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VOLUME I
Coletânea de exemplos elaborada pelo Revmo. Pe. Divino Antônio Lopes FP. Fundador e Diretor do Instituto Missionário dos Filhos e Filhas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e das Dores de Maria Santíssima e do Movimento Missionário Lanceiros de Lanciano.
Anápolis – Go, 23 de março de 1998
Ilustração: Irmã Inês de Nossa Senhora das Dores
APRESENTAÇÃO
O Pe. Divino Antônio Lopes apresenta-nos uma coletânea de exemplos. O bom exemplo é um sermão que todos podem pregar. Com ele pode produzir mais fruto nas almas, do que com muitos discursos que só recreiam os ouvidos. O pregar com a palavra nem a todos é concedido; mas pregar com o exemplo a ninguém é defeso. O bom exemplo é um sermão que todos entendem e que se pode pregar a cada hora do dia, não só na igreja, mas na rua e em casa. Que cada exemplo dessa coletânea, possa ajudar o leitor a crescer na santidade, e ser uma luz no meio desse mundo mergulhado no pecado: “... andai como filhos da luz” (Ef 5, 8). Madre Gema de Nossa Senhora das Dores
Durante o domínio comunista na província de Badajoz (Espanha), deu-se em Navalvillar de Pela, um caso triste e revoltante, que não ficou sem castigo. Um dos milicianos vermelhos, atirando um laço à cabeça do Cristo da Caridade e derrubando a sagrada imagem, saiu arrastando-a pelas ruas. Não contente, arrancou-lhe os olhos com ferocidade. Passados poucos dias, estando ele de guarda, sentiu que lhe fugia a vista e gritou por socorro. Quando chegaram os milicianos, que bem o conheciam, nada mais puderam fazer: o mutilador de imagens sagradas estava completamente cego.
Santo Edmundo, que mais tarde foi arcebispo de Cantuária (Inglaterra), evitava cautelosamente a companhia de jovens levianos. Estando, de uma feita, com alguns companheiros, cujas conversas iam tomando um rumo perigoso, afastou-se deles no mesmo instante. Quando ia caminhando, eis que se encontra com um jovem de formosura encantadora, em cuja fronte se lia em letras de um brilho incomparável o nome de Jesus. Disse-lhe a visão: “Pois que te apartaste daqueles, venho eu fazer-te companhia”.
Um jovem, sentindo-se chamado por Deus à vida de perfeição, resolvera tomar o hábito e entrar num convento. Passado algum tempo, pôs-se a dizer consigo (certamente tentado pelo demônio): Sou muito moço ainda, tenho saúde, sou robusto e teria de passar a vida fora do mundo e a fazer contínuas penitências? Não; vou deixar isso para mais tarde; a morte está longe, não virá tão cedo! E ficou no mundo... Mas, quanto durou sua vida? Quatro meses apenas... e, morrendo, o infeliz não conseguia ter paz nem sossego.
Em 1862, a menina Dan, chinesa, embora açoitada até derramar sangue, não quis saber de renegar a sua fé cristã. Seu pai, que havia apostatado, e se achava ali perto, esforçou-se por persuadi-la a apostatar também. A menina, verdadeira heroína, disse: “O senhor renegou a Deus! Eu não o reconheço mais por meu pai! Saia daqui! Deus tenha compaixão do Senhor!” Sempre flagelada, morreu no cárcere após indizíveis sofrimentos e dores. Permaneceu, porém, fiel a Deus e conquistou a palma do martírio.
Santa Cristina, menina de doze anos apenas, foi tentada e atormentada por Urbano, prefeito da cidade. Os seus tormentos foram: açoites, cavalete, unhas de ferro e brasas ardentes; amarrada a uma grande pedra, foi lançada numa fogueira, da qual um anjo a salvou; foi metida num forno ardente, onde ficou fechada durante cinco dias, mas o fogo não lhe fez mal algum. Finalmente, amarrada a uma estaca, recebeu inúmeras flechadas: foi, então, que a sua alma, como uma branca pomba, voou para o céu. Os mártires, mesmo em tenra idade, assistidos por Deus nos seus tormentos, preferiram a morte ao pecado, o céu à terra, a salvação à vida.
