Instituto Missionário dos Filhos e Filhas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e das Dores de Maria Santíssima

 

 

27 de março de 2019

 

OS FILHOS E FILHAS DA

PAIXÃO DE JESUS DEVEM

CARREGAR A CRUZ ATÉ O FIM

 

 

1ª Reflexão

 

Em Mt 16, 24 diz: “Então disse Jesus aos seus discípulos...” Em Mc 8, 34 diz: “Chamando a multidão, juntamente com seus discípulos, disse-lhes...” Em Lc 9, 23 diz: “Dizia ele a todos...”

 

Jesus Cristo, o Senhor que sofreu desde o ventre de sua Santíssima Mãe, não dispensou ninguém do caminho da cruz. Ele disse para os Apóstolos, Discípulos e multidão que o ouvia... está claro que Ele disse para todos: consagrados, crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos... disse a todos, sem exceção.

O único caminho para o céu é o da cruz... se existisse outro caminho, com certeza Jesus Cristo o teria indicado: “Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho que conduz à Vida. E poucos são os que o encontram” (Mt 7, 14).

Jesus Cristo, Deus verdadeiro, não engana os seus seguidores. Ele convida os seus amigos para percorrerem o caminho da cruz... caminho seguro que conduz ao céu: “Um cristão, mais do que qualquer outra pessoa, deve contar sempre e por toda a parte com a cruz e o sofrimento... Se pertencêssemos ao mundo, este amar-nos-ia, mas, porque não somos do mundo, ele nos odeia... A experiência e a Sagrada Escritura mostram-nos assim a realidade da dor; daí que esta não nos deva encontrar desprevenidos. Esperar a dor é já uma vantagem que lhe lima as arestas mais duras. A fé diz-nos qual é o sentido e finalidade do sofrimento, e assim achamo-nos perante a vida em condições muito diferentes das daqueles que não gozam da luz da fé. Como é difícil a vida para aqueles que nada sabem da Revelação e por isso não conseguem compreender o sofrimento!” (Pe. Richard Gräf, O cristão e a dor).

Aquele que afirma que não foi chamado para percorrer o caminho da cruz chama a Jesus Cristo de mentiroso e caminha para a perdição eterna, porque longe da cruz não há salvação: “Na cruz estão a salvação e a vida, na cruz a proteção contra nossos inimigos” (Tomás de Kempis, Imitação de Cristo, Livro II, Capítulo XII, 2).

 

 

2ª Reflexão

 

Em Mt 16, 24 diz: “Então disse Jesus aos seus discípulos...” Em Mc 8, 34 diz: “Chamando a multidão, juntamente com seus discípulos, disse-lhes...” Em Lc 9, 23 diz: “Dizia ele a todos...”

 

Jesus Cristo, Deus verdadeiro, disse aos discípulos (Mt 16, 24)... disse para a multidão e para os discípulos (Mc 8, 34)... disse a todos (Lc 9, 23). Nosso Senhor não deixou ninguém às “margens” da cruz... fora desse único caminho para o céu: “Não se pode salvar sem sofrer, querer amar a Deus sem sofrer é ilusão” (Santa Margarida Maria Alacoque, Escritos).

Nosso Senhor Jesus Cristo indica o caminho da cruz... o caminho do céu... Ele convida, mas não nos obriga. O religioso do Instituto deve agradecer a Jesus por esse convite e abrir o coração... ser dócil ao seu chamado... sem colocar obstáculo... sem murmurar... sem reclamar.

Infelizmente, muitos consagrados e consagradas voltam as costas para o convite do Senhor, querem servi-lo longe do caminho da cruz, da renúncia e do sacrifício. Os religiosos do nosso Instituto devem aceitar o convite de Jesus Cristo com alegria, fé, fervor e disponibilidade... devem consumir-se pelo Senhor que deu a vida por nós: “O cristão que se poupa, que calcula para dar a Deus o mínimo indispensável, de modo a não lhe ser traidor, que vive procurando antes fugir da cruz que carregá-la, antes defender-se que renunciar-se, antes salvar a própria vida que sacrificá-la, não é discípulo de Cristo. Se não nos é dado testemunhar nosso amor e nossa fé com o martírio do sangue, devemos, todavia, testemunhá-los abraçando com generoso coração todos os deveres que o seguimento de Cristo impõe, sem recuar perante o sacrifício” (Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 298).

