CIDADE MISSIONÁRIA DO SANTÍSSIMO CRUCIFIXO - ANÁPOLIS-GO
Circular nº 18 - 31/01/2004
Prezados religiosos do Instituto Missionário dos
Filhos e Filhas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e das Dores
de Maria Santíssima, nesta Circular quero tratar de um assunto
importantíssimo, que aos poucos está desaparecendo dentre os
religiosos: a leitura espiritual.
Como é importante trazer sempre em mãos um bom e
piedoso livro, ele é um amigo fiel que jamais nos trairá: "Ler um
bom livro é ouvir um bom conselheiro" (Pe.
Alexandrino Monteiro, Raios de Luz, 49). O
livro é um amigo sincero, ele não mente e nem adula, ele mostra ao
leitor a sua face de luz, e ao mesmo tempo, mostra a sua máscara e
podridão: "É o bom livro um espelho, onde cada um vê a sua
própria imagem, ou adornada com virtudes, ou afeada com vícios"
(idem).
A leitura espiritual é importantíssima para o nosso
crescimento espiritual; ela é um fortificante que nos fortalece nos
momentos de fraqueza, é uma vacina que nos reanima diante das
recaídas, é um colírio que limpa os olhos da nossa alma,
convidando-a a contemplar as grandezas do alto.
Feliz do religioso que traz sempre consigo um bom
livro, esse realmente merece ser chamado de sábio, porque está
sempre reabastecendo a sua alma com água cristalina: "Tem sempre
contigo um bom livro de devoção… Lê-o por algum tempo todos os dias,
mas com tanta atenção como se um santo to enviasse expressamente
para te ensinar o caminho do céu e encorajar-te a trilhá-lo"
(São Francisco de Sales, Filotéia, Capítulo
XVII).
Caríssimos religiosos, é importante lembrar com
freqüência, de que somente os bons e piedosos livros deverão estar em
vossas mãos. Os romances, os livros duvidosos, vazios e cheios de
curiosidades, jamais deverão estar em vossas mãos: "É pelo mau
livro que o demônio dá a beber a peçonha do pecado a muitas almas
inocentes. É com a droga de livros obscenos que o demônio faz o
maior negócio do mundo. As almas que ele cativa com a leitura de um
romance indecoroso, podem contar-se pelas letras que o compõem… Ler
um mau livro é aconselhar-se com um inimigo... Um livro mau é um
falsário… é um traidor, que mata a alma pela calada... ele ofusca o
espírito com os erros que encerra" (Pe.
Alexandrino Monteiro, Raios de Luz, 49).
O religioso piedoso e temente a Deus, segue à risca
os conselhos de São Francisco de Sales: "Lê também as vidas dos
santos, onde verás, como em um espelho, o verdadeiro retrato da vida
devota, acomodando os seus exemplos aos deveres do teu estado...
Imita a grande solidão de São Paulo, o primeiro eremita, pela
solidão espiritual do teu coração e pelo recolhimento assíduo,
segundo as tuas forças; ou, então, a pobreza extrema de São
Francisco, por certas práticas de pobreza de que ainda hei de falar.
Entre as vidas dos santos e santas há algumas que espalham luz em
nossa mente para a direção de nossa vida…"
(Filotéia, Capítulo XVII).
Como é triste ver religiosos folheando livros que são
verdadeiros venenos para a alma, e bebendo lama podre de livros
cheios de curiosidades; rezo para que isso nunca aconteça com vocês
do Instituto: "Freqüentemente em nossos dias, quantos membros do
clero se deixam pouco a pouco invadir pelas trevas da dúvida e
seguem os caminhos perversos do século! A causa é sobretudo esta;
preferem aos livros piedosos e divinos toda sorte de outros livros,
e uma multidão de jornais que espalham em profusão o erro sutil e a
corrupção. Vigiai-vos, filhos caríssimos. Não vos fieis na vossa
idade adulta ou avançada. Não abuseis, com a esperança ilusória de
que podereis servir melhor ao bem comum. Ficai nos limites traçados
pelas leis da Igreja ou reconhecidos pela prudência e amor que
deveis a vós mesmos. Porque, quem já uma vez deixou o seu espírito
se impregnar destes venenos, raramente escapará das conseqüências
desastrosas do mal, cujo germe a ele já se incorporou"
(Papa Pio X, Encíclica "Haerent Animo", 27).