Santo Estanislau, bispo, foi acusado perante o rei da Polônia de haver usurpado uma fazenda. O santo declarou que a comprara e pagara, mas, como não possuía escritura e as testemunhas não se atreviam a dizer a verdade por temor do rei, o santo propôs fazer comparecer o dono para provar o que afirmava. Seus inimigos aceitaram logo a proposta, porque sabiam que o antigo dono da fazenda falecera fazia já três anos. Depois de passar toda a noite em fervorosas orações, Santo Estanislau foi ao cemitério e mandou que levantassem a pedra da sepultura; com seu báculo tocou aqueles restos mortais e ordenou ao defunto que se levantasse e o seguisse. Chegados ao tribunal, o defunto falou e diante de todos declarou que recebera do bispo a importância da compra, ficando desmascarados os inimigos do santo. Santo Estanislau perguntou-lhe, então, se queria viver ou morrer. Prefiro morrer – disse – porque me falta muito pouco para sair do purgatório. Voltou, pois, à sua sepultura acompanhado de muita gente e, depois de pedir orações, expirou.
A menina recebeu a primeira comunhão aos sete anos. E com que fervor ela comungou! Com quanta alegria, com quanta piedade voltou para casa naquele grande dia, o mais belo de sua vida! Festejou-o com seus pais, andou com seu vestidinho branco de uma casa para outra. Assim foi, também ao fotógrafo. E passou o dia... e chegou afinal o momento de tirar o véu branco. Tirou-o com uma espécie de religioso pesar, e dobrou-o cuidadosamente. Naquele momento, porém, tomou uma tesoura e cortou um pedacinho do seu véu santificado por tantas recordações... Oh! Se vísseis com que devoção o encerrou num cofrezinho de prata que a mãe lhe dera de presente! Daquele dia em diante a menina comungou todos os dias... Regressando da comunhão, antes de mais nada abria o seu cofrezinho de prata e beijava com ternura e devoção o pedacinho do véu e dizia a Jesus: “Jesus meu, que a minha alma seja sempre branca e pura, como o véu de minha primeira comunhão”. Vive ainda aquela menina? Já terá morrido? Não sabemos. Mas, se vive e continua comungando todos os dias e beijando o branco véu de sua primeira comunhão e dirigindo a Jesus a mesma fervorosa oraçãozinha, certamente ainda é bela, piedosa santa e feliz. Aí tendes um modelo. Não guardastes um pedacinho do vosso véu? Guardai ao menos uma terna lembrança daquele dia bendito, comungando e cumprindo as santas promessas que fizestes no dia inesquecível de vossa primeira comunhão.
São Felipe Néri, que vivia rodeado de rapazes, disse-lhes um dia: — Meus caros, se estiverdes bem atentos tenho uma bela coisa para dizer-vos. — Diga, diga, padre Felipe – repetiram-lhe os rapazes cheios de curiosidade. — Pois bem; eu vos digo que há neste mundo muitos loucos e muitos velhacos. — Que quer o sr. Dizer com isso, padre Felipe? — É muito simples: os velhacos são os que, vivendo no meio do mundo, trabalham sempre para o céu; loucos, porém são aqueles que se afadigam pelas coisas da terra e caminham para a perdição eterna.
Nos dias terríveis da Revolução Francesa, um pároco de Lião foi barbaramente arrastado aos tribunais. — Crês que há inferno? – Perguntou-lhe cinicamente um dos juízes revolucionários. — Claro que sim – respondeu o pároco; – e se não cresse, vendo agora os vossos crimes, não teria dúvida em crer; porque, se de fato não existisse inferno, seria mister inventá-lo para vos castigar.
Em Charleroi, na Bélgica, os padres jesuítas pregavam uma missão. Um jovem assistia a todos os sermões, com o único fim de os estorvar; de sorte que o pároco se viu obrigado a expulsá-lo da igreja. Então o jovem, que parecia endiabrado, arranjando uma buzina de caçador, tocava-a durante o sermão, passeando diante da igreja. Um dia, porém, quando ia começar a música, sentiu uma dor aguda e muito esquisita no pescoço, e viu-se obrigado a recolher-se à sua casa. Dois médicos chamados com urgência não souberam explicar a procedência daquele incômodo nem acertaram com nenhum remédio. O infeliz morreu naquela mesma noite no meio de horríveis sofrimentos.
O pároco de Esclés, França, dizia a uma sua paroquiana: — Olhe, é preciso mandar o filho ao Catecismo, do contrário não o poderei admitir à primeira Comunhão, para a qual as crianças estão se preparando. A orgulhosa e altiva senhora replicou: — Oh! Não será isso que impedirá meu filho de crescer são e robusto! E assim foi. Aquele rapaz cresceu são e forte, mas dez anos depois, era condenado à morte. Por quê? Porque, não conseguindo extorquir mais dinheiro da mãe, matou-a por estrangulamento.