Aqueles que buscam uma vida fácil, de “poltronice”, de comodismo... não foram chamados pelo Senhor; mas sim, entraram pela “janela” como ladrões para escandalizar os fiéis.

Todos foram chamados por Jesus Cristo para percorrerem o caminho da cruz... não somente os consagrados e consagradas, mas também os leigos. Nós, filhos e filhas da Paixão do Senhor e das dores de Nossa Senhora, devemos dar o bom exemplo, inclinando a cabeça diante do convite do Salvador que sabe muito bem o que é melhor para a nossa santificação e salvação. Ele não quer um fogo de palha; mas sim, uma decisão firme em segui-lo: “Jesus não pede um entusiasmo passageiro, nem uma dedicação momentânea; o que pede é a renúncia de si mesmo, o carregar cada um com a sua cruz e segui-lo” (Edições Theologica).

 

 

3ª Reflexão

 

Em Mt 16, 24 diz: “Se alguém quer vir após mim...” O mesmo está em Mc 8, 34; Lc 9, 23.

 

Jesus Cristo, nosso Salvador, convida cada pessoa a segui-lo, mas não obriga... não violenta a nossa liberdade... não obriga.

Disse o Salvador: “Se alguém quer vir após mim”. É o mesmo que dizer: se alguém se quer salvar, se alguém quer ter parte com Deus na glória eterna. É uma proposta que Jesus Cristo fez a todos os homens. O segui-lo ou não, deixa à nossa vontade, porque não quer forçar ninguém a entrar no céu.

Jesus Cristo não obriga o homem a segui-lo... a amá-lo... Ele não violenta nem força a criatura a abrir-se para a misericórdia. Nisto consiste precisamente a grandeza e a nobreza de Deus.

Santo Agostinho escreve: “Ninguém é forçado, mas também ninguém é excluído de seguir a Jesus Cristo. Para segui-lo de fato, é necessário querer seriamente; o mero desejo é de todo insuficiente. Deves renunciar não só às coisas ilícitas e perigosas, mas também ao próprio juízo, às desordenadas inclinações e à própria vontade. É este o primeiro passo para a perfeição”.

Os religiosos do nosso Instituto (filhos e filhas da Paixão) devem seguir a Jesus Cristo com amor, alegria, generosidade, convicção e perseverança. Longe de nós a preguiça, comodismo, semblante fechado, azedume, tristeza e outras “coisas” que não agradam ao Coração Santíssimo de Nosso Senhor.

Jesus Cristo é o Senhor de tudo e de todos! Ele não aceita seguidores “pesados” e carrancudos no seu serviço. O Senhor quer “soldados” felizes e alegres no seu “exército”.

O filho e filha da Paixão do Senhor e das dores de Maria Santíssima devem dizer um sim decidido, firme e alegre para o chamado de Jesus Cristo, porque o Senhor que morreu na cruz para nos salvar merece todo o nosso amor... merece a nossa vida... merece todo o nosso esforço.

Ele, o Senhor da vida, diz para todos: “Se alguém quer vir após mim”. Está claro que Ele vai à frente... Ele é a Luz do mundo que ilumina os passos dos seus seguidores. Jesus convida e toma a dianteira... a vanguarda, o primeiro lugar... O Salvador não abandona os seus amigos fiéis, generosos e dedicados. Aquele que segue os passos de Jesus não treme diante das dificuldades, obstáculos e provações: “Cristo comigo, a quem temerei? Mesmo que as ondas se agitem contra mim, mesmo os mares, mesmo o furor dos príncipes: tudo isto me é mais desprezível que uma aranha” (São João Crisóstomo, Escritos).

 

 

4ª Reflexão

 

Em Mt 16, 24 diz: “Se alguém quer vir após mim...” O mesmo está em Mc 8, 34; Lc 9, 23.

