratar de um assunto,
que na minha opinião, V. Paternidade deveria analisar minuciosamente,
e com certeza, constataria que é assunto a ser levado a sério:
Converter os próprios católicos.
Percebo, com preocupação, que grande
parte do clero e muitos Movimentos se preocupam demasiadamente com o
Ecumenismo. Convocam inúmeras reuniões, promovem centenas de
encontros, fazem muitas celebrações ecumênicas, etc., e todos dizem
cheios de entusiasmo e esperança, que é preciso converter os
evangélicos, os mulçumanos, os budistas e outros.
Analisando essa cansativa e infrutífera
correria, acredito que a mesma deveria mudar de direção; ela seria de
grande proveito, se fosse direcionada para a própria Igreja Católica
Apostólica Romana. Não vejo futuro nenhum em querer organizar a casa
do vizinho, sendo que a nossa necessita de organização, ou melhor, de
conversão.
Santo Padre, vejo que o clero deveria
empregar melhor o tempo preocupando-se em converter os próprios
católicos batizados e crismados; essa seria a melhor maneira de
converter os não-católicos: “Não haveria mais nenhum pagão, se nos
comportássemos como verdadeiros cristãos”
(São João
Crisóstomo. Hom. X in ITm.; Migne, PG LXII, 551).
Hoje, infelizmente, dentro da Santa
Igreja Católica Apostólica Romana não se sabe mais quem é católico
de fato, como ordena a própria Igreja: “São incorporados plenamente
à sociedade da Igreja os que, tendo o Espírito de Cristo, aceitam a
totalidade de sua organização e todos os meios de salvação nela
instituídos e na sua estrutura visível — regida por Cristo através do
Sumo Pontífice e dos Bispos — se unem com Ele pelos vínculos da
profissão de fé, dos sacramentos, do regime e da comunhão
eclesiásticos” (Lumen Gentium, 14).
O que vemos à nossa volta, é um
lastimável amontoado de pessoas batizadas e crismadas, que trazem em
suas frontes o rótulo de católicos, mas que vivem como pagãos.
Santo Padre; onde estão os católicos
apostólicos romanos? Hoje, encontramos apenas: Católicos-espíritas,
católicos-mundanos, católicos-protestantes, católicos-ecumênicos,
católicos-carnavalescos, católicos-ébrios, católicos-nus,
católicos-inércios, católicos-sacrílegos, católicos-romanescos,
católicos-fachadas, católicos-camaleônicos, católicos-“águas
paradas”, católicos…, é impossível enumerar todos.
Onde estão os católicos de fato, os
católicos apostólicos romanos? Parece que estão em extinção; porque a
mistura, a confusão e a desqualificação é total, para não usar a
triste palavra: putrefação.
Veja que a situação é delicada e
periclitante. Se os mais de cinco bilhões de não-católicos
espalhados pelo mundo se convertessem ao catolicismo, será que os
mesmos se sentiriam bem convivendo com milhões de pessoas que vivem na
mediocridade? Está claro que, primeiro devemos iluminar a nossa
casa, para depois convidar aqueles que vivem na escuridão; do
contrário, os mesmos jamais veriam a claridade:
“Assim brilhe a
vossa luz diante dos homens, a fim de que eles vejam as vossas boas
obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus”
(Mt 5,16),
e: “Seja bom o vosso comportamento entre os gentios para que, mesmo
que falem mal de vós, como se fôsseis malfeitores, vendo as vossas
boas obras glorifiquem a Deus no dia da Visitação”
(1 Pd
2,12).
Querido Pastor, tu és o “Doce Cristo
na terra” (Santa Catarina de Sena, Carta 196, 3), e por
isso, possuís autoridade para exigir que cada fiel batizado e crismado
seja católico de fato, e não vultos e caricaturas dentro da Santa
Igreja.
O católico atual está muito longe de
ser aquele católico desejado pela zelosa Mãe Igreja; diria que
um abismo os separa, para perceber tamanha diferença, não há
necessidade de uma graça especial, basta enxergar.