A desditosa rainha Maria Stuart, ao ser conduzida ao cadafalso, levava na mão um crucifixo e beijava-o muitas vezes. Um oficial protestante, que a acompanhava, disse-lhe: — Senhora, não é na mão, mas no coração que se deve levar Cristo — Senhor, – replicou a piedosa rainha – é bom levá-lo também na mão, para possuí-lo com mais segurança no coração.
Quando uma religiosa, gravemente enferma, se queixou a São Francisco de Sales que, por causa de seus sofrimentos, não podia rezar bem nem meditar nas verdades da fé, o Santo respondeu-lhe: — Não vos esqueçais, minha boa Irmã, que é mais meritório sofrer com Jesus Cristo na Cruz, que meditar nas dores que Ele padeceu nela.
Bem poucos conhecem, mesmo de nome, a São Telmo. Chamava-se, antes, Pedro González. Era muito moço, mas seu tio, o bispo de Palência, fê-lo cônego daquela catedral. Era o jovem cônego muito vaidoso e gostava demais das honras e dignidades. Sua vida contrastava com a de seus colegas que andavam escandalizados com a sua conduta. Apesar disso consegue seu tio que ele seja eleito deão do cabido. A posse foi marcada para o dia de Natal. Chegado esse dia, Gonzáles vestiu um elegante traje cortesão e, montando um ginete magnificamente ajaezado, atravessou as ruas da cidade, com grande escândalo do povo. Entretanto Deus, em seus insondáveis desígnios, queria servir-se da vaidade de Gonzáles para impor-lhe uma profunda humilhação. Queria por esse meio levá-lo a melhores sentimentos fazendo-o sentir quão frívolas e efêmeras são as honras mundanas. Chegando à grande praça de Palência, quis fazer seu cavalo corcovear graciosamente, a fim de provocar admiração do público e arrancar-lhe aplausos. Largou o cavalo a toda brida, mas, no meio da carreira, o animal empacou, deu um pinote e lançou o cavaleiro no meio da lama. A multidão acolheu a queda com uma estrondosa gargalhada. A vaia foi tremenda. O vaidoso deão, coberto de lama até aos olhos, não ousava levantar-se do chão. Muito salutar foi, todavia, tamanha confusão. Erguendo os olhos ao céu, exclamou: como? Este mundo, a quem eu desejava agradar; zomba de mim!? Pois bem, eu me rirei dele, voltar-lhe-ei as costas, e mudarei de vida. Abandonou tudo, fez-se dominicano e com o nome de Frei Telmo viveu e morreu como santo.
Alexandre Magno, quando sitiava uma cidade, mandava acender uma grande fogueira e comunicar aos habitantes do lugar que, enquanto a fogueira estivesse acesa, poderiam alcançar perdão. Deus é também magnânimo. Por isso, todo homem, enquanto permanecer acesa a chama de sua vida, pode contar com a misericórdia de Nosso senhor. O mais arriscado, porém, é deixar a conversão e o cuidado da alma para a última enfermidade, para último instante de vida.
A rainha de França, Maria Teresa, esposa de Luiz XIV, por sua delicadeza de consciência sentia amarga dor por qualquer falta que cometia. Como lhe dissessem, para tranqüilizá-la, que aquilo não passava de um pecado venial, respondia com lágrimas nos olhos: “Terá sido leve; mas foi uma ofensa a Deus e isso foi bastante para abrir em meu coração uma ferida mortal”. Sim; o pecado venial não é coisa tão leve como parece. Se um maçã começa a apodrecer, perde toda a beleza e valor. Se num vaso de água cristalina lançamos uma gota de tinta, toda a água ficará turva ou enegrecida.
Um sacerdote foi entregar à viúva de um rico comerciante uma quantia importante, que recebera em confissão para ser restituída. A senhora, ainda que muito católica, desejava saber quem fora o autor daquele roubo, porque do contrário (dizia ela) ficaria suspeitando de toda gente. E prometia até com juramento que guardaria rigoroso segredo. — Não posso dizer-lhe! – respondeu o sacerdote — Diga-me, só a mim! – insistia ela. — E a senhora não o contará a ninguém? — Nunca! Eu sou como uma sepultura para guardar segredo. — Muito bem – rematou o sacerdote – eu também sou uma sepultura; portanto não estranhe que não possa revelar-lhe o meu segredo.