 

Tapar os ouvidos e fechar o coração para o convite de Jesus Cristo é grande loucura e terrível perigo de se condenar eternamente. Longe dos filhos e filhas da Paixão essa rebeldia, frieza, indiferença, ingratidão e atrevimento.

Nosso Senhor Jesus Cristo disse: “Se alguém quer vir após mim...” Não é uma criatura que faz esse convite; mas sim, o Deus Eterno e todo-poderoso. Seguir a Jesus é seguir a Deus... é seguir a Luz Eterna... é caminhar na Verdade que liberta... é viver “mergulhado” na Paz que o mundo não pode dar... é viver com segurança na amizade da Vida... é percorrer o Caminho que conduz ao céu. O religioso do nosso Instituto deve seguir a Jesus com fidelidade, convicção e perseverança... o mesmo deve desprezar os convites do mundo e pisar com força as suas máximas e vaidades. Devemos dizer um sim convicto e decidido para o Salvador.

Jesus Cristo caminha à nossa frente, não olhemos para os lados nem para trás... somente Nosso Senhor merece o nosso olhar. Fixemos os olhos no Senhor que nos guia pelo caminho da salvação e da Vida Eterna. Aquele que deixa de olhar para o Salvador, Luz do mundo, cairá por terra.

O Decreto “Apostolicam actuositatem”, n.º 4 diz: “O amor de Deus que ‘foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi dado’ (Rm 5, 5), torna os leigos capazes de exprimir em verdade, na própria vida, o espírito das Bem-aventuranças. Seguindo a Cristo pobre, nem se deixam abater com a falta dos bens temporais nem se exaltam com a sua abundância; imitando a Cristo humilde, não são cobiçosos da glória vã (Gl 5, 26), mas procuram mais agradar a Deus que aos homens, sempre dispostos a deixar tudo por Cristo (Lc 14, 26) e a sofrer perseguição pela justiça (Mt 5, 10), lembrados da palavra do Senhor: ‘se alguém quiser seguir-me, abnegue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me’ (Mt 16, 24)”.

Jesus Cristo, o Deus da verdade, não obriga ninguém a segui-lo pelo caminho da cruz. É grande estupidez, grosseria e indelicadeza, servir ao Senhor da verdadeira liberdade com murmuração, revolta, pessimismo, reclamação e preguiça. Quem quiser entrar no nosso Instituto deve seguir a Cristo Jesus de coração, isto é, com alegria, disponibilidade e generosidade... não queremos ninguém se arrastando atrás de Jesus Cristo.

É grande cegueira seguir a Cristo Jesus cobiçando o comodismo e vida fácil! Aquele que não quer servir a Jesus de todo o coração não serve para o nosso Instituto.

 

 

5ª Reflexão

 

Em Mt 16, 24 diz: “Se alguém quer vir após mim...” O mesmo está em Mc 8, 34; Lc 9, 23.

 

Os filhos e filhas da Paixão de Jesus devem dizer sempre sim para Deus, principalmente quando surgirem dificuldades pelo caminho... não recuarem nem retrocederem diante das “muralhas” das provações. É preciso fixar os olhos no único Senhor que pode nos sustentar nas horas difíceis.

Quando Jesus Cristo disse: “Se alguém quer vir após mim...”, tinha presente que o cumprimento da sua missão o levaria à morte de cruz; por isso, fala claramente da sua Paixão (Mc 8, 31-32). Mas também a vida cristã, vivida como se deve viver, com todas as suas exigências, é uma cruz que se deve levar em seguimento a Jesus Cristo.