Santo Padre, o que é ser de fato,
Católico Apostólico Romano? Como seria proveitoso se V.
Paternidade escrevesse um Documento definindo-o. Assim, cada fiel
batizado e crismado teria em mãos um Documento que o incentivasse ou o
censurasse, e, com certeza, ninguém ficaria mais na indiferença; e
esse amontoado de indefinidos deixaria de existir.
Santo Padre, como é necessário
trabalhar com afinco, noite e dia, pela conversão dos
próprios católicos. Esse deveria ser o trabalho missionário e
apostolar mais urgente realizado pelo clero. O dinheiro e o tempo que
o clero usa para tentar conquistar os não-católicos, deveria ser
empregado para converter os próprios católicos que vivem como ovelhas
desencaminhadas.
São João Crisóstomo define o que é ser
CATÓLICO: “Faróis que iluminam, doutores que ensinam… ser
fermento, comportar como anjos, anunciadores entre os homens, ser
adultos entre os menores, espirituais entre os carnais e semente que
dá numerosos frutos” (Hom. X in I Tm.; Migne, PG LXII, 551).
Comparando o que se vê hoje com a definição dada por São João
Crisóstomo, percebemos que a situação é mais grave do que imaginamos,
ou melhor, desesperadora.
Santo Padre, o que impede a Santa
Igreja de fichar os seus fiéis? Agora, com as novas tecnologias dos
meios de comunicação, se torna mais fácil e rápido; e os pastores
conheceriam de fato quantas e quais seriam suas ovelhas.
O que não dá para entender e suportar,
é ver milhões de pessoas que se dizem católicas, assumirem com punho
de aço e dentes de ferro; sérios, cansativos e dispendiosos
compromissos com: esporte, carnaval, rodeios, casas noturnas, etc., e
isto, com entusiasmo e alegria; ao passo que, quando se trata de
ajudar a Mãe Igreja, os mesmos não dão atenção, nem sequer para dizer
não, isto é, ignoram completamente. Mas quando os mesmos pretendem
usar da Igreja, chegam com autoridade e arrogância, e fazem de todos
os seus escravos.
Querido Pastor, até quando a Santa
Igreja vai suportar ser tapete desses parasitas assassinos? Até quando
a Santa Mãe carregará em seu seio esses tumores malignos? Esse tipo de
gente escandaliza aqueles que ainda tentam buscar a Deus, e apagam de
uma vez a chama no coração daqueles que estavam se aproximando da
Igreja. Não tenho medo de afirmar que essas caricaturas que se dizem
católicas, são os Neros e os Dioclecianos modernos, para saber o
porquê, basta acompanhá-las no dia-a-dia, e ver o número de almas que assassinam diariamente com os seus maus exemplos. Esses
católicos são de
fato, os piores inimigos da Igreja Católica.
Santo Padre, o que acontecerá se um dia
a Igreja Católica precisar desse tipo de pessoas para defendê-la?
Certamente ficará sozinha. Aquele filho que nunca estendeu a mão para
a mãe na bonança, imagina se vai estendê-la na dificuldade!
Vejo que a Santa Igreja deveria colocar
sobre os ombros de cada católico batizado e crismado, o peso da
responsabilidade, isto é, cada católico deveria assumir um trabalho
para o bem das almas, e aquele que não quisesse assumir tal
compromisso, deveria ser cortado como uma figueira estéril:
“Há
três anos que venho buscar frutos nesta figueira e não encontro.
Corta-a; porque há de tornar a terra infrutífera?”
(Lc 13, 7).
É importante lembrá-los de que a Santa Igreja não é funerária para
carregar defuntos e nem ponto de ônibus para preguiçosos cochilarem.
Querido Pai, peço que abençoe a mim e
também os meus religiosos, para que perseveremos fiéis e fervorosos no
caminho do bem.
Filialmente,
Pe. Divino Antônio Lopes FP.
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