CIDADE MISSIONÁRIA DO
SANTÍSSIMO CRUCIFIXO – ANÁPOLIS-GO
Circular n° 27 –
15-07-2017
Estimados religiosos do Instituto Missionário dos
Filhos e Filhas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e das Dores
de Maria Santíssima, AMEMOS a Deus de todo o coração, alma,
força e entendimento... AMEMOS também o próximo, mas sem
FAMILIARIDADE: “Caridade se deve
ter para com todos; mas não convém ter com todos a familiaridade”
(Tomás de Kempis).
Muitos religiosos mundanos,
vazios e distantes de Deus mendigam,
imploram e se arrastam atrás da amizade
e atenção das pessoas. No nosso Instituto, isso
jamais deverá acontecer. Devemos
AMAR a todos, mas não com FAMILIARIDADE... pelo contrário,
agradeçamos a Deus quando formos desprezados pelas criaturas:
“Contigo, nada mais me
agrada na terra... Quanto a mim, estar junto de Deus é o meu bem!”
(Sl 73, 25. 28). Quem possui Deus
no coração não se entristece diante dos desprezos.
Agradeçamos a Deus pelos desprezos das
criaturas. Devemos olhar para os desprezos como se olha para uma
preciosa joia. É preciso fazer festa diante dos desprezos das
criaturas... assim, com certeza, o coração fica mais livre para
conhecer, amar e servir a Deus.
Estamos nesse mundo de passagem, não percamos tempo
com as amizades perigosas e interesseiras:
“Só Deus basta!”
(Santa Teresa de Jesus). Quando formos
desprezados pelos homens... agradeçamos a Deus rezando o Te
Deum com fé, alegria e fervor.
Quem vive desprezado possui o coração somente para o Criador.
Para sermos santos, devemos esforçar por imitar a
VIDA HUMILDE e DESPREZADA de Jesus Cristo,
nosso BONDOSO SENHOR. Jesus NUNCA
mendigou os aplausos e sorrisos
das pessoas... foi sempre SINCERO e VERDADEIRO.
BONDOSO, não BOBO!
Infeliz da pessoa, principalmente religiosa,
que vive a choramingar por causa do desprezo das
criaturas. Essa, com certeza, ainda não encontrou a
VERDADEIRA FACE de Jesus Cristo.
Jesus Cristo, Deus Bendito,
sofreu muitos desprezos da parte dos homens! Imitemos
o exemplo do nosso Salvador!
Jesus Cristo foi qualificado de ébrio (bêbado),
de mágico, de blasfemo e de herege. E depois, quantas ignomínias
sofreu na sua Paixão! Foi abandonado por seus próprios discípulos,
dos quais um o vendeu por trinta dinheiros, outro negou tê-lo jamais
conhecido. Foi levado pelas ruas preso e amarrado como um malfeitor,
açoitado como um escravo, qualificado de insensato e de rei de
turba; foi esbofeteado, coberto de escarros, e finalmente fizeram-no
morrer suspenso numa cruz, em meio de dois ladrões, como se fosse o
maior criminoso dos homens (Santo
Afonso Maria de Ligório).
E São Bernardo de Claraval diz:
“O maior nobre de todos foi tratado como se
fosse o mais vil de todos”.
Contemplemos a VIDA DESPREZADA de Jesus
Cristo e nos alegremos diante dos DESPREZOS.
O que sabe fazer uma pessoa que ama a Jesus
Cristo, se não é capaz de sofrer um desprezo por amor d’Ele, que
tanto sofreu por seu amor?
Causa admiração e escândalo uma pessoa que comunga
com frequência e depois se ressente com qualquer palavra de desprezo.
Devemos praticar a paciência e provar nosso amor a
Deus suportando em paz os desprezos que recebemos.
Quando uma pessoa se entrega a Deus, Ele mesmo faz ou permite
que seja desprezada e perseguida pelos homens.