As palavras de Jesus, que devem ter parecido assustadoras àqueles que as escutaram, dão a medida do que Cristo exige para segui-lo. Jesus Cristo não pede um entusiasmo passageiro, nem uma dedicação momentânea; o que pede é a renúncia de si mesmo, o carregar cada um com a sua cruz e o segui-lo. Porque a meta que o Senhor quer para os homens é a vida eterna. Toda esta passagem evangélica está contemplando precisamente o destino eterno do homem. À luz dessa vida eterna é que deve ser avaliada a vida presente: esta não tem um caráter definitivo nem absoluto, mas é transitória, relativa; é um meio para conseguir aquela vida definitiva do Céu: “Tudo isso, que te preocupa de momento, é mais ou menos importante. – O que importa acima de tudo é que sejas feliz, que te salves” (São Josemaría Escrivá, Caminho, n.º 297). Esse mesmo santo ainda diz: “Há no ambiente uma espécie de medo da Cruz, da Cruz do Senhor. Tudo porque começaram a chamar cruzes a todas as coisas desagradáveis que acontecem na vida, e não sabem aceitá-las com sentido de filhos de Deus, como visão sobrenatural. Até tiram as cruzes que os nossos avós levantaram nos caminhos! Na Paixão, a Cruz deixou de ser símbolo de castigo para se converter em sinal de vitória. A Cruz é o emblema do Redentor, ali está a nossa salvação, a nossa vida e a nossa ressurreição” (Via-sacra, II, n.º 5).

O religioso do Instituto deve seguir a Cristo Jesus com convicção, fé, coragem e valentia... sem olhar para as facilidades oferecidas pelo mundo... deve tapar os ouvidos para o convite dos amigos da vida fácil e cômoda... fechar os olhos para as coisas passageiras e caducas desse mundo.

Seguir a Jesus é seguir a verdade! Seguir o Salvador é caminhar com segurança!

 

 

6ª Reflexão

 

Em Mt 16, 24 diz: “Se alguém quer vir após mim...” O mesmo está em Mc 8, 34; Lc 9, 23.

 

Jesus Cristo não obriga ninguém a segui-lo: “Se alguém quer vir após mim...” Diante dessa “liberdade” dada pelo Senhor, é proibido ingressar ou permanecer no nosso Instituto religiosos e religiosas que servem a Deus de má vontade, revolta, semblantes carregados, pessimismo, se arrastando e sedentos por uma vida cômoda e de “poltronice”. Esses religiosos e religiosas que servem a Deus de má vontade envenenam todo o ambiente e esfria os corações. A permanência dessas pessoas na vida religiosa causa grande prejuízo para as pessoas que seguem verdadeiramente a Deus.

O religioso do nosso Instituto deve seguir a Cristo Jesus com fidelidade, amor e fé. Ele disse: “... após mim...” Nosso Senhor não disse “após” o mundo, as vaidades, as coisas caducas e passageiras da terra... “após” o comodismo, vida fácil, a própria vontade, os próprios interesses... “após” segundas intenções e outros.

Cada membro do nosso Instituto deve fixar os olhos em Cristo Jesus e segui-lo imitando o seu exemplo: “Tornai-vos, pois, imitadores de Deus, como filhos amados, e andai em amor, assim como Cristo também nos amou e se entregou por nós a Deus, como oferta e sacrifício de odor suave” (Ef 5, 1-2). Jesus Cristo, Deus Eterno, vai à nossa frente para nos proteger... nada nesse mundo pode impedir o progresso do filho da Paixão.

Aquele que quiser seguir a Cristo Jesus deve desprezar a vida cômoda e os prazeres desse mundo, porque Jesus é um Deus ciumento e não aceita um coração dividido com as coisas desse mundo.

Poder escolher a Cristo ou o demônio... a Luz ou as trevas... a salvação ou a condenação... a alegria ou a tristeza... o céu ou o inferno... a decisão é nossa... o Salvador nos deixa livre: “Se alguém quer vir após mim...” Seremos julgados na hora da morte sobre as oportunidades jogadas fora e por ter dito não ao chamado de Deus... mas o Senhor nos deixa livres.

 

 

7ª Reflexão

 

Em Mt 16, 24 diz: “... negue-se a si mesmo...” O mesmo está em Mc 8, 34. Em  Lc 9, 23 diz: “... renuncie a si mesmo...”

 

O Pe. Alexandrino Monteiro comenta: “Renuncie a si mesmo’ – Negar-se a si mesmo o que é? É dizer ‘não’ aos gostos e inclinações terrenas do nosso coração. Negar-se a si mesmo é não guiar-se alguém pelos conselhos de sua natureza depravada, mas pelos ditames da razão alumiada com a luz da fé. Negar-se a si mesmo é não dar ouvido às vozes que do interior se levantam, pedindo prazeres e deleites sensuais e satisfação completa de todos os apetites desordenados” (Raios de luz).