Santa Rosália, em seus verdes anos, passava diariamente muito tempo, horas a fio, diante do espelho a enfeitar-se. Um dia, vendo refletir-se no espelho um Crucifixo que estava suspenso à parede oposta, pôs-se a pensar no contraste entre as suas vaidades e as humilhações do Salvador; entre o seu corpo amimado e o de Jesus dilacerado pelos açoites e espinhos... Movida pela graça, deixou Rosália as vaidades e vãos adornos e daí em diante levou uma vida de abnegação e sacrifício, chegando a grande santidade.
São João Batista Vianney, o santo cura d’Ars, ouvindo uma ocasião o lindo gorjeio dos pássaros, ergueu os olhos aos céus e exclamou suspirando: — “Pobres avezinhas! Fostes criadas para cantar; e cantais! O homem, que foi criado para amar a Deus, não o ama! Que dor!”
Na Inglaterra encontraram-se certa vez um protestante e um católico. Conversa vai, conversa vem, eis que o protestante, para mexer com o outro, pergunta: — O senhor não ficaria triste de ver depois de sua morte, suas cinzas misturadas na sepultura com as desses homens que o senhor considera hereges? — Não senhor, respondeu o católico; e sabe por quê? No meu testamento ordenarei que cavem a minha sepultura um pouco mais funda, e já as minhas cinzas se acharão misturadas com as dos católicos.
Havia um homem – diz Santo Afonso – que aparentemente levava uma vida boa, mas sempre se confessava mal. Tendo caído gravemente enfermo, foi visitá-lo o pároco, que o exorou a receber os sacramentos, porque se achava em perigo de vida. O doente, porém, não queria saber de confissão. — Mas porque o senhor não quer confessar-se? — Porque estou condenado, respondeu o doente. Nunca confessei com sinceridade os meus pecados e Deus, por castigo dos meus sacrilégios, agora me retira a força de repará-los. Dito isto, começou a morder a língua, gritando: — Maldita língua, que te recusaste, quando podias, a confessar todos os pecados. E entregando-se ao desespero, e arrancando pedaços da língua, expirou. O seu corpo preto como carvão lançava horrível mau cheiro.
Vão aqui alguns exemplos mais conhecidos. Santo Agostinho, filho de Santa Mônica; São João Crisóstomo, filho de Santa Antusa; São Gregório Magno, filho de Santa Sílvia; São Basílio, São Gregório Nisseno, São Pedro de Sebaste e Santa Macrina, filhos de Santa Emélia; São Bento, filho de Santa Nona; São Bernardo, filho de Santa Alata; São Domingos de Gusmão, filho de Santa Joana de Aza; Santa Catarina de Suécia, filha de Santa Brígida, etc...
Evélia, nobre dama de Antioquia, recorreu a São João Crisóstomo, pedindo-lhe que rogasse por um filho seu enfermo, o último que lhe restava de quatro que tivera. Foi o Santo à casa daquela senhora, deu uma bênção ao enfermo e aspergiu-o com água benta. A graça da cura não se fez esperar.
Um sacerdote renegado, excomungado e apóstata, anunciou que, no teatro Lírico de Santiago do Chile, revelaria os mais interessantes segredos de confissão dos tempos de seu sagrado ministério. Era 18 de Maio de 1905. No momento exato em que o desgraçado ia abrir a boca para começar a falar, desabaram estrepitosamente as galerias do teatro, ficando sepultadas debaixo de suas ruínas 600 pessoas. Assim Deus os castigou, não permitindo que se violasse o segredo da Confissão.
Um santo teve uma visão, na qual viu como Satanás, de pé diante de Deus, dizia-lhe: “Por que me condenaste por um só pecado que cometi, e ao contrário salvas a tantos que te ofenderam milhares de vezes? E Deus respondia: “Porque o homem me pede perdão, e tu, nunca. O homem se confessa, tu, não”.
A condessa Hahn-Hahn percorreu muitos países, visitando suas cidades, museus, teatros, para ver se encontrava a tranqüilidade que desejava. Foi tudo inútil. Por fim, um dia entrou numa igreja e confessou-se, declarando o pecado, que, como enorme pedra, lhe oprimia o coração. A confissão deu-lhe a paz e a tranqüilidade que em vão buscara em suas viagens.
