Instituto Missionário dos Filhos e Filhas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e das Dores de Maria Santíssima

 

Anexo da Carta 06

 

Jornal da região (Diário do Norte) entrevistou Padre que deixou batina para ser político em Niquelândia – Goiás
 


Wemerson renunciou a batina após sete anos como padre

 

Wemerson de Araújo Fonseca, de 33 anos, celebrou sua última missa como padre na noite do domingo (30) na Paróquia São Francisco de Assis, em Niquelândia, onde era pároco. Ele filiou-se ao PT no início de outubro diante do deputado federal Rubens Otoni (PT) e de lideranças políticas locais. Depois, o bispo da Diocese de Uruaçu, dom Messias dos Reis Silveira, emitiu nota oficial de esclarecimento ao Diário do Norte, dizendo que Wemerson receberia o que se conhece por "Suspensão da Ordem" no Código de Direito Canônico: advertência inicial de 35 dias e a retirada definitiva de seu direito de exercer a liturgia, em todo o planeta. Wemerson vai formalizar sua renúncia ao sacerdócio em carta manuscrita ao bispo, nos próximos dias. Ele havia ingressado no Seminário Maior São José (em Uruaçu, onde nasceu) aos 18 anos. Depois, estudou Filosofia (em Anápolis) e Teologia (em Brasília) antes iniciar como padre em Pilar de Goiás, em 2005. Caso a empreitada política não dê certo, o ex-padre dará aulas de Filosofia e Teologia, após 15 anos de celibato. "Se eu quiser namorar, tocar minha vida, agora eu posso. Mas a ideia de constituir uma família não passa pela minha cabeça nesse momento. Minha prioridade agora é a política", comentou Wemerson.

Diário do Norte – Como foram os últimos dias antes da decisão do senhor em abandonar o sacerdócio?
Wemerson de Araújo Fonseca – Eu já estava me preparando para esse tempo. Agora, não vou dizer para você que está sendo fácil, porque não está. Eu sempre gostei de ser padre, da rotina de celebrar missas, de atender o povo. Após sete anos, creio que esses primeiros meses serão muito difíceis, mas vou continuar indo às missas como qualquer outro cristão. Nessa última semana, estive mais tranquilo, mas, na semana anterior, confesso que dei uma baqueada.

DN – O PT, em nível estadual, possui estreita relação com o PMDB. Em Niquelândia, o ex-prefeito Luiz Teixeira deixou o PSC e voltou ao PMDB. Vale a pena renunciar ao sacerdócio e correr o risco de não ter seu nome validado como candidato, em 2012?
Wemerson – Acredito que sim. Meu projeto de vida é fazer a diferença. Eu estava servindo a comunidade espiritualmente e agora quero servir a comunidade materialmente, que é o que faz um prefeito. Estou trabalhando meu nome e acredito que ele (Luiz) também está fazendo o mesmo.

DN – O senhor espera que o deputado Rubens Otoni realmente lhe apóie nessa empreitada política?
Wemerson – Sim. Ele (Rubens) já deixou bem claro que quer um candidato do PT disputando a prefeitura e que iria se desdobrar para me ajudar a ganhar a eleição aqui.

DN – O senhor não teme ser colocado no rol dos maus políticos pela opinião pública?
Wemerson – Temer, a gente teme, porque o povo fala. Agora, eu trago uma carga positiva por esse meu temor a Deus. Por eu ter essa experiência maior com Deus, acredito que tenha obrigação de pensar dez ou vinte vezes antes de fazer algo errado. Em primeiro lugar, tenho de prestar contas a Deus. Depois, nas pessoas que irão confiar em mim.

DN – Sem o manto religioso, o senhor vai se sentir à vontade para ser um político-pecador para atacar seus adversários com mais naturalidade?
Wemerson – Não. Eu conversei com o partido (o PT) e já adiantei que não quero falar mal desta ou daquela pessoa. Mas, uma hora ou outra, terá que haver uma comparação à administração que está ocorrendo agora. Isso eu irei fazer. Para falar dos meus projetos, na área da Educação, da infraestrutura ou da Saúde, por exemplo, terei de invocar a situação atual. Agora, falar mal da vida da pessoa eu não pretendo, pois não me sentiria bem se estivesse no lugar deles.

DN – O senhor também sentia vontade de largar o sacerdócio para casar e ter filhos, como qualquer outro homem?
Wemerson – A minha Suspensão de Ordem me dá direito a tudo isso. Se eu quiser namorar, tocar minha vida, eu posso. Só que isso não passa agora pela minha cabeça a ideia de constituir uma família. Minha prioridade agora é a política. Ter vontade de ser pai é algo natural para todos os homens, isso é próprio da gente. Estaria mentindo a você se dissesse o contrário. Deixei minha marca como padre e agora quero deixar minha marca como administrador. Para mim, em particular, o mais difícil em ser padre era a falta de liberdade. Às vezes, eu ia à uma festa de pecuária - em que vão crianças e famílias inteiras - e ouvia das pessoas "nossa, padre, o senhor por aqui?", por exemplo. Não estava deixando de ser cristão por exercer a minha liberdade de ir e vir. As pessoas, às vezes, me olhavam como um ET. Os padres têm suas renúncias, que são próprias da ordenação, mas eles não podem deixar de viver. A castidade nunca foi um peso na minha vida. Tem pessoas que andam dizendo que vou deixar de ser padre por causa de alguma mulher. Sempre tive que estar me policiando, vigiando e orando. Uma pessoa casada também tem que fazer isso. Quando a coisa estava feia, eu rezava e pedia a Deus.

DN – O padre Marcelo Rossi disse, em recente entrevista, que a batina servia-lhe como uma espécie de "proteção", já que foi alvo de galanteios indecorosos. Isso já ocorreu com o senhor?
Wemerson – Já (risos). Não vou dizer que é natural, mas aconteceu sim, às vezes de uma forma mais direta, outras de forma indireta. Como o padre Marcelo falou, eu ia cortando essas situações quando passavam dos limites, pelo fato desse carinho não ser mais para com a pessoa do padre, mas com a pessoa do homem.

DN – Existe homossexualidade dentro da Igreja Católica?
Wemerson – Existe. Mas também precisamos saber trabalhar com as pessoas, respeitando as suas vidas. Eu tenho amigos (homossexuais) que são pessoas que eu respeito e que me respeitam muito. Acredito que existem (gays) dentro (da Igreja Católica) e fora também. Todos nós sabemos disso. Acredito que a pessoa tem sua escolha, mas sou contra que pessoas sejam maltratadas por causa disso. Já recebi cantada de algum homossexual? Não. Sempre dou minha orientação, como amigo, como cristão e também fazia isso quando padre. Depois, Deus acerta as contas com eles. Quem sou eu para isso? Meu dever sempre foi amar e acolher as pessoas.

- Reprodução do Jornal Diário do Norte (Euclides Oliveira)
- Sob adaptações para o Site do Motta
- Postagem: Marcos Antonio

 

Matéria extraída em 08/04/2012 do site:

http://www.mottafilho.com.br/noticias/exibir.php?noticia_id=228&noticia_link=1&noticia_data=04-11-2011%2010:11