O Bem-aventurado Charles de Foucauld diz: “Ó Senhor, ser vosso discípulo significa ser todo vosso, pertencer-vos plenamente, estar perfeitamente unido a vós, formar convosco uma só coisa. Não vivemos mais, porém, viverdes vós em nós significa a união perfeita convosco. Ó meu Deus, como devo desejar ser vosso discípulo! Eis a maior glória que posso dar-vos!... Ó Senhor, ajudai-me a fazer o que para isso é necessário... Renegar a mim mesmo para servir-vos; que significa? Significa esquecer-me, fazer abstração de mim, já não me ocupar comigo... como se não existisse. Então, não mais terei interesses nem conveniências, nem gostos, nem vontades, nem nada mais! Já não existo, não cuido de mim... Esqueço-me completamente. Mas, ó Senhor, se já não busco meu bem, então nada mais buscarei absolutamente? Este coração, esta inteligência vazios de si, continuarão assim vazios?... Não! Nem por um instante sequer! Se me esvazio de mim é para ser invadido por vós, Deus meu! Se me esqueço, é para só pensar em vós” (Meditazioni sul vangelo, Op. sp., p. 231).

Para pertencer totalmente a Jesus Cristo é preciso negar a si mesmo... renunciar a si mesmo. Um coração apegado aos próprios caprichos não pode pertencer a Deus... não tem espaço nele para o Senhor que não aceita um coração dividido: “Quem quiser seguir a Jesus mais de perto, despoje-se de bom grado, por seu amor, do apego às riquezas, ao bem-estar material, renuncie de bom grado às comodidades, ao supérfluo” (Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 32, 2).

O religioso do nosso Instituto deve viver somente para Deus! Quem corre atrás das coisas passageiras se afasta da verdadeira riqueza que é Deus: “Senhor e Deus meu, o hábito de correr atrás das vaidades, e o exemplo de um mundo que só disto trata, põem tudo a perder” (Santa Teresa de Jesus, Moradas II, 4-6).

 

 

 

8ª Reflexão

 

Em Mt 16, 24 diz: “... negue-se a si mesmo...” O mesmo está em Mc 8, 34. Em Lc 9, 23 diz: “... renuncie a si mesmo...”

 

O filho e filha da Paixão de Jesus Cristo e das dores de Maria Santíssima devem possuir um verdadeiro e grande amor a Deus... amor que não recua... não retrocede; mas sim, avança com valentia, ousadia e firmeza pelo caminho da santidade e da perfeição. Ninguém consegue deter o coração que ama com sinceridade a Deus.

O verdadeiro amor supera todo obstáculo, aceita qualquer condição, abraça qualquer renúncia para unir-se a quem ama. Se quer o homem unir-se a Deus, deve percorrer um caminho semelhante ao percorrido pelo Verbo para unir-se à natureza humana: caminho de prodigioso aniquilamento, de infinita humildade.

Será Deus o todo, o único tesouro da criatura quando, para possuí-lo, souber renunciar a todo bem terreno e até a si mesma em espírito de pobreza e de humildade perfeita. Ante o aniquilamento do Verbo Eterno, não nos pode parecer demasiado duro ou exigente este programa. Para quem ama a Deus, nada há mais espontâneo e desejável que segui-lo e conformar-se com Ele. Para corresponder ao seu infinito amor e demonstrar-lhe o nosso, não é demais decidir-nos a despojar-nos generosamente de tudo o que pode criar dissemelhança com Ele, ou diminuir a comunhão com Ele. Precisamos despojar-nos, sobretudo, do egoísmo, do orgulho, da vaidade, da pretensão de fazer-nos valer. Que flagrante contraste entre as vãs exigências do homem e a comovedora humildade do Verbo Encarnado! “Tende em vós os mesmos sentimentos de Cristo Jesus. Ele, de natureza divina... aniquilou-se a si mesmo” (Fl 2, 5-7).