A beata Madalena Albrizzi recebeu certo dia a visita de um parente seu que levava vida escandalosa. Logo que o viu, a serva de Deus começou a chorar. Aquele senhor, à vista da inesperada recepção, perguntou-lhe por que chorava. — Chorou a tua morte – respondeu ela. — Não estou morto; estou muito vivo e muito são; e não creio ter inimigos que me procurem matar. A Beata Madalena continuava, porém, a soluçar, dando como simples resposta: — Choro a morte de tua alma.
Um bom jardineiro plantou perto de sua casa algumas videiras, que davam sombra agradável e deliciosas uvas. É verdade, não eram muitas, mas excelentes. Um vizinho invejoso veio uma noite e cortou muitos galhos da videira. De manhã, quando viu aquele estrago, o bom jardineiro sentiu muito pesar, pois ignorava que a poda faz frutificar a videira, e dizia: “Tenho vontade de chorar; mas como não choro, minhas pobres videiras derramam lágrimas ao verem-se tão cruelmente maltratadas”. Quão grande foi, porém, a alegria do jardineiro, quando viu que naquele ano a videira produziu maior número de cachos, maiores e mais formosos do que no ano anterior. Foi devido à inveja de seu vizinho que ele aprendeu a podar as videiras e torná-las fecundas.
Um príncipe de Siracusa tinha dois criados: um avarento e o outro, invejoso. Um dia disse-lhes o príncipe: “Quero fazer-vos um presente. O primeiro que pedir terá o que desejar; e ao outro darei o mesmo presente, porém em dobro”. Um por avareza e outro por inveja, nenhum queria pedir primeiro. Afinal o príncipe, para acabar de uma vez, mandou ao invejoso que pedisse. Este, depois de refletir algum tempo, pediu que lhe arrancassem um olho. Por quê? Para que ao seu companheiro tivessem de arrancar os dois.
Numa aldeia da Áustria, em 1847, vivia uma pobre mulher viúva com cinco filhinhos, de seu trabalho de costura e bordado. Uma jovem costureira, chamada Ana Geisel, invejosa da muita freguesia que tinha a viúva e desejando que a perdesse levantou-lhe uma calúnia: espalhou que a costureira tinha uma doença contagiosa das mais repugnantes. Os fregueses deram-lhe crédito e, não recebendo mais trabalho, a viúva viu-se obrigada a pedir esmola. Mas mesmo as portas daqueles que antes a favoreciam agora se fechavam para ela. Por ocasião do jubileu de Pio IX, naquele ano, a invejosa-caluniadora confessou a verdade e fez pública retratação numa declaração firmada de próprio punho. Essa declaração a caluniadora mandou afixar no quadro de avisos da prefeitura; além disso enviou à viúva uma pequena indenização pelos prejuízos causados e, logo, desapareceu da aldeia para ocultar sua vergonha. A pobre invejada e caluniada recobrou sua antiga freguesia e daí em diante foi sempre muito favorecida de todos.
Certa vez o demônio apareceu a um jovem penitente que vivia no deserto e disse-lhe: — Meu amigo, que fazes aqui? Desperdiçar neste deserto a tua mocidade?... Vem comigo, e eu te mostrarei as belezas da terra, os sorrisos encantadores, os espetáculos deslumbrantes e as alegrias da vida. Vem, eu te darei prazeres, amores, sonhos, delícias... O jovem, indeciso, hesitante, pergunta: — Dar-me-ás tudo isso? — Tudo. — Por quanto tempo — Vinte anos. — Apenas o tempo que eu vivi até agora?... — Bem; eu redobrarei os anos. — É pouco! Não aceito. — Sabes o que são quarenta anos de felicidade? — Sei, sim! Um minuto que passou, deixando a mais amarga das ilusões. Tão pronta e acertada resposta obrigou o demônio a retirar-se. Estava vencido. Ao mesmo jovem aparece outra visão: é Jesus que lhe diz: — Meu filho, queres seguir-me? — Jesus, que me dareis? — Tribulações e dores, perseguições e lutas, sacrifícios e sangue. Por quanto tempo? — Por todo o tempo da tua vida. — E depois? — Depois, se perseverares, serás para sempre feliz no meu reino. O jovem abaixa a cabeça... Quando ergue os olhos, não hesita mais, e diz resolutamente: — Sim, Jesus, eu vos seguirei; porque, na verdade, os sacrifícios desta vida efêmera não se podem comparar com a recompensa eterna que me espera no céu.
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