Caríssimos religiosos vejam o bem que um livro santo
e piedoso pode fazer na nossa vida: "Ora, devemos pôr os livros
piedosos em o número dos nossos amigos verdadeiramente fiéis, porque
nos chamam eles severamente ao cumprimento de nossos deveres e das
prescrições da verdadeira disciplina. Despertam no coração as vozes
do céu já adormecidas. Sacodem o torpor de nossas boas resoluções.
Não nos deixam adormecer numa tranqüilidade enganadora. Reprovam
nossas afeições secretas quando são elas pouco recomendáveis.
Descobrem aos imprudentes os perigos que os esperam muitas vezes"
(idem, 26).
Prezados religiosos, não devemos temer o bom livro,
pelo contrário, devemos tê-lo como amigo fiel: "…mas ainda vêm a
ser os melhores dentre os melhores amigos. Temo-los quando os
quisermos, sempre ao nosso lado, prontos a cada momento para nos
ajudarem nas necessidades de nossas almas. Deles a voz nunca é dura,
os conselhos sempre desinteressados, e a palavra nunca tímida ou
mentirosa" (idem).
O religioso não deve ver no tempo reservado para a
leitura espiritual, um tempo perdido, e sim, deve aproveitá-lo ao
máximo para alimentar a sua alma, lembrando de que a mesma é um
substancioso alimento espiritual: "Leitura
espiritual é a que fazemos sobre um livro de ascética ou livros
congêneres, tanto em público como em particular, para nos formarmos
no espírito sacerdotal, religioso, missionário"
(Bem-aventurado José Allamano, A Vida Espiritual,
Capítulo 30), e : "A leitura espiritual é
um dos elementos da vida interior" (Pe.
Jordão), e São Bernardo de Claraval diz: "Tratando
da perfeição, podemos alcançá-la por três degraus: pela leitura,
pela meditação e pela oração… a leitura leva a comida à boca, a
meditação a mastiga, a oração a saboreia e garante seu bom
aproveitamento" (Scala claustr., c. 11),
e ainda: "Não abandones o exercício da leitura cotidiana"
(Epist. 12, ad Nepot.),
e: "…sem ela, ninguém pode manter-se unido a Deus"
(Santo Atanásio), e também São
Francisco de Sales acrescenta: "As leituras piedosas são o azeite
da lâmpada da oração" (Lettera 66 delia
Chantal), e Ribadeneira escreve com grande
sabedoria: "As leituras espirituais, além disto, são necessárias
para converter as almas; Deus mostrou mais de uma vez o quanto são
eficazes. Santo Inácio converteu-se por meio da leitura espiritual.
Ferido no cerco de Pamplona, foi levado ao hospital. Aqui, enquanto
vibrava de entusiasmo pelos feitos militares e aguardava
ansiosamente a hora de voltar às suas empresas guerreiras, caiu-lhe
nas mãos, casualmente, um livro de assuntos espirituais. No
princípio leu-o por curiosidade e passa-tempo; mas depois,
impressionado, pôs-se a meditá-lo; e assim se efetuou a sua
maravilhosa conversão" (Vita di S. Ignazio
di Loyola, p. 5, ed. 1863).
O Bem-aventurado José Allamano escreve: "Aconteceu
o mesmo com Santo Agostinho. As orações e lágrimas de sua mãe ainda
não haviam logrado removê-lo de sua vida mundana e dos seus erros,
como também as conferências de Santo Ambrósio não conseguiram
convencê-lo. Ele mesmo declara que as paixões em tropel sitiavam seu
coração, parecendo dizer-lhe: “Como poderás viver sem nós? Tens
coragem de nos deixar?”. Passou assim longos anos em contínuas
tergiversações, até que certa vez bateu os olhos nesta frase de São
Paulo: “Caminhemos honestamente como em pleno dia, não em orgias
e bebedeiras, mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo"
(Rm 13,13). Foi o suficiente
para que rompesse com as cadeias do pecado e mudasse de vida. Ele
mesmo confessa que, à simples leitura daquelas palavras, "todas
as dúvidas desapareceram” (Confes., lib.
VIU, c. 12).
Caríssimos religiosos, é preciso fazer a leitura com
a alma e o coração abertos, isto é, com atenção, bom espírito e sem
criticá-la. Feliz daquele religioso que coloca um livro na estante
com a mão esquerda e pega outro com a mão direita, isto é, que não
dá intervalo entre um livro e outro, esse com certeza crescerá
espiritualmente.
Eu vos abençôo e vos guardo no Sagrado Coração de
Jesus, abismo de Sabedoria.
Pe. Divino Antônio Lopes, FP.
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