Quem quiser seguir a Jesus de perto, despoje-se de bom grado, por seu amor, do apego às riquezas, ao bem-estar material, renuncie de bom grado às comodidades, ao supérfluo. O voto ou a promessa de pobreza obrigam, de modo especial, a este desapego. Mas mesmo sem estar ligado por esses vínculos, quem poderia levar, tranquilamente, vida cômoda, quando o Filho de Deus quis abraçar tanta pobreza e tantos incômodos? (Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina).

O religioso do nosso Instituto deve esvaziar o coração de tudo aquilo que não agrada a Deus, que se torna obstáculo entre ele e o Salvador. Aquele que se apega às coisas caducas e passageiras da terra não pode permanecer no nosso Instituto. Deus quer que o nosso coração seja somente d’Ele e de mais ninguém.

 

 

9ª Reflexão

 

Em Mt 16, 24 diz: “... negue-se a si mesmo...” O mesmo está em Mc 8, 34. Em Lc 9, 23 diz: “... renuncie a si mesmo...”

 

Os religiosos do nosso Instituto, sacerdotes, irmãos e irmãs, estão terminantemente proibidos de “criar” pequenos ou grandes ídolos no “altar” do coração. Devemos aceitar somente Deus no nosso coração e dizer não para as coisas caducas e passageiras desse mundo inimigo de Deus e das almas imortais: “O primeiro ídolo, o cria em si mesmo, na medida em que procura alimentar o egoísmo, o orgulho, a vaidade, a ambição ou o desordenado desejo de afeto” (Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina).

Infeliz do religioso que despreza o Criador para se inclinar diante das criaturas. Qualquer apego voluntário, ainda que mínimo, é laço que detém o homem no voo para Deus e lhe impede a perfeita união com Ele: “Pouco importa ser fino ou grosso o fio que amarra o passarinho, porque, em ambos os casos, está igualmente preso, enquanto não o romper. Verdade é ser mais fácil romper o fino, todavia, se não o romper, não poderá o pássaro voar” (São João da Cruz). É a condição de muitas criaturas que, embora desejando dar-se a Deus, deixam-se amarrar por tantos apegos e hábitos imperfeitos. Só a renúncia generosa pode romper esses laços e dar-lhes a plena liberdade de espírito.

Para seguir a Jesus Cristo devemos expulsar do nosso coração tudo aquilo que o desagrada: “Nega a si mesmo aquele que abandona a má vida e começa a ser o que não era e deixa de ser o que era” (São Gregório Magno, homiliae in Hiezechihelem prophetam, hom. 10), e: “Nega a si mesmo também aquele que pisa o seu orgulho e se apresenta limpo diante dos olhos de Deus” (Idem., Moralia, 23).

Deus quer o nosso coração inteiro para Ele... o Senhor não aceita um coração dividido com o que passa. Deus promete cem vezes mais aqui nesse mundo e depois da morte a Vida Eterna; mas o seu amor é exigente... Ele não aceita um coração “adorador” das criaturas... Nosso Senhor é generoso, mas é exigente: “Oferece Jesus a abundância da vida, mas pede a generosidade da adesão, a totalidade do amor, e, portanto, da renúncia. Ele quer tudo: o coração, a vontade, os afetos mais caros, a casa, os haveres e até a vida. Não podem suas palavras ser interpretadas como simples modo de falar! São exigências concretas de seu seguimento. Não tenhamos medo de ouvi-las, mesmo se houvessem de transtornar a nossa vida” (Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina).

Sem renúncia é impossível seguir verdadeiramente a Jesus Cristo!

 

 

10ª Reflexão

 

Em Mt 16, 24 diz: “... tome a sua cruz...” O mesmo está em Mc 8, 34. Em Lc 9, 23 diz: “... tome a sua cruz cada dia...”

 

O religioso do nosso Instituto deve carregar as cruzes de cada dia por amor a Deus... não deve arrastá-las; mas sim, carregá-las: “A cruz que carregamos torna-se mais leve do que a cruz que arrastamos” (Santa Teresa de Jesus).

Jesus Cristo disse: “... tome a sua cruz...” (Mt 16, 24; Mc 8, 34). Ele não disse para arrastá-la. Nosso Senhor também não diz para tomar a cruz uma vez por dia, duas vezes por semana... três vezes ao mês... dez vezes ao ano... mas todos os dias... cada dia.

“... tome a sua cruz...”

Santo Agostinho comenta: “Que significa: Tome a sua cruz? Quer dizer: suporte tudo o que custa e então me siga. Na verdade, quem começar a seguir meus exemplos e preceitos, encontrará muitos que o critiquem, que o impeçam, que tentem dissuadi-lo, mesmo entre os que parecem discípulos de Cristo. Andavam com Cristo os que proibiam os cegos de clamar por ele. Tu, portanto, no meio de ameaças ou proibições, sejam quais forem, se quiseres seguir a Cristo, transforma tudo em cruz: suporta, carrega e não sucumbas!” (Sermões), e: “‘Tome a sua cruz’: – eis a condição sem a qual não se pode seguir a Cristo. A cruz não falta a ninguém: é tomá-la e seguir com ela a Jesus até à morte. Cruz é tudo que nos contraria ou torna a vida difícil. São as dores do corpo, tédio e agonia da alma, reveses da fortuna, estragos do tempo, prejuízos do inimigo, tudo, enfim, que nos aflige, tudo que nos arranca lágrimas e aperta o coração. Estas cruzes hei de recebê-las com ânimo generoso, abraçá-las com regozijo, pois são mimos com que Deus me visita. ‘Toma a sua cruz’ – nos diz a todos Jesus Cristo – porque o discípulo não é mais que seu mestre, nem o servo mais que seu senhor; porque se foi necessário que Jesus a carregasse para entrar na sua glória, muito mais nos é necessário a nós levá-la para podermos entrar numa glória, que só o combate nos fará nossa” (Pe. Alexandrino Monteiro, Raios de luz).

Quem “briga” com a cruz não pode permanecer no nosso Instituto. A cruz é a “chave” do céu... quem foge da cruz e “briga” com a mesma não se salvará.

Não fomos chamados por Deus para vivermos em berços de ouro ou em caixinhas de algodão; pelo contrário, fomos chamados para seguir o Servo sofredor pela porta estreita e pelo caminho apertado (Mt 7, 13-14).

 

 

11ª Reflexão

 

Em Mt 16, 24 diz: “... tome a sua cruz...” O mesmo está em Mc 8, 34. Em Lc 9, 23 diz: “... tome a sua cruz cada dia...”

 

O filho e filha da Sagrada Paixão de Jesus Cristo devem saber que longe da cruz não há santidade nem salvação... que não existe outro caminho para o céu longe da cruz do Senhor. É perda de tempo buscar a santidade longe do Calvário... distante de Cristo crucificado. O religioso que sofre com paciência e por amor a Deus alcançará a salvação da alma; mas o religioso que se revoltar contra a cruz e buscar uma vida de comodismo e “poltronice” se condenará ao inferno: “É preciso sofrer e todos têm de sofrer; seja justo ou pecador, cada um deve carregar sua cruz. Quem a carrega com paciência, salva-se; quem a carrega com impaciência, perde-se. As mesmas misérias levam alguns para o céu, e outros para o inferno. Com a prova do sofrimento se distingue a palha do trigo, na Igreja de Deus: quem se humilha nos sofrimentos e se submete à vontade de Deus é trigo destinado ao céu; quem é soberbo e fica impaciente, a ponto de voltar as costas para Deus, é palha que é destinada ao inferno” (Santo Afonso Maria de Ligório, A prática do amor a Jesus Cristo).

O religioso do Instituto deve carregar a cruz por amor a Deus... carregar sem arrastá-la. Quem carrega a cruz com paciência cresce na santidade e caminha para o céu com segurança; aquele que a arrasta não pode agradar a Deus e caminha apressadamente para o inferno.

Não podemos aceitar no nosso Instituto pessoas apáticas, relaxadas, acomodadas e amigas da vida fácil... não podemos “colecionar” ursinhos de pelúcia no nosso “exército”: “Nosso Senhor é o nosso modelo: tomemos nossa cruz e sigamo-lo. Se o bom Deus nos envia cruzes, desanimamos, nos queixamos, murmuramos, somos de tal modo inimigos de tudo o que nos contraria, que gostaríamos de estar sempre numa caixa de algodão. No vosso batismo aceitastes uma cruz que só deveis deixar com a morte. Acaso a vida de um bom cristão pode ser algo de diferente do que aquela” (São João Maria Vianney, Sermões).

É vontade de Deus que percorramos com paciência, alegria, paz e serenidade o caminho da cruz. Devemos carregar as cruzes de cada dia sem abandoná-las à beira do caminho. É muito perigoso escolher as cruzes... devemos abraçar todas com o coração e com a alma, isto é, com alegria e por amor a Deus... sofrendo para agradar a Deus que merece todo o nosso amor.

O religioso que sofre com impaciência, revolta, semblante carregado... não pode permanecer no nosso Instituto... não foi chamado por Deus para ser missionário no nosso “exército”. Esse tipo de gente é um balde de água gelada numa comunidade.

 

 

12ª Reflexão

 

Em Mt 16, 24 diz: “... e siga-me...” O mesmo está em Mc 8, 34; Lc 9, 23.

 

Não basta tomar a cruz, mas é preciso seguir com paciência, alegria e fidelidade a Jesus Cristo que disse: “... e siga-me”. É preciso seguir a Jesus até o fim... sem recuar nem retroceder!

Santo Agostinho comenta: “Esta palavra não deve ser ouvida como dirigida apenas às virgens e não às esposas; nem só para as viúvas e não para as casadas; nem só para os monges e não para os maridos; nem só para os clérigos e não para os leigos. Pois toda a Igreja, todo o corpo, todos os seus membros, diferentes e distribuídos segundo suas próprias tarefas, devem seguir o Cristo. Siga-o toda a Igreja que é uma só, siga-o a pomba, siga-o a esposa, redimida e dotada pelo sangue do Esposo. Nela encontra lugar tanto a integridade das virgens como a castidade das viúvas e o pudor dos casais. Estes membros, que nela encontram seu lugar, sigam o Cristo, cada um segundo a sua vocação, posição ou medida. Renunciem a si mesmos, isto é, não se vangloriem; tomem a sua cruz, quer dizer, suportem no mundo, por amor de Cristo, tudo o que lançarem contra eles. Amem o único que não ilude, o único que não é enganado nem engana; amem-no, porque é verdade aquilo que promete. Como suas promessas tardam, a fé vacila. Mas sê constante, perseverante, paciente, suporta a demora, e terás tomado a cruz” (Sermões), e: “Seguir a Cristo é acompanhá-lo por onde quer que Ele vá, ou seja para o Tabor ou para o Calvário... Seguir a Cristo é ser cristão; o que segue a Cristo é de Cristo; o que segue o mundo é do mundo; porém, seguir a Cristo é seguir a verdade, seguir o mundo é seguir o erro! Em seguir a Cristo está a felicidade” (Pe. Alexandrino Monteiro), e também: “Eis a obrigação de todos os fiéis: tomar a própria cruz e seguir a Cristo até morrer com ele e, portanto, com ele e nele ressuscitar... Escolher a vida é seguir a Jesus, renegando a si mesmo e levando a cruz” (Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina).

O religioso do nosso Instituto não pode pisar nem desprezar a cruz; pelo contrário, deve carregá-la com paciência, alegria e amor... imitando a Jesus Cristo: “Não existe coisa mais agradável a Deus do que sofrer com paciência e paz todas as cruzes por ele enviadas” (Santo Afonso Maria de Ligório), e: “Todas as chagas do redentor são outras tantas palavras que nos ensinam como devemos sofrer por ele. Esta é a sabedoria dos santos, sofrer constantemente por Jesus; assim ficaremos logo santos” (São Francisco de Sales), e também: “Todos os santos foram mártires ou pela espada ou pela paciência. Nós podemos ser mártires sem a espada, se guardarmos a paciência” (São Gregório Magno).

 

 

 

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

27 de março de 2019

 

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Depois de autorizado, é preciso citar:

Pe. Divino Antônio Lopes FP(C). “Os Filhos e Filhas da Paixão de Jesus devem carregar a cruz até o fim”

www.filhosdapaixao.org.br/escritos/colecoes/reflexoes/003_carregar_a_cruz.htm