Conta-se do Beato Henrique Suso que, certa vez, tomou
consciência dos sofrimentos impostos pelos homens: Henrique,
até agora tens praticado a mortificação a teu modo. De hoje em
diante, serás mortificado como os outros quiserem. No dia
seguinte, vendo um cachorro rasgando um farrapo, pensou consigo:
Assim serás tu, dilacerado pela boca dos homens. Desceu
do lugar onde estava, guardou um pedaço daquele pano para lembrar-se
dele no meio dos sofrimentos.
Os desprezos e as injúrias são desejados e
procurados pelos santos. São Felipe
Neri, como hóspede, sofreu muitos maus tratos durante 30 anos:
apesar disso, não queria mudar-se e passar para uma nova casa que
ele mesmo fundara.
São João da Cruz, precisando mudar de ares por causa
de uma doença, não quis aceitar uma casa cômoda, onde havia um
superior que gostava muito dele. Escolheu, porém, uma casa
pobre, dirigida por um superior que não lhe tinha simpatia e que o
perseguiu e o maltratou durante muito tempo e de várias maneiras.
Santa Teresa de Jesus escreveu:
“Quem procura a perfeição deve evitar dizer:
fizeram-me isso sem razão. Se queres carregar a cruz, mas somente
aquela que se apoia na razão, a santidade não é para ti”.
É conhecida a resposta que Jesus crucificado deu a São Pedro,
mártir, quando se lastimava de estar encarcerado, sem ter feito mal
algum: E eu, que mal fiz para estar
pregado nesta cruz sofrendo e morrendo pelos homens!
Os santos consolavam-se, quando injuriados, com
as ofensas que Jesus Cristo padeceu por nós.
Santo Eleazar, perguntado por sua esposa, como podia sofrer com
tanta paciência as numerosas injúrias recebidas até mesmo de seus
empregados, respondeu: Penso em Jesus desprezado. Vejo que as
afrontas feitas a mim não são nada, em comparação com as que Ele
sofreu por mim. Assim Deus me dá força para suportar tudo em paz.
As injúrias, a pobreza, os sofrimentos e todas as
tribulações que sobrevêm a uma pessoa que não ama a Deus, tornam-se
ocasião para mais se afastarem d’Ele. Mas, sobrevindo a quem ama a
Deus, tornam-se motivo de maior união com Ele e de maior amor:
As torrentes não puderam extinguir o amor, nem os rios o puderam
submergir. As tribulações, por muitas e graves que sejam, não só não
extinguem, mas sim, aumentam as chamas da caridade num coração que
ama somente a Deus (Santo Afonso Maria de Ligório).
A pessoa que despreza a Deus para mendigar a amizade
das criaturas sofre muito, caminha na escuridão e vive
amargurada. A melhor forma de enfrentar o desprezo de alguém
é mostrar que a ausência dele já não faz mais diferença...
quem está com Deus possui TUDO! Quem possui água cristalina
não necessita da lama. Quem possui o Eterno não precisa do que
passa... do efêmero. Quem possui o Infinito, não mendiga o
transitório.
Diante do desprezo das criaturas, devemos
“acelerar” os nossos passos e realizar, sem descanso, as boas obras.
Não devemos andar, nem correr... mas “voar” no caminho
do bem. Essa é a melhor resposta: “A verdade é que todos eles queriam nos amedrontar, pensando: ‘Suas mãos se
cansarão do trabalho e jamais será terminado’. No entanto, dava-se o
contrário: eu fortalecia minhas mãos!”
(Ne 6, 9).
A Escola do Coração Santíssimo de Jesus nos
ensina a amar o desprezo. Nessa Escola aprendemos a suportar
tudo por amor ao Cristo desprezado e humilhado.
Abracemos cada desprezo como se fosse um
belíssimo limão, e façamos dele uma deliciosa “limonada”... adoçada
com o açúcar da santa indiferença.
Que “limonada” mais saborosa!
Desejo a todos muita alegria diante dos
desprezos das criaturas.
Eu vos abençoo e vos guardo no Coração de Jesus
Cristo, nossa verdadeira riqueza.
Com respeito,
Